A guerreira e o alquimista
Caminhando pelas ruas de East Woods, não consigo parar de me preocupar com o estado de saúde do meu namorado, será que ainda está vivo? Estou torcendo para que sim.
Passo por várias mansões, uma mais linda que a outra. Chegamos a uma grande casa verde, a mulher abre a porta de entrada e faz sinal para que eu a acompanhe.
- Não vou entrar ai, eu nem te conheço. – digo.
- Alexia Cartman. – ela se apresenta.
Ainda não me convenço, ela se mostra impaciente.
- Seu nome é Annie Watson, sua mãe se chama Grace e seu tio August, ele morreu há sete meses durante um bombardeio na cidade de Clivintown, onde vocês moravam. – descreve ela.
Fico boquiaberta e confusa ao mesmo tempo.
- Como você sabe tudo isso? – indago.
- Eu era namorada do seu tio. – a mulher explica. – Agora dá para entrar antes que te vejam ou você quer que eu fale mais?
Adentro a residência sem titubear. A casa é mais impressionante e chique por dentro do que por fora. Todos os móveis são novos e muito bonitos.
- Darwin, temos visita. – ela grita.
Um homem que aparenta ter vinte e cinco anos chega correndo, ele tem cabelo castanho claro, olhos verdes e pele clara. Darwin usa óculos e está vestindo um jaleco branco por cima da roupa, o qual está muito sujo. Os cachos do seu cabelo constantemente caem sobre os olhos, mas ele rapidamente os tira.
- Prazer, Darwin. – ele retira as luvas roxas e me cumprimenta.
- Annie. – respondo.
Sento no sofá branco e aconchegante, quando olho para o lado, em direção à sala de jantar, avisto minhas armas, o capuz e a mochila, além do arco e das aljavas de Rick. Vou até o local.
- Foi você quem nos trouxe para East Woods! – pergunto indignada na direção de Alexia.
- A verdade é que vocês acabaram caindo em uma das minhas armadilhas, quando os encontrei inconscientes na floresta, tive que coloca-los no meu carro e traze-los para dentro da cidade antes que outro rebelde os achasse. – explica ela.
- E para que todas essas armadilhas? – questiono.
- Eu quero capturar um rebelde. – ela revela.
Fico ainda mais confusa.
- Como assim você quer capturar um rebelde? Você é uma rebelde! – falo.
- Isso é só um disfarce, estou infiltrada aqui em East Woods para livrar a cidade dessa praga. – Alexia completa.
- Então você está do lado do governo. – deduzo.
- Sou de um grupo revolucionário que preza pelo respeito ao ser humano, que não escraviza e nem trata as pessoas como animais, é desse lado que eu estou. – fala ela firmemente, depois sai do cômodo.
- Não se preocupe, ela não está brava com você, é só o seu jeito. – Darwin explica. – Está com fome?
- Sim, muita. – digo.
- Fique a vontade, vou buscar um pouco de lasanha que sobrou do almoço. – fala ele gentilmente.
Sento a mesa de vidro. Observo a casa com mais cuidado, ela tem uma arquitetura deslumbrante, há pinturas e esculturas por todo lado. Sinto-me até um pouco intimidada por estar ali, nunca havia presenciado algo assim na vida. Minutos depois, Darwin retorna segurando um prato.
- Espero que goste, fui eu quem fiz. – ele me serve.
Saboreio cada garfada, está delicioso, melhor seria se meu namorado estivesse aqui para me fazer companhia.
- Essa casa é de Alexia? – pergunto.
- Na verdade é minha, presente de aniversário do meu pai, mas ela também mora aqui. – conta ele.
- Ela é muito bonita. – elogio.
- Toda essa beleza não vale o preço de se viver solitário. – ele desabafa.
- Já vai começar a reclamar da sua riqueza Darwin? Todos nós sabemos como é boa a vida de quem tem dinheiro, principalmente nessa cidade. – a mulher aparece.
Ela está vestindo calça jeans e uma camisa amarela de mangas curtas.
- Dinheiro nem sempre traz felicidade, sabia? – declara ele.
Alexia dá de ombros.
- Me explica uma coisa, se você era a namorada de August, como não tenho lembranças suas? – questiono.
- Sua mãe não era a favor do nosso namoro, então começamos a nos encontrar escondido, mas seu tio já havia me mostrado algumas fotos suas, por isso a reconheci mais cedo. – relata ela. – E você, o que faz tão longe de casa?
- Há uma coisa na cidade vizinha, Belmore, que meu pai deixou para mim, mas minha mãe não me disse o que era, então resolvi descobrir por conta própria. – justifico.
- Lembro-me de August dizer que já havia brigado com sua mãe por que ela não lhe dizia nada sobre seu pai. – ela revela. – Vejo que Grace mantém sua promessa até hoje.
Balanço a cabeça em afirmativa, enquanto como mais um pouco da lasanha.
Alexia coloca a franja atrás da orelha, a qual cobre quase toda a metade direita do seu rosto. Sobre seu olho há uma atadura.
- O que aconteceu com seu rosto? – pergunto.
- No dia que Clivintown foi bombardeada eu estava lá, acabei sendo atingida durante uma explosão e perdi esse olho. – sinto um pouco de dor em suas palavras, ela parece se recordar do exato momento.
- Você ainda não me disse para onde levaram Rick. – relembro.
- Pelo que eu conheço dos rebeldes, com certeza ele foi levado para a prisão no centro da cidade, onde ficam todos aqueles que desrespeitam as regras. – Alexia esclarece. – Mas não se preocupe, estou bolando um plano para tirá-lo de lá hoje à noite.
Fico feliz.
- O que ele fez foi idiotice, mas tinha boas intenções, então darei tudo de mim para resgatá-lo. – completa ela.
- Agradeço a ajuda. – falo. – Mas porque você foi tão especifica com o fato de ser hoje à noite?
- Primeiramente porque é mais fácil do que a luz do dia e em segundo lugar porque ele será enforcado amanhã pela manhã. – diz ela.
- Enforcado! – fico chocada.
- É assim que as coisas funcionam aqui em East Woods, demorou até eu me acostumar. – a mulher explana.
- Porque você não leva Annie para dar um passei pela cidade? – Darwin fala para Alexia.
- Não sei se estou no clima para passeios. – admito.
- Isso lhe fará bem, podem pegar meu carro. – insiste ele.
- Vamos, eu já estava querendo sair mesmo. – a mulher apoia.
Decido ir. Acho que espairecer as ideias me fará ficar menos nervosa em relação a Rick. Nos levantamos.
- Darwin, seu quarto está um lixo, porque não tenta arrumar aquela zona pelo menos uma vez na vida? – reclama ela.
- E porque você não tenta ser mais feminina pelo menos uma vez na vida? – devolve ele.
- Eu só não quebro seu braço agora porque você é meu amigo. – Alexia ameaça em tom de brincadeira.
Ao sair da casa, noto vários seguranças espalhados pelo terreno.
- Para que todos esses homens? – indago.
- É coisa do pai do Darwin. – ela responde.
- E seu amigo precisa de tantos seguranças assim? – falo baixo.
- O pai do garoto é o líder da facção rebelde aqui em East Woods e vamos dizer que ele tem muitos inimigos, então, é necessário sim. – diz ela ao entrarmos no carro.
Não nego que é ótima a sensação de sentar naquele carro de luxo, mas as cenas que vejo durante o caminho são totalmente contrarias. As ruas estão cheias de pessoas em estado precário, vejo muitas obras por onde passo, a cidade parece estar passando por uma transformação. Por inúmeras vezes presencio rebeldes machucando civis, de várias formas diferentes.
- Como as coisas ficaram desse jeito? – pergunto ao ver a dor e o medo que ronda East Woods.
- Quando os rebeldes conquistaram a cidade, colocaram a população humilde para fora das suas casas, sem motivo aparente, tratando todos como objetos. Os caminhões com suprimentos passam a cada dois dias e o que é distribuído por eles mal consegue suprir a necessidade da metade da população, que agora vivem como mendigos. – ela conta com tristeza. – As pessoas de classe alta foram transferidas para casas mais simples e toda a parte rica da cidade ficou exclusivamente para os rebeldes, eles monopolizaram o dinheiro do município e "nadam" sobre ele agora. – posso ver o ódio em seus olhos.
Não consigo aceitar tanta crueldade.
- Os cidadãos querem deixar East Woods, mas ficam intimidados pela atmosfera de guerra que nos ronda. – completa ela.
A mulher faz uma pausa, mudando de assunto.
- Às vezes eu fico muito triste por Darwin, ninguém merece ter o pai que ele tem. Antes de se aliar aos rebeldes, ele já era um politico muito corrupto aqui na cidade. – Alexia continua. – Após descobrir a verdadeira face do pai, o garoto tomou coragem e se juntou a mim para dar um fim a tudo isso.
- E a mãe dele? – demonstro curiosidade.
- Ela morreu há anos atrás, vitima de câncer no pulmão. – a mulher responde.
Alguns metros depois, paramos em frente a um grande complexo, com muros grossos e altos. Há seis rebeldes no grande portão que dá acesso ao interior do prédio, os quais estão fortemente armados.
- É aqui que Rick está preso. – diz ela. – Será difícil entrar sozinha.
- Você não estará sozinha, eu vou invadir com você. – declaro.
- Presta atenção garota, isso não é brincadeira, há uma grande chance você morrer lá dentro. – ela avisa.
- Eu faço de tudo para salvar ele, nem que eu tenha que perder a minha vida para isso. – digo com convicção.
A mulher fica admirada, e voltamos à casa do amigo dela.
Por volta das oito horas da noite, Alexia e eu sentamos para assistir televisão, Darwin está na cozinha preparando a comida. Todos os canais só mostram como os rebeldes estão fazendo bem para a cidade, as transformações e os avanços que promoveram.
- Como você pode ver, eles corromperam até a mídia local. – enfatiza ela.
Nesse momento entra no ar uma entrevista com o pai de Darwin, sei disso porque a mulher me diz. Ele é gordo, tem pele clara e olhos verdes, uma pequena parte do seu cabelo castanho está cinza. O bigode se destaca dentre todas as características do seu rosto. Sua postura de superioridade combina muito com o terno caro que está usando. O homem só fala mentiras, além disso, faz questão de afirmar que todos estão felizes com a nova organização da cidade.
- Parece que o Sr. Noah Mitchell faz por merecer o seu cargo como politico, sua lábia é muito boa. – ela ironiza.
Ao trocar de canal, vemos uma reportagem sobre a prisão de Rick, eles filmaram a cena toda. Meu coração fica apertado e chega um momento que não consigo mais encarar aquelas imagens.
- O jantar vai estar pronto daqui alguns minutos. – informa Darwin.
- Eu posso tomar banho antes? – peço.
- Claro. – responde ele. – Alexia, ajude ela por favor.
A mulher me leva até um dos quartos da casa, entregando uma toalha e um roupão.
- O banheiro é no final do corredor. – indica.
Tiro a roupa, colocando em cima da cama, visto o roupão e vou em direção ao banheiro. O cômodo é do tamanho da cozinha da minha casa, há uma banheira e um grande espelho acima da pia. Ligo o chuveiro e me delicio com a água quente, essa casa parece o paraíso. Quando já me sinto limpa, volto ao quarto, visto a roupa e retorno a sala de jantar.
Sento a mesa, ao lado de Alexia. Darwin rapidamente serve nossas refeições, começando pela salada, depois um pouco de carne cozida e arroz, comemos também um prato de legumes com um molho especial, o qual não sei falar o nome. Por fim a sobremesa, mousse de chocolate. Não aguento nem mais uma ervilha.
- Você cozinha muito bem. – elogio o garoto.
- Obrigado. – diz ele.
- Pelo menos uma coisa ele tinha que fazer direito. – brinca Alexia.
Darwin somente a olha e não fala nada.
São dez horas, acompanho a mulher até seu quarto. Ela tira uma maleta do armário, dentro há várias partes de uma arma. Me impressiona a rapidez e a agilidade que ela tem para monta-la. Depois de vasculhar embaixo do colchão da cama, Alexia encontra uma pistola e me entrega.
- Não sei atirar. – recuso o objeto.
- Então boa sorte com suas faquinhas. – ela desdenha. – Vá ao quarto de Darwin pegar os comunicadores.
Bato na porta.
- Pode entrar. – ele grita de dentro.
Empurro-a devagar e aos poucos me encanto mais com a beleza do cômodo, vejo uma grande cama próxima ao vitral. A pintura de uma mulher ocupa metade da parede ao meu lado. Há roupas espalhadas por todo o recinto, pilhas de livros cobrem a escrivaninha ao lado da cama, mas a única coisa que não vejo é o dono do quarto.
De repente, Darwin surge por uma passagem na parede, está vestindo novamente o jaleco branco e as luvas.
- Oi Annie. – fala ele.
- Sua amiga me mandou aqui para pegar os comunicadores. – explico.
- Certo, eles já estão prontos, pode vir até aqui. – o garoto faz um sinal me chamando.
Não consigo acreditar no que vejo. Em um tipo de pequena sala, há vários tubos e líquidos, ao fundo, estão diversos objetos tecnológicos e peças. Ele mexe em uma caixa até que encontra os comunicadores e me entrega.
- Eu transformei meu closet em um laboratório, você gostou? – indaga ele.
- Muito legal. – respondo.
- Poucas pessoas sabem, mas eu sou formado em engenharia elétrica e química. – ele acrescenta.
- Mas você é tão jovem. – me impressiono.
- Eu sou o que as pessoas chamam de superdotado. – expõe.
Estou pronta para me despedir, mas ele segura em meu braço.
- Posso tomar um pouco do seu tempo? – pergunta ele tímido.
- Sim, pode falar. – digo prestativa.
Darwin pigarreia.
- Eu estou apaixonado por uma garota, mas não sei como impressiona-la. – ele começa. – Queria que me desse algumas dicas do que as mulheres gostam.
Acho aquela situação muito estranha, porém só preciso de um pouco de tempo para descobrir tudo.
- Me diz uma coisa, ela tem pele clara, cabelo preto e é um pouco irritada? – falo.
- Como você descobriu? – o garoto se mostra surpreso.
- O jeito que você olha para ela já diz tudo. – justifico.
- Alexia e eu somos amigos há três meses, mas nunca tive coragem de me declarar, sou muito tímido. – suas palavras são carregadas de sentimentos.
- Primeiro, você tem criar confiança, depois pode falar o que sente para ela, tire as palavras do seu coração, nenhuma mulher resiste a isso. – dou instruções.
- Mas será que ela vai gostar? – ele se mostra inseguro.
- Você não pode pensar assim, tem que erguer a cabeça e ir com tudo. – o encorajo. – Se por acaso receber uma resposta negativa, não fique triste, pois tenho certeza que você encontrará uma garota que te ame tanto quanto você ama Alexia.
- Está na hora de ir Annie. – ela entra de supetão no quarto.
Entrego os comunicadores e a mulher segue em direção ao lado de fora da casa, antes que eu saia, Darwin me abraça.
- Lembre-se do que eu disse. – falo.
- Pode deixar, prometo que vou conquista-la. – afirma ele.
- É assim que se fala. – dou um sorriso, ele retribui o gesto.
Com as machadinhas em mãos, deixo a casa e entro no carro.
Ao chegarmos na prisão, Alexia pega a metralhadora e guarda uma pistola em seu cinto, colocando silenciador em ambas. Saltamos o muro dos fundos e a mulher mata os primeiros guardas que encontramos. Com as chaves de um deles, conseguimos acesso a todos os andares, Rick está no terceiro, que é o último.
Não mato nenhum dos rebeldes, só uso de algumas técnicas que aprendi com meu namorado para deixa-los desacordados, mas Alexia faz totalmente o contrario. Apesar de por fora o prédio ser feio, seu interior é bem diferente. O cinza predomina na maior parte do local, com exceção de algumas áreas, onde há paredes decoradas com ladrilhos azul escuro.
Quando passamos pelo corredor que dá acesso a escada para o próximo setor, os prisioneiros do local se agitam, dizendo coisas inescrupulosas. Continuamos como se nada estivesse acontecendo. Mesmo que grosas e resistentes portas de metal os separem de nós, não consigo deixar de ter medo. Ao alcançar o andar certo, procuramos incessantemente de cela em cela, somente poucas delas estão ocupadas, até que avisto Rick. Ele está preso a uma cadeira. Meus sentimentos se confundem e se misturam. Chamo a atenção da amiga de Darwin que imediatamente abre a porta.
Quando miro o estado do meu namorado, fico em choque. Seu rosto está tomado por sangue, sinto um grande incomodo ao visualizar cada um dos seus hematomas.
- Não fique ai parada, me ajude a liberta-lo. – diz ela.
Volto à realidade e vou ao socorro de Rick.
- Entrar foi a parte fácil, agora quero ver a gente sair. – Alexia brinca.
Rick ergue a cabeça devagar.
- Annie. – ele balbucia.
- Meu amor, que bom que você está vivo. – falo aliviada.
Seu olho está inchado.
- Vamos tirar você daqui. – completo.
Após livra-lo das trancas, o ajudo a levantar. Ele se apoia em mim com dificuldade. Ao cruzarmos a porta da cela, um alarme soa. A mulher vai mais a frente para checar o caminho. Pelo comunicador, Darwin nos instrui por onde ir. A cada metro percorrido, a sensação de perigo aumenta. Sem o meu apoio para apaziguar a situação, Alexia mata todo homem e mulher que cruza nosso caminho. Avistamos a saída do prédio, mas cinco rebeldes se põem a nossa frente e sem aviso prévio, abrem fogo.
Fecho os olhos esperando a morte chegar, mas depois de alguns segundos, não sinto nenhuma bala me perfurar, apesar de estar ouvindo tiros. Abro os olhos e vislumbro um milagre, as balas estão paradas no ar e uma a uma, todas despencam. Alexia me olha perplexa, se perguntando o que está acontecendo. Sei que quem está fazendo isso sou eu.
Depois da surpresa, a mulher age com esperteza e metralha os cinco homens. Andamos o mais rápido possível até o portão externo. Ela abri a porta de metal ao lado e partimos sem olhar para trás.
- O coloque no banco de trás rápido, não vai demorar até que chamem reforços. – ela avisa.
Depois do serviço feito, entramos no carro e ela dirige loucamente de volta a casa de Darwin.
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