Capítulo 21 - Apenas uma garota e sua mestre (Flashback)
— Mais para baixo. Você vai se desequilibrar se continuar chutando tão alto.
Loenna deu um passo para trás. Limpou o suor do rosto, trincou os lábios, fez que sim. Colocou-se na posição de batalha novamente; Serpente se recompôs e, com as mãos, chamou sua aprendiz para o combate.
E a jovem obedeceu. Iniciou com um chute quase preciso, do qual a mestre desviou. Rodopiou em cento e oitenta graus e lançou outra perna, também um ataque ao vento. Tentou com um soco, mas Serpente agarrou seu punho no ar.
— Você precisa estar mais estável...
E, fechando seu pescoço com o braço, levou Loenna ao chão e a prendeu com seu corpo, deixando-a sem defesa.
A aprendiz perdera novamente.
— Agora você está morta.
Já ofegante, Loenna fez que sim. Deu dois tapinhas no braço de Serpente e, assim, ela desmontou a guarda, liberando a menina.
-—Já te disse isso antes, você precisa ser mais racional e menos impulsiva. — Não escorria uma gota de suor pela testa de Serpente; Tudo aquilo parecia muito fácil para ela. — Precisa aprender a agir com inteligência e rapidez. Você foi rápida, mas sua ação não foi muito inteligente, então foi pouco efetiva. Compreende?
Ela fez que sim.
— Temos mesmo que continuar fazendo isso?
— Temos, porque eu vejo seu potencial na luta corpo a corpo. — Disse Serpente. — Você é boa, é troncuda e possui bastante força física. Só precisa controlar seus impulsos.
Imediatamente, Loenna se retraiu.
— Eu... — E mordeu os lábios. — Eu não gosto quando você me lembra que o meu corpo é... Assim.
Serpente ergueu as sobrancelhas.
— Te incomoda?
Desconfortável, Loenna fez que sim.
— Eu não sou... Como as outras meninas. — E esfregou os braços, constrangida. — Elas são todas graciosas e delicadas. Eu, não. Sou desajeitada e bruta. Por isso Eriwan Gehl não conseguia me ensinar.
Serpente soltou um sorriso sereno. Levantou-se e buscou uma espécie de cantil que se encontrava atrás de uma árvore.
— Eu poderia fingir que você não é grande e troncuda. — Disse Serpente. — Mas eu prefiro que você enxergue o poder que há nisso.
Loenna franziu a testa.
— Como assim?
Serpente abriu o sorriso e tomou um gole do cantil.
— Você sabe por que me chamam de Serpente?
— Porque... — Mas afinal, qual era o propósito daquilo? — Porque você é silenciosa e mortífera. Eu sei disso. Me contaram no dia em que fiz 18 anos.
Naquele exato momento, Serpente soltou uma gargalhada — E Loenna seguia sem entender uma vírgula.
— Bem, eu devo ter lhe contado que treino desde os sete anos. — Relembou. — Isso aconteceu porque, quando cheguei aqui, eu não era exatamente querida entre os meus coleguinhas, então precisava de uma forma de me abstrair do convívio com eles.
Não era querida? Mas Serpente sempre fora tão fenomenal. Como alguém poderia não gostar dela?
— Eu tenho um irmão mais velho meio mala que fez umas escolhas erradas na vida. — Continuou Serpente. — E a minha mãe era prostituta, como você já sabe. Ela era famosa por prestar serviços aos nobres da cidade, o que significa que meu pai possivelmente é um deles, mas ele não se importa o suficiente com as crianças de uma puta para me dar uma vida digna. Isso fez com que meus colegas sentissem que eu não era um deles; Eu sempre fui excluída e isolada. Eu era a esquisita do grupo. Nisso, eu era zombada o tempo todo, feita de chacota e um dos apelidinhos que eu recebi se referia justamente ao meu corpo. Sempre fui muito esguia, alta e magricela, portanto me chamavam de...
— Serpente... — Completou Loenna.
Serpente fez que sim.
— É o nosso segredinho, tá? — E piscou. — Eu prefiro a outra versão, mesmo ela não sendo verdadeira.
— Mas... — Loenna abaixou a cabeça. — O que você quer dizer quando diz que há poder no fato de eu ser uma brutamontes?
Serpente tomou outro gole de seu cantil.
— Bem, eu era esquisita, não era? — Loenna fez que sim. — Pois bem, agora sou excêntrica e misteriosa. Percebe que eu sempre fui e não deixei de ser nenhuma dessas coisas? Eu apenas as tomei para mim como forma de poder, e não como depreciação. A Serpente pode ser esguia e magra, mas ela também é mortífera e silenciosa.
E, de repente, aquilo tudo passou a fazer sentido. Mais importante do que saber como surgiu o apelido de Serpente era entender que nem sempre ela fora tão imponente quanto é hoje e que, diferentemente de como Loenna costumava avaliar, ela também tinha falhas. E suas falhas faziam tão parte da construção de seu ser quanto seus pontos fortes, mas entender como ela era e quem ela era a fizeram grande como é hoje.
— Você percebe que não é ágil e delicada como as outras meninas, mas é muito mais forte que a maioria delas? — Continuou Serpente. — Talvez você iria mal em uma corrida, mas certamente se daria bem em uma luta corpo a corpo. Precisa aprender a valorizar o que você é, e, assim, fazer disso o seu escudo. Compreende o que quero dizer?
Loenna fez que sim. Serpente esboçou um sorrisinho.
— Ótimo. — E tomou outro gole de seu cantil. — Com o tempo você vai aprender a fazer fortalezas das suas inseguranças. — Em seguida, ergueu o cantil para Loenna. — Quer um gole?
— O que é isso? — Loenna tomou o cantil das mãos de Serpente. — Água?
— Não. — Respondeu ela. — É vinho.
Loenna franziu o cenho.
— Nós não podemos beber bebidas alcoolicas aqui dentro. É uma regra
— Eu faço minhas próprias regras. — Disse Serpente. — E minhas discípulas também. Vamos, beba um pouco.
Relutante, Loenna tomou o cantil em suas mãos. Agitou-o em suas mãos, sentiu o cheiro do vinho.
Pôs o cantil na boca, tomou um gole. O gosto era adocicado e forte, o sabor acentuado do álcool vinha a sua boca. Nada mal, pensou ela, recompondo-se em seguida.
— Bom, depois dessa longa pausa... — Serpente tomou o cantil de suas mãos. — Acho que está na hora de retomarmos o treino, não acha?
Imediatamente, os músculos de Loenna começaram a doer. Bem, mais uma sessão de treino extenuante, pensou ela. Fez que sim com a cabeça, já ardente pelo que havia por vir.
Serpente se levantou, pôs o cantil ao lado de uma árvore e armou a posição de combate. Fez um sinal para que Loenna fizesse o mesmo, e assim ela o fez: Pôs-se em frente da mestre, em guarda, pronta para mais um combate
E Serpente ergueu as palmas das mãos, sinalizando para que Loenna investisse. Ela assim o fez - Iniciou com um chute rígido, cortando o ar.
— Mais para baixo. — Disse Serpente, desviando-se. Loenna girou em cento e oitenta graus e atacou novamente. — Isso, mas tente ficar mais estável. Mais para direita. Para a direita! Cuidado com o...
E, naquele momento, Loenna acertou um chute incisivo no nariz de Serpente.
A mestre deu dois passos para trás, desequilibrou-se e caiu sentada no chão. Loenna fechou os punhos, esperando um contra-ataque, mas Serpente parecia atordoada demais para qualquer coisa. Quando olhou pela segunda vez, Loenna notou que do seu nariz escorria um filete de sangue.
Ela desmontou de sua posição de combate. Estava aflita; Aquilo jamais tinha acontecido antes.
— Se... Serpente? — Aquilo parecia algum tipo de pegadinha. Serpente voltou seu olhar para Loenna e, em seguida, sorriu.
— Parabéns, Loenna. — Afirmou ela. — Você conseguiu.
— Você está sangrando. — E imediatamente pôs-se de joelhos, em frente a Serpente. O sangue já escorria por seu queixo.
— Ah, isso? — Serpente retirou o sangue que corria pelos seus lábios com as costas da mão. — Não é nada. Ossos do ofí...
Mas, antes que Serpente pudesse completar a frase, Loenna notou que as duas estavam se encarando.
E, pelo visto, Serpente notara aquilo também. Ela sorriu e soltou um singelo riso travesso.
Loenna ficou desconcertada. Olhou para as próprias mãos. Para os próprios pés, em seguida olhou para Serpente. Seus batimentos cardíacos estavam acelerados, mas não por conta de seu treino; Algo estava acontecendo ali. Sim, com certeza algo estava acontecendo ali. Mas ela não sabia o que era e, por alguma razão, isso a deixava ainda mais confusa.
Serpente pôs a mão direita em sua nuca, brincando com seu cabelo. Loenna se arrepiou da cabeça aos pés. Algo estava acontecendo ali.
— Você está com medo?
E, mesmo sem saber por que ou do que, Loenna se viu fazendo que sim com a cabeça. Serpente riu baixinho.
— Não fique. — E aproximou seu rosto do de Loenna. — Está tudo bem.
Loenna conseguia sentir a respiração de Serpente. Sua mão esquerda se entrelaçava com a dela, que usava a direita para brincar com seu cabelo.
E, súbitamente, Serpente a beijou.
Foi quase como o explodir de uma bomba; Loenna não sabia muito como se sentir. Serpente brincava com sua língua, de um lado para o outro, e Loenna a acompanhava.
Era quase como se estivesse esperando por aquele momento.
E, imediatamente, se deu conta de que era aquilo que ela desejava.
Seus lábios seguiam se tocando, enquanto as mãos de Serpente brincavam com o cabelo de Loenna e a faziam se sentir nas nuvens. Naquele momento eram somente as duas: Serpente e Loenna, Loenna e Serpente, as duas conectadas naquele beijo intenso e único.
Por um minuto, era como se aquele momento nunca fosse acabar, acontecesse o que acontecesse.
Foi quando Serpente partiu o beijo. As duas se encararam por mais um momento silencioso, até que Loenna se deu conta do que havia acontecido e se retraiu, envergonhada.
— O que foi? — Perguntou Serpente, sorridente, acariciando suas bochechas.
Loenna corou.
— Isso... — Sua voz falhava. — Isso era para ter acontecido?
Serpente riu e ergueu o rosto de Loenna pelo queixo, encarando-a no fundo de seus olhos.
— Vamos encerrar seu treino por aqui hoje, está bem? — E correu um dedo por seus lábios.
Loenna fez que sim com a cabeça. Serpente sorriu, se levantou e caminhou em direção ao horizonte, voltando-se para Loenna uma última vez.
— Até amanhã. — Despediu-se.
***
Considerações finais: Queria só dizer que Serpente dando alcool para a Loenna = Tudo para mim
Não sei se vocês estavam ansiosos para o beijo Loente, mas ele finalmente aconteceu. Espero que tenham gostado do capítulo, pessoal! Até quarta (ou sábado) e não se esqueçam de deixar as estrelinhas e os comentários es estiverem gostando! Obrigada pelo carinho e pelo apoio!
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