20° Capítulo - Dor
Continuação do 16° Capítulo - Adolescência
Ponto de vista de Renesmee.
"Porque eu apenas me sinto tão cansado
Como se estivesse movendo
ou morrendo lentamente
Você não é você quando está assim
Este não é você e você sabe disso
Mas não é esse o objetivo?
Porque eu sou bagunçado pra caralho às vezes
Mas ainda poderia ser qualquer
coisa que você quisesse
Porque eu sou bagunçado pra caralho as vezes
E vou dizer coisas que eu não quero dizer
Tão cruéis essas palavras que digo
Apenas dizendo o que eu deveria dizer
Eu não posso te amar quando
eu sequer consigo amar a mim mesmo
Porque eu apenas me sinto tão cansado
Como se eu precisasse de algo
pra me fazer sentir vivo."
EDEN - DRUGS
Surpresa.
Não medo. Não desgosto. Não decepção.
A primeira coisa que Renesmee sentiu em meio a toda essa inesperada situação foi surpresa.
Ela fitou os olhos agora vermelhos da irmã não porque a cor havia chamado sua atenção, embora fosse definitivamente algo digno de conversa em outro momento, mas por que as lágrimas tinham, as lágrimas que começaram lentamente a abrir caminho pelo rosto feminino, o triste sorriso no rosto a sua frente também.
Tristeza.
Foi a segunda coisa que sentiu, não porque era o que sentia, mas porque era o que Carlie sentia, vocês sabem, a conexão das gêmeas.
Carlie disse que não era porque não queria ser boa, era porque não conseguia.
Arrependimento. Essa foi a terceira.
Ela disse que não aguentava mais ser a garotinha perfeita só porque Carlie não queria ser, disse mesmo que soubesse que suas atitudes e pensamentos nada tinha a ver com a outra Cullen, que nunca tiveram, disse mesmo que soubesse. Ela o fez, gritou para que todos pudessem ouvir, gritou as palavras, as piores palavras, gritou como deveria ter gritado para si mesma.
Carlia chorava.
Renesmee não percebeu que chorava também.
Ela sabia, desde o encontro, sabia que algo estava errado, conhecia a gêmea melhor do que qualquer outro para saber.
Não parou de tomar sangue porque queria, Deus, claro que não, era o momento que mais desejava, que ansiava com tanta vontade que chegava quase a doer, e era tão difícil.
Todos queriam que elas agissem como humanas, que passassem a se alimentar como uma, era muito arriscado as deixar desenvolver o lado vampiro mais do que já estava, eles falavam, mas então Garrett, Emmett e as irmãs indígenas as levaram para caçar na época do conflito Volturi e isso tinha sido, sem sombra de dúvidas, a coisa mais legal que já havia feito em toda a sua curta vida — embora tenha tido cuidado de mostrar exatamente o oposto, era assim, sempre foi.
Amou a caça de uma maneira que ninguém jamais percebeu, amou o sangue mais do que deixaria qualquer um descobrir.
Ela sabia que não devia, mas fez.
Quando Rosalie os puniu, a Emmett e a Garrett, ela quis chorar de uma maneira que nunca tinha desejado antes, ela amava a mãe — porque sim, era isso que a loira era, sua segunda mãe — mas, pela primeira vez, no fundo de seu âmago, a odiou um pouco, também ao pai. Ele pegou leve pelo contexto em que se encontravam, de possível morte e vocês sabem o resto, mas não pôde deixar de pensar no olhar que lhe foi direcionado, era pela preocupação, ela sabia, ela realmente sabia, mas a repreensão que existia ali, a decepção, ela também o odiou por mais errado que isso pudesse parecer. Por que eles faziam com que a única coisa que havia gostado parecesse tão... ruim?
Não queria receber esse olhar de decepção mais uma vez.
Ela poderia ser diferente, realmente poderia, então apenas escondeu isso, ela estava se tornando boa em esconder as coisas de qualquer maneira.
Se convenceu de que precisava ser perfeita. Essa era a maior mentira que poderia contar para si mesma, para todos. Ela sabe. Não é sobre perfeição, é sobre não querer que eles soubessem a verdade sobre quem realmente era.
Quando ganhou o arco de Demetri as coisas se complicaram, embora pensar nisso seja mais estranho do que pensar no fato dele realmente ter a dado um presente, um bom presente.
Foi impossível esconder a satisfação.
Quando segurou o arco e atirou pela primeira vez ela soube que ele sabia, claro que ele sabia, ela era tão desbalanceada quanto ele. Tentou esconder, ela sempre tentava, fingir que se tratava apenas de uma brincadeira infantil enquanto corriam pela floresta se escondendo e se atacando, talvez realmente fosse, mas ela gostou disso, gostou ao ponto de não conseguir esconder e isso era um risco, ela deveria mudar, ela realmente deveria.
Renesmee nunca mais usou o arco depois disso.
Abriu mão de uma parte de si no dia em que o guardou.
Ela estava abrindo mão de muitas coisas, mas não do sangue, não disso.
Não era tão frequente ao ponto de ser um risco, e sinceramente, a Cullen não conseguiria parar mesmo se fosse, às vezes, quando estavam de bom humor e com condições favoráveis Garrett, Emmett ou Jasper as levavam de novo, ela tinha ficado boa nisso e feito Carlie ficar também, elas poderiam tomar um banho na volta e perfumes para disfarçar o cheiro, uma comida leve para fazer os olhos voltarem ao normal, quanto menos arriscado fosse mais eles confiariam nelas para as levar novamente, ela tinha depositado boa parte das suas esperanças nisso.
Paul passou a também levá-la para caçar embora isso tenha acontecido de uma maneira bizarra demais para a híbrida querer comentar a respeito agora — o mesmo motivo que a fez começar as tão famosas lutas para a raiva.
Bella ajudava, sempre arrumando uma desculpa para que todos saíssem de casa facilitando assim para que os meninos as levassem. Elas nunca conversaram a respeito, então Renesmee nunca soube se era proposital ou não, ela esperava que não fosse, não gostava da ideia da mãe saber a respeito, ainda lembrava da reação de Rosalie, de como ela brigou com o marido, não queria ser o motivo de algo assim de novo.
Embora Renesmee soubesse que não conseguiria esconder isso para sempre, mesmo sendo boa nisso, estava realmente decidida a tentar pelo máximo de tempo possível, pelo menos foi o que pensou até Carlie simplesmente travar antes de saltar sobre uma pantera durante a última caçada, ela recuou quando o tio gigantesco o fez, foi quase nada, apenas alguns milímetros, mas a ruiva viu, ela sempre via quando se tratava da irmã. Elas foram embora depois disso. Renesmee não se alimentou nesse dia. Carlie também não.
A mais velha recusou quando Jasper a chamou para ir de novo alguns dias depois, Carlie não precisaria ir se ela não fosse e ela sabia que a gêmea não queria. Apenas sabia.
Ela poderia abrir mão disso se significasse o bem da irmã, mesmo que doesse, mesmo que significasse perder mais uma parte de si, a única que ainda restava, ela poderia, realmente poderia.
Renesmee esperou. Carlie contaria o que aconteceu quando finalmente reunisse coragem o suficiente para o fazer, era estranho, Carlie nunca precisou de tempo para reunir coragem para nada. Mesmo assim esperou, era o que a boa gêmea fazia, ficava quieta e esperava, era o que sempre fez. Esperou até que isso a consumisse por dentro e já não conseguisse esperar mais, quando a falta de sangue começou a afetá-la de uma maneira que nunca antes imaginou que afetaria, esperou até não aguentar esperar mais, esperou por uma confissão que veio tarde demais.
Queria estender a mão e dizer que tudo ficaria bem, dizer que sua irmã era a pessoa mais bondosa e de coração nobre que havia conhecido e que estaria tudo bem mesmo se não fosse porque ela também não era, queria, realmente queria, teria feito se pudesse.
Tudo ficou escuro, não, tudo simplesmente sumiu, ela sumiu. Não podia ouvir, não podia ver, não podia sentir, a parte mais bizarra é que sabia que não era Alec quem está fazendo isso.
A híbrida não sente mais a irmã sobre si, mas não sabe se é porque ela realmente não está mais lá ou se é pela névoa preta que mesmo sem sentir sabe que está nublando seus sentidos, roubando. Renesmee não liga para isso agora de qualquer forma, ela quer a irmã, é a única coisa que quer. Pela primeira vez não quer esconder, não se importa mais com a decepção que possa receber, com as brigas que possa causar. Ela quer contar para Carlie que deixava os animais fugirem de propósito apenas para terem a esperança de que talvez pudessem se salvar e então que gostava de os alcançar e arrancar isso deles. Ela quer falar que vai ficar tudo bem, que está tudo bem mesmo que não fique. Falar que provavelmente teria feito coisas piores do que as que viu na visão da gêmea se tivesse tido a oportunidade, que realmente teria, e que provavelmente teria gostado disso.
Elas deveriam ter conversado sobre isso antes, realmente deveriam. Nessie jamais ficaria contra ela. Droga, ela era uma horrível irmã mais velha.
A Cullen já não sabe mais se está chorando ou não, mas pensa que sim. Não consegue imaginar um cenário onde não estivesse.
Ela pensa nisso quando der repente tudo para, ela sente, no fundo de sua mente, de seu coração, de todo o seu corpo, algo quebrou, algo que não deveria ter quebrado, ela pode sentir agora, mesmo que não devesse, mesmo que a névoa ainda estivesse sobre ela, agora ela sabe que é Alec quem o faz, dor, ela pode sentir dor agora, não é de Carlie, é dela, ela não sente mais Carlie e isso dói de uma maneira que nunca imaginou que doeria.
E pensar que elas estavam lutando até instantes atrás.
Horrível, simplesmente horrível. Ela era horrível.
Não por gostar de algo que não deveria, da caça, do sangue, não, ela era horrível por ser quem era, por não ter salvado a única pessoa que realmente deveria.
Quando seu coração para Resnemee sabe que é a última coisa que poderia sentir de Carlie, é a última coisa porque a conexão tinha quebrado.
[...]
Primeiro a Cullen acordou gritando, e isso foi horrível porque sinceramente, e que ela nunca escute isso, ninguém tinha tempo para isso no momento, dói, eu sei, e é meio babaca da minha parte revelar isso dessa maneira, mas estou aqui para relatar os fatos, e o fato atual é que no momento Carlie já estava com Alec a três dias, que ninguém conseguia se aproximar porque ele estava cobrindo quilômetros e quilômetros de terra ao redor com o próprio poder sem nunca desativar, que a única pessoa que poderia enfrentar isso parecia extremamente contra o fazer e que Edward podia jurar que viu na cabeça do Volturi o exato momento em que sua filha morreu no jardim de sua própria casa.
Renesmee não era o foco da atenção no momento.
Ela voltou a morrer logo após acordar.
Não estava morrendo porque do outro lado do continente Carlie também estava, era o oposto, estava morrendo porque não sabia se Carlie o estava, não tinham mais a conexão e não sentir nada doía mais do que sentir qualquer coisa que fosse.
Como se seu coração estivesse sendo arrancado várias e várias vezes.
Ela teria preferido isso se alguém tivesse perguntado.
Bella não a soltou por um único momento durante todo esse tempo. O que eu disse, sobre ela não importar agora, felizmente não se aplicava para todos os membros da família.
A Swan não tinha visto Edward desde então, nem Rosalie, Carlisle voltava para casa às vezes para checar a neta, todos ocupados demais tentando encontrar maneiras de ultrapassar a fumaça paralisante e chegar na Cullen intocável.
Alice, Jasper, Paul e Leah foram os únicos que ficaram, e, pasmem, Demetri também, mesmo que Jasper tivesse tido que entrar em defesa dele para que não fosse degolado pelo patriarca dos vampiros vegetarianos.
Quando teríamos imaginado um Cullen entrando em defesa de um Volturi contra outro Cullen.
Carlisle não saía do sério, mas saiu dessa vez.
Foi uma cena inusitada que ninguém teve tempo suficiente, ou o interesse necessário, para refletir a respeito porque estava tudo indo de mal a pior.
Nessie acordou de novo, toda vez que seu coração voltava a bater suas lágrimas eram mais rápidas do que sua respiração, ela sabe que não deveria estar fazendo isso, Deus como ela sabe, ela deveria levantar e ir atrás da irmã, ela sabe, realmente sabe. Ela não pode deixar de se culpar enquanto morre de novo porque é tanta dor que simplesmente não consegue suportar.
Ela sente o carinho da mãe em seu cabelo toda vez que acorda, ela está deitada em seu colo, isso apenas a deixa pior porque é Carlie quem deveria estar ali, Carlie é quem deveria estar sendo consolada, não ela.
— ISABELLA, CHEGA! Você PRECISA intervir! — O telepata entra no recinto como um furacão, não passou pela porta, não era necessário já que praticamente toda a casa se encontrava destruída pela briga anterior, não estava sendo fácil ultimamente.
A vampira não desviou os olhos da filha desacordada, das manchas de lágrimas no rosto pálido e sem vida, ela estaria chorando também se pudesse, estaria mesmo.
— Eu não vou atrás do Alec. — Não passou de um sussurro, não queria acordar a filha, embora soubesse que ela não estava dormindo, morta, Bella não gostava de pensar na situação em que a criança realmente estava.
Paul, sentado no chão apoiado contra a madeira de uma das únicas paredes que ainda não tinha sido destruída, se levantou. Era um aviso.
Esme apareceu na sala, no que restava dela, com um pano úmido e morno que provavelmente usaria para colocar na testa da neta. Outro aviso.
Quando Edward faz menção de se aproximar da mulher sentada no carpete branco o Quileute deu um passo à frente.
O Cullen não tinha tocado na esposa na briga passada, provavelmente nunca o faria, tinha até mesmo afastado a irmã loira dela, mas estava descontrolado demais para que o metamorfo depositasse todas as suas fichas nisso. O Lahote cruzou os braços, estava cansado, tinham sido longos dias desde o conflito, mas não iria fraquejar agora.
O imortal se afastou e socou com força a parede que antes o outro se encostava, estava de costas para a esposa agora, aquela que havia jurado amar durante toda sua vida, estava sendo muito difícil agora.
— Isabella. — Ele rosnou baixo, não se virou, não conseguia mais a fitar de qualquer maneira.
— Nós falhamos Edward, com as duas. Nós prendemos elas até não poder mais, o que você pensou que aconteceria? — Ela sussurra tentando ser o mais pacífica possível, talvez se fingisse que estava tudo bem, realmente ficaria. Talvez. É sua única esperança de qualquer maneira. Uma parte dela quer jogar a culpa no marido, realmente quer, falar que foi ele que nunca quis ceder, que as prendeu de todas as formas que pôde, mas não pode, não quando ela não fez nada para impedir. Ela poderia ter feito tanto. Esme se senta no chão do lado da nora, suas delicadas mãos apoiando a toalhinha, que antes segurava, na testa da neta, ela não sabe se isso ajuda, mas não pode deixar de tentar de qualquer forma. — Elas sufocaram, amor. Você não vê? — Edward ainda não a olha porque não pode encarar a menina morta em seus braços, isso é errado de tantas maneiras e ele se odeia por isso, mas não pode desviar do seu foco agora. Não pode deixar a outra ir. Ele seria um pai melhor depois que tudo se resolvesse, ele realmente seria. Ele só precisava de mais uma oportunidade, apenas uma. — Talvez... talvez Carlie esteja melhor com ele agora. Talvez realmente esteja. — Uma pausa, ele apertou o punho com força porque era tudo o que poderia fazer, voltar ali foi um erro, ela não ajudaria, ela não se importava, ele encontraria um jeito de ultrapassar a névoa do Volturi, ele tinha que encontrar, mesmo que sozinho. — Ela não quis nos contar o que aconteceu, amor, ela não conseguiu. Tudo o que teve que guardar durante esse tempo, tudo o que teve que fingir. — A voz de Bella falha mesmo que não devesse, ela era uma vampira afinal, vampiros não falhavam. Ela era uma mãe no final das contas, ela tinha falhado muito nesse papel. — Eu não posso ir atrás dela. E então? O que você quer que aconteça? Que eu a traga de volta e ela precise voltar a fingir de novo simplesmente porque não pode confiar em nós?
Ele vai fazer dar certo, se a trouxer de volta, ele realmente pode fazer dar certo, ele vai se esforçar mais, ele jura que vai. Mesmo que precise invadir a privacidade dela, mesmo que precise ler a mente dela a todo instante, no começo vai ser incômodo, tinha prometido não o fazer, mas ela se acostumaria, ela não precisaria mentir depois disso, ele poderia a ajudar, realmente poderia, ele saberia como.
— Olhe para ela Edward. — Ele não olha. — OLHE PARA ELA! — Era a segunda vez que a mulher se exaltava desde que tudo começou, ela pensou que deveria ser forte, centrada, pela bem das filhas, mas não agora, não mais, não quando quase todo mundo estava a tratando como uma vilã quando só queria tentar encontrar a melhor maneira de salvar suas filhas. O telepata virou, seu olhar na menina que era quase sua cópia perfeita com exceção da cor dos olhos, ele não podia ver seus olhos porque ela não podia os abrir. Não podia ouvir seu coração porque não tinha nenhum som ali. Isso doeu. — ELA ESTÁ MORTA EDWARD, MORTA! — Ela se remexeu nervosa, Esme, como uma mãe carinhosa, apoiou a mão no ombro feminino para a lembrar da situação em que estava, ela estava certo, não podia se desesperar agora, não com a híbrida em seus braços. — Eu não vou trazer Carlie de volta apenas para que ela morra também.
— ELA JÁ ESTÁ MORRENDO BELLA! ELA MORREU NA NOSSA FRENTE E NÓS SEQUER VIMOS!
A Swan respirou fundo, ela poderia gritar de volta. Sinceramente? Ela gostaria de o ter feito, mas não era mais uma adolescente agora, era uma mãe, boa ou ruim, uma mãe. Aconchegou melhor a filha em seus braços.
— Eu não vou buscar ela Edward. — Estou dando a ela o que antes nunca demos, estou dando liberdade. Isabella poderia ter falado, mas não o fez porque ele não entenderia.
Esme retirou a mão. O telepata demorou a responder, a raiva em sua feição sendo substituída por uma fria seriedade, ele riu antes de se pronunciar e o Quileute, agora atrás dele, soube que nada bom poderia vir daí.
Jasper entrou na sala porque já tinha escutado o suficiente do segundo andar — ao menos do que tinha restado dele.
— Engraçado você se importar tanto Isabella. Parece que você está empurrando nossa filha para aquele psicopata da mesma maneira que está tentando empurrar Renesmee para o seu ex. O que é? Você gosta tanto assim de ter opções que também os quer fazendo parte da família?
Alice apareceu tão rápido que os membros presentes na sala quase não a viram, mas escutaram com exatidão a pequena mão acertando com tudo o lado direito do rosto do irmão. Era tarde demais de qualquer forma, não foi a resposta de Edward o próximo som que se fez presente, não, foi a batida quase inexistente de uma coração.
— Mãe? — Pela primeira vez Renesmee não gritou quando acordou, embora tenha sentido mais dor dessa vez do que em todas as outras.
Quando Renesmee piscou já estava nos braços de Demetri, que até então estava vendo tudo do lado de fora, ela nunca imaginou que fosse ser grata por isso.
— Você... você... — Não conseguiu terminar, ela sabia, sabia que não deveria estar fazendo isso, que deveria estar se preocupando com a irmã, que não deveria ser o foco agora, só... doía, doía muito. Não conseguiu desviar o olhar do chão. O grego não a soltou e ela foi grata porque não teria conseguido se sustentar sozinha. Ela ouviu quando seu pai saiu da sala se afastando cada vez mais, quando sua avó ofegou horrizada e se levantou para ir atrás dele, provavelmente para o trazer de volta e o obrigar a se desculpar, não se importou, ele deveria estar indo atrás da Carlie, claro que estava, ele não tinha tempo para isso agora, ela sabe que não deveria ter doído, sua irmã deveria ser trazida de volta, mas doeu mesmo assim, ela era realmente horrível exatamente da forma que havia pensado. — Você e Jacob. Vocês... O quê vocês tem?
— Renesmee... — Jasper começou pela primeira vez sem saber exatamente o que falar, seu lado sensato o dizendo que deveria tentar apaziguar a situação, não era hora para outro problema, como tudo tinha terminado assim tão rápido?
A Cullen finalmente ergueu o olhar porque não era ele quem queria ouvir.
Fitou os olhos dourados da mulher que a deu a vida. No começo gostava dele, realmente gostava, como gostaria de um irmão mais velho, depois evoluiu, evoluiu para algo a mais, poderia ser amor, poderia não ser, mas então ele proibiu as corridas com Seth e Leah simplesmente porque ela poderia se machucar. Se lembrou de todas as vezes que se absteve para que Jacob pudesse se satisfazer, de como teve que diminuir suas conversas com qualquer outro cara porque ele simplesmente não gostava, de como ele tratava a sua gêmea — e de como se odiavam mutuamente —, se lembrou de todas as vezes que não o afastou porque viu o quanto ele parecia se importar e de como jamais poderia destratar alguém assim.
Sua mãe e ele, sua mãe e ele tinham algo? Já haviam tido algo? Não fazia sentido. Bella estava tentando juntar os dois? Estava tentando o manter por perto através dela? Todos sabiam disso? Todos sabiam disso e permitiram?
Deus, ela só tinha dezesseis, eles se conheceram quando ela literalmente não havia sequer aprendido a falar. O que diabos estava acontecendo?
Ela sabia sobre o imprinting, ninguém a contou, mas é claro que sabia, não era idiota. Achou que ele havia tido um por ela, que ele a amava da forma mais inocente que alguém poderia amar, da forma que ninguém jamais a amaria igual, céus, ela não tinha coragem o suficiente nem para dizer que gostaria de ir visitar Senna e Zafrina na Amazônia quando estivesse maior, como poderia decidir alguém para amar pelo resto de sua eterna vida? Mesmo assim aceitou, aceitou porque parecia o certo, se conformou com isso porque era o que provavelmente deveria ter feito.
Mas era sua mãe?
Bella era o imprinting dele?
Ela era apenas um meio para um fim?
A híbrida só percebeu que estava apertando a mão ao ponto de sangrar quando Demetri a obrigou a abrir a mesma e permaneceu a segurando para que não voltasse a o fazer. Ela apertou a mão dele em vez disso. Fazer aulas para raiva. Quase riu. Essa merda não tinha servido para nada.
Isabella não soube o que dizer, simplesmente não soube.
É verdade que haviam tido algo durante a adolescência, assim como também era verdade que tinha o dado uma bela surra quando acordou depois do parto e descobriu sobre o imprinting, foi a primeira coisa que fez, porque ninguém estava falando sobre isso?
Não o afastou porque achou que Renesmee o amasse, foi assim que escutou que a magia indígena funcionava, os dois se amariam da maneira que fosse necessário, como amigos, como irmãos, como namorados, não o afastou porque pensou que a filha não gostaria e não queria a fazer sofrer, mesmo que estivesse extremamente desconfortável com a situação, quem diabos estaria confortável com uma situação a assim?
Ela era nova nisso, em tudo isso, em todas essas coisas relacionadas a vampiros, lobisomens e todo um mundo sobrenatural que jamais havia sequer imaginado antes de voltar para Forks. Apenas imaginou que estivesse fazendo o certo.
O Black não estava ali agora porque ela havia lhe dado uma surra quando, depois do incidente, começou a falar merda atrás de merda de sua caçula. Foi por isso que havia perdido o controle no início. Por isso que a casa estava mais destruída do que realmente deveria. Ela tinha medo que Renesmee se chateasse com isso quando finalmente se estabilizasse e não encontrasse o homem ali.
Quando havia virado a vilã tanto assim?
Seu marido, seu próprio marido.
Como havia conseguido falhar tanto?
Não era boa como humana, achou que finalmente tinha encontrado seu lugar como vampira quando se transformou, como mãe, como esposa.
Não era boa em nada.
— Eu... eu... — Resnemee abaixou o olhar novamente. — Eu também acho que Carlie mereça um tempo sozinha. Acho... eu acho... — As lágrimas começam a cair. Pela primeira vez não teve medo de ser egoísta, talvez, só talvez, ela também merecesse se permitir isso, todo mundo se permitia de qualquer maneira. Seu pai tinha ido embora sem sequer a dirigir um mísero se cuida. Os outros sequer estavam ali. Talvez ela realmente merecesse. — Acho que também mereço. — Paul arfou assustado. Jasper deu um passo à frente, mas se conteve antes que pudesse continuar. — Por favor. Por favor me deixem sozinha. — A híbrida abraçou o Volturi que a segurava, ele entendeu perfeitamente bem o sinal sumindo dali em seguida com a quase ruiva em seus braços.
Bella não teve reação.
Primeiro Carlie, agora Renesmee.
Talvez ela devesse ter morrido naquele estúdio de balé anos atrás afinal.
・ ❁ ・
Dica que alguns devem ter percebido, mas alguns provavelmente não (e tá tudo bem):
Nunca confiem 100% na narradora.
Não sei se vocês já chegaram a perceber, mas a narragem dessa história é feita de uma maneira um pouco diferente, não é em primeira pessoa (obviamente), mas a narradora na maioria das vezes só conta o que o personagem que ela está acompanhando quiser que ela conte.
Por exemplo, no capítulo 16, onde Carlie torce pro Emmett na luta dele contra o Demetri, antes de toda a confusão, a narração retrata Carlie torcendo estando perfeitamente bem, depois nós descobrimos que isso era totalmente mentira e que ela estava fingindo esse tempo todo. Outro exemplo é ela ter contado que parou de tomar sangue porque Renesmee parou, sendo que nesse capítulo de agora, acompanhando a visão de Renesmee, a gente percebe que isso era claramente uma mentira também.
Outro exemplo é ainda no cap 16, quando Renesmee faz a gente acreditar que ela que se convenceu sozinha de que deveria ser perfeita o tempo todo, que ninguém nunca cobrou isso dela, quando nesse capítulo de agora vemos que ela finge porque não quer que ninguém perceba o lado ruim dela.
Eu particularmente gosto muito desse tipo de leitura porque faz a gente pensar mais, analisar mais sobre o que pode ser mentira e que pode não ser, sobre o que realmente faz sentido e o que não faz, sem falar nas reviravoltas que pode proporcionar com o tempo. O que vocês acham sobre isso?
Aliás, o quê vocês acharam sobre essa "revelação" da personalidade da Nessie?
Eu deixei algumas dicas sobre isso ao longe da história, sobre como elac realmente gostou da Senna e da Zafrina, como ela reagiu quando recebeu o arco. Alguém já tinha percebido isso antes? Contem aí gente.
Enfimmm, agora vocês não podem nem reclamar vai, um capítulo atrás do outro do jeitinho que vocês gostam.
Sinceramente eu chorei quando o Edward saiu da sala deixando a filha lá, não vou mentir, por outro lado ele viu a outra filha morrendo e sabe que ela está completamente sozinha, desacordada e vulnerável, na mão de um cara que, independente de ser o companheiro da filha ou não, faz parte de um clã que já tentou matar eles várias vezes, então eu realmente não sei o que sentir a respeito.
Sim eu também chorei com a Bella. Eu gosto da Rosalie, mas não entendo porque a maioria das fics retrata a Bella como uma babaca, nem entendo o porquê de eu mesma ter feito isso na primeira versão dessa história. Tipo, eu sei que ela as vezes é meio pateta, eu sei, mas qual é, ela tinha quantos anos quando engravidou de um ser completamente imortal e se casou? 17? 18? Eu nesse idade saía de casa pra um aniversário e ia parar em outra cidade bêbada tomando banho de mar com meus amigos (não façam isso crianças), enfim, o que eu to querendo dizer é que, apesar de tudo, eu realmente acho que ela está tentando o melhor que pode.
O que vocês acharam sobre ela não querer ir atrás da Carlie?
Ao mesmo tempo que parece horrível, eu acho que ela é a única que está colocando os próprios sentimentos de lado e tentando realmente entender a situação de forma lógica, tanto que foi por isso que Esme decidiu ficar do lado dela. Até a Renesmee no final concorda que é uma boa ideia, e ela é, literalmente, a que mais está sofrendo com a ida da irmã.
Sobre a fala do Edward relacionada a ela e ao Jacob acho o tapa da Alice mais do que merecido, inclusive acho que o Jasper deveria ter participado também, é isso.
A morte e volta da Renesmee não teve tanto destaque porque minha intenção não era fazer algo tão tenso quanto foi a da Carlie, até porque as situações não tem nem comparação né, era realmente só pra vocês terem uma ideia da dimensão do problema que está por vir, a conexão foi quebrada galera, a conexão das gêmeas, enfim, a dor ela dói.
Sobre a Renesmee e o Jacob vamos entrar em um assunto polêmico, eu não sou contra o imprinting, acho bem bonito aliás, porém eu sempre achei estranho a maneira que foi feita com eles dois, o fato dele estar sempre grudado nela desde que ela nasceu não dando a mínima oportunidade dela nem conhecer outras pessoas, por exemplo a Carlie e o Alec, eu tentei evitar ao máximo fazer isso com os dois, tanto que não sei se vocês perceberam, mas no começo é sempre a Carlie que procura ele enquanto ele tenta sempre se manter o mais longe possível, e o Alec realmente entende ela, por exemplo quando Carlie e Nessie lutaram, não sei se vocês perceberam que Alec impediu o Javob de interromper, ele só realmente tentou parar a luta quando as duas começaram a usar os poderes e ele viu que aquilo estava realmente ficando bem sério (ok que metade dele não queria aceitar que amava ela e a queria morta, porém 💫detalhes💫).
Enfim, Jacob e Nessie por alguma razão sempre me incomodou e pareceu tóxico de certa forma então sim, eu precisei criar um conflito nisso, aliás eu entendo o fato de nunca terem contado pra Carlie que ela era a companheira do Alec já que ele é um Volturi, mas não entendo porque não contaram pra Renesmee sendo que eles ficavam grudados o tempo todo, enfim é isso, Edward foi um babaca nesse sentido, Nessie entendeu tudo errado (será?) e Bella se ferrou completamente, mas um dia comum para a família Cullen.
Bella revelando que batou no Jacob pq ele falou merda da Carlie, já tava na hora de alguém fazer isso, ou ela fazia ou fazia eu. Achei tudo
Sobre Nessie e Demetri vou me abster, porque isso nem tava no roteiro pra começo de conversa kkkk então vamos apenas acompanhar e ver no que dá.
Paul levava a Nessie pra caçar e eu estou realmente ansiosa pra contar como que isso terminou acontecendo. Alguém tem alguma teoria?
É isso, espero que tenham gostado.
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