Capítulo 3
Forcei meus olhos a se abrirem, diferente do sonho de algumas noites anteriores, este não me deu vontade ou coragem alguma de tentar voltar para onde parei. Virei meu corpo de lado e encarei as horas em meu celular os números 5:15 brilhavam na tela, eu tinha uma hora e meia de sono para aproveitar mas meus olhos, meu cérebro e a palpitação rápida em meu coração avisavam que era melhor não dormir.
Me movi de maneira devagar até chegar a minha cômoda, liguei a luz que por alguns segundos me cegou e me voltei para o móvel de madeira escura. Ao abri-lo me deparei com aquele objeto, o livro que em poucas horas embaralhou meus pensamentos.
"O diário já não poderia esperar mais por você" estas palavras vieram imediatamente em minha mente, será mesmo que encontrar este diário era um incidente cômico, uma obra bem feita do destino, do universo?
"Não, papai com certeza já o tinha há muitos anos, eu que nunca prestei atenção nele" balancei minha cabeça para esquecer todas essas alternativas malucas e coloquei o misterioso livro em seu lugar novamente. Busquei por uma roupa limpa no armário e uma toalha, tomar um banho seria a melhor coisa que poderia fazer agora.
A água quente em contato com meu corpo deixava minha pele avermelhada, meu tom de pele é branco levemente bronzeado, meu cabelo tem um comprimento médio e sua cor é castanho escuro, eu não sou alta nem baixa. Mas mesmo assim, não me acho a garota mais linda do mundo, sabe aquele sentimento de não se encaixar por algo que nem mesmo você sabe oque é? Bem, é isso que sinto, sinto como se fosse tudo menos útil.
Voltei para meu quarto secando as mechas ainda molhadas do meu cabelo com o secador, ao voltar meus olhos para minha cama, uma surpresa. O livro de meu pai estava em cima do edredom cinza, aberto exatamente na página que parei de ler, só poderia ser uma alucinação ou talvez outro sonho mas não, era real. Cheguei mais perto do diário e pude notar, um papel amarelado estava dentro do livro como um marcador e a frase "Estou com saudades de seus doces lábios Jasmim. Ass: O loiro que te ama."
Uma raiva inesperada subiu até meu cérebro e meu sangue ferveu. Era outro sonho, outro daqueles sonhos esperançosos que se partem rapidamente, senti uma vontade inexplicável de rasgar o papel em mil pedaços mas a vontade de aperta-lo contra meu peito era maior ainda, se isso não era realmente um sonho significa que ele é real.
Nunca pensei que sentiria tanto ódio. O despertador tocou fazendo o encanto se quebrar, parabéns sua troxa! Tudo foi um sonho e você foi iludida novamente, parabéns!
Havia sido mais uma noite mal dormida, eu havia passado a noite inteira submersa em meus pesadelos, quando achei que finalmente havia acordado fui jogada em outro daqueles sonhos. Como tudo aquilo poderia parecer tão real?
Troquei meu pijama por uma roupa limpa e desci para o café. Tudo estava como sempre, minha mãe estava com o jornal em mão enquanto bebia o café, na mesa havia o suficiente para nós duas mas aquele sentimento ruim estava de volta, o medo daquilo ser mais outro sonho.
"Me belisca" disse entregando meu braço para minha mãe, ela desviou os olhos do jornal e me encarou confusa.
"He he he, esquece" respondi as palavras que seus olhos transmitiam como "Menina, você tá bem?"
"Hoje eu voltarei mais tarde para casa, espero que possa ficar sozinha mais uma noite" minha mãe pergunta bebendo a bebida mais energética para um adulto, o café.
"Claro" sorrio como se não me importasse, já havia dias, talvez semanas que mamãe ficava trabalhando até tarde no hospital da cidade.
Mas uma vez saí de casa em direção à escola, talvez hoje tivesse algo interessante, talvez hoje a vida tivesse um sabor diferente ao amargo. A escola estava como sempre, adolescentes por toda parte, alguns sentados, outros de em pé e alguns se amassando com outros, uma cena realmente desprezível mas não preciso prestar atenção em tudo isso, apenas preciso colocar meus fones e entrar como se todos não estivessem lá, como se estivessem mortos.
"Yasmim Morais, a senhorita poderia resolver a função que está no quadro?" a professora pergunta cruzando os braços para a seguinte cena onde eu estava escondida no fundo da sala lendo o livro de papai, eu não consigo explicar mais algo me fez traze-lo comigo, algo em meu cérebro espera que eu leia tudo que está nele.
"Yasmim, você me ouviu?" a professora clichê me pergunta novamente.
"Sim mas a professora aqui é a senhora, eu sei que não gosta que eu fique em meu mundo isolada de todos mas apenas me esqueça por alguns minutos, não é como se eu quisesse morrer" digo desviando o olhar das misteriosas letras que agora eram gravadas de vermelho.
"Pois bem, alguém pode fazer o calculo?"
Há poucos meses, eu havia descoberto um lugar perfeito para se ler, ele ficava escondido atrás da escola, era uma pracinha abandonada, todos aqueles brinquedos quebrados e enferrujados davam um toque um tanto horripilante para o lugar que ao mesmo tempo tinha árvores e algumas flores, uma mistura de medo e serenidade. Escorada em uma árvore, folhando e me divertindo com os livros, muitos dias deixava de fazer o dever ou de ir as aulas apenas para ficar sozinha naquele lugar e adivinha, ninguém reclamou ou sentiu minha falta um dia sequer.
"É incrível em como este lugar possa ser tão horripilante e vivo ao mesmo tempo" me assusto com a voz e levanto as pressas, assim me deparo com ele. O mesmo homem alto e viril, seus cabelos tingidos do mesmo loiro daquele sonho voavam com a leve brisa do outono.
"Q-Quem é você?" digo fechando o livro, o homem alto e jovem estava a poucos metros de distância, seu rosto belo e calmo era um tanto estranho, parecia que não pertencia a este mundo.
"Ninguém, apenas alguém que gosta de ficar neste lugar, é estranho que você nunca houvesse me notado" ele diz se aproximando de mim que dou passos calmos e cuidadosos para trás.
"Eu estive te observando por meses. Estava com saudades dos seus lábios, Jasmim" ele fala semicerrando os olhos, em um olhar digno de suspiros, seus olhos âmbar com um brilho meio que cinza me observavam a cada movimento.
"E oque você é? Um psicopata que decidiu que sua próxima vitima seria eu?" digo tentando não der medo da situação e ao mesmo tempo tentando não enlouquecer com tudo aquilo. Ele era real e estava em minha frente agora.
"Talvez, na verdade eu nunca matei um humano." ele se aproxima rapidamente, tão rápido que eu nem havia notado que o mesmo se moveu "Mas eu posso tentar se você não me ouvir" ele responde me prensando contra a árvore, seus dedos alisavam meu rosto.
"Realmente, todos estavam certos, você é tão bela quando sua mãe costumava ser, achei que toda aquela beleza era só o sonho" ele disse tocando meus lábios com a ponta dos dedos. Tento afastar suas mãos de meu rosto, uma tentativa falha como sempre.
"Como um garoto como você conheceu minha mãe? Você parece ser apenas alguns anos mais velho do que eu. E outra, como você está aqui? Você era apenas um homem no meu sonho"
"Ah, você está falando deste rosto e corpo?" ele diz passando a mão pelo rosto "Bem, nada que um bom feitiço de rejuvenescimento não resolva, e quanto ao seu sonho, eu tenho poder de entrar nele quando eu quiser".
"Feitiços não existem, apenas em livros"
"E as palavras lidas talvez sejam reais" ele disse fazendo uma pausa logo voltando "Você já sentiu vontade de viver em uma realidade totalmente diferente desta? Já sentiu vontade de viver em um mundo onde toda essa fantasia existe de verdade? Anjos, demônios, feiticeiros, dragões, fadas e muito mais. Bem, talvez eles sejam reais..." ele disse observando meus olhos surpresos e admirados.
"É por isso que eu leio, é por isso que prefiro esconder meus problemas entre as palavras dos livros, prefiro viver em um mundo onde eu realmente me sinto bem" respondo abraçando o livro vermelho.
"Eu já te disse, você não pertence a este lugar, você não achou estranho este livro vermelho? Se você prestar atenção nas letras minúsculas gravadas em algumas páginas entenderia que este diário não é comum, seu pai escreveu a história dele aqui" ele diz puxando o livro de minhas mãos. "Eu pertenço a este mundo, eu protejo este mundo como se fosse minha alma, minhas palavras ditas são meu juramento de lealdade então, faça de mim seu escravo." ele rogou as palavras segurando forte o livro contra o peito, logo uma imensidão dourada toma conta do lugar, o brilho dos raios devoram tudo ao seu redor e então, me encontro em outro lugar totalmente diferente.
"Oque você fez?" pergunto olhando para todos os lados, colinas verdes se estendiam ao longe, castelos e muralhas dividiam a paisagem com árvores imensas e animais jamais vistos, eu estava sonhando, esta era a única explicação.
"Você não entende? Tudo aquilo se foi, tudo aquilo que você jurava ser real não passava de uma miragem" ele diz segurando minha mão, seus olhos dourados sorriam para mim o mais sincero e caloroso sorriso.
"Você não pertence aquele lugar, você é como eu, você tem o dever de proteger este mundo, o mundo que você tanto queria pertencer. O seu pedido foi atendido e isso não é algo que se possa fugir".
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Autora: Oque estão achando da história?
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