Acordei.

Estava encarando o teto branco acima de meus olhos, não era o teto de meu quarto, era diferente mais amplo e muito mais brilhante. Me virei devagar e com dificuldade para o lado, forcei minhas vistas cansadas a olharem para a paisagem onde macas e equipamentos hospitalares dividiam o espaço. Uma voz soou atrás de mim.

"Acordou?" era a voz dele, do loiro irritante. Ela soava calma e preocupada, seus dedos brincavam com as mechas de meu cabelo, assim fui praticamente obrigada a virar de lado e encara-lo.

"Oque aconteceu?" minha voz parecia mais cansada e pesada do que o habitual.

"Depois que eu falei em sua mente você ficou um pouco tonta e acabou desmaiando" ele respondeu alisando as pétalas da rosa que tinha na mão, sua cor variava entre o rosa e o vermelho.

"Antes disso, você e Angeli discutiram e ela saiu do controle mas não se preocupe. Ela não vai mais fazer isso, eu prometo." Ele se levantou e entregou a flor para mim, o perfume era suave e doce, esse perfume me fazia lembrar de mamãe cuidando de meus arranhões quando cai da bicicleta ou do balanço.

"Dustin, obrigada!" gritei enquanto ele se afastava pelo corredor, sem olhar pra trás ele acenou com a mão como um "Tudo bem" ou "De nada".

"Que bom que acordou, meu irmão estava preocupado, na verdade ele ficou a noite inteira aqui ao seu lado" uma voz familiar soou atrás de mim, era a voz de Ignis mas parecia um pouco mais forte do que aquela voz infantil.

Me virei calmamente para vê-la e me deparei com uma Ignis totalmente diferente, ela tinha crescido e se tornado adulta. Seus cabelos ainda eram loiros puxado para o branco e a ponta de suas mechas eram azuis mas ela havia os cortado na altura do ombro oque a deixou ainda mais linda.

"Não fale nada, você deve estar se perguntando como eu virei esse mulherão de ontem pra hoje. Nós filhos de anjos temos algo chamado two faces, temos um rosto nephilin e outro falso. Mas eu querida, eu posso me transformar em quantas pessoas eu quiser" sua voz se divertia com oque ela mesma falava.

"Pensei que eu tinha dormido uns vinte anos" respondi a fazendo rir. Tentei levantar da cama mas aquela sensação de cabeça pesada e ânsia de vômito estava em mim, Ignis se sentou ao meu lado e acariciou meus cabelos os colocando para trás.

"Dustin não falou que deveria comer a flor?" ela me perguntou apontando para a rosa, fiquei a encarando alguns segundos pensando o porquê de eu deveria comer uma flor tão bela.

"Ela é linda mas não deve ser saborosa" falei rindo abafado.

"Isso não importa. Você tem que come-la se quer melhorar. Não se preocupe, ela é mais deliciosa do que o arroz queimado do Dustin" sua declaração engraçada foi interrompida pelo toque de seu celular, seus olhos percorreram a tela enquanto seus dedos tocavam a mesma.

"Boa noticia querida, Dustin vai demorar mais do que imaginei então hoje teremos a comida da Darla como almoço" ela primeiramente puxou uma das pétalas da flor e a comeu me mostrando que seu gosto até dava pra aguentar e nada de mal me aconteceria. Após isso pulou da cama e me entregou uma bolsa com algumas roupas limpas.

"Onde Dustin foi? E quem é Darla?" perguntei provando uma das pétalas, até que não era a coisa mais ruim do mundo.

"Uma pergunta e resposta de cada vez. Dustin foi até o mundo humano resolver algumas coisas e Darla é minha amiguinha, ela era filha de um falecido casal nephilin da África do Sul e foi acolhida por nós quando ainda era crianças, agora troque de roupa que eu já volto."

[...]

Havia três opções na bolsa, um vestido avermelhado, uma calça jeans com uma blusa branca ou um macacão preto. Optei pela segunda alternativa que era a mais modesta dentre as três, fitei o relógio que revelava ser 10:30 da manhã, não pensei que havia dormido tanto.

Após alguns minutos uma moça morena e alta apareceu, seu cabelo cacheado era brilhante e belo, seus olhos verdes escuros pareciam um par de esmeraldas. Ela era linda e sua maneira de andar era leve e solta, a menina dos sonhos.

"Olá, eu sou a Darla, estou feliz por finalmente encontrar a famosa Yasmin." Sua voz era bonita e afinada, seus gestos eram simples e graciosos ao mesmo tempo. Ela foi a única por enquanto que havia me chamado pelo nome.

"Oi" respondi educadamente enquanto dava um leve aceno, ela segurou minha mão e me levou em direção a porta me guiando pelo caminho até um cômodo grande espaçoso, era a cozinha.

Dentro tinha vários armários, uma geladeira enorme, um fogão ainda maior onde panelas ocupavam boa parte do mesmo. Ela se sentou em uma das cadeiras me fazendo sinal para me sentar também.

"Bem, logo logo essa cozinha estará ocupada pelos nossos colegas. Eu geralmente não cozinho e quando faço esse lugar se torna sem ar"

"Você faz oque aqui? Na verdade, oque vocês fazem aqui?"

"Dustin deve ter lhe explicado da maneira poética dele mas ele não está errado. Cuidamos das cinco chaves que protegem este mundo e protegemos os humanos com quem você convivia. Também treinamos nossas especialidades para caso uma guerra seja iniciada." Ela explicava de maneira simplória e sem tanto entusiasmo como Dustin.

"Mas eu, por minha vez, tenho um trabalho a mais do que treinar e cuidar de tudo. Eu faço as armas dos guerreiros, elas são baseadas na alma de cada um já que as armas são extensões de nossos corpos. Talvez daqui a alguns dias eu tenha que te fazer uma arma."

"Muito obrigada mas eu não vou ficar muito tempo, na verdade só quero voltar para onde vim" Agradeci formalmente, ela riu como se fosse uma piada.

"Eu era exatamente como você quando vim pra cá. Eu não sabia que esse mundo existia, não sabia que minha verdadeira identidade estava plantada aqui e nem fazia ideia que poderia me apegar por este lugar" Seus olhos brilhavam ao percorrerem a cozinha.

"Eu sei o quão assustada você está, sei como sua cabeça está girando e como se sente tão sozinha mesmo rodeada de pessoas. Foi assim para mim também, é assim para todos que chegam de paraquedas aqui mas algo eu posso lhe garantir, você vai sentir que este lugar é parte de você então, apenas dê uma chance para nós". Ela estendeu a mão para mim segurando delicadamente meus dedos e acariciando os mesmos.

"Eu sou uma idiota por não ter procurado você por aqui." A voz de Ignis surgiu diante da porta, ao virar meu rosto me deparei com ela ao lado de um menino alto, seu cabelo preto escuro estava bem penteado e por trás de seus óculos arredondados estavam seus olhos levemente puxados me observando surpresos. Talvez ele tivesse descendência japonesa ou coreana, aparentava ser um ano ou dois mais velho do que eu. Ele era belo, tão belo quanto Dustin.

"He he, se apresente logo." Ignis cutucou o menino alto que riu envergonhado, seu riso era doce e agradável.

"Olá, é um prazer conhece-la Jasmim, pode me chamar de Joker." Ele se moveu rapidamente sem meus olhos detectarem seus movimentos e momento depois, sua mão segurava a ponta de meus dedos. "Joker" coringa em inglês, era curto e simples mas ao mesmo tempo misterioso e surpreendente já que ele não se parecia em nada com um coringa.

"Oi, prazer em conhece-lo também. Eu gostei de seu apelido, é simples e divertido".

"Obrigado, eu ganhei esse apelido por ser muito brincalhão desde a época em apareci aqui e bem... por outros motivos."

"Nossos nomes tem haver com uma grande característica nossa, eu por exemplo tenho esse nome por ser tão forte e incontrolável quanto o fogo ou Dustin, ele tem esse nome porque Joker vivia o chamando assim." Ignis se manifestou se sentando ao meu lado.

"Falando em Dustin, onde ele está?" Darla perguntou desligando o fogo, antes mesmo de Ignis responder uma pessoa bateu na porta, era o loirinho atrevido/ sorriso irritante.

"Estou aqui baber." Sua voz sou debochada e despreocupada, Darla meio que correu até a porta e o abraçou beijando sua bochecha, eles são namorados? "Oh, você parece estar muito bem, que bom. Não queria que a ida até seu quarto tivesse sido sem importância." Ele se sentou ao lado de Darla em minha frente encarando o braço de Joker apoiado no ombro da minha cadeira.

"Pera, você foi até minha casa? Você entrou no meu quarto sem minha autorização? Ah não, você não fez isso!" respondi me avançando em seu pescoço, Ignis e Joker seguraram-me pelos braços, Dustin se divertia com a cena.

"Eu já até entrei em seus sonhos sem sua "autorização", já beijei esse lindos e doces lábios e que eu me lembre, você não havia protestado, tinha até gostado." Sua voz era despreocupada ao revelar esse detalhe. Todos nos olharam incrédulos do que acabaram de ouvir.

"Vocês se beijaram?" Darla e Joker perguntaram ao mesmo tempo em único som. Dustin, apenas deu de ombros, se eu pudesse o matava aqui mesmo, o esquartejava e fazia uma sopa com seu corpo, talvez sobrasse algo para um assado.

"Era a única maneira de criarmos uma memória que nos uniria até o fim da vida." Dustin respondeu dando de ombros. "Vocês sabem muito bem porque tive que fazer isso, Jasmim estava em perigo naquele lugar."

"Que história é essa de criar uma memória que nos uniria até o fim? E não fale dessa maneira, "aquele lugar" era a minha casa, o meu lar." Protestei vendo a tranquilidade em seus olhos.

"Para você entrar e sair da cidade nephilin precisa ter uma memória marcante com um dos moradores da cidade, uma memória que a faça sentir algo que nunca sentiu. Por isso que Dustin te beijou, ele sabia que isso iria provocar sentimentos em você." Ignis foi mais rápida do que todos respondendo minha pergunta.