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Capítulo 45 - Na calada da noite...

 Já era o quingentésimo sexagésimo sétimo carneirinho de Loenna, e provavelmente a sua milésima revirada na rede de pele de tigre que havia construído para si. Não era a primeira vez que a garota tivera dificuldades para dormir desde que ela e Fowillar haviam escapado da armadilha de Triard Saphira, mas desta vez o sono parecia ainda mais distante, como se jamais houvesse habitado em sua mente. Deduziu que dormir sob o teto de estrelas resolveria seus problemas, mas estava enganada; A brilhante luz da lua cheia iluminava suas feições e coloria seus cachos, mas não lhe trazia a serenidade.

Aquela noite vinha em sua cabeça como um clarão, em flashes intermitentes; Cada vez que Loenna fechava os olhos e estava prestes a adormecer, a figura de Triard Saphira voltava a sua mente e ela imediatamente despertava, assustada. Se lembrava do que ele havia dito, Tydan Saphira havia se unido com Morius Eran e Nerken Kantaa para aniquilar a eles, e agora a derrota estava cada vez mais próxima. Loenna sentia isso; Havia perdido dezenas de pessoas para a última batalha contra os Kantaa, e agora, apesar de todos os esforços, eles estavam fracos. Sim; Loenna jamais havia cogitado essa hipótese, mas seu orgulhoso e grandioso exército era fraco.

Na verdade, a hipótese mais plausível era a de que seus seguidores eram fortes e imponentes, e obteriam sucesso se liderados por alguém mais competente. Porque Loenna era uma péssima líder. Talvez Fowillar fosse um nome mais adequado para tal posto.

Com todas essas reflexões desagradáveis em mente, Loenna optou por despertar. Ela era já acostumada a ter pesadelos terríveis, mas nunca sentira angústia tão grande antes. Não, deveria haver uma maneira de espantar esses fantasmas e superar o monstrinho que estava sendo alimentado dentro de si. Talvez ela pudesse ter uma visão melhor das coisas e de si mesma se andasse por um curto período de tempo pelo acampamento, porque não?

O bosque, denso e verdejante, engolia as barracas, que eram todas de cor fulva. Estas eram organizadas em círculos e havia uma fogueira crepitando no centro e a maioria dos ali residentes estavam dormindo, á exceção de Suriyon Wombo e Nassere Dreyan, que estavam em seu turno de vigília. Quando Loenna passou por eles, o galante Suriyon não hesitou em cumprimentá-la:

Boa madrugada, senhora Nalan. ー Ele disse, fazendo uma reverência. Nassere o acompanhou.

Apesar de ter se acostumado, Loenna não gostava muito de reverências, porque se sentia uma rainha e não uma líder. Rainhas mandam, líderes fazem. Rainhas atendem aos seus próprios desejos, líderes atendem aos desejos do povo. Rainhas conquistaram seu posto por sangue, líderes por mérito. Mas, afinal, estava ela se portando como uma líder ou como uma rainha?

Boa madrugada, Suriyon. Boa madrugada, Nassere. ー Ela retribuiu o cumprimento. ー Você sabe que horas são?

Pelos meus cálculos, senhora Nalan, são três da madrugada. ー Suriyon disse, apontando para a lua. Ela estava bem redonda naquela noite.

Obrigada, Suriyon. ー Agradeceu ela. ー Bom turno para você e para Nassere.

Suriyon sorriu e Nassere fez um aceno. Loenna, então, prosseguiu. Desenhou com seus pés uma trajetória por entre as barracas. Ela se divertia observando a sombra de seus amigos por entre o amarelado de suas moradias; Passou pela barraca de Lenrah Moran, identificou a sombra do guerreiro e a de Fowillar, abraçando o homem pela barriga. Era bonitinho de se ver, até; Loenna emitiu um sorrisinho de canto de boca. Então, dirigiu-se ao recinto de Eliah, e viu a amiga já em seu sétimo sono, deitada de barriga para cima. Ela carregava um bebê dentro de si, então era importante que descansasse bastante. Finalmente, suas pernas a levaram até a barraca de Aya, no que Loenna não vislumbrou a enfermeira dentro de seu respectivo abrigo. Para onde será que ela teria ido? Questionou Loenna entre seus pensamentos, torcendo para que a gelada brisa do inverno os colocasse em ordem. Aya estava particularmente desorganizada nos últimos dias; Loenna conseguia ver todas as suas quinquilharias espalhadas pelo chão. Eram muitos e muitos potes, alguns lenços umidecidos, talas, faixas, gazes... E plantas. Loenna percebeu que havia muitas e muitas plantas entre os objetos da enfermeira.

Ainda acordada?

Loenna virou-se num pulo; Seu coração disparou com o susto. Não fazia parte de seus planos encontrar Aya de pé no meio da noite. A enfermeira esboçou um sorriso tímido com sua reação; Nas mãos, carregava vários caules, folhas, raízes e até uma rosa.

Insônia. ー Disse Loenna, recuperando-se do susto. ー Resolvi tomar um pouco de ar fresco.

Aya aproximou-se e procurou potes vazios para guardar suas plantas. Em seu rosto, podia-se ver duas enormes olheiras.

Eu imagino. ー Mas ela seguia linda, como sempre. ー Pode ficar comigo, se quiser. Nós duas passamos a noite em claro juntas.

A moça sentou-se no chão e se pôs a rotular os novos potes que tinha com etiquetas de cores diferentes. Loenna sabia ler, porque havia aprendido na organização criminosa, e através dos rótulos descobriu que eram plantas medicinais. Cada uma delas servia para uma coisa: Tosse, dor de cabeça, enjoo...

E você? ー Loenna já estava acostumada a ter problemas para dormir, mas e quanto a Aya? ー Não vai dormir?

Um suspiro cansado se seguiu à pergunta de Loenna.

Eu não consigo. ー Aya não tirava os olhos de suas plantas. ー Depois da nossa derrota para os Kantaa, tem sido difícil. Estou acostumada a ver gente ferida, mas não de maneira tão violenta e tão massiva... Ando tendo pesadelos terríveis com a morte da minha mãe e do meu pai. Mas não se preocupe comigo, vai dar tudo certo no final.

É lógico que eu me preocupo com você. ー Disse Loenna, e Aya finalmente ergueu o seu olhar. ー Afinal, nós temos... Alguma coisa, não temos?

Aya sorriu com leveza. Murmurou um "obrigada" baixinho, e seus olhos esverdeados pareciam ainda mais lindos quando iluminados pela lua.

Como você sabe o que é cada uma dessas coisas? ー Loenna apontou para os potes que Aya carregava consigo.

Ah, isso? ー Aya olhou para os próprios objetos. ー Eu gosto muito de plantas, desde pequena. E minha mãe tinha um livro gigante com todas as plantas medicinais da biodiversidade Carmerri. Aprendi a ler por causa desse livro. ー E riu. ー Decorei esse livro do início ao fim. Por isso vivo nessa mata, buscando coisas que eu ache interessante. Esse aqui ー Aya pegou uma das folhas, bem fina e arroxeada. ー Cura dor de cabeça. Já esse... ー Aya tomou em mãos uma folha grossa e verde-escura. ー É para dor de estômago. Essas raízes aqui são anestésicas, diminuem a dor quando formam uma pasta. Entre outras coisas...

E a rosa? ー Loenna encarou a flor na mão da enfermeira. Era bonita, vermelha, viva.

Aya sorriu.

Isso aqui? Nada. É para ti. ー E a entregou para Loenna. ー Achei que fosse gostar. É bonita como você.

Loenna sentiu a vermelhidão tomando conta de suas bochechas. Imediatamente apanhou a flor em suas mãos e aspirou seu aroma; Era doce e suave como os beijos de Aya.

Obrigada... ー Loenna não sabia reagir à investidas românticas. Estava acostumada à brutalidade, não era de seu feitio ser delicada. ー Você também é bonita.

Aya riu, achando graça do acanhamento de sua amada.

De nada. ー E deslizou as costas da mão sobre a bochecha de Loenna. ー Gosto quando fica sem jeito. É engraçado.

Sentindo-se desconfortável com o clima romântico e sabendo que tinha mais assuntos a resolver, Loenna optou por desviar o tema da conversa:

Você me acha uma boa líder?

Imediatamente, arrependeu-se; Sabia que Aya era sincera demais e poderia lhe dar uma resposta desagradável, além de talvez não ser exatamente o tipo de pergunta que a enfermeira esperava. Contudo, Aya apenas riu, como se Loenna fosse uma palhaça. Passaram-se alguns segundos antes que ela enfim soltasse sua voz.

Eu diria que você é esforçada e determinada, mas erra bastante. ー Pronunciou-se Aya, e Loenna franziu a testa; Não faça perguntas cujas respostas você não quer ouvir, disse para si mesma. ー Poderia ser melhor se pensasse menos em futilidades e mais em estratégias de luta.

Loenna fez uma careta. O que estava Aya insinuando?

Mas eu não... Eu... ー E então Loenna percebeu que talvez a enfermeira tivesse razão. ー Você acha que, se eu fosse mais centrada, teríamos vencido os Kantaa?

Eu acho que as coisas acontecem do jeito que têm de acontecer. ー Aya afastou uma mecha de cabelo de seus olhos. ー Não se pode vencer todas, Loenna. É isso que te aflige?

O que me aflige é o medo de perder essa luta. ー Loenna suspirou. ー Tydan Saphira se uniu com Morius Eran e Nerken Saphira. Eles são muito poderosos separados, já juntos... São praticamente invencíveis.

Seu maior problema é a falta de autoconfiança. ー Aya empilhou seus potes em ordem alfabética. ー Nós também somos fortes, só tivemos azar com um traidor. Entendo suas aflições, Loenna, mas você não vai resolver os seus problemas numa madrugada. Apenas o tempo lhe dirá se somos fortes o suficiente. Por agora, acho que você deveria tentar dormir.

Eu não consigo dormir. ー Admitiu ela. ー Tenho pesadelos horríveis sempre que fecho os olhos e acabo acordando assustada, apavorada. A única que faz meus pesadelos irem embora é...

Loenna parou. Aya levantou uma sobrancelha.

É...? ー Instigou-a a continuar.

É você. ー Disse Loenna, por fim.

Aya sorriu serenamente.

Podemos tentar dormir juntas, então. ー E deu um selinho nos lábios de Loenna. ー Apenas dormir... Eu e você... Tentando escapar dos pensamentos negativos. Porque você também me traz emoções e sentimentos bons.

Loenna sentiu seu coração disparar; Fez que sim com a cabeça e no mesmo momento ambas adentraram a barraca de Aya. Havia um pequeno colchão no chão, gasto pelo tempo e carcomido por traças. Isto não era problema para Loenna, no entanto; A garota deitou-se no chão e Aya se pôs a deitar junto com ela, enlaçando os braços em sua cintura. Nisso, Loenna conseguia sentir a respiração da enfermeira bem em seu pescoço, o que a deixava toda arrepiada; Seu coração parecia incapaz de bombear todo o sangue pelo seu corpo, tamanho o nível de tensão da garota. E foi quando Aya o fez... Levou seu nariz para o pescoço de Loenna e inspirou profundamente, com vontade e desejo.

Eu gosto do seu cheiro. ー Disse Aya, e Loenna estava certa de que, por algum motivo, seu corpo seguiria seus instintos e não sua razão.

Então, virou-se, tocando narizes com a enfermeira mais linda que já havia conhecido.

Como um instinto, suas mãos seguiram até o pescoço de Aya. A moça observava Loenna em seus lindos olhos verdes, aprovando seus movimentos com um sorriso singelo. E os lábios se aproximavam, mais perto, cada vez mais perto, os carnudos lábios de Aya se encontravam com os retorcidos lábios de Loenna...

SENHOR E SENHORA NALAN! ー Uma voz berrou ao longe. ー ESTAMOS SENDO ATACADOS!

Loenna levantou-se num pulo; Aya arregalou os olhos e, ainda deitada, focalizou o pânico nos olhos de sua amada. Ambas se deram conta de que ouviam gritos lá fora; Gritos de dor, gritos de guerra, gritos de desespero, o canto Kantaa entoado nas batalhas. O caos havia chegado até o acampamento.

O que... ー Loenna levou as mãos aos seus cachos arruivados. ー O que está acontecendo?

Engatinhando até a saída, Aya espiou por trás do tecido de sua tenda. Via embates de saírem faísca entre seus companheiros e o mega exército formado pelos Kantaa, Eran e Saphira. Ali, ao longe, eles pareciam muito mais fortes que o bando de Loenna.

Está tudo dando errado... ー Os olhos de Loenna se encheram de lágrimas. ー Eu sou uma péssima líder.

Você é uma líder mediana, mas é uma excelente guerreira. ー Aya a consolou. ー Não foque nos seus defeitos, foque nas suas qualidades. E vamos precisar de excelentes guerreiros agora.

Eles são muitos. E muito fortes. ー Loenna ponderou. ー Nós não somos tão imponentes e uma de nós está grávida! Alguém... Alguém precisa proteger o meu bando.

Vá. ー Disse Aya, num suspiro. Temia que algo acontecesse com a única mulher que amou na vida, mas sabia que era dever de Loenna tomar a frente naquele ataque. ー Eu sei que você quer ir, e entendo suas motivações. Não posso impedi-la. Tenho medo de perdê-la, mas é o seu dever. ー E, assim sendo, Aya tomou as mãos de Loenna nas suas. ー Acredito que Deus está do nosso lado, e estarei rezando para que ele lhe proteja. É o máximo que posso fazer. De resto, é com você, garota.

Aya... ー Loenna fungou. ー Mas e você? Alguém precisa te proteger. Eu não quero perdê-la também.

Não se preocupe comigo. ー Aya limpou as lágrimas do rosto de Loenna com o polegar. ー Estou tendo aulas com Serpente. Acho que consigo me defender, se for atacada, e tenho um punhal do lado da cama que deve servir.

E se isso não for suficiente? ー Loenna apertava as mãos de Aya com tanta força que os nós de seus dedos já estavam brancos. ー Os Kantaa quase mataram a própria Serpente...

Isso não seria tão ruim. ー Aya sorriu. ー Eu reencontraria minha mãe e meu pai.

Foi a deixa para que os olhos de Loenna despejassem, como uma cachoeira, todo o conteúdo molhado que guardavam dentro de si.

Está tudo bem. ー Aya aproximou-se da garota e deu-lhe um selinho nos lábios. ー Eu não vou morrer, tudo bem? E você também não vai. Agora vá, garota. O dever lhe chama.

Loenna, sensibilizada, fez que sim e agraciou Aya com um abraço. A enfermeira riu com o canto da boca e acariciou os cachos da amada, certa de que tinha ali, colada em seu corpo, o único amor de sua vida.

Eu vou indo, então. ー Loenna enxugou as próprias lágrimas com as mangas da blusa. ー Fique bem. Eu não suportaria te perder.

E partiu em meio ao caos, enquanto corpos eram perfurados pelas lâminas Kantaa, guerreiros padeciam sobre as armas Eran e pessoas tombavam ao serem atingidas pelas flechas Saphira.

Vendo sua amada sumir para o destino incerto, Aya nada mais fez além de suspirar. Provavelmente aquele embate resultaria em muito derramamento de sangue e ela teria que sair dali para um local mais oculto. Começou a recolher seus unguentos e ervas medicinais, pensando no quão catastrófico seria perder mais uma pessoa amada, e que Deus não permitiria isso. Não, certamente ele não permitiria. Aya rezava todas as noites por ela, pelo bando e, principalmente, por Loenna. Depois de ver Marcus e sua mãe Taran padecerem, Aya estava certa que a si não estavam reservadas mais desgraças.

Permitiu-se sorrir com o canto da boca. Ouvia gritos lá fora, mas não conseguia identificar de quem eram. Seria do exército inimigo? Não tinha como saber. Nós somos fortes, ela dissera a Loenna e acreditava de fato nisso. Havia visto Serpente e Lenrah lutarem, eram ambos deuses do combate. Já ela? Apenas uma enfermeira. Continuou empilhando seus unguentos e ervas, um a um, organizando-se de uma maneira que jamais havia feito antes...

No momento seguinte, uma espada atravessou a barraca. Aya gritou, caiu ao chão e instantâneamente recorreu ao punhal que Serpente havia lhe dado no primeiro combate. A lâmina rasgou todo o tecido bege verticalmente e do lado de fora saiu um Kantaa furioso.

Como um animal selvagem, o Kantaa berrou ensandecido. Ele trajava uma armadura que lhe cobria o tronco, os quadris e as pernas, mas não acima disso. Ainda assim, ele parecia verdadeiramente imbatível, e seu pescoço era um alvo muito alto para os um metro e cinquenta e três centímetros de Aya.

FIQUE LONGE! ー Aya empunhou sua arma e a apontou para o Kantaa, mas tremia de medo da cabeça aos pés. ー EU ESTOU ARMADA!

O Kantaa interrompeu seu momento glorioso para rir da moça caída aos seus pés; Aya não poderia estar mais certa da morte.

E o que a mocinha vai fazer comigo? Cócegas? ー Seu sotaque era amedrontador. ー Você não chega nem a um metro e sessenta, garota.

Aya sentiu sua estrutura ceder. Percebia o olhar frio do Kantaa sob seu próprio corpo.

Eu tenho um punhal! ー Mas não era possível transparecer uma confiança que não existia. ー Eu posso machucar você!
Que bonitinho. Um gatinho me dá mais medo que você. ー Debochou o Kantaa. ー O que você é de Taran Limarg? Se parece com ela.

Aya congelou naquele exato momento. Sentia o vento frio congelando sua espinha; Taran Limarg Gaddard era sua mãe, aquela que havia partido há 8 anos pelas mãos sangrentas dos imponentes ursos pardos.

Taran Limarg era minha mãe. ー Disse, com os dentes cerrados. ー O que você sabe dela?

O que eu sei? ー O Kantaa gargalhou. Era um espécime bastante debochado. ー Eu matei aquela vadia com minhas próprias mãos. E agora vou matar você, criança.

Aya viu as sombras passarem por seus olhos; A última memória de Taran acendeu-se em sua mente e ela se lembrou de visitar a enfermaria, num singular dia de verão, e encontrar sua mãe morta, atravessada por uma espada de ponta a ponta. Não sabia quem era o mandante do crime, mas sabia quem havia seguido as ordens. Sentiu raiva, ódio, medo, dor, tudo ao mesmo tempo, tudo enquanto o Kantaa abaixava a sua lâmina em direção a Aya, uma lâmina prateada e brilhante, manchada de sangue de ponta a ponta... Ela ia morrer pelas mesmas mãos que sua mãe havia morrido... Fechou os olhos...

Então, um grito. Uma esguichada de um líquido quente na cara. A espada passou reto por Aya, caindo com um ruído metálico ao seu lado. Então, um estrondo que fez o ambiente todo vibrar, como se algo muito pesado tivesse ido de encontro ao chão... Aya arriscou abrir os olhos e era ele, o Kantaa, com um punhal fincado no meio do pescoço. Olhou para baixo e tanto suas mãos quanto suas roupas estavam meladas de sangue. Ergueu sua cabeça e, gloriosa, lá estava ela: Serpente. Ela cheirava a carniça e todo o seu corpo estava coberto pelo líquido vermelho vital. Não estava incomodada, contudo; Parecia plena e disposta a ceifar a vida de mais oitenta Kantaa se assim fosse preciso.

Bem, ー Serpente tomou o seu punhal de volta. ー Mais uma vítima de Erimar Lahem. Foram cinco só esta noite.

De onde você surgiu? ー Aya sequer conseguia respirar direito. Sentia ainda o cheiro da morte.

Estava passando por aqui quando ouvi os seus gritos. ー Serpente limpou o punhal na calça escura, mas o sangue ainda não havia saído totalmente. ー Daí eu me lembrei que você não sabe lutar ainda. Bom, achei que precisasse de minha ajuda, e concluo que sou muito boa em achar as coisas.

Bem, obrigada. ー Ainda com o coração disparado, Aya se permitiu respirar por um momento. ー Eu estou realmente bastante vulnerável agora.

Você pode me acompanhar se quiser. ー Serpente lançou uma piscadela. ー Eu realmente não me importo.

Aya esboçou um sorriso.

Por que eu sempre tenho a impressão de que você está me cantando? ー Disse, erguendo uma sobrancelha.

Ah, deve ser coisa da sua cabeça. ー Serpente retribuiu o sorriso. ー Mas, se um dia quiser, minha cama sempre terá espaço para você.

Uau. ー Aya assobiou. ー Isso definitivamente não foi coisa da minha cabeça.

Não. ー Serpente concordou. ー Não foi.

Serpente agarrou o braço de Aya e saiu da barraca escoltando-a, aguardando com o punhal em riste até que o exército dos falcões, ursos e safiras ousasse desafiá-la. Levou o dedo indicador aos lábios, indicando a Aya que fizesse silêncio, e caminhou sorrateiramente até uma árvore que ali repousava a fim de descansar e restaurar suas energias.

Uma péssima ideia, porque no mesmo minuto uma flecha cortou o ar e rasgou a manga da blusa de Serpente, errando por pouco seu órgão vital, o coração; Levou o olhar para cima e lá estava ele: Um Saphira, armado de um arco e algumas flechas.

Ele tentou atirar mais uma vez, mas nesta tentativa Serpente estava alerta e desviou-se sem muitas dificuldades; Puxou o braço de Aya consigo e por pouco conseguiu livrar a enfermeira de uma flechada diretamente em seus olhos.

É minha vez, espertinho. ー Murmurou Serpente para si mesma. Retirou uma adaga da cintura e a atirou para o Saphira empoleirado em um galho, acima de suas cabeças.

E Serpente tinha uma ótima mira, porque acertou em cheio; A adaga foi cravada com força no coração do Saphira e fez com que o sangue fosse espirrado para fora de seu corpo. O homem cambaleou no galho antes de morrer e, finalmente, despencou da árvore morto no chão terroso.

Agora já são seis. ー Serpente sorriu, enquanto tomava sua adaga de volta.

Aya tomou o arco do Saphira em mãos e pegou para si algumas flechas. Analisou a corda, a empunhadura; Ele lhe soava amigável.

Então você é arqueira? ー Brincou Serpente. ー Sabe algo sobre?

Meu pai gostava de arcos. ー Era verdade. Marcus tinha a arquearia como hobby; Ele havia ensinado algumas coisas a Aya quando esta tinha entre dez e quinze anos de idade. Com a morte de Taran, entretanto, Aya decidiu que dedicaria seu tempo somente à enfermaria, para ser igual à mãe. ー Ele me ensinou algumas coisas...

Antes que Aya pudesse terminar sua frase, um Eran se aproximava de Serpente, tirando a pistola da cintura e pronto para desferir-lhe um tiro. Aya não perdeu tempo, posicionou os dois pés na altura dos ombros, levantou o arco num ângulo de noventa graus com o tronco, colocou a flecha na corda, retesou o arco, ajeitou sua postura... Tudo em cerca de milésimos de segundos. Tremia, suava, o tempo corria e ela tinha que pensar rápido. Sem deixar seus medos falarem mais alto, Aya soltou a corda e lançou a flecha em direção ao oponente.

No mesmo segundo em que o Eran se preparava para apertar o gatilho da pistola, a flecha de Aya o acertou bem em suas partes íntimas. Ele berrou, Serpente girou em cento e oitenta graus e viu o homem ajoelhado com a mão em seu genital perfurado. Não perdeu tempo e antes que o Eran pudesse se dar conta do que estava acontecendo, o imobilizou e cortou sua garganta.

Sete.ー Comemorou Serpente ー Excelente tiro. Você tem uma ótima mira.

Eu não mirei em nada. ー Admitiu Aya, sentindo seu corpo relaxar ao ver que a tentativa de tiro havia dado certo. ー Apenas atirei...

Serpente ergueu uma sobrancelha e lançou um sorriso de canto de boca.

Eu acho... ー E cobriu os ombros de Aya com seu braço todo melado de sangue. ー Que nós formamos uma boa dupla.

Eu acho que Loenna discordaria.

E gargalharam juntas no mesmo segundo, divertindo-se.

Aya parou por um segundo para notar que não havia mais gritos de desespero; O ambiente estava silencioso e apenas o cheiro de sangue e carniça invadia o local. Ou eles haviam vencido... Ou perderam miseravelmente.

Você acha que... ー Ela precisava compartilhar suas angústias com Serpente. ー Está tudo bem?

Serpente imediatamente tampou a boca de Aya com uma das mãos. A enfermeira quis protestar, mas quando notou a sombra, percebeu do que sua amiga guerreira estava com medo.

No horizonte escuro, caminhava um homem cuja fisionomia não era reconhecível. Ele empunhava uma espada e parecia forte, talvez não tanto quanto um Kantaa, mas o suficiente para ser um Saphira. E a sua sombra estava cada vez mais perto, os barulhos dos passos cada vez mais altos... O vento soprava a favor de Aya e Serpente e as cegava levando seus cabelos aos olhos. Incapazes de reconhecer a figura, ambas puseram as armas em riste; Serpente com o punhal, Aya com o arco...

O homem atravessou a luz a lua que iluminava o acampamento e seu semblante pôde ser visualizado. Era Lenrah.

Ah. ー Ele relaxou os ombros. Parecia estar tão tenso quanto as garotas. ー São vocês. Que bom.

Lenrah estava com o rosto manchado de vermelho e parecia bastante machucado, com ferimentos nos ombros, pernas e peito. Em seus olhos, se via o cansaço.

Nós vencemos? ー Perguntou Aya. Lenrah fez que sim.

Conseguimos matar vários. Muitos deles fugiram. ー Lenrah suspirou intensamente, trazendo de volta o ar aos seus pulmões. ー Mas tivemos muitas perdas. Suriyon Wombo, um de nossos mais importantes guerreiros, está morto. Nassere Dreyan está ferido. Muitos de nós morreram e outros muitos estão feridos, eu incluso.

Já estou a postos. ー Aya se preparou para voltar para sua barraca.

Não é seguro que fiquemos por aqui, Aya. ー Disse Lenrah, e Serpente assentiu. ー Antes de tudo, precisamos ir embora.

E para onde iremos? ー Perguntou Aya.

Não temos suprimentos, nem comida e nem bebida. Eles levaram ou incendiaram tudo. Por isso, o que sugeri a Loenna, foi que nós... Marchássemos até a Capital.

Não é arriscado? ー Serpente ponderou. ー Temos Eran, Kantaa e Saphira na Capital também.

Na última vez que vi meu pai, ele disse que estávamos com uma fama ótima por lá. Talvez as pessoas possam nos ajudar. ー Disse Lenrah. ー É a única opção. Não podemos mais ficar por aqui, o local está marcado.

Aya e Serpente, temerosas, assentiram. O que o destino reservaria para o bando de Loenna a partir de então? 

***

Oi pessoal! Caos e Sangue está de volta! Eu não sei se alguém ainda acompanha, mas eu acabei desistindo de postar por algumas questões pessoais e falta de auto estima. No entanto, estimulada pela minha psicologa, voltei a postar e aqui está! Espero que gostem do retorno dessa história. Obrigada!

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