Capítulo 5
Raquel, no auge de sua carreira, tornou-se líder da equipe médica na famosa penitenciária São Silva. Mesmo não sendo um cargo muito disputado, por motivos óbvios, ela faz o seu melhor como a profissional que é.
Em sua adolescência, descobriu seus poderes, seu dom aflorou-se de forma natural e bela ao curar sua irmã que havia ralado o joelho caindo no quintal de sua casa. Sua habilidade permite curar ferimentos, até mesmo os graves, e algumas enfermidades, a mulher pode fazer qualquer doença que não seja terminal desaparecer do corpo de seu paciente. Para alguém com essa capacidade, havia outro caminho a não ser salvar vidas? Os desafios profissionais nunca foram um empecilho para seu sucesso, passo a passo, ela conquistou seu diploma, sua carreira, sua vida estruturada. Hoje, com trinta e cinco anos de idade, é a médica mais respeitada da região, possui vários artigos em seu nome, jovens médicos inspiram-se em seus feitos. Raquel recusou propostas de ser super-heroína, recusou ser estudada pelo governo para descobrir a fonte de seus poderes. "Não precisam colocar meu dom em um frasco, meus queridos políticos, coloquem seus filhos na fila de atendimento do SUS e eu ficarei feliz em atendê-los", ela sempre respondia quando essa questão aparecia.
A médica conceituada divide seu tempo entre as consultas da clínica geral, ela exigiu que São Silva construísse uma ao lado da penitenciária, e em cuidar dos detentos, alguns presidiários nunca foram a um médico na vida, é uma triste realidade. Mesmo que seus desafios tenham sido superados com facilidade pela mente criativa e esperta de Raquel, hoje ela passará por uma de suas maiores provações.
Após o jantar, pago com seis horas de trabalho, Capela é conduzido até suas novas instalações.
No mesmo ano de inauguração da penitenciária, o bloco B tornou-se extremamente populoso, celas feitas para cinco ou seis detentos era improvisada para suportar dezessete ou dezoito pessoas, o lugar tornou-se imundo com o passar do tempo. A jornada de trabalho reduzia o número de presos, fazendo com que uma cela ficasse cheia apenas na hora da troca dos trabalhadores ou em ocasiões raras. O bloco B é completamente diferente do bloco C, o bloco dos assassinos em série e supervilões extremamente perigosos é dividido em duas alas, sendo a primeira para os indivíduos que possuem capacidade mental para trabalhar (Parquinho), a outra para os piores casos que a humanidade já viu (Inferno).
Graças à doutora Jandira, também conhecida como a heroína Ultravioleta no século passado, foram criados braceletes capazes de inibirem certos poderes especiais. Foi descoberto uma alteração na química cerebral, quando indivíduos, ditos super-humanos, utilizam seus dons, o bracelete inibe o impulso elétrico primário, induzindo um estado de coma temporário em seu usuário. Em outras palavras, se um infeliz tentar usar seus poderes com a pulseira no braço, ele desmaia.
Capela foi designado para a ala Parquinho, neste local as celas possuem um beliche, um vaso sanitário sem tampa e uma pequena mesa soldada ao chão e acoplada a um banquinho, tudo dentro de três metros quadrados. Ao contrário do bloco B, as celas do bloco C não possuem grades, o vidro blindado substitui as barras de ferro neste local. O homem, ao ser liberado das correntes pelo guarda, entra para sua cela e encontra um rosto conhecido.
— Capela! — Grita o alegre Juliano — Não acredito que colocaram a gente no mesmo "quarto"!
— Oi para você também, — responde, colocando as trouxas de roupa na cama de baixo, observa o guarda se retirar e volta sua atenção para seu companheiro. — Hoje você deverá me ajudar.
***
Raquel recolhe as ataduras do chão da enfermaria, são aproximadamente nove horas agora e seus colegas já voltaram para casa. Antes de fazer o mesmo, a chefe da equipe médica decide terminar os relatórios de saúde dos detentos, São Silva é rigoroso quando o assunto se trata das consequências do trabalho pesado sobre o corpo dos presidiários. Ela joga as ataduras no lixo, recolhe as pastas com os braços e caminha para o necrotério do presídio, foi-lhe informado que um dos prisioneiros do bloco B foi encontrado morto em sua cela há poucas horas, e como chefe de departamento, ela assume a responsabilidade de verificar o ocorrido. Houve um exame preliminar, sem sucesso. De acordo com a ficha, ainda é desconhecida a causa da morte de Rodrigo Damasco, vulgo Tucano.
***
Capela levanta a camisa, revelando seu abdômen magro e tatuado, e olha para Trem de Doido. O jovem permanece confuso, mas observa com atenção.
— Veja, esta é a pena de Rafael. — Capela aponta para uma de suas tatuagens, a indicada é o desenho de uma bela pluma, extremamente detalhada em tons de branco e prateado. — Com este presente, eu posso transitar entre o mundo humano e o plano dos anjos.
— Cara, — interrompe o garoto — eu já vi muita gente doida por aqui, mas você deve ter tomado um chá de fita violento.
— Não blasfeme contra minha palavra, já se esqueceu que eu sou Capela, a espada dos arcanjos? — O homem mais velho passa os dedos sobre a tatuagem e, com as unhas, puxa a base da pena, um fio de sangue escorre por sua barriga e assim como em um passe de mágica, a pena sai de sua pele. — Afaste-se, farei você acreditar.
Capela aproxima-se da parede, naquela pequena cela o homem usa a pluma para desenhar uma porta e sua maçaneta, sem nenhuma tinta o contorno fica entalhado no concreto. Sobre a porta ele rabisca "ARMAZÉM". Sem utilizar muita força, o presidiário empurra a porta desenhada que se abre lentamente, revelando seu interior.
Assustado, Trem de Doido segue seu companheiro de cela, os dois atravessam a passagem. Capela escreve "RETORNO" do lado oposto à palavra escrita anteriormente e fecha a porta.
— Agora eu acredito em você, mas onde estamos? — Indaga Juliano — Que lugar é esse?
Dentro do local está claro como o dia, é possível ouvir o canto dos pássaros e sentir a brisa vinda do mar. O chão é coberto de pedregulhos e o teto é feito de um mosaico perfeitamente construído, como se fosse feito por anjos. Há corredores e mais corredores de grandes estantes abarrotadas de pergaminhos e livros.
— Estamos no local onde os anjos guardaram o que conseguiram salvar da antiga biblioteca de Alexandria. Infelizmente não poderemos ficar aqui por muito tempo, precisamos ir para outro lugar.
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