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Capítulo 23 - A festa continua


As imagens de uma garotinha com sardas aparecem na tela e eu fico sem entender, isso significa algo? Meu pai me olha e percebo que ele está em dúvida sobre o que fazer. Eu observo as imagens e as analiso para tentar saber quem é e porque está no meu vídeo. A garota tem olhos escuros, cabelos lisos presos por maria chiquinhas, ela usa um daqueles aparelhos ortodônticos que tem um ferro para fora da boca e roupas sem harmonia nenhuma. Nas fotos ela parece retraída e dá para ver que sorri forçado ao lado de uma garota um pouco mais alta, que talvez seja mais velha.

"Ainda não descobriram quem é essa garota? A Candy vai mostrar pra vocês!" essas são as frases que se seguem em slides e o meu corpo trava. Como essa maldita conseguiu essa proeza? Vejo que meu pai também está sem reação e o vídeo que fiz da Annie praticando bullying aparece na tela, seguida de uma foto dela e para finalizar, uma frase: "Quem diria que o High School tem tanta gente hipócrita!" e a tela ficou preta.

Quem diabos fez isso? Procuro a Amber com o olhar, preciso perguntar se teve contato com alguém que possa ter trocado os vídeos. A música volta a tocar como se nada tivesse acontecido, mas mesmo fora da sobriedade completa, não sou capaz de ignorar o que acabou de acontecer.

Encontro o meu irmão novamente:

— Lena, você viu a Amber? Não entendo o que aconteceu, nós realmente fizemos um daqueles vídeos bregas para você.

— Também estou procurando por ela, preciso tentar ligar para ela.

— Deixa que eu faço isso, é mais fácil ela me atender.

Damian liga uma vez, duas, manda mensagem, liga de novo e nada dela dá sinal de vida até que decidimos ligar para tia Carly e ela dizer que a Amber tinha acabado de chegar em casa.

— Gente, o que acabou de acontecer? — Castiel aparece diante de nós.

— Não faço ideia. Alguém trocou os vídeos que a Amber trouxe.

Castiel arqueia as sobrancelhas e diz:

— Talvez não tenha sido trocado.

— Está dizendo que a Amber tem relação com a maldita Candy, Castiel? Não seja idiota! Esse não é o jeito dela!

— Ué! Pessoas mudam!

Não posso acreditar que ele está insinuando algo assim, isso é impossível. Me sinto na obrigação de abrir meu Instagram e finalmente mandar uma mensagem direta para essa ou esse covarde:

— Não acha que já foi longe demais sua covarde? Está querendo chamar atenção usando a minha imagem e a de todos os colegas. Cara, eu não gosto da Annie, mas qual o sentido de você vir na minha festa, passar fotos antigas dela no telão e até colocar o vídeo que eu fiz dela para fazer a denúncia ao diretor! Qual é a sua? Vai contar essas fofocas ridículas no quinto dos infernos.

— Meu Deus! Você é doida! Mandou um áudio ainda por cima! — Castiel diz e meu irmão concorda:

— Cara, ela vai usar isso contra você!

— Que se exploda! Quero que essa pessoa sinta a minha ira! — Avisto a mesa de coquetéis.

Meu pai disse que não é mais para eu beber, mas, só mais um não faz mal. Juro que será o último da noite.

Meu lado curioso não deixa passar a informação do que vi. O que a tal Candy quer espalhando aquelas imagens, o que ela tem em mente?

O barman me estende a taça com o líquido rosa dentro e esqueço o que estava pensando. Sorrio e me viro para ir para a pista, eu só não esperava que ia esbarrar com tamanha força em alguém. Me senti desequilibrada mas, um braço me segura firme pela cintura. A minha bebida não tem tanta sorte, pois o líquido vira em meu vestido. Eu começo a rir igual uma hiena e olho para a pessoa que me salvou do tombo e imediatamente, eu deixo de sorrir e empurro o Juan.

Não tenho forças para isso, a única proeza que consigo é derrubar a taça de vidro sobre os meus pés descalços.

— Não precisava empurrar, mal agradecida! Eu já ia te soltar! — ele diz bravo e eu sinto meu pé arder.

Meus olhos embaçam.

— Ai! Eu acho que meu pé já era! — falo com a voz embargada e as lágrimas descendo.

Juan revira os olhos e olha para o ferimento que eu não tenho coragem de ver. Todo esse vidro deve ter deixado meu pé horrível, preciso de um hospital! Decido esquecer por um momento os erros do garoto e aceito sua ajuda para me levar até o banheiro.

Chegando ao banheiro vazio, eu sento no vaso e Juan se agacha e olha o meu pé.

— Aparentemente é um corte superficial, não estou vendo nenhum caco de vidro e o sangue está bem pouco.

— Ai meu deus! Eu estou sangrando! — eu falo alto e começo a chorar novamente.

Juan se levanta e se curva ficando da minha altura, me olhando diretamente nos olhos. Sinto um arrepio, daqueles bons. O que eu estava fazendo mesmo? Quem se importa? Esses lábios rosados estão pedindo para serem tomados. Ele abre levemente a boca, para mim parece que tudo está em câmera lenta, ele está prestes a dizer algo, mas trava e então alguém irrompe na porta:

— Fica longe da minha filha!

Meu pai aparece gritando e Juan se afasta repentinamente. Eu finalmente lembro do porque estamos ali e meus olhos voltam a embaçar:

— Papi, eu machuquei o pé num caco de vidro!

Meu pai se abaixa para olhar e o Juan, com as bochechas vermelhas, diz:

— Não é nada grave! Eu já vi.

Meu pai encara Juan e o analisa.

— Ah! Eu te conheço! Não vi quem tinha entrado no banheiro, eu achei que... deixa para lá! — ele diz e solta o ar que prendia.

Realmente o corte não foi grande e nem fundo, nem sei porque chorei tanto. Meu pai me ajuda a limpar e passa um remédio de seu kit de emergências, comportamento típico de quem teve uma criança traquina em casa. Ele deu fim a festa e fomos para casa animados, comentando sobre cada detalhe dela. De rosto limpo e com um pijama confortável daqueles que tenho há anos, me jogo na cama caindo em sono profundo.

♫♫♫♫♫♫♫♫♫♫

Acordo com meu cérebro pedindo socorro. Que dor de cabeça horrível.

Meu celular está vibrando loucamente em cima da cômoda. Eu pisco algumas vezes, até assimilar que é o Castiel me ligando às onze da manhã, eu ignoro a chamada e deito a cabeça no travesseiro. Mas, não é o suficiente, pois o meu irmão, poucos minutos depois, invade o meu quarto.

— Helena, acorda! Você está cancelada! 

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