Capítulo 43 - Um retorno às origens
Quando Loenna finalmente despertou e abriu os olhos, se deparou com o mais profundo breu. Não fazia a menor ideia de onde estava, ou de como havia chegado ali; Era uma floresta escura e gelada, onde não se via um palmo à frente das mãos. Viu apenas que estava desarmada, amarrada a um tronco de árvore, imobilizada pelas mãos e pelos pés; Não via Fowillar à sua frente ou ao seu lado, então só pode concluir que, se ele estava ali, havia sido amarrado na árvore em sentido oposto.
Ou havia sido morto. Essa possibilidade também era real; Loenna estremeceu. Percebeu então que não sentia o característico cheiro de cigarro.
— Fowillar? — Chamou ela, sentindo o frio tomar conta de seu corpo. Tremia, mas não apenas pelo frio; O medo de perder mais uma pessoa querida (Sim, ele havia se tornado uma pessoa querida.) da mesma maneira que perdera sua mãe ou Quentin a fazia perder o controle de si. — Você está aí?
— Oi. — Ela jamais admitiria, mas ouvir os sons da voz de Fowillar a trouxe uma paz de alguns milissegundos. Ao menos, ele não estava morto. — Estou aqui.
— Que bom. — Apesar de estar na companhia do amigo, os dois ainda estavam imobilizados, rendidos e possivelmente seriam mortos. Não era um cenário muito agradável. — Onde você acha que estamos?
— Eu não acho. — Pelo tom de voz, Fowillar estava aterrorizado. — Eu sei onde nós estamos.
Loenna levantou as sobrancelhas, chocada. Fowillar tinha um conhecimento extenso de todo o país, disso ela sabia, mas a maneira como ele havia dito... Era como se conhecesse com propriedade aquele lugar.
— É a floresta onde os Saphira fazem suas reuniões. — Disse, gélido. — Nós fomos sequestrados por um Saphira.
Loenna piscou, incrédula. O que um Saphira iria querer com eles?
— E o que a sua família costuma fazer com os inimigos? — Com os Kantaa, eles provavelmente já teriam virado churrasco. Com os Eran, uma peneira. Era pouco provável que os Saphira os mantivessem vivos, mas não custava tentar.
— Com os traidores? — A voz de Fowillar falhava; Seu temor era tão claro quanto a luz do dia. — Eu tive um primo de segundo grau que virou tapete.
Loenna engoliu em seco; Talvez ela estivesse apenas formulando desculpas para satisfazer a própria consciência. Já estava morta, não havia para onde correr. Ao menos havia deixado um bom legado para o mundo, e independentemente de quem tomaria a frente do que ela havia começado — Fosse Lenrah ou Aya, seus dois candidatos a sucessor. — Loenna sabia que faria um bom trabalho. Sim, a oligarquia de Carmerrum ia cair, cedo ou tarde, isso era questão de tempo. Ela não estaria viva para ver isso acontecer, mas isso não importava. Fora ela quem acendera a chama. Seu único arrependimento era não poder despedir-se adequadamente de Serpente, sua amada, mas tinha certeza que ela entenderia.
E, de fato, Loenna estava quase convencida de que sua morte não seria tão ruim. Mas todo o pensamento racional veio abaixo quando ele apareceu.
Carregando uma tocha, um homem encapuzado marchava a passos largos; Fowillar se pôs a gritar e Loenna berrou atrás dele. Era alto, magro, usava botas e um sobretudo, calças pesadas e escuras, trazia um punhal na mão direita. Parecia ter sede por sangue, não poupando esforços para matar alguém. Era o assassino que atemorizava os sonhos daqueles que vivem.
E ele chegava perto, bem perto. Loenna conseguia perceber os detalhes de suas vestes. O homem (ou mulher) se aproximou da árvore, deu uma encarada em Fowillar, retirou o capuz e...
— PAI? — Berrou Fowillar.
Sem dúvidas, era o próprio Triard Saphira. Ele era assustadoramente parecido com Fowillar, desde a feição carrancuda, passando pelo rosto retangular e até os lábios contraídos. O rapaz parecia ser uma cópia sua mais jovem.
— Fowillar, meu filho... — Os olhos de Triard Saphira se encheram de lágrimas. — Quanto tempo, meu rapaz...
Nesta altura, nem Fowillar e tampouco Loenna estavam entendendo alguma coisa. Triard Saphira havia olhado nos olhos do garoto e dito a ele que não pertencia mais à família Saphira; Que ele sujava a honra e o sobrenome, e que era uma vergonha efeminada. Todas essas palavras duras, apenas para lhe encontrar meses depois?
— Como você nos encontrou? — Fowillar piscava freneticamente. Não sabia como encarar a situação.
— Seu tão fiel soldado, Kledian Steda, está do meu lado. — Loenna trincou os dentes. Steda, esse nome tão conhecido dela. Essa era a resposta para o enigma óbvio; O que faltava solucionar, porém, era a razão pela qual o traidor estava do lado dos Saphira e não dos Kantaa. — Ele repassou a informação para meus empregados. Você é meu primogênito, Fowillar...
— Não sou. — Disse ele, ríspido. — Você me expulsou de casa, lembra?
— Você sabe que dia é hoje, Fowillar? — Perguntou Triard Saphira, limpando as lágrimas do rosto.
Fowillar fez que não. Loenna também não fazia ideia do que seu pai queria dizer.
— Hoje é doze de janeiro. — Disse Triard. Fowillar pareceu compreender. — Parabéns, Fowillar. Vinte e quatro anos atrás, você veio ao mundo.
— Você me sequestrou apenas para me dar feliz aniversário? — De atemorizado, Fowillar passou para completamente irado. Nada o irritava mais que a própria família.
Triard Saphira sorriu e tirou o sobretudo. O símbolo Saphira brilhava no seu braço; Era igualzinho ao que o filho tinha.
— Veja bem, meu filho, eu sei o que você anda fazendo. — Disse Triard. — Mas essa brincadeira precisa acabar.
Confuso, Fowillar franziu a testa.
— Seu avô se reuniu com Morius Eran e Nerken Kantaa. Temos uma aliança tripla agora, três grandes potências do mesmo lado. — Ah, então eles conseguiam ser unidos quando queriam. Essa era a razão pela qual Steda estava trabalhando para Triard, a propósito. — A sua turminha vai perder.
— Não é uma turminha. — Fowillar estava em vias de espumar de raiva. — São centenas de pobres injustiçados pelo sistema. Nós somos fortes, e vocês sabem disso. Não me importa sua união com Morius e Nerken, vocês vão perder.
— Ah, Fowillar, sua força de vontade é louvável... — Triard esfregou a safira que tinha no braço. — Mas não vim aqui apenas para anunciar a tragédia na qual o grupelho de vocês vai se meter. Eu vim, aqui, Fowillar... Para propor a você que volte para nós. Volte para sua família, de onde você nunca deveria ter saído.
Loenna arregalou os olhos; Fowillar não poderia estar menos surpreso. Certamente, não esperaria ser aceito pelos Saphira novamente, e Loenna também não imaginou que um dia ele teria essa oportunidade. Pela primeira vez, sentiu medo de perdê-lo como aliado; Agora, era muito mais cômodo que ele voltasse ao seu pai.
— Eu ainda me interesso por homens. — Retrucou ele. — Meu casamento com Loenna é de fachada.
— Eu sei, meu querido. — Disse Triard. — Não se preocupe, conversei com seu avô Tydan sobre isso, resolvemos aceitá-lo de volta. Seu casamento com esta plebeia sequer tem validade para nós, então quando estiver na família, você pode se relacionar com os rapazes que quiser. O que queremos é você de volta. Pedimos milhões de desculpas pela maneira como o tratamos, você merece muito mais do que ser jogado à berlinda da sociedade. É um homem incrível e maravilhoso, e o sangue Saphira corre por suas veias
Fowillar estava boquiaberto. Sonhara por meses com esse momento, o momento em que seu pai finalmente o perdoaria e o aceitaria de volta. Mais do que perdoá-lo; Ele estava pedindo desculpas. Não havia como aquele cenário ser mais perfeito.
Porém, do outro lado... Ele havia construído um legado. Ele havia experienciado o lado de lá, visto como é a vida quando você não é um Kantaa, um Eran, e, bem... Nem um Saphira. Mais que isso, agora ele era parte da mudança que o sistema precisava. Fowillar e Loenna haviam alimentado o monstro que a sua família queria matar.
— E Loenna? — Ele realmente se importava com a amiga.
— Ah, ela vai morrer. — Triard Saphira deu de ombros. — Ela morreria de qualquer forma. A trouxemos para ter o prazer de fazê-la ver seu maior aliado e marido mudando de lado.
— Vão voltar para vingá-la. — Ameaçou Fowillar. — Eu não mataria Loenna, se fosse você.
— Isso não tem importância, meu filho. — Disse Triard. — Nós sabemos que o verdadeiro cérebro desse movimento é você, e sem ele esses rebeldes sem causa não são nada. Quando foi que esta plebeia lhe deu valor? Ela sempre foi estampada como a cabeça do movimento. E você, o que é? Apenas seu marido? Não, Fowillar, sabemos que você, sim, é o verdadeiro estrategista destes rebeldes. Você não percebe que estão te usando? Ela nunca gostou de você. Ela não gosta de nós, percebe? Ela vai usar o seu cérebro até conquistar o que quer e então te chutar, acabar com você. Pois você é um Saphira.
Fowillar, vacilante, mordeu o lábio. Loenna não poderia estar mais irritada. O que sabia Triard sobre seus sentimentos e planos acerca de Fowillar? Logo ela, que havia forjado um casamento totalmente sem necessidade, apenas para mantê-lo vivo?
— É mentira, Fowillar. — Disparou ela. —Você é meu aliado e eu tenho um lugar ao meu lado reservado para você. Para mim, você não é um Saphira mais.
— Está vendo? — O pai de Fowillar debochava. — Ela quer apagar suas origens. Quando foi que alguém te fez se sentir orgulhoso de quem você é, Fowillar? Conosco, você vai sentir a honra de ser um Saphira legítimo, um homem detentor de luz e conhecimento.
— Eu... Eu... — Fowillar parecia, agora, indeciso. Loenna não conseguia acreditar no que estava acontecendo; Estaria mesmo o seu amigo mais próximo cogitando a hipótese de voltar para a sua família?
— Pense bem, Fowillar. — A voz do Saphira era mansa. Fowillar estava em lágrimas, as palavras do pai haviam de fato mexido com ele. — Onde de fato você será mais aceito? Onde você será parte de algo, e não apenas um estranho?
— Fowillar, Não acredite nele. — O coração de Loenna estava disparado. Não. Aquilo não estava acontecendo. Não com Fowillar. — Você é amado entre os nossos. Você é querido por mim.
— Você já ouviu isso antes? Aposto que não. — Loenna queria chutar a cara daquele homem insuportável. — Ela está desesperada, Fowillar, sabe que é verdade. Vamos lá, meu filho, a decisão é sua. Volte para nós. É seu presente de aniversário.
E seguiu-se um silêncio mortal; O choro de Fowillar era silencioso, porém pesado. Loenna queria berrar, gritar, socar a cara de Triard Saphira até a morte. Este, sorridente, apenas esperava uma resposta — E ele sabia qual seria a resposta. Sim, é claro que sabia.
— Sim... — Fowillar limpou as lágrimas dos olhos. — Eu sou um Saphira. Eu quero voltar às minhas origens.
Triard Saphira sorriu, satisfeito, e Loenna arregalou os olhos.
— NÃO! — Berrou ela. — Fowillar, você não está fazendo isso comigo...
Ela queria morrer de ódio, socar Fowillar e socar Triard, queria que os dois queimassem e fossem juntos ao inferno. Nunca sentira tanto ódio de alguém quanto estava sentindo de Fowillar. Quando Triard correu para desatar os nós que o prendiam ao tronco de árvore, Loenna desejou que um raio caísse e fritasse os três ao mesmo tempo. Infelizmente, isso não aconteceu.
Por mais que ela desejasse que seus seguidores acabassem com Triard e Fowillar ao mesmo tempo, o pai de Fowillar estava correto em um ponto: Fowillar era o cérebro da rebeldia. Até arrumarem outro estrategista — E um que fosse tão bom quanto o ex amigo. — seria um precioso tempo perdido, no qual os Eran aliados aos Saphira poderiam encontrá-los e derrotá-los. Afinal, eles tinham Fowillar, um ex-membro da organização.
Tanta luta para nada.
— Ah, filho... — Triard abraçou Fowillar. — Eu senti tanto a sua falta...
— Eu também, pai. — Fowillar sorriu. — Eu também...
— CRETINO! NOJENTO! FILHO DE UMA... — Loenna não parava de berrar. Ela queria se soltar dali, quebrar os dois em uma surra (e, com seu ódio, ela seria capaz), mas estava presa. Então, só lhe restava gritar. — SEU TRAIDOR NOJENTO. MEUS SEGUIDORES ESTAVAM CERTOS QUANDO SE OPUSERAM AO NOSSO CASAMENTO. EU JAMAIS DEVERIA TER ACEITADO ME ASSOCIAR COM ALGUÉM COMO VOCÊ.
Triard revirou os olhos.
— Você quer que eu acabe com ela agora? — Perguntou ele.
— Não. — Negou Fowillar. — Deixe que eu faço.
E tomou o punhal das mãos de Triard. O pai sorriu, orgulhoso de seu filho mais velho; Fowillar deu um passo, encarou Loenna nos olhos, e...
Desferiu um golpe na coxa do próprio pai.
Triard perdeu o equilíbrio e caiu no chão; Um rio de sangue caía por sua perna. Loenna encarava a cena, chocada, mas não tão surpresa quanto o pai de Fowillar; O Saphira gritava e tentava se arrastar no chão, manco, mas Fowillar lhe desferiu um segundo golpe, desta vez na outra perna.
— FOWILLAR! — Ele berrou, incapaz de andar, tomado pela dor e pelo desgosto. — O QUE ESTÁ FAZENDO?
— Quando você disse que eu não mereço ser jogado à berlinda da sociedade... — Fowillar segurou o punhal ensanguentado. — Você quis dizer que alguém merece?
— DEIXE DE GRACINHAS! — Triard tentava estancar o sangramento com o próprio sobretudo
— Eu estive dos dois lados, Triard, — Ele não disse "pai", notou Loenna. — E eu sei o que é a fome. A nossa causa é absolutamente legítima, e é um absurdo que ninguém do lado de cá se preocupe com isso.
O Saphira notou que Fowillar não estava brincando. Seu discurso era inflamado e genuíno; Nada o pararia naquele momento.
— Vocês não me querem de volta de verdade, vocês querem desmantelar o que eu e Loenna construímos. Nós dois juntos. — Fowillar cerrou os punhos. — Ela pode me trair um dia, sim. Mas eu confio nela, do mesmo jeito que ela confiou em mim lá atrás. Porque uma amizade é feita na base da confiança.
Triard se manteve berrando, incapaz de mover um músculo.
— E, entre uma família que só me quer porque vê que eu posso ser uma ameaça, e uma plebeia que me acolheu quando eu não era ninguém, eu não tenho dúvidas de qual lado eu vou escolher. — Continuou. — Loenna e seu irmão me acolheram independente de minhas preferências em relacionamentos, e estiveram comigo quando passei fome. Vocês não estão nem aí, nem pra mim, nem para as milhares de pessoas que passam fome todos os dias. Então sim, Triard, eu sou um deles. Eu não sou um Saphira, eu deixei de ser um Saphira no momento em que vocês me expulsaram da família. Eu mancho o sobrenome e a honra, lembra? Pois bem. Meu nome é Fowillar Nalan, um sobrenome que não tem tanto peso quanto o "Saphira", mas que é bem mais honroso.
Após seu discurso, Triard nada pôde fazer além de berrar e xingar. Fowillar se dirigiu à Loenna com o punhal sujo de sangue e se ajoelhou ao lado dela, cortando suas amarras.
— Você realmente achou que eu iria trair você? — Ele parecia um pouco decepcionado.
— Por um momento. — Admitiu Loenna. — Mas eu fico feliz que tenha sido um truque.
— Ele não me soltaria se eu dissesse a verdade. — O rapaz cortou as cordas que envolviam seus pulsos e seus pés. — Eu precisei mentir para poder libertar nós dois.
— Você é um bom ator. — E, novamente, ela se permitiu sorrir. Isso vinha acontecendo com bastante frequência ultimamente.
Liberta das cordas que a envolviam, Loenna se levantou. Esfregou seus pulsos vermelhos por alguns segundos e, em seguida, para a surpresa do rapaz, abraçou Fowillar.
— Feliz Aniversário, Fowillar. E obrigada por me escolher. — Era o segundo abraço de Fowillar em um dia. Isso era deveras surpreendente, principalmente porque Loenna não era lá tão carinhosa. — Eu vou te valorizar mais, você vai ver.
— Ah, obrigado, mas não se incomode com isso. — Disse Fowillar, separando-se de Loenna. — Nem com o meu aniversário, nem com as paranóias que Triard enfiou na sua cabeça.
— Bem, você de fato é o cérebro da resistência. Então, não se preocupe, vou valorizá-lo como tal. — Loenna sorriu. — Mas, falando em Triard... O que vamos fazer com ele?
Loenna apontou para o homem ensanguentado ao seu lado. Seus músculos da perna estavam todos enrijecidos; Naquele estado, ele era incapaz de fugir para qualquer lugar.
— Faça o que quiser. — Fowillar deu de ombros e entregou o punhal para a amiga. — Mas, se for matá-lo... Não me deixe ver, ok? É meu pai, apesar de tudo.
Loenna mordeu os lábios. Encarou a expressão carrancuda de Triard; Queria matá-lo, sem dúvidas, mas será que Fowillar lidaria bem com o peso de ter visto o próprio pai ser morto com sua ajuda e seu aval?
Ela se voltou para o Saphira que estava lutando contra a própria dor. Ele não parecia, contudo, nem um pouco atemorizado.
— VENHA, SUA PLEBEIA NOJENTA. — Berrou. — ME MATE, VAMOS. ESTOU ESPERANDO.
Loenna se aproximou com o punhal em mãos, semicerrando as mãos. Encarava Triard com o mais completo ódio; Ele estava face a face com a morte, mas não perdia a empáfia.
— VOCÊS SÃO TODOS UM BANDO DE SERES MEDÍOCRES. — Ele gritava. — É POR ISSO QUE VOCÊS PASSAM FOME. PORQUE SÃO UM MONTE DE NADA, UM BANDO DE PLEBEUS DE NÍVEL INFERIOR. E VÃO PASSAR FOME PARA SEMPRE, COM OU SEM A MINHA MORTE. VAMOS, VENHA SE TEM CORAGEM.
A garota apontou o punhal para Triard; O Saphira cuspiu em Loenna, egocêntrico como nunca. Ela até cogitou rasgá-lo de cima a baixo com a arma, porque isso seria muito prazeroso naquele momento, mas se lembrou de Fowillar; Aquele derramamento de sangue seria, para ele, um tormento.
— Eu não vou matá-lo agora. — Ela disse, encarando-o no fundo de seus olhos. — Não que você não mereça. Mas eu não quero que Fowillar conviva com o fardo de ter visto a morte do próprio pai na frente de seus olhos.
Dito isso, Loenna virou-se então para o rapaz, ignorando totalmente o seu pai que agonizava em desespero às suas costas. Ele estava claramente aliviado por não ter que vê-lo padecer na sua frente.
— Bem, agora nós vamos ter que sair daqui. — Disse. — Você sabe o caminho de volta?
Fowillar sorriu.
— Com certeza. — Respondeu ele. — Me acompanhe.
***
Roubar um cavalo Saphira e dirigir-se ao acampamento rebelde no meio da noite não foi uma tarefa muito difícil. Escapar dos guardas de Triard, sim, foi mais trabalhoso, mas Fowillar era suficientemente inteligente para saber como eles estariam posicionados e em quais pontos a fuga seria mais fácil. Loenna soube, então, que tinha o melhor parceiro de guerra que poderia imaginar.
Quando alcançou o acampamento rebelde, guiada pelo mapa mental de Fowillar, o sol já despontava ao longe e quem lhe recebeu foi Silena. Ela parecia cansada e abriu um imenso sorriso quando visualizou a líder em seu belo alazão. Ver Loenna era, para ela, um alívio.
— Senhora Nalan! — Disse ela. — EI, PESSOAL! O SENHOR E A SENHORA NALAN ESTÃO DE VOLTA!
E imediatamente vários de seus seguidores saíram de suas barracas e dirigiram-se a Silena — Inclusive Steda. Este, entretanto, não tardou a fugir o mais rápido que podia; Sabia que estava encrencado.
Loenna não tinha tempo a perder. Desceu do cavalo e, com os olhos furiosos, berrou inflamada:
— NÃO DEIXEM STEDA FUGIR! — Imediatamente, dois homens corpulentos barraram sua fuga pelo leste. Steda tentou ainda fugir pelo norte, mas duas garotas impediram sua saída. Sem ter para onde correr, ele puxou a espada e tentou lutar com ambas, mas ao ver que umas vinte lâminas apontavam para seu corpo, a Steda só restou apelar para a conversa.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — Ele gritou. — EU PRECISO FAZER MINHAS NECESSIDADES!
Loenna, furiosa, dirigia-se a um apavorado Steda com um punhal em suas mãos. O traidor imediatamente molhou as calças.
— Acho que não precisa mais. — Observou alguém.
— S-senhorita Nalan! — Vendo que seu plano não havia corrido tão bem, Steda optou por fingir-se de estúpido. — Q-que honra é tê-la aqui! A-achamos que tivesse morrido, veja bem...
Loenna agarrou Steda pela bata de tecido que trajava. Ela não parecia muito feliz.
— Você gostaria que eu estivesse morta, não é? — Loenna espremeu os olhos. — Vamos, Steda. Diga a todo mundo aqui o que você é.
— O-o que eu s-sou? — Steda levou as mãos para trás. — S-sou um g-guerreiro forte e d-destemido, dedicado a trazer a honra para a s-senhora Nalan.
Loenna revirou os olhos.
— Você é tão ruim fingindo-se de idiota quanto é na cama. — E, nesse momento, alguns seguidores de Loenna pareceram surpresos; Ela estava furiosa demais para se importar. — Eu deveria tê-lo executado apenas pela noite ruim. Mas eu vou fazer isso por você ser um TRAIDORZINHO DE MERDA, seu vendido! DIGA A ELES! DIGA A ELES QUE PERDEMOS A ÚLTIMA BATALHA PORQUE VOCÊ VAZOU INFORMAÇÕES!
Uma exclamação de surpresa conjunta tomou conta do acampamento. Suriyon e Lenrah imediatamente se puseram a agarrar Steda, a fim de que não fugisse.
— Eu a amo, senhora Nalan! — Steda tentou, ainda, mudar a decisão de Loenna, mas não seria tão fácil fazê-la se acalmar. — Por favor, me dê mais uma chan...
— Quer que eu o execute, senhora Nalan? — Lenrah carregava uma espada na cintura. — Seria uma honra para mim fazer isso com um traidor.
— Obrigada, Lenrah. — Disse. — Mas eu quero ter o prazer de cortar essa garganta e ver esse sangue maldito escorrer.
Steda se debateu, pediu perdão, disse que não iria acontecer novamente; Falou que foi ameaçado, que era um bom homem, que amava Loenna. Nada disso adiantou; Ele era um servo a favor do sistema. A lâmina de Loenna cortou com maestria; Num ímpeto, a garganta do traidor fora rasgada e seu sangue pintou o corpo musculoso de vermelho.
Kledian Steda estava morto. Loenna limpou o sangue do punhal na barriga e então, diante do corpo inerte de Steda, voltou-se para seus seguidores:
— Que fique o recado para quem escolher, porventura, servir aos nossos inimigos. — Loenna incorporou sua persona mais amedrontadora. Como diria Maquiavel, antes temida do que amada. — Nenhum de vocês foi forçado a estar aqui. Mas quem estiver deve ser fiel e honrar sua palavra. A punição para traidores é e sempre será a morte.
Não demorou muito para que a multidão ao seu redor aplaudisse a atitude de Loenna. O cheiro do sangue de Steda inflamava os revoltosos e os deixava ainda mais ávidos pela guerra; A garota havia, pela primeira vez em muito tempo, acertado.
— O que fizeram enquanto eu estive fora? — Perguntou ela para quem estava ao seu lado.
— Eu e Serpente cuidamos das coisas por aqui quando notamos que havia sumido. — Era Lenrah; Serpente acenou ao longe, com o costumeiro sorriso travesso no rosto. O garoto era, de fato, extremamente responsável para um jovem de 19 anos. — Estava em vias de montar uma caravana para procurá-la. Que bom que você está de volta! Podemos nos tranquilizar.
— Estou de volta, mas "se tranquilizar" é a última coisa que vocês podem fazer no momento. — Alertou Loenna. — Tydan Saphira se juntou com Nerken Kantaa e Morius Eran. Eles são um megaexército unido contra nós agora.
Silêncio no ar; Todos sabiam o que aquilo significava. Os ricos malditos tinham consciência de que, juntos, eram mais poderosos do que separados. E, agora, o bando de Loenna corria mais perigo do que nunca.
— Vamos precisar nos organizar. — Serpente coçou o queixo. Foi a única que se atreveu a responder diante de tamanha informação. — Se eles foram capazes de superar suas desavenças para nos enfrentar... É porque realmente somos fortes.
Loenna sorriu com o canto da boca. Ela precisava de um ponto de vista positivo sobre aquela situação; Ficaria à cargo dela não se desesperar e tomar as atitudes que eram necessárias.
— Não será fácil... — Admitiu ela. — Mas nós somos capazes. Eu sei que somos. Se nenhum de vocês for um traidor... — E chutou o cadáver de Steda ao chão. — Conseguiremos vencer esses malditos. Vocês estão comigo?
Um brado unânime tomou conta do acampamento. Loenna era não apenas uma líder, mas um ideal, uma esperança. E seus seguidores acreditavam nela; Ela havia construído muito mais do que um bando rebelde, mas uma chama de esperança.
A própria, contudo, não sabia se acreditava muito em si mesma. Já havia falhado tantas vezes, por que obteria sucesso dessa vez?
Apenas o tempo diria se estava certa ou não.
***
Oie pessoal! Como vocês estão? Gostaram do Capítulo de hoje? Espero que sim, este é um dos meus preferidos!
Vocês devem ter notado que os capítulos estão ficando um pouco longos ultimamente. Os próximos capítulos daqui ao último (capítulo 50) serão meio grandinhos. Estamos chegando perto do final! Espero que isso não seja um problema.
Obrigada por acompanharem e até sábado!
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