🐺Parte 3🐺 DEGUSTAÇÃO
Dorian
Tive muita sorte em conseguir sair do meu esconderijo sem ser notado por meu tio, primos ou seus convidados. Voltei para a cozinha com a minha mente a mil por hora. O que devo fazer? O que posso fazer?
Preparo o jantar quase no automático, ainda bem que meus parentes estavam tão animados com a caçada que fariam nos próximos dias, caçada essa que agora eu sabia que se tratava de uma emboscada contra Lawson e sua aldeia, que nem ao menos me notaram. Depois que servi o jantar deles, meu tio e meus primos esqueceram da minha existência. O que foi muito bom, já que assim não notaram que eu cheguei tarde em casa, e também não perceberam o quanto eu estava aéreo o tempo todo.
Após o jantar, fui deixado sozinho na cozinha para limpar a sujeira dos 4 porcos, ou melhor, dos 4 seres inúteis que nem ao menos podem levar um prato. Afinal, não tenho motivos para ofender aos porcos. Pelo menos assim pude comer meu jantar em paz e limpar a bagunça dos 4 sem interrupções.
Só então pude me trancar em meu quarto e pensar, decidir se poderia fazer alguma coisa ou se nem ao menos tentaria. Como se isso fosse possível. Posso até morrer tentando, mas vou saber que fiz alguma coisa. Agora se resolver ficar parado por medo, nunca vou pode viver comigo mesmo sabendo que deixei Lawson morrer e não fiz nada.
Posso até não saber como vou fazer para ajudá-lo, mas sei que preciso fazer alguma coisa. Ficar parado não é uma opção quando sinto meu coração se partindo ao meio apenas por pensar que algo pode acontecer com Law.
De onde isso veio?
Eu não sei, talvez tenha vindo do mesmo lugar de onde veio a certeza cada vez mais crescente em meu peito, de que Lawson Emmitt, o grande lobo mau, é meu companheiro predestinado.
Acordei muito cedo na manhã seguinte, nem mesmo sei dizer se dormi, depois de pensar tanto em Lawsom e no plano perverdo do meu tio. Ainda assim, não tinha um traço de cansaço em meu corpo quando pulei da cama antes mesmo do dia amanhecer. Precisava ter tudo pronto se quisesse uma chance de salvar meu lobo.
Cortei a lenha e deixei a lareira abastecida e pronta para aquecer a casa inteira. Depois fiz o café da manhã, aproveitando para guardar alguns lanches em minha cesta, iria precisar deles ao longo do dia, já que não faço ideia de quão longe é a aldeia dos lobos. Isso se eu conseguir chegar até lá antes de morrer congelado ou comido por algum animal selvagem, levando em conta o fato de que não tenho qualquer traço de caçador em meu DNA, essas duas possibilidades são bem possíveis.
No momento em que meus tios e meus primos estavam de pé e seguindo para a mesa com o café. Eu já me encontrava trajando minha preciosa capa vermelha e com minha fiel cesta presa entre os dedos. Torcendo para que desse tudo certo e eu conseguisse sair da casa.
-Mas olha só quem resolveu fazer o seu trabalho, hoje! - a voz debochada de Edrick, foi a primeira coisa que ouvi enquanto meu primo praticamente se jogava em uma das cadeiras. - Acordou cedo, chapeuzinho vermelho?
Ignorei seu deboche, muitas outras vezes ao longo da minha infância tentei ir contra meus primos, exigindo que eles me tratassem bem, ou que no mínimo paracem de fazer piadas ofensivas. Mas tudo que ganhei foram contusões e ossos quebrados. Hoje em dia, apenas deixo que os idiotas tenham seu momento de diversão, enquanto eu os ignoro.
-Onde pensa que vai tão cedo? - a voz do meu tio faz com que meus primos se sentem mais retos em suas cadeiras. Axel pode parecer um homem calmo e até mesmo gentil, mas é um verdadeiro monstro por baixo dessa camada de polidez.
-Vieram me avisar que vovó amanheceu adoentada, eu já fiz as minhas terefas e também preparei uma sopa e pão caseiro, vou levar para ela. Mas prometo que volto logo.
Meu tio me olha de cima a baixo, em silêncio, pelo que pareceram vários minutos. Ele estava me medindo, tentando pegar alguma mentira em minhas palavras, mas eu estava firme, decidido. Não iria deixar que esses bárbaros façam o que bem entendem apenas por que são seres invejosos e preconceituosos.
Se o destino realmente me deu o grande presente de ser companheiro de Lawson, é meu dever fazer por merecê-lo. Jamais me perdoaria se ficasse de braços atados quando meu lobo é traído e morto pelos meus parentes.
-Muito bem, mas não demore. Você sabe que não gosto que perca tempo com aquela velha.
Aquela velha, é a mãe dele!
-Sim senhor.
-É bom mesmo, seu inútil.
A voz agressiva de Alba me fez tremer de leve. Entre meus primos, o mais velho, Alba. Era o pior. Ele tem o mesmo jeito calmo e calculista do meu tio, sei que um dia, Alba será tão perverso quanto ele.
-Quero que limpe minhas botas para a próxima caçada. - ele completa sem ao menos olhar para mim.
-Sim, Alba. Eu vou indo, não quero demorar muito. Prometo que volto antes do almoço.
Saio o mais rápido que posso da casa, não quero correr o risco de ser parado por um deles. Enquanto caminho pela aldeia, cubro minha cabeça com o capuz vermelho de minha capa e respiro fundo. Espero conseguir, e se eu conseguir, então nunca mais olharei para trás e jamais voltarei a essa aldeia. O máximo que vou fazer é conseguir que vovó vá comigo.
Sinto ter que deixá-la, mas ela sabe se cuidar. Vai poder me esperar, e se fosse levá-la agora, jamais conseguiria chegar a aldeia dos lobos antes que meu tio e meus primos percebam o que estou realmente fazendo.
-Eu volto por você, vovó. Mas agora preciso correr atrás do meu destino. Meu lobo mau.
Sussurro para o vento, enquanto adentro a floresta que separa nossos povos. Que me separa de Lawson.
[...]
Lawson
Hoje é lua cheia, e apesar de nossa aldeia ter mais de 100 moradores, nem todos correm juntos na tradicional corrida da lua cheia. Isso seriam cerca de 40 membros da alcatéia, já que temos muitas crianças que ainda não passaram por sua primeira mudança, e também alguns idosos que preferem ficar em volta da fogueira na casa alfa, conversando e comendo.
Confesso que sempre amei as noites de lua cheia e sair para correr com minha alcatéia, como um alfa nascido, sempre fui muito forte. Meu lobo se sente livre correndo sob o brilho da lua e cercado pelo resto da nossa alcatéia. Mas está noite, meu lobo está tão inquieto, tão a beira da superfície. Que tudo que eu queria era me sentar em volta da fogueira e passar a noite lá.
Não falei isso nem para Elemiah, por não querer preocupar meu amigo e beta, todavia, nunca antes me senti tão fora de controle como hoje. Será que tantos anos de negar meu companheiro, por fim me deixaram selvagem?
-Bem vindos!
Digo alto, para que todos os 40 membros de minha alcatéia que vão correr comigo está noite, possam ouvir. Eles gritam e alguns uivam. Todos animados, assim como eu estaria se estivesse em meu eu normal.
-Meus amigos, minha alcatéia. Está noite é lua cheia, todos sabemos o que isso significa.
Alguns já começam a se desfazer de suas roupas, uma coisa muito comum entre os transmorfos, já que sempre destruímos nossas roupas quando mudamos para nossas formas animais.
-Vocês sabem as regras para uma corrida na lua cheia, ninguém deve chegar a menos de 400 metros das fronteiras de nossas terras com as terras dos caçadores. Nada de correrem sozinhos, no mínimo em duplas e qualquer coisa errada que ouvirem ou sentirem, avisem aos demais. Tendo dito isso, desejo a todos uma boa corrida. Mudem!
Com minha palavra final, todos curvam seus pescoços para o lado, mostrando sua submissão ao alfa. No minuto seguinte, minha alcatéia está mudando diante dos meus olhos e alguns já começam a correr.
Estou pronto para fazer a mesma coisa, quando sinto uma mão em meu ombro, na mesma hora meus olhos mudam e minhas presas saem para fora. Quando percebo estou rosnando para o meu beta, Elemiah está tão surpreso que posso ver o choque em seus olhos.
Por que estou fazendo isso? Nunca me descontrolei dessa forma, nem mesmo quando era mais jovem e aprendia a mudar para minha forma de lobo. Mas agora, hoje em especial, com a lua cheia mexendo com meu lobo. Sinto como se uma adrenalina louca passasse por todo meu corpo.
Tenho necessidade de sair e caçar... Caçar meu companheiro até tê-lo embaixo de mim, sendo reinvindicado por mim.
-Você tem certeza que deve ir, Lawson? - pergunta Elemiah quando tem se recuperado do choque de me ver rosnando para ele.
-Não, eu deveria ficar. Mas não posso, você me entende? Se eu tentar ficar, ou se alguém tentar me impedir de ir... Não sei o que vou ser capaz de fazer!
Preocupação brilha nos olhos de Elemiah, devo estar do mesmo jeito. Meu lobo está furioso, ele quer sair. Sair e caçar.
-Apenas fique por perto, e me impeça se eu tentar fazer uma grande loucura. Como invadir a aldeia dos caçadores.
Elemiah acena com a cabeça, assumindo sua forma de beta. Sei que posso confiar nele, sendo assim, deixo que a transformação tome conta do meu corpo e meu lobo vem a tona. Meus olhos mudam novamente, se abrindo para cada mínimo detalhe a minha volta. Depois vem o alfato, sinto todos os cheiros a minha volta. Ainda assim, algo está errado, tem algum cheiro faltando e é atrás dele que o meu lobo segue quando corre para dentro da floresta.
Não conseguiria parar nem se eu quisesse, e eu não quero!
Nem ao menos sei para onde ou para quem estou correndo, minhas patas batendo com força no chão de terra. Mas o meu lobo, ele parece saber exatamente para onde estamos indo. Por isso está implacável em sua busca, nesse momento nada seria capaz de pará-lo nem mesmo eu.
Companheiro! A palavra brilha em minha mente, ao menos tempo em que posso ouvir um sussurro em forma de rosnado. É atrás do meu doce filhote que meu lobo está indo. Quero pará-lo, mesmo desejando mais do que tudo estar com meu companheiro, sei que entrar sozinho na aldeia dos caçadores é suicídio para mim e para meu doce filhote.
Todavia, não tenho controle algum sobre o meu corpo, eu sou todo lobo, e apenas um resquício de consciência me faz ver a burrada que estou fazendo. Contudo, não tenho forças para impedir. Foram tantos anos esperando que meu filhote crescesse, depois vieo as desavenças cada vez maiores com a vila dos caçadores e quando eu olhei, estava tão longe do meu companheiro que em 12 anos só coloquei meus olhos sobre ele 1 única vez.
E essa única vez foi capaz de marcar seus olhos cristalinos em minha mente. Quantas vezes eu sonhei com aqueles olhos e um tempo em que ele estaria ao meu lado, carregando nossos filhos... São sonhos tão doces, que foram a única coisa que me mantiveram lúcido durante mais de uma década.
Entretando, parece que meu lobo chegou ao seu limite, ele não quer mais ser impedido de estar com seu companheiro. Não quando ele agora é um adulto e pode acasalar.
Minha mente está cada vez mais nublada, sinto que vou perder o total controle e só espero que meu companheiro e eu possamos sobreviver a esse meu descontrole. E se não for pedir demais, que meu doce filhote não me odeia por chegar do nada em sua vida e mudá-la de uma forma que ele nunca esperou.
Será que ele também odeia os lobos? Ele pode aceitar ser meu companheiro? Teremos uma chance juntos?
Estou me lamentando em minha mente, sentindo a consciência me deixar aos poucos, quando um aroma único e que permeia minha mente pelos últimos 12 anos, chega até mim. Me banhando com o cheiro maravilhoso, eu sei. É meu companheiro!
Meu doce filhote está logo à frente. Mas como?
Isso realmente importa? Ou eu estou perdendo minha mente de vez ou meu companheiro veio até mim. Só posso desejar que seja a segunda opção.
Por isso, deixo qualquer receio de lado e mais consciente do que nunca, retomo o controle sobre meu lobo, ambos estamos na mesma página agora. Solto um uivo poderoso e passo a correr ainda mais rápido.
-Estou chegando, doce filhote!
[...]
Dorian
Minha mão agarra uma árvore próxima a mim, meu corpo está quente, febril. Minha mente está embassada, tudo em mim dói, parece que meus ossos estão sendo quebrados e consertados o tempo todo.
Estou morrendo?
Quão patético isso pode ser?
Eu nem cheguei até a aldeia dos lobos, passei o dia andando em círculos. Nem mesmo vou poder dizer que minha morte valeu a pena.
Pisei em algum arbusto venenoso? Fui mordido por algum bicho peçonhento? Não sei dizer, apenas sinto como se algo em mim estivesse morrendo. A dor e agonia que sinto quase que o dia todo e que vem aumentando com a cair da noite, com certeza é algo que eu posso assemelhar a uma morte dolorosa.
Sinto minhas pernas travarem, me encosto na árvore e deixo meu corpo deslizar até o chão. Estou respirando com dificuldade e acho que já estou alucinando, pois meus olhos estão dilatados e as coisas parecem dançar em minha volta, cheias de uma cor e uma beleza que eu não era capaz de enxergar antes.
Deixo que minha cesta caía no chão, e solto minha capa, o no em volta do pescoço, preciso respirar mais devagar. Tenho que continuar vivo ou nunca vou poder salvar Lawson, nunca vou saber se ele é meu companheiro.
Um soluço deixa os meus lábios, lágrimas borram minha visão. A dor fica mais forte, com certeza estou morrendo!
Olho para o céu e vejo uma lua enorme, linda. Ela parece chamar por algo dentro de mim, como se me pedisse para continuar.
-Eu quero viver! - grito em meio a floresta silenciosa. -Não quero morrer sozinho... Quero meu companheiro!
Não sei se ela pode me ouvir ou se meus desejos fazem diferença. Mas quando uma outra onda de dor toma conta do meu corpo, um uivo alto corta todo o silêncio da floresta e toda a dor e agonia que eu sentia, parecem desaparecer em um passe de mágica.
Meus sentidos despertam de tal forma, que um cheiro maravilhoso me envolve como um cobertor quente em meio a floresta fria. Algo semelhante a um arrepio passa por todo o meu corpo e no minuto seguinte, eu me sinto vivo. Mais vivo do que nunca!
Um riso sai da minha boca, mas ele parece estranho, é quase um rosnado. Estou imaginando coisas? O mundo volta a brilhar diante dos meus olhos, todavia, isso não me incomoda mais, posso ouvir o som de patas se aproximando de mim.
Law! Não sei como posso ter tanta certeza de que é ele. Companheiro! A palavra é sussurrada dentro de mim em um tom de rosnado, e a animação toma conta de mim. Esqueço toda a dor pela qual passei até poucos minutos antes, apenas quero brincar. Quero... Caçar?
Não, eu quero ser caçado pelo meu lobo mau. Um sorriso toma conta do meu rosto, juro que me ouvi rosnando novamente, antes de erguer minha cabeça e uivar? Para a lua cheia acima de mim. Isso pouco antes de deixar todos os pensamentos desnecessários de lado, e correr.
É um desafio, sei que estou dizendo para meu lobo "Me pegue!", e pelo rosnando que posso ouvir, ele entendeu meu recado.
[...]
Espero que tenham gostado do capítulo❤❤
Votem, comentem, compartilhem e ajudem o livro a crescer🌷🌷
Até o próximo😘😘
[...]
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