21° Capítulo - Saída
Renesmee
"Então vá em frente e arrume sua coroa
E veja tudo queimar na fumaça
Vá em frente e mantenha-se firme
Estamos no longo caminho para a liberdade
Muito tempo tentando descobrir o porquê
Muito tempo para ser paciente
Todo esse tempo nos alimentando com mentiras
Não há verdade em suas declarações
Muita dor nessas mentirinhas
Eu posso ver seu rosto, ver a luz em seus olhos
Eu posso ver a mudança, sentir o calor do fogo
Se você pode sentir dor, então você sabe que está vivo
Mas eu chorei pela última vez
Você ficaria grato se estivesse no meu lugar?
Diga, uma única coisa e eu vou usá-la
Uma última chance e você estragou tudo
Uma última dança nas ruínas
Muito ódio em suas ações
Uma última oração aos pecadores
Você só aprende o que testemunha."
JORJA SMITH - BY ANY MEANS
Uma piada.
Renesmee não gosta de pensar no quanto se parece com uma nesse momento, mas Demetri não ri, e ele sempre ri de coisas engraçadas — até mesmo das que que não são — e isso a acalma. Por menos tempo do que deveria, provavelmente.
Ela aperta o Volturi como se sua vida dependesse disso, parecia depender.
Uma piada.
Esse tempo todo, era isso o que era?
O machucado causado por si própria em uma das mãos, quando a apertou na casa instantes atrás, não tendo fechado e fazendo um ótimo trabalho em sujar o pescoço do homem envolto por seus braços. Já teria fechado se não tivesse, bem, morrido várias vezes nos últimos dias, e ficado sem consumir sangue por muito mais.
Apesar disso, de tudo isso, ela nota seu instinto voltando — seus sentidos melhorando, seus batimentos reduzindo —, é pouco, uma pequena mudança devido à fraqueza, mas está lá, está lá.
Estava agitada.
Derrotada.
Irritada.
O espaço vazio que a conexão antes costumava preencher jamais podendo ser esquecido, nem mesmo em meio a toda essa recente confusão. A híbrida sente dor por isso, por tudo. Sua família, sua própria família. Mas tem algo mais lá, algo além de Carlie, além de todos, algo que nunca esteve antes, que nunca percebeu estar — embora, caso decidisse realmente pensar de maneira honesta, Paul tenha visto isso muito antes até mesmo de que acontecesse.
Algo além do sofrimento.
Além da escuridão arrebatadora.
Raiva.
Ela sente raiva.
Muita, muita raiva.
Ainda pensando nisso, Renesmee sente quando o grego aumenta o aperto em sua cintura quase ao ponto de machucar, teria agradecido se conseguisse falar.
Queria isso, dor, qualquer coisa. Sentir em seu físico qualquer coisa capaz de a livrar do mental. Queria que a apertasse mais, que a partisse, que a destruísse, embora não peça mesmo quando diversos minutos se passam, ou segundos, ou horas, ela realmente não sabe em meio a enorme onda de ódio que a atinge não tão lentamente quanto deveria.
Não pediu. Não conseguia.
Não queria falar, queria rosnar. Destruir. Destroçar.
A ruiva tentou focar em outra coisa, qualquer outra coisa capaz de a impedir de tentar sair dos braços do grego para voltar e tentar fazer algo que não sabia se estaria arrependida depois.
Ela pensa em como é quase reconfortante o quão perto está do homem que todos tanto odeiam, do homem que Jacob tanto odeia.
É uma menina má por isso?
Talvez devesse ser má no final das contas. Olha no que tentar ser boa acarretou.
A Cullen — por que é isso que ela é, certo? Uma Cullen. Ela ainda é? — ri em meio às lágrimas sem nem sequer perceber que está chorando.
Rir era melhor do que pensar em como o ar gelado da nebulosa manhã dentro da floresta de Forks parecia a sufocar mais do que o normal, e ela estava acostumada a se sentir sufocada.
Sua risada aumenta, sua respiração travando em meio às gargalhadas e soluços.
Ainda pode sentir o cheiro deles, na lama, nas árvores, em tudo, de todos eles.
Eles sabiam. Todos sabiam.
Ela engasga mais quando pensa em como todos esses anos de tentativas, de fingimentos, simplesmente não serviram para merda nenhuma.
Tinha tentado, tentado tanto.
Guardou o arco, guardou a merda do arco, guardou tudo, guardou a si mesma.
Tentado esconder quem era, o que queria.
Por quê?
Pelo quê?
Carlie morreu, sabia, era a única explicação para a ligação não estar mais lá, nada belo poderia sobreviver à morte, nada puro. Alguns poderiam pensar que vampiros sobreviviam. Não, não assim. Monstros, era isso o que eram. Não sobreviviam à morte, voltavam pior. Sugadores de sangue, de vida. Entendia agora, realmente entendia.
Talvez tenha sido isso, talvez. Jacob deve ter se apaixonado por sua mãe antes da transformação, se apaixonado pela vida, mas então Isabella morreu e ela nasceu, não totalmente, mas parcialmente, parcialmente bela, parcialmente pura, parcialmente humana. Tentar com a filha o que a progenitora já não podia mais ser capaz de oferecer. O riso da híbrida aumenta ao pensar no quanto fazia sentido, no quanto tudo fazia sentido. Piada. Piada.
Carlie morreu e essa não era a pior coisa pela qual tinha passado — não, ela voltaria, claro que voltaria, provavelmente já até o tinha —, pior parte era o fato de a ter deixado sozinha.
O que havia feito, o que sentia a respeito, a ter deixado carregando tudo sozinha, carregando a si própria para nenhum lugar além da escuridão, para qualquer lugar sem a luz que pudesse iluminar suas ações, seus pensamentos, sua monstruosidade.
Renesmee sabia como era a sensação.
Sempre soube.
Se não tivesse se calado, se diminuído para caber nas expectativas deles, para caber na expectativa dele. Se não tivesse. Se tivessem conversado sobre isso, conversado sobre tudo.
Tinha tentado, tentado tanto.
Guardou o arco, guardou a merda do arco, guardou tudo, guardou a si mesma.
Tentando esconder quem era, o que queria.
Sua gêmea está longe agora e todo esse sofrimento para se anular não serviu para merda nenhuma.
Seu coração estava destruído agora e todo esse sofrimento para se anular não serviu para nada além de a machucar.
Coração.
Ela o ama? A Jacob?
Provavelmente.
Digo, ela sequer teve tempo para pensar a respeito? A híbrida percebe agora.
Ela não pode deixar de se questionar se sempre o amou e por isso sempre o teve por perto, ou se ele estava sempre perto e por isso aceitou que deveria o amar.
É tudo tão, tão confuso.
Rosalie o odiava, Edward o odiava.
Por que ninguém nunca o afastou?
Por que nunca fizeram nada?
Todos sabiam. Todos sabiam.
Todos sempre afastaram o Alec.
Ela não costuma sentir isso, não gosta de sentir. A vontade de sangue humano, o desejo de selvagerismo, ela pode lidar com isso, mas não com qualquer sentimento ruim direcionado a irmã, não quando parece que não tem nada mais direcionado a gêmea, nada desde que a conexão se foi.
Esse sentimento, esse amor, a única coisa bela que ainda possui, a única coisa pura, ela não pode o deixar ir, não quando é a única coisa viva que lhe resta, a única coisa não monstruosa.
Talvez ele já esteja indo.
Alec leu para Carlie uma vez, a deu uma película em um de seus aniversários, e a ajudou o quê? Três vezes?
Todos sempre tentaram afastar Alec de sua gêmea e o Volturi nunca tinha feito nada além de já se manter afastado.
Ninguém nunca afastou Jacob.
Por que ninguém nunca o afastou?
Por que ninguém nunca se importou?
A meia vampira sabe como é a escuridão do outro lado agora, a escuridão da morte, ela teme menos do que deveria e isso é perigoso. Ela muda a linha de raciocínio porque seus pensamentos estão indo para lugares perigosos. Sua garganta coça mais do que seu olho arde e isso é um perfeito indicativo disso.
Renesmee lembra de como todos sempre tentaram afastar o Volturi com execução de sua mãe.
Ter opções, foi o que o Edward disse, ter opções, é quase engraçado, ela se pergunta se já teve opção ao menos uma vez, sobre qualquer coisa.
Seu coração destruído.
Ela tenta se concentrar na sensação das folhas que Demetri pisoteia em sua rápida corrida ao invés de em como abriu mão de tudo o que era para que seu pai saísse sem sequer a perguntar se estava bem, para que Rosalie não estivesse ali para a ver despertar, para que Jacob a escolhesse apenas porque não havia conseguido ser o escolhido de sua mãe.
Eles estavam atrás da mais nova, ela tentou se convencer antes. Isso não deveria ser uma desculpa e talvez já não seja mais. Ela não culpa a irmã, isso não significa que faça o mesmo com os outros.
Se concentrar na vegetação é uma péssima ideia porque a lembra das aulas com Paul, que realizavam na parte mais remota e inabitável da floresta. Não tinha folhas lá. Era uma clareira no topo do penhasco mais alto que haviam encontrado, as nuvens escondendo suas fraquezas dos olhos alheios.
Foi estranho, ela estava na casa do avô quando aconteceu, sentada na grama do jardim traseiro lendo os livros de psicologia que costumavam ser de Leah enquanto Carlie aprendia, sob a tutela do xerife, a desmontar uma escopeta. Lahote a olhou nesse dia, realmente a olhou, e isso por si só já era inusitado porque ele sempre se deu melhor com a gêmea dos olhos verdes — todos se davam — e disse que a treinaria, foi isso, nada além.
Isso a apavorou como o inferno porque ninguém a olhava, digo, todos olhavam, ninguém a via, ninguém nunca via, nem mesmo Carlie, e sequer pode a culpar por isso, tendo aprendido com o tempo a manipular a comunicação gerada pela conexão só deixando passar o que considerava necessário, Deus, como não devia ter aprendido isso.
Ela se lembra de como Seth riu achando que era uma piada e disse que a sobrinha não precisava disso. Lembra de ter rido também para o acompanhar. Lembra que não foi engraçado.
Piada. Piada.
As aulas não eram, exatamente, aulas. Ele a dizia para o bater. Ela se negava. Ele a irritava até que ela o fizesse. Ela pedia desculpas no final. Ele falava toda aquela merda sobre raiva contida que agora eu, você, e ela sabemos que era verdade, e talvez, depois, se estivesse em um bom dia, ou ela em um ruim o suficiente, a levava para caçar.
De um estranho modo Lahote a acolheu, a ensinou coisas que nenhum outro jamais teve coragem de ensinar, ela chegou a pensar que ele entendia, ela quase, quase confessou, o quanto doía, o quanto doía o tempo todo, o quanto doía não poder fazer doer, o quanto queria ser livre, o quanto talvez isso significasse fazer coisas que eles definitivamente não aceitariam, ela quase contou, ele sabia, o tempo todo, ele sabia, de Jacob, de tudo, ele não a contou, ninguém a contou. Segunda opção. Segunda opção.
Ela vê agora, realmente vê.
Sugadores de sangue, sugadores de vida.
Se todos são assim, porque ela não pode ser?
Cullens podem não tomar sangue humano, mas haviam tomado algo ainda maior dela: o respeito; a confiança.
Seu riso cessa, suas unhas cravando no pescoço masculino que aos poucos passa de sujo de seu sangue para sujo do dele. Ela sabe que está o machucando, não consegue controlar, não sabe se quer parar, não ele, mas precisa machucar algo, e se não for ele, então talvez não consiga mais ignorar o quanto o cheiro dos lobos parecem estar por todo lugar naquela maldita floresta.
O vampiro não se pronuncia, nada, nem mesmo um mísero resmungo de dor, Renesmee teria gostado que ele tivesse reclamado, talvez a xingado, a soltado, qualquer coisa, qualquer coisa que justificasse a revolta dela e a atitude que queria tomar porque céus como ela queria socar alguém.
Certo, droga, a merda do problema com a raiva.
Dane-se. Talvez não fosse um problema no final.
Talvez fosse sua libertação, a libertação de nunca mais ter que se submeter a nada que não quisesse, de nunca mais ter que se submeter a nada.
Ela não quer o soltar, não quer deixar de o machucar, não quando todo o sentimento dentro de si está se transformando em ódio, não quando provavelmente já se transformou.
— Estamos saindo, Renesmee. — Demetri sussurra, não é nada do que ela achou que seria, nenhuma piada irônica, nenhuma alfinetada disfarçada, nenhum comentário idiota que a destruiria ainda mais. Ele está sério, seu tom está sério, ela nunca o ouviu assim antes. É a primeira vez que ele a chama por seu nome, e não por seu apelido, desde que a conheceu. A menina não o fita, e sim a paisagem que passa rapidamente por seu campo de visão, mas ela sabe, ela quase consegue sentir o quanto seus olhos brilham com a determinação de a afastar, de a afastar de tudo o que não era, de a afastar deles. — Estamos saindo. — Ele repete quase como se quisesse a reconfortar, quase como se quisesse porque isso definitivamente não é algo que o rastreador faria. Reconforta.
Estamos saindo. É o que diz. Ele está a levando, não a salvando, é o que fica subentendido.
Ela gosta porque a salvar seria algo que Jacob faria, é que o que ele sempre faz, a salvando de tudo, mesmo do que não era perigoso, mesmo do que ela não considerava preciso ser salva.
Ele nunca percebeu que talvez ela quisesse que tivessem que salvar os outros dela, não o contrário.
Apesar disso, de toda a confusão em sua cabeça e de como suas presas clamam para serem cravadas em algo, ela não consegue deixar de pensar em quando foi que o rastreador passou a conhecê-la tão bem. Quando foi que ficaram tão próximos se estavam quase sempre tão afastados. Ela sabe a resposta antes mesmo de que tal questionamento se complete, como se aproximaram exatamente por não o fazerem. Não como Jacob, não como qualquer outro, ele nunca a sufocou, não ele.
Demetri teria a contado se soubesse, ela sabe disso mais do que sabe o próprio sobrenome agora, ele realmente teria.
— Por favor, Demetri. Saia comigo. — É a primeira vez que o chama por seu nome, e não por seu apelido, desde que o conheceu.
Me leve, mas não me salve.
Não quero ser salva.
・ ❁ ・
Não sei muito o que comentar para ser sincera.
Esse cap pra mim foi mais decisivo do que triste ou qualquer outra coisa.
Falando como leitora e não como escritora, assim como com a Carlie eu realmente não acho que a Renesmee vá voltar, pelo menos não por hora. Ela finalmente tomou a decisão dela e, apesar da situação complicada, eu fiquei muito feliz por isso.
Por motivos bons ou ruins ela finalmente se libertou, e qual é, a bichinha tá presa desde o início da história praticamente, se obrigando a ser a mocinha Cullen o tempo todo, pra mim msm se não tivesse tido toda essa situação com a Carlie isso teria acabado acontecendo uma hora ou outra, e estou contente que finalmente veio.
Ela não vendo o Deme como um salvador, falando q isso seria algo q o Jacob faria, falando que não quer ser salva, pra mim foi o baque final e decisivo.
Além disso tbm vimos outra coisa ao longo do cap q eu não sei como vai ser a reação de vcs, mas tbm achei necessário.
Não sei se vcs notaram, mas Renesmee sempre colocou a Carlie acima de si própria, tem vários sinais disso, principalmente quando ela para de tomar sangue pq a Carlie não estava mais se sentindo confortável com isso (depois do ataque) sendo que era a única coisa q ela fazia q gostava, mas agora a gente vê ela meio q quebrando esse ciclo, ela não odeia a irmã, claro, mas vcs viram q parece q a irmã tá deixando de ser a prioridade dela mesmo q ela não queira? Ela falando q não pode deixar esse sentimento ir, e depois mostrando que ele provavelmente já está.
Eu não consigo ver um cenário onde Renesmee não ame a Carlie, mas sinceramente ficou feliz dela finalmente estar se colocando um pouco como prioridade.
Apesar se toda essa confusão ter vindo de um "mal entendido" tentei mostrar que não foi só por isso q tudo desandou, ela já tinha quase todas essas dúvidas desde muito tempo, isso foi como a última gota d'água q faz o copo transbordar,
Enfim, me contem oq tão achando.
Nesse cap tentei fazer algo um pouco diferente, transmitir os próprios pensamentos de Renesmee junto da narração da história, senti q assim consegui transmitir melhor oq estava acontecendo em todos os sentidos, na cabeça dela, no cenário geral, espero que não tenha ficado muito confuso e que tenha dado pra entender.
Queria soltar dois caps juntos, esse e o próximo da Carlie, mas aí ia demorar mais pra sair e pensei q vcs gostariam de ler logo, então mandei só esse pra adiantar, é isso, a saga Cullen foi oficialmente encerrada com esse capítulo e agr vamos finalizar entrar na dos Volturi, eu sei q já disse isso antes, mas agora juro que é sério kkkkkkk
Durante a saga dos Volturi talvez eu solte uns caps especiais da Renesmee, pq eu realmente gostaria de trazer mais ela, até porque não da pra separar as gêmeas, msm elas estando separadas, pra mim uma só existe pela outra mesmo depois de tudo.
É isso, espero q tenham gostado e beijinhos.
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