Capítulo 3
Dulce estava deitada em sua cama. A cabeça cheia de pensamentos e dúvidas, sua mente voltava constantemente à conversa com a Irmã Fabiana. Como lidar com a possibilidade de sua mãe Teresa estar viva? Tudo parecia surreal.
De repente, Lulu, Valentina e Duda entraram com expressões de preocupação, percebendo a tristeza no rosto de Dulce. Elas já tinham notado o comportamento estranho por não ter voltado para o pátio e preocupadas, foram atrás dela para ver o que estava acontecendo.
— Dulce, está tudo bem? — perguntou Lulu, sentando-se ao lado da amiga na cama.
Valentina e Duda se aproximaram também, sentando-se nas camas ao lado Dulce suspirou, sentindo o peso de todas aquelas perguntas em sua cabeça.
— Eu... não sei o que fazer — começou, a voz trêmula. — A Irmã Fabiana acabou de me contar algo que mudou tudo.
— O que aconteceu? — perguntou Valentina, curiosa e preocupada ao mesmo tempo.
Dulce sentou-se na cama, olhando para as três.
— Ela me disse que minha mãe Teresa está viva — revelou a loira. — A mãe que eu sempre achei que tinha morrido em um acidente.
As amigas se entreolharam, surpresas.
— O quê? — exclamou Duda, tentando entender. — Mas como isso é possível? Ela sempre foi dada como morta, não foi?
Dulce assentiu lentamente, o rosto marcado pela confusão.
— É isso que eu não consigo entender — confessou ela. — Sempre pensei que se minha mãe estivesse viva, ela teria voltado antes. Por que ficou tanto tempo sem aparecer? O que aconteceu com ela? Eu... eu não sei o que fazer agora.
Lulu, colocou a mão no ombro de Dulce, oferecendo conforto.
— Isso deve ser um choque para você — disse, compreensiva. — Mas, Dulce, talvez existam razões que você ainda não conhece. Coisas que podem ter acontecido com sua mãe durante esses anos.
Valentina, se aproximou mais de Dulce e aconselhou.
— Acho que você tem que ir falar com ela. Se ela está aqui, se veio até você, deve ter uma explicação. E você merece ouvir.
Duda completou.
— Você sempre sonhou com sua mãe Teresa. E se ela realmente estiver viva, essa pode ser uma oportunidade que você nunca imaginou ter.
Dulce abaixou a cabeça, pensativa.
— Eu sonhava todas as noites com ela — admitiu, a voz suave. — Nos meus sonhos, ela sempre me dava conselhos e cantava para mim. Eu cresci imaginando como seria tê-la de volta, mas agora que isso pode ser real, eu sinto medo. Medo de que tudo o que eu imaginei seja diferente da realidade.
Lulu segurou das mãos de Dulce.
— Isso é natural, Dulce. Mas acho que o mais importante é que você descubra a verdade. Só assim você vai saber o que realmente aconteceu.
Dulce olhou para cada uma das amigas, sentindo-se grata pelo apoio delas. Elas estavam certas. Ela não poderia fugir da situação. Precisava descobrir o que tinha acontecido com sua mãe, mesmo que a verdade fosse difícil de aceitar.
— Vocês têm razão — disse, respirando fundo. — Eu preciso falar com ela. Preciso ouvir o que ela tem a dizer. Mas... estou com medo. E se ela não for a mãe que eu imaginei? E se for tudo muito diferente?
— Talvez seja diferente, Dulce — disse Valentina com sinceridade. — Mas isso não significa que seja ruim. Você é forte, e vai saber como lidar com isso, seja qual for a verdade.
Duda sorriu, tentando aliviar a tensão.
— E nós estaremos aqui com você, o tempo todo. Sempre.
Dulce sorriu, apesar do nó na garganta.
— Obrigada, amigas. Eu não sei o que faria sem vocês.
As três se abraçaram e Dulce se levantou, decidida a falar com Teresa e saber o que realmente aconteceu. Ela saiu do quarto, com o coração acelerado e uma mistura de ansiedade e nervosismo. As palavras das amigas ainda vibravam em sua mente, dando-lhe força para enfrentar aquele momento tão esperado, mas também temido. Ela caminhou pelos corredores do colégio até encontrar a Irmã Fabiana.
— Irmã Fabiana, eu... quero falar com minha mãe Teresa — disse, determinada.
A Irmã Fabiana sorriu, vendo a coragem de Dulce.
— Claro, Dulce. Venha comigo — disse, colocando a mão no ombro da menina e guiando-a pelos corredores até o dormitório onde Teresa estava.
Quando chegaram à porta, Dulce hesitou por um segundo, mas Irmã Fabiana lhe deu um olhar encorajador. Ao entrarem, Teresa estava sentada na beira da cama, olhando para o chão, perdida em seus próprios pensamentos. Assim que ouviu a porta se abrir, ela levantou a cabeça, e seus olhos encontraram os de Dulce.
Foi como se o tempo tivesse parado naquele momento.
Dulce sentiu o coração apertar, e seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas. Havia tantas perguntas que queria fazer, mas nenhuma palavra saía de sua boca. Tudo o que conseguia fazer era olhar para aquela mulher que, por tantos anos, tinha sido apenas uma memória distante e sonhos de uma criança.
Teresa, olhou para Dulce com uma mistura de surpresa e emoção. Mesmo que sua memória estivesse vazia e não lembrasse de nada, algo dentro dela reconhecia a garota parada à sua frente. O coração de Teresa acelerou, e uma lágrima escorreu por seu rosto. Ela se levantou devagar, sentindo uma emoção forte em seu coração.
— Dulce... — sussurrou Teresa, quase como se o nome tivesse saído sem querer de seus lábios.
Dulce deu um passo para frente, a voz trêmula de emoção.
— Mamãe? — sussurrou ela, olhando nos olhos de Teresa.
Teresa não sabia como responder. Sua memória estava repleta de lacunas, e tudo o que conseguia se lembrar eram fragmentos vagos de um passado que parecia mais um sonho distante. Ela se lembrava de uma escuridão profunda, um vazio que parecia interminável, até que um dia acordou cercada por enfermeiros e médicos. Não sabia onde estava nem como tinha chegado lá. Lá havia um homem, um desconhecido, que lhe disse que ela nunca mais veria as pessoas que amava. Teresa nunca entendeu o porquê ou como, mas desde então, sua vida tinha sido uma mistura de confusão e incertezas.
— Eu... — começou Teresa, sua voz abalada pela emoção. — Eu não me lembro de tudo, Dulce... — admitiu, com tristeza nos olhos. — Tudo o que sei é que, por muito tempo, havia escuridão. E quando acordei... estava em um lugar que não conhecia, rodeada de pessoas estranhas. Um homem... ele me disse que eu jamais voltaria a ver quem eu amava.
Dulce ouvia com atenção, sentindo uma dor no peito ao imaginar o que sua mãe tinha passado.
— Eu... sonhava com uma garotinha loirinha — continuou, olhando para Dulce com os olhos cheios de lágrimas. — Mas eu não sabia quem ela era... até agora.
As palavras de Teresa penetraram fundo no coração de Dulce. Ela sabia que aquela loirinha dos sonhos de sua mãe era ela mesma. Dulce deu mais um passo à frente, com lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Sou eu, mamãe. Eu sou a garotinha dos seus sonhos. Sou sua filha, Dulce Maria, a sua carinha de anjo.
Teresa levou a mão à boca, surpresa e emocionada. Mesmo sem lembrar claramente, o coração de mãe a reconhecia. Ela estendeu os braços lentamente, sem ter certeza de como reagir, mas seu coração falou mais alto.
— Minha carinha de anjo... — sussurrou aquelas palavras, que vinham de seu coração.
Dulce se aproximou dela e a abraçou com toda a força que tinha, deixando as lágrimas fluírem livremente. Teresa, apesar da confusão em sua mente, sentiu o calor daquele abraço e retribuiu, fechando os olhos e permitindo-se sentir o momento. Por mais que as lembranças ainda estivessem perdidas, naquele instante, o laço entre mãe e filha se reafirmava, inabalável.
As duas ficaram ali, abraçadas, enquanto o silêncio preenchia o quarto e. a Irmã Fabiana, observando a cena com lágrimas nos olhos, discretamente saiu do quarto, deixando mãe e filha em seu reencontro tão aguardado.
— Eu te esperei por tanto tempo, mamãe... — falou a menina entre lágrimas. — Eu sonhava com você todas as noites.
Teresa acariciou os cabelos de Dulce com carinho, sentindo o peso da dor e da saudade que sua filha tinha carregado.
— Eu não sei por que tudo isso aconteceu, minha carinha de anjo — disse Teresa, com a voz suave. — Mas agora estou aqui. E nunca mais vou te deixar.
Enquanto isso, Irmã Fabiana caminhava lentamente pelos corredores do colégio, pensativa por causa da volta de Teresa. A recente cena entre Teresa e Dulce tocara-a profundamente, mas agora surgia um novo dilema. Ao retornar à sua sala, sentou-se à mesa, apoiando os cotovelos e levando as mãos à cabeça, pensativa.
Ela era muito amiga de Cecília, que havia se tornado uma figura materna para Dulce, preenchendo o vazio deixado pelo acidente de Teresa. Além disso, Cecília e Gustavo tinham construído uma vida sólida juntos, Cecília amava Dulce como sua própria filha. E agora, Teresa, a ex de Gustavo e mãe biológica de Dulce, estava viva. Não só isso, mas havia retornado, trazendo consigo uma avalanche de emoções, perguntas e possíveis consequências.
Irmã Fabiana sabia que Dulce estava no meio de um turbilhão emocional, e isso já era difícil o suficiente. Mas como Cecília reagiria a essa revelação? Como Gustavo, que já havia superado a perda de Teresa e refeito sua vida ao lado de Cecília, lidaria com essa situação?
"Devo contar ou não a Cecília?", pensava Fabiana, enquanto olhava pela janela, tentando buscar uma resposta que não parecia óbvia.
Ela sabia que Cecília tinha o direito de saber, afinal, sua vida e seu casamento estavam diretamente ligados a essa questão. No entanto, como amiga, também temia o que essa notícia poderia causar ao relacionamento entre Cecília e Gustavo. Seria justo trazer à tona uma verdade tão sofrida para Cecília?
Fabiana suspirou profundamente, seu coração dividido entre a lealdade à amiga e o dever de ser transparente. Fechou os olhos por um instante, pedindo sabedoria em suas decisões. Talvez, antes de contar a Cecília, ela devesse conversar com Gustavo primeiro.
— Deus, pai eterno, o que faço? Me dê uma luz? — Comentou consigo mesma, olhando para a Cruz de Cristo na parede.
Dulce, com os olhos ainda marejados, sorriu. Ela finalmente sentia o calor do abraço de sua mãe Teresa, algo que sempre sonhara, mas também havia um misto de confusão e apreensão em seu coração.
— Vem, comigo, mamãe. Quero que conheça algumas das minhas amigas. — Disse, levantando e segurando da mão de Teresa.
Teresa assentiu e as duas saíram do dormitório, caminhando juntas até o quarto das meninas. Assim que entraram, Valentina, Lulu e Duda, que estavam sentadas na cama conversando, pararam e olharam para Teresa com curiosidade.
— Amigas — começou, segurando da mão de Teresa. — Essa é a minha mãe Teresa.
As amigas olharam, surpresas, tentando processar o que acabavam de ouvir. Valentina foi a primeira a se levantar e se aproximar, com uma expressão de simpatia, mas também de preocupação.
— Uau! Dulce, ela é linda! — disse, com entusiasmo genuíno. — Mas... como sua mãe Cecília vai reagir a tudo isso? Ela te ama tanto... Como isso vai ficar?
A pergunta de Valentina foi como um balde de água fria. Dulce congelou por um instante, seu sorriso desaparecendo. Até aquele momento, ela estava tão concentrada em reencontrar sua mãe Teresa que não havia parado para pensar em Cecília, a mulher que havia se tornado sua segunda mãe, que a amava como uma verdadeira filha.
Ela amava Cecília, tanto quanto amava sua mãe Teresa. E agora, com Teresa de volta, como conciliar essas duas realidades sem ferir ninguém?
— Eu... — Dulce gaguejou, levando as mãos à cabeça, confusa. — Eu não sei. Não quero magoar minha mãe Cecília. Eu a amo tanto! Ela sempre foi uma mãe pra mim... E agora, minha mãe Teresa está aqui, e eu também a amo. — Sua voz trêmula refletia o tumulto de emoções que a dominava.
Teresa, percebendo o conflito da filha, se aproximou e colocou a mão em seu ombro, tentando reconfortá-la.
— Dulce, minha carinha de anjo, eu entendo. E não estou aqui para substituir ninguém. A Cecília cuidou de você, te deu amor, e eu sou eternamente grata por isso. Ela sempre será sua mãe também. Não quero que você se sinta dividida, meu anjo.
As palavras de Teresa eram sinceras, mas Dulce não conseguia se livrar do aperto no peito. Como ela poderia equilibrar o amor por suas duas mães sem causar dor? O medo de magoar Cecília agora parecia esmagador.
Lulu, percebendo a tensão no ambiente, tentou suavizar as coisas.
— Ei, Dulce, vai ficar tudo bem. Vocês vão encontrar uma maneira de lidar com isso. A Cecília te ama demais pra ficar magoada com você. Ela vai entender, né?
Duda, se aproximou e segurou a mão de Dulce.
— E você não precisa resolver tudo de uma vez. Dá tempo ao tempo, Dulce. O importante é que você tem uma família que te ama, tem nós e isso vai ajudar a resolver tudo.
Dulce respirou fundo, tentando absorver as palavras de suas amigas. Ela sabia que precisava conversar com Cecília e seu pai em algum momento, mas a ideia de enfrentar aquela situação a assustava.
— Vocês têm razão... — falou, mais para si mesma do que para as amigas. — Só que eu... preciso de um tempo pra pensar em tudo isso.
Valentina assentiu, com um sorriso encorajador.
— E estamos aqui para te ajudar com o que você precisar, Dulce.
Teresa, observando tudo, sentiu-se aliviada por Dulce ter amigas tão compreensivas. Mas também sabia que, cedo ou tarde, teriam que enfrentar a realidade complicada que a aguardava.
— Vamos com calma, meu amor — disse Teresa, suavemente. — A gente vai passar por isso juntas, está bem?
Dulce apenas assentiu, ainda perdida em seus pensamentos, mas sentindo-se um pouco mais segura e apoiada pelas palavras reconfortantes de sua mãe Teresa e de suas amigas.
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