"Abra seus olhos. Abra"

A voz o acordou de súbito. Naruto sentou ofegante e tremendo. Sentia muita dor nas suas costas, e não conseguia respirar. Se desesperou e acabou caindo da cama de cara no chão. Ouvia um zumbido incomodo no ouvido, um barulho ritmado e não sabia o que era. Então vieram as cenas de fogo novamente. Intenso, vivo, o queimando. Ouviu um grito alto. Apertou os ouvidos com as mãos fechando os olhos.

Estava enlouquecendo?

Viu com clareza um rosto. Era a menina de olhos perolados do parque, mas dessa vez estava coberta de fuligem, tossindo e agarrando seu braço.

"- Estou com medo. – ela gemeu enquanto Naruto a colocava nos braços.

– Não precisa, estou aqui. Eu vou cantar tudo bem? O medo vai passar, só aguente."

Abriu os olhos cheios de lágrimas e se levantou usando a cama como apoio. Cambaleou pelo corredor em direção ao quarto de Konohamaru. Ele não estava lá. Sentiu o pânico lhe tomar e correu para o do pai. Vazio.

Se vestiu rápido e saiu de casa.

Por todo o caminho aquela sensação de sufoco só aumentava. Devia passar das dez da noite e se sentia fraco e com medo. Queria ir até Sasuke. Queria chegar ao hospital e ver o pai. Então, de repente, tudo ficou escuro e apagou.

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Sasuke levantou sonolento, passava das sete da manhã e se aprontou. Iria encontrar Naruto mais cedo hoje. Iria surpreende-lo, passar na cara que aprendera Clair de lune. Brilha brilha estrelinha uma ova!

Na sala encontrou Itachi em meio a uma grande papelada, e ao seu lado um outro homem, de cabelos negros curtos e mesmo porte do irmão.

–Shisui. – falou surpreso.

Os dois olharam o Uchiha mais novo e o amigo do irmão abriu um sorriso: - Sasuke. Você cresceu, há quanto tempo.

– Faz apenas um mês que o viu Shisui. – Itachi rebateu sentado na poltrona lendo uma ficha nas mãos.

– Mas um mês é muito tempo. Como tem passado? – a voz era alegre e simpática.

–Muito Bem – Sasuke respondeu com um sorriso leve e o homem arregalou os olhos.

–Espera, ele não respondeu "hum" e, não acredito que vivi para ver isso, mas Sasuke Uchiha sorriu? – ele falou deixando os papéis caírem das mãos.

Sasuke revirou os olhos e foi para a geladeira pegar leite e preparar seu café.

–Muitas coisas aconteceram. – Itachi falou ainda lendo os papéis. – Ele está namorando.

–O que o amor não faz. – O outro murmurou ainda impressionado.

– Podem parar de discutir a minha vida e cuidar da de vocês? – O jovem Uchiha pediu ainda com a cara dentro da geladeira.

– Quem é a felizarda que vai aguentar todo esse bom-humor contagiante? – Shisui ironizou pegando a pilha de papéis que derrubara e levando até a mesa da cozinha.

– Felizardo.– Sasuke corrigiu.

– Um garoto com o QI acima da média, que toca instrumentos, atraente, com lindos olhos azuis, um sorriso agradável e que entende tudo sobre o cinema dos anos 60. – Itachi completou.

– Itachi... – Sasuke o olhou de forma ameaçadora pelo balcão.

– Só estou falando, faça terapias para ciúmes irmãozinho.

–E qual o nome desse achado, estou me sentindo interessado em aulas de música. – Shisui provocou e escapou de uma laranja que voou para sua cabeça.

– Uzumaki. Naruto Uzumaki.

Foi nessa hora que Shisui parou de rir.

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Naruto acordou com o sol em seu rosto. Estava caído no chão do parque do hospital, sem lembrar como chegara ali. Se levantou dolorido e confuso e tomou o caminho de casa.

Chegou a residência da porta vermelha, ainda confuso e sentindo um certo pânico contido. Abriu a porta e procurou seu quarto para cair duro. Depois pensaria nisso, só queria dormir. Qual não foi sua surpresa ao abrir a porta e se deparar com Minato sentado na sua cama, olhando para a janela.

Naruto pensou em dar meia-volta, afinal, ele não o vira. Recuou alguns passos mas parou ao ouvir a voz cansada.

–Naruto.

Estancou surpreso. Era a primeira vez que se dirigia a ele há muito tempo.

– Pai. – andou hesitante até o homem. Notou que ele estava abraçado a alguma coisa. Era... seu violão?

–Naruto... – o homem se encolheu. Ficou alarmado. Só o vira assim... quando a mãe estava doente e morrera. O que estava acontecendo com ele?

–Pai?

–Naruto! – o homem chorava de forma silenciosa. – Eu te amo, eu sinto muito. Eu lamento tanto...

Sentiu seu coração pular e um nó na garganta, mas ainda assim abriu um leve sorriso. Se aproximou para abraça-lo. Foi quando percebeu que não conseguia. O homem parecia não senti-lo, não ver sua presença e Naruto entrou em pânico.

–Pai!

Chamou diversas vezes, mas o outro permanecia alheio.

–Eu te amo Naruto. – Minato repetia como um mantra.

– Estou aqui! Olhe pra mim pai! Não me ignore! – gritou.

–Ele não pode ver você.

A voz o assustou e pulou. Na porta do quarto, estava a garota de cabelos escuros com um sorriso triste para ele. Naruto olhou confuso.

– Quem é você? O que faz aqui? Por que ele não pode me ver? – gritou a última parte, mas no fundo, já sabia a verdade. Era só ligar os pontos.

– Você não percebeu?

E foi nesse instante que a verdade atingiu o garoto como um baque surdo e foi ao chão. Sentiu a madeira fria e o choro do pai parecia mais distante. Se encontrou em meio as labaredas e lembrou de tudo.

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– O que foi? – Itachi se alarmou.

– Uzumaki Naruto. - Shisui começou a vasculhar as fichas rapidamente. – Esse nome...

Sasuke foi até ele e Itachi se levantou.

–O que foi, Shisui?

O homem parou e abriu uma ficha rapidamente. Sasuke levou um susto. Era de Konohamaru.

–O que...

O viu folhear rapidamente e ler algo. O rosto do outro estava branco: - Aqui, eu sabia. – murmurou.

– O que aconteceu? – Sasuke exigiu e Itachi segurou seu ombro antes que ele avançasse no outro.

– É impossível que você namore Naruto, ou mesmo que o conheça. – Shisui falou nervoso.

– Como assim Shisui. O garoto veio aqui. – Itachi rebateu.

– Impossível. – Shisui levantou a cabeça da ficha e os encarou. – Eu estou atendendo o irmão mais novo. Uzumaki Naruto é uma das vítimas do incêndio no hospital que aconteceu há três meses.