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Capítulo I - A canção de ninar

Três meses depois

Sasuke sentia dor em cada parte de seu corpo. Ainda estava atordoado quando acordou, e demorou a perceber que estava em uma cama de hospital. Algo estava enfiado em seu braço, e havia um barulho constante de aparelhos e algo pingando.

Levou os olhos ao redor e encontrou seu irmão Itachi dormindo sentado em uma cadeira. Ah é. O acidente. Lembrou da moto derrapando e então vinha outro carro... Pensou por um instante que ia morrer.

– Itachi... – chamou em uma voz baixa. Estava tão rouco!

O irmão abriu os olhos espantados e quando levantou a cadeira caiu.

–Sasuke! Droga Sasuke! – ele estava em cima dele em um átimo. Era mais velho que Sasuke, e sempre cuidou dele, ainda mais quando os pais morreram em um acidente de carro. Sentiu que ele o abraçava e seu corpo protestou. – Desculpa, mas, Droga Sasuke!

A voz estava cheia de raiva e alívio.

– Sinto muito.

– Sente? Vou jogar aquela sucata velha fora, ou o que sobrou dela. Enquanto eu estiver vivo, você não sobe em uma moto de novo ouviu bem? – o irmão parecia irritado. Bem irritado. Quando o menor gemeu sua face desmoronou. – O que foi? Dói onde?

– Onde não dói? – rebateu irônico.

–Espere, vou procurar um médico. – O outro saiu correndo.

– Não vou sair daqui. – Replicou ácido.

Procurou pelos estragos. Seu corpo possuía algumas escoriações, e devia ter levado uma pancada e tanto na cabeça que doía como o inferno. Mas o resto estava inteiro. Que ótimo! Acabava de retornar para a cidade depois de dez anos e já inaugurava uma vaga no hospital. Pensou se esse seria o mesmo hospital que conheceu quando era menor, no dia que perdeu os pais. Não dava para saber. Fechou os olhos e pensou em como odiava aquele ambiente, e foi quando ouviu a melodia. Ela vinha do corredor. Era baixa, apenas um assovio, mas era linda, e o atingiu como uma pedrada na cabeça o fazendo se sentar e gemer. Conhecia aquele som! Poderia ser?

Tentou se levantar e nesse momento Itachi chegou com um médico de cabelo prateado e óculos redondo.

– Ei ei! Mandei esperar. Será que você não consegue esperar um minuto sem causar um problema?

Era oficial. Itachi estava estressado.

–Mas é que... – tentou falar enquanto era empurrado para a cama. – Quem estava no corredor agora?

– Ninguém. Agora quieto. – O homem de branco riu da fala agressiva de Itachi e começou a examinar o mais novo.

– Ele bateu forte a cabeça, precisa ficar em observação. Os exames não mostraram nada grave, mas ainda assim ele vai continuar aqui essa noite, e amanhã vemos o que acontece. Você teve sorte Sasuke. É um abençoado.

– Eu sofri um acidente, não vejo a sorte nisso. – Replicou mal-humorado.

–Ei! Olha a educação! Desculpa Dr. Kabuto, mas ele está na fase de odeio o mundo e quero que todos morram.

O homem riu compreensivo e Sasuke virou a cara com raiva. Mas o que não lhe saia da cabeça era a melodia.

Aquilo acontecera há dez anos atrás...

Sasuke estava triste a apavorado. Seus pais não podiam morrer! Fugiu de Itachi no corredor da sala de espera e correu sem saber para onde estava indo. Foi quando encontrou um parque, um lugar estranho dentro de um hospital. Sentou em um balanço e começou a chorar baixinho. E seu seus pais morressem mesmo? Como ia ser? Como ele e Itachi iam se virar?

– Oi. Por que tá chorando?

A voz o pegou de surpresa. Levantou a cabeça assustado e viu uma coisinha loira o olhando curiosa na sua frente. Era um menino, um pouco menor que Sasuke, com cabelos loiros e olhos azuis brilhantes, mesmo na semiescuridão que estava ele via como era azul. Sasuke limpou o rosto depressa, e falou com arrogância para a criança intrometida.

–Quem está chorando aqui?

– Você ué. – O outro virou a cabeça em um gesto de curiosidade e se aproximou mais. Sasuke se levantou do balanço rápido e fez uma pose ameaçadora.

–Claro que não! Homem não chora!

O outro arregalou os olhos confuso: - Quem disse isso?

– Ora... – perdeu as palavras por um instante. O menino parecia pequeno e ingênuo, mas o desarmava completamente. – Todo mundo.

–Bobagem. – O outro deu de ombros e coçou o queixo. – Todo mundo chora quando fica triste. Por que está triste? A barriga dói?

–Cai fora! – Sasuke gritou irritado e empurrou o outro. O pequeno caiu no cascalho e o olhou com os olhos assustados. Por um instante imaginou que ele choraria e se arrependeu. Mas ele não chorou. Levantou e limpou a calça e então foi para o outro balanço e sentou.

–Só vou quando me contar. A propósito, sou Naruto.

Droga, porque aquele moleque estava sorrindo daquele jeito depois daquilo? Sasuke estava confuso e sentou de novo. Sentiu uma coisa estranha no peito: - Não é da sua conta.

– Acho que é. – o menino começou a se balançar. – Se eu estivesse triste assim, queria que alguém me perguntasse. Que ajudasse. Não ia querer ficar só e emburrado.

Sasuke não respondeu. Ficaram em silêncio por um instante até que o loirinho recomeçou: -Eu disse meu nome. Qual o seu?

– Sasuke. – respondeu hesitante.

–S a s u k e. –o outro repetiu devagar e os dois se balançavam agora. – Sabe, Sasuke, quando eu estou triste minha mãe canta pra mim a canção de ninar que ela fez. Ela me acalma. Eu vou cantar para você ta' bom?

Não esperou resposta. Quando a melodia entrou na noite Sasuke parou de se balançar. A voz do outro menino era muito bonita, e a música também. Falava sobre campinas, e um pequena raposa. Sasuke se transportou para um lugar cheio de flores e ar puro e fechou os olhos sem pensar. Quando abriu o outro tinha ficado em silêncio e notou que sorria sem pensar direito. Estava com uma sensação estranha. Mas tão boa!

– Você pode cantar ela também quando quiser. Eu deixo. – O loirinho falou.

–Naruto! – uma voz chamava de longe e o outro garotinho pulou do balanço.

–É o papai. Tenho que ir. Fique bem, Sasuke. – Acenou e saiu correndo.

Sasuke ficou olhando ainda confuso a criança sumir. Tentou a melodia da ­música nova e sorriu. Ela enchia seu coração de algo estranho.

Ela o fazia bem.

Seria possível? Desde que fora embora de Konoha há dez anos, nunca mais vira aquele menino. Foi apenas aquela noite, e mesmo assim aquilo o perseguiu a vida inteira. Ainda lembrava da canção de ninar. Lembrava de tudo.

– Está sorrindo feito um besta. – Itachi o olhava com um sorriso leve nos lábios. Nem percebera que ele voltara e fechou a cara.

–Besta é você.

O outro balançou a cabeça e sorriu. E então sentou perto da sua cama: -Fiquei com medo Sasuke, não faça mais isso com seu irmão. Tem ideia do que eu senti?

Não respondeu. Podia falar tudo de Itachi, mas nunca dizer que ele não o amava. Sasuke também o amava muito, mas não conseguia falar o que sentia de modo tão aberto. Apenas resmungou e o outro riu entendendo e acariciando seu cabelo arrepiado.

–Ei, Itachi.

–Sim?

–Esse hospital... É aquele? – perguntou hesitante.

O outro o olhou de modo triste: - É sim Sasuke.

–Ah. – Foi o que respondeu e fechou os olhos fingindo que ia dormir. Então era ali mesmo. O hospital do menino da canção de ninar. Como ele estaria hoje? Devia ter ficado bonito. Suspirou e tentou descansar. Até que retornar para Konoha não seria ruim.

Sonhou com campos de flores e com uma pequena raposa

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