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2 - filha de peixe

SABE AQUELE DITADO que diz que filho de peixe, peixinho é? Acho que isso não se aplica a mim. Na verdade, eu passei muito, muito longe de parecer com meu pai.

Ele é jogador de futebol, tipo um craque mesmo, profissional. Passou por times da nossa antiga cidade, por times de outros lugares do país até ser contratado por um time italiano que até hoje não decorei a pronúncia. Foram mais de vinte anos com futebol correndo em suas veias. E seria esperado que sua única herdeira carregasse um pouco desse amor também.

E até que eu gosto, sabe? Entendo de futebol, gosto de assistir e não deixo a desejar em toda a parte teórica da coisa. Mas se a gente for falar da prática...

Minha tia se engasga na cadeira ao meu lado.

— Mas você não precisaria ter alguma formação pra isso, Augusto?

— Bem, sim, mas a escola praticamente implorou pra que eu ficasse com o cargo. Acho que meu currículo me ajudou.

Se eu não falar alguma coisa, meu pai vai ficar desconfiado. Mas como eu devo reagir a isso? Preciso mostrar que tô empolgada, mesmo que a minha vontade agora seja sair correndo dessa casa e não voltar mais.

— Eu nem sabia que a escola da cidade tinha time de futebol, pai.

— Tem e parece que são bons. Só vou saber direito quando as aulas começarem, mas o time feminino com certeza vai ficar ótimo com você na equipe.

Lhe dirijo um sorriso amarelo que possivelmente faz parecer que estou com alguma dor, o que não é mentira. Figuradamente falando, minha alma inteira dói.

— Isso não é meio errado? — minha tia se manifesta, logo depois de perceber que estou demorando tempo demais pra responder alguma coisa. — Não pegaria bem colocar sua filha no time sem fazer um teste antes.

— Vou fazer pra seguir toda a burocracia, mas vamos combinar, né? Não tem a mínima chance da Dalila não conseguir uma vaga. — Ele sorri, todo orgulhoso. — Todos os troféus que ganhou não são só enfeites.

Deixo escapar uma risada nervosa.

Em minha defesa, eu não pensei que essa mentira ia persistir tanto. No começo, pareceu uma boa ideia criar toda essa baboseira, mas agora eu vejo que foi uma burrice das grandes. É só que... depois de um tempo, desmentir tudo se tornou difícil demais. Valia mais a pena insistir nessa história sem pé nem cabeça do que revelar a verdade.

E a verdade é a seguinte: eu não sei jogar futebol. Nem chutar uma bola em linha reta, ou proteger um gol. Juro que tentei durante anos, mas eu sou péssima, e aceitar isso foi libertador. Mas eu não tinha como contar para o meu pai. Ele é um astro nos campos e iria me odiar se soubesse que sou um desastre neles. E foi por isso que eu – com ajuda da minha tia, pra deixar claro – inventei a maior ficção de todos os tempos.

Só precisei de algumas medalhas e troféus comprados pela internet e vídeo-aulas sobre como trocar rostos no Photoshop. Foi assim que a Dalila Montes de dez anos acabou enganando o pai pela primeira vez.

Lembro de enviar a foto editada por e-mail e receber uma resposta toda orgulhosa dele. Como eu poderia dizer que tudo não passava de uma brincadeira? Quebraria o coração do pobre coitado. Era mais fácil só mentir uma segunda vez... e uma terceira... e uma décima quarta.

Tia Pilar sempre soube de tudo, e mesmo não gostando da situação, ela entendia a importância. No mundo inteiro, é ela a única pessoa que sabe sobre a minha falta de talento no futebol.

Mas isso não vai durar tanto tempo, né? Daqui a pouco vou ser obrigada a fazer um teste pro time feminino de Corina, e aí meu pai e o resto da equipe vai descobrir que eu não passo de uma grandiosa e patética piada.

Acho que vou vomitar.

— Mas vai demorar pra tudo acontecer, né? — minha tia pergunta, a voz um pouco elevada como se quisesse me chamar de volta para a realidade. — Quando as aulas vão começar?

— Ah, não vai demorar muito. Se não me engano, daqui a duas semanas.

Quatorze dias. É tempo suficiente pra bolar alguma solução, não é? Talvez eu dê um jeito de quebrar um braço ou uma perna antes do processo seletivo, nada dramático demais. Ou quem sabe eu invente alguma doença contagiosa. O importante é que, até lá, eu darei um jeito na situação.

— Tô muito ansiosa, pai — digo, sem nenhuma vergonha na cara. — Você vai ser o melhor treinador que essa cidade já viu.

— E você, Lila, vai ser nossa maior estrela!

Santo Deus...

Eu sou uma fraude.

O SERMÃO QUE estou ouvindo da minha tia já dura vinte minutos. Demos boa noite pro papai e subimos juntas até o meu quarto pra discutir a situação, mas eu nem cheguei a abrir a boca antes dela despejar toda a culpa disso em cima de mim. Ela não está errada, é claro, mas adoto uma cara feia mesmo assim.

— Não sei como você vai fazer isso, mas precisa resolver essa mentirada, Dalila! — sussurra, desesperada.

— Eu não posso fazer isso, tia! Vai quebrar o coração dele.

— E o que você quer fazer, cabecinha de vento? Aprender a jogar futebol em duas semanas?

— Não é uma má ideia...

Tia Pilar me encara com as sobrancelhas arqueadas, cética.

— Você fez aula durante os três anos da pré-escola, meu amor. E até hoje não aprendeu a correr sem tropeçar nas próprias pernas.

Cubro meu rosto com uma almofada, soltando um grito abafado antes de me jogar de costas na cama. Minha tia me acompanha, encontrando espaço ao meu lado e encarando o teto comigo.

— Desculpa, querida, mas não tem outro jeito.

— Eu só... não quero decepcionar o meu pai — sussurro. — Vai ser a primeira vez que a gente mora juntos desde que eu era um bebê e não posso revelar que sou um fracasso. Preciso pelo menos tentar, sabe?

Minha tia concorda com a cabeça, devagar.

— Então, qual é o plano?

Me ergo na cama, cruzando as pernas e forçando o meu cérebro a funcionar. Não importa o quanto eu tente encontrar uma resposta, a opção Quebrar Uma Perna continua em primeiro lugar.

— Eu só preciso de uma desculpa muito boa no dia em que rolarem os testes — digo, excluindo a parte de que estou cogitando de verdade tirar um membro do lugar. — Meu pai não vai ter escolha a não ser selecionar as meninas presentes, e aí eu vou me livrar.

Tia Pilar parece gostar da ideia. Por sorte, não me pergunta quais desculpas eu penso em arranjar. Mesmo sendo uma mulher descolada e de mente aberta, não acho que ela concordaria com minha ideia inicial.

O que importa é que tenho duas semanas. Isso me dá trezentas e trinta e seis horas pra encontrar uma resposta que me livre da humilhação pública e, principalmente, não faça o meu pai me odiar até o fim dos tempos.

TIA PILAR VAI embora na quarta de manhã. Me despeço dela com um abraço apertado, enquanto finalmente cai minha ficha de que é a primeira vez em quinze anos em que não dividiremos o mesmo teto. Assisto o carro dela se afastar até enrolar a esquina e sumir da minha vista, me deixando a sós com meu pai e toda a mentira em que se baseia a nossa relação.

Quem sabe eu esteja dramatizando tudo. Seria muito engraçado se eu apenas me virasse para o papai, dissesse que sou uma farsa, e lidasse com as consequências. E eu nem o conheço, né? Talvez a reação dele seja melhor do que espero, afinal de contas.

Depois de me certificar que minha tia realmente foi embora, levo minha atenção para o papai, decidida.

— Pai, eu não sei...

— O que fazer agora, né? — ele me interrompe, os olhos apertados por causa do sol. — Vou te confessar que, por mais que eu já adore essa cidade, não tem muita coisa pra se fazer aqui.

Droga. Minha coragem vai embora tão rapidamente quanto surgiu.

— Mas eu soube de um jogo de futebol que vai rolar hoje à tarde — papai continua, tomado por uma empolgação que seria contagiante se eu não estivesse em pânico. — É um amistoso entre o time da escola e outro de uma cidade vizinha, mas achei que valia a pena ir, pra já ir conhecendo os meus alunos. — Ele sorri pra mim, respirando o ar puro dessa cidade sem poluição. — E aí? Topa ir comigo.

Respondo com um sinal de positivo.

Eu passo o resto da manhã perambulando pela casa, em busca de algo pra me distrair. Ajudo meu pai a decidir o que pediremos pro almoço, assistimos a um filme, conversamos um pouco sobre mim. Conto que não odeio a escola, que meu filme favorito é O Serviço de Entregas da Kiki, que ainda gosto de ler quadrinhos. Faço de tudo pro assunto futebol não dar as caras, ainda que seja difícil, e pra minha surpresa eu até que consigo.

Mas às duas da tarde, papai me avisa que sairemos em meia-hora. Demoro pra encontrar uma roupa decente, já que todas as minhas coisas continuam em caixas, mas depois de vinte minutos me encaro no espelho grande do meu quarto e até que não odeio minha aparência tanto assim. Aliso com os dedos os meus cabelos castanhos e ondulados, desamasso um pouco a camiseta de botão amarela que uso por cima de uma regata branca simples, e, aceitando que nem todo o protetor solar do mundo vai impedir de deixar meu rosto vermelho com todo esse sol, eu respiro fundo e arrasto os meus pés para fora de casa.

Mesmo com um carro na garagem, papai abraça o estilo de vida da cidade e decide que caminharemos a pé. Nem preciso dizer que essa ideia é horrível, porque mal chegamos na esquina e já somos parados pra pedirem uma foto com ele. E isso acontece umas sete vezes até enfim chegarmos ao campinho de futebol da cidade de Corina.

É... deprimente.

Um gramado mal cuidado e uma arquibancada de estrutura duvidosa. É isso, não tem mais nada pra descrever sobre o lugar. As pessoas presentes se amontoam, tanta gente que mal encontramos um espaço livre perto da cerca que nos separa do campo, o que não é tão ruim já que a multidão torna o meu pai invisível. O jogo já começou há um tempo e assistimos a um bando de garotas correrem de um lado para o outro, fazendo dribles e roubando a bola.

Basta uma olhada rápida nos torcedores pra saber que o time de Corina é o de uniforme roxo. A outra equipe, de uniforme preto que imagino estar sendo castigada pela quentura, é até que boazinha, mas não tanto quanto o time da casa. Elas parecem jogar com fogo nos pés, acertando passes e fazendo lances dignos de profissionais.

— Será que são mesmo da escola?

— Acho que sim. — Meu pai não tira os olhos da partida, fascinado até demais. — Elas parecem ter a sua idade.

Engulo em seco. Se eu precisar fazer um teste pra entrar no time, vou ser massacrada por essas meninas nos primeiros dez segundos.

Uma das jogadoras, a que está com a braçadeira de capitã do time, dá um chute do meio do campo e a bola só para quando encontra a rede, como um cometa em alta velocidade. A torcida inteira vibra com ela, que comemora soltando o elástico do cabelo enorme e volumoso e fazendo uma reverência.

A cena me deixa um pouco atônita, mas recobro a consciência rápido.

— Tô com sede, pai. Posso ir comprar algo pra beber?

Ele tira uma nota de vinte do bolso, olhando por cima das várias cabeças pra tentar calcular a melhor rota até a barraquinha de comida do outro lado do campo. Não tem jeito de passar sem ser empurrada e ter o pé pisado dez vezes, mas consigo escapar da multidão antes mesmo do apito retomar a partida.

Caminhar sozinha, mesmo que por apenas uns cem metros, me dá a chance de respirar um pouco. Agradeço aos céus pelo meu perfil privado e do total senso do meu pai em não postar fotos recentes minhas, porque ninguém me incomoda ou sequer olha para mim enquanto me aproximo da barraca.

— Dois refrigerantes de uva, por favor.

Guardo o troco e, depois de colocar uma das latinhas embaixo do braço, caminho de volta até a arquibancada enquanto luto pra abrir o lacre da minha bebida. Mesmo o sol estando mais baixo essa hora, ainda está um calor de matar, e tudo que eu preciso agora é de algo gelado na garganta. Tô finalmente dando o meu primeiro gole quando o esbarrão que recebo me faz derramar metade do refrigerante na minha roupa.

— Mas que...

— Não vê por onde anda, não?!

A garota de boné parada à minha frente parece furiosa, e mesmo que eu não consiga ver seus olhos por trás dos óculos de sol enormes, sei que ela deve estar me fuzilando com o olhar agora mesmo.

— Foi mal, eu não te vi.

— Percebi. Vê se presta atenção da próxima vez — ela esbarra seu ombro no meu com força ao passar —, idiota.

Toda ensopada de refrigerante, minha blusa branca agora está roxa, mas eu termino o restante da bebida na minha latinha enquanto a assisto ir embora pra bem longe, fazendo uma prece a todos os deuses existentes pra que essa garota mal-educada nunca mais cruze o meu caminho.

Mas eu nunca fui uma pessoa de sorte.

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