Você estava ali.

E eu não era nada.

Sempre naquele canto, não sabia bem o que ia além e ainda não tinha nada que o trouxesse pra mim.

Mas toda a espera compensou o primeiro olhar de verdade que ganhei.
Depois disso, aquele canto escuro nunca mais foi o mesmo.

Eu era ainda maior que você naquela época, mas sem medo algum nós nos descobrimos devagar.

Você me amou de verdade. Eu sabia e você também, que era o seu primeiro amor.

Você, as notas e eu, nossa historia foi escrita naquelas velhas partituras.

E você me amou tanto.

Nós fomos felizes juntos, cantando o nosso amor, porque eu também te amei.

Sem saber o que tudo aquilo significava, tolos, vivíamos. Inocentes.

Mas o tempo soprou em nossa relação e sem percebermos, sua altura já era maior que a minha.

A distância começou a vir, por mais que quisesse se aproximar de mim, eu não era mais a primeira opção.

Você não sentiu, mas aquilo doeu.

Eu fiquei no esquecimento.

Eu sentia a solidão caindo em mim como a poeira que vem com o abandono.
Mas eu te disse que fosse, eu ficaria bem.
Foram camadas de pó, mas eu te esperei, ainda havia fé e não importa o tempo, te receberia de braços abertos, por que eu fui o seu primeiro amor.

E você veio. Protegi o seu espaço, frente a frente comigo e senti seus dedos passearem por mim mais uma vez, agora mais firmes e seguros, eu senti tua saudade.

"Nós recebemos juntos o amanhecer".

Eu nunca mais soltaria a sua mão e foi o que você também me prometeu.

Eu observei os passos que o trouxeram de volta, quis secar cada lágrima de medo, e fazer sons para apagar o olhar assombrado.

Mas lembra?

Eu te disse que estaria aqui, que eu suportaria o peso do seu medo, por que sempre iria acreditar na sua força.

E não importa o caminho até o dia em que você se for, eu te darei minha força e segurarei sua mão. Eu te verei fazer brilhar a nossa história.

Por que no canto da sua memória, na sua casa de infância, vou sempre ser o piano marrom escostado ao lado.

Vou sempre ser o seu primeiro amor.