Capítulo 2
Às sete horas e trinta minutos o celular de Felipe despertou. O alarme era na verdade uma música dos Raimundos, com versos pouco moderados, ou como na opinião da mãe de Felipe, mal educados. Além disso a melodia era mais agitada do que o esperado para um som que tem a função de acordar alguém. Para Felipe tudo isso era irrelevante.
O tempo havia mudado completamente durante a noite. Fazia frio e estava chovendo. De repente o plano que Felipe fizera de pedalar até a serra, pareceu péssima ideia comparado ao de ficar ali mesmo e dormir o dia inteiro.
Ele sentou na cama e desligou o alarme. Sentiu cheiro de linguiça frita e café, o que normalmente deixaria qualquer pessoa feliz a essa hora da manhã, entretanto, o que Felipe sentiu foi o oposto de felicidade.
— Mãe? — gritou de seu quarto.
— Quê? — respondeu uma voz vinda da cozinha.
— Ah mãe! Não acredito...
Felipe levantou mal humorado, vestiu a mesma roupa de ontem e foi para a cozinha.
— Por que você não foi trabalhar?
— Bom dia, né?
— Você não pode mais faltar o trabalho mãe, quantas vezes tenho que pedir?
Felipe pegou a última metade de pão que estava na mesa e recheou com um resto de linguiça que mal enchia uma colher.
— Ah hoje eu não to bem — disse a mãe de Felipe enquanto respondia mensagens no celular — vou pedir um atestado pro médico.
— Se você perder esse emprego eu não vou mais bancar as suas coisas.
A mãe de Felipe continuou teclando no celular, indiferente a sua ameaça. Felipe enfurecido, engoliu o pão, tirou o celular da mão de sua mãe e começou a cobra-la.
— Aliás mãe, eu preciso de ajuda aqui... Já que você não quer dividir o aluguel, vou deixar a internet por sua conta.
— Quê? Ta doido? O que eu ganho no mercado não da nem pra mim.
— Vai ter que dar, ou ficaremos sem internet.
Felipe viu o rosto de sua mãe enrubescer.
— A é? E essa bicicleta nova que você comprou? A outra que você já tinha não era o bastante? O seu Joel disse que uma bicicleta dessas custa uma fortuna. Então não venha me dizer que precisa de ajuda. Sabe o que precisa de ajuda? Essa casa. Olha, a TV a cabo só tem meia duzia de canais, a geladeira nunca tem nada dentro, o sofá ta soltando espumas. Mas ao invés de ajudar nisso, você gasta dinheiro com mais uma bicicleta, que interessante!
O celular de Felipe começou a tocar. O número que aparecia no visor não estava registrado nos contatos o que normalmente faria com que ele recusasse a chamada. Entretanto, para Felipe até mesmo uma ligação automática de telemarketing num sábado de manhã seria melhor do que continuar aquela discussão.
— Alô — atendeu Felipe.
— Alô. Quem fala? — respondeu uma voz que para surpresa de Felipe parecia ser de um ser humano.
— Felipe da Silva, quem gostaria?
— Caramba até a voz é parecida. Aqui quem fala é o Paulo.
— Pois não?
— Cara... Eu trabalhei com teu irmão. Me falaram que você é... parecido com ele.
— Acho que sim.
— Eu queria saber se você tem interesse em fazer um serviço pra mim. Você também manja de motores?
Felipe forçou a memória para lembrar se já conhecia Paulo. Pensou que talvez fosse o homem tagarela de que seu irmão sempre falava, ou algum ex chefe de Caio, ou talvez fosse qualquer outra pessoa da qual jamais ouvira falar.
— Sim, que tipo de serviço é? — Perguntou Felipe interessado.
— É coisa rápida. Eu só preciso que você verifique o motor de uma aeronave. É só isso. E eu pago bem.
— Aeronave? Caramba! Foi mal mas eu nunca trabalhei com isso não.
— Ah é? — Paulo não pareceu surpreso. — Mas é tranquilo. O seu irmão sempre fazia um corre pra mim.
— O Caio te ajudava com motores de aeronaves? Tem certeza de que ligou pra pessoa certa?
— Sim é claro, o Caio era bom. Mas todo cara bom vai pro exterior não é mesmo? — O homem soltou um riso e pigarreou — sem ofensas.
— Sim, é verdade. Eu não sabia que o Caio trabalhava com motores de avião. — Felipe ficou pensativo por alguns instantes — mas olha Paulo, me desculpe, eu infelizmente só trabalho com carros mesmo.
— Entendo. — Paulo fez uma longa pausa. — Tudo bem. Caso conheça alguém que possa me ajudar... É só uma olhada mesmo e se for simples pago bem pela visita.
Felipe ficou pensativo vários minutos após desligar o celular. Fora ele quem ensinara Caio tudo o que sabia sobre carros. Fora ele quem pagara todos os cursos de mecânica para o irmão mais novo. Ele não sabia como Caio poderia ter aprendido a trabalhar com motores de avião e nunca ter contado a ele.
— Mãe você sabia que o Caio sabe trabalhar com motores de avião?
— Não. — Respondeu a mãe desinteressada. — Mas por que a surpresa? Caio é esperto, sempre correu atrás. Não é a toa que ta lá no primeiro mundo. Eu to indo tchau.
Felipe viu sua mãe saindo e considerou que ela estava arrumada demais para simplesmente ir ao médico pedir um atestado, mas preferiu ignorar.
Depois de algumas horas a chuva parou e Felipe decidiu que queria aproveitar o resto do dia para pedalar. Desde que comprou sua nova companheira de duas rodas, quadro de carbono e freios hidráulicos, ele queria passar qualquer tempo livre com ela.
Antes que pudesse vestir o equipamento de ciclismo, Felipe ouviu uma batida na porta, depois outra ainda mais forte. Quando abriu a porta encontrou o Seu Joel, um idoso alto de cabelos espetados e com uma expressão não amigável.
— Bom dia Felipe — disse ele — que bom que te encontrei em casa.
— Bom dia. — Respondeu Felipe não igualmente contente.
— Felipe vou ser direto. Gosto da sua família mas preciso que você me pague o aluguel.
— Eu sei Seu Joel — Felipe estendeu a mão convidando o homem para entrar mas Joel recusou. — Eu estou com o salário atrasado e tenho uma outra grana pra receber... Assim que...
— Não — interrompeu Seu Joel — preciso que pague hoje. Eu não posso mais esperar Felipe. É o seguinte, quero que você me pague até as dezoito horas. Eu também tenho compromissos e estou sendo cobrado. Caso não me pague, tomarei as providencias para que saiam dessa casa. Me desculpe.
Felipe temia que o momento em que Seu Joel viesse cobrar pelos últimos meses de aluguel, fosse antes do recebimento dos seus salários atrasados.
— Eu preciso cobrar o meu patrão, me de mais uma semana Seu Joel.
— Não. — Respondeu firmemente. O homem apontou seu longo dedo para o canto em que Felipe guardava suas bicicletas. — Se o meu filho estiver certo, a bicicleta que você tem ali, vale uns cinco mil ou mais. É mais do que você me deve. Se não tem outro jeito, venda.
O homem deu as costas e desapareceu. Felipe sentiu que Seu Joel falava sério. Não sobre tomar providências para despeja-los, porque isso Felipe não acreditava que aconteceria. Mas sobre pegar a bicicleta como modo de pagamento, nem que para isso fosse necessário toma-la a força.
Felipe tirou a sua Tx GT L1000 da garagem e a colocou dentro de seu quarto. Arrastou-a para de trás do guarda-roupa, usou uma corrente para prende-la ao pé da cama e com a cortina escondeu a roda que ficou de fora. Ele sabia que aquilo não deteria Seu Joel por muito tempo pois o velho possuía todas as chaves da casa e toda sorte de alicates em sua oficina.
Por esse motivo, ou talvez por ter pensado que se Caio podia entender um motor de avião, ele certamente também poderia, Felipe pegou o seu celular e discou para o mesmo número da ultima ligação recebida.
— Paulo? É o Felipe. — Hesitou por um momento. — Eu posso dar uma olhada na sua aeronave caso ainda precise.
— Perfeito. — Paulo riu e depois tossiu algumas vezes. — Vou chegar ai por volta das duas. Me encontre no aeroporto.
É incrível como se pode encontrar todo tipo de informação com uma simples busca na internet. Termos exatos do tipo: "como funciona um motor de avião" e "diferenças entre motor de carro e motor de avião" resultam em postagens e vídeos extremamente explicativos e detalhados. Para a surpresa de Felipe, caso ele encontrasse um motor de pistões simples refrigerado a ar na aeronave de Paulo, seus conhecimentos deveriam ser suficientes para ao menos diagnosticar o problema, e assim receber o "pagamento pela visita".
Felipe conseguiu convencer Rafael, o amigo com quem costumava pedalar aos fins de semana, a leva-lo até o aeroporto. É verdade que, quando se tem uma Tx GT L1000, não é difícil conseguir favores de amigos ciclistas, em troca de um empréstimo da mesma por talvez um sábado ou dois. Mas Felipe também pretendia conversar com Rafael sobre o seu irmão Caio já ter trabalhado com aeronaves. Rafael também não sabia disso, apesar de ter sido o amigo mais próximo de Caio nos últimos anos.
A escolha por pedir uma carona fora precisa. Com as reformas no trânsito, levaria o dobro do tempo se tivesse ido de ônibus. Felipe estava preocupado, pensando que tipo de pessoa era Paulo e porque Caio havia se relacionado com gente assim. Rafael ficou falando sobre como nenhuma tecnologia que existe atualmente, poderia ser eficiente para eliminar os problemas de trânsito. Segundo ele, a única maneira de resolver esse problema das grandes cidades, é substituindo os macacos que dirigem os veículos por computadores, algo que provavelmente será realidade dentro dos próximos cinco anos. Como fora Rafael quem disse, Felipe não questionou.
O aeroporto estava lotado. Felipe tentou ligar para Paulo diversas vezes mas todas as chamadas caiam na caixa postal. Ele se perguntou como reconheceria Paulo em meio a tantas pessoas sem ao menos saber como era a sua aparência.
Caminhando pelo, não tão grande, aeroporto Afonso Pena, esperava ser reconhecido pelo homem que iria tirá-lo do sufoco — ou colocá-lo em outro maior ainda. — Para a sua surpresa, foi ele quem reconheceu, após poucos minutos, um homem careca, baixo e gordo falando alto na banca de jornais. Ele observou o homem comprando cigarros e um isqueiro, o viu falando com todas as pessoas por quem passava, independente de as conhecer, até que, quando parou em frente a ele, ouviu:
— Aí está você!
Os dois se apresentaram e conversaram sobre Caio. Felipe teve certeza que o homem realmente havia trabalhado com seu irmão.
Paulo pediu para que Felipe pedisse um táxi e depois explicou como era a aeronave e qual problema apresentava. Para Felipe tudo estava indo bem até que Paulo fez um comentário inesperado.
— Quando estivermos lá não fale com ninguém. Tá ok? — Paulo parecia sério e sua voz não soou rígida como de costume. Com um dedo gordo ele pressionou o botão para chamar o elevador e franziu a testa. — E não olhe nos olhos de ninguém.
— Quê? Mas por quê? — Felipe ficou surpreso com o tom de Paulo. O homem era gorducho, normalmente falava tudo em tom de piada e isso fazia Felipe o imaginar como um daqueles charlatões dos filmes.
— Olha cara...— Paulo engoliu seco. — Só tô dizendo que é melhor não chamar a atenção. Se notarem que você... Não é você, podemos estar em maus lençóis.
— Ah eu não sei Paulo. Não quero me complicar. Talvez seja melhor esperar o meu irmão. E esses caras, quem são?
— Ninguém! São só... Uns caras que compraram o meu avião. Mas não temos que nos preocupar. Olha isso, vocês são idênticos e ninguém vai notar. — Paulo relaxou a testa e voltou a mostrar o sorriso de sempre. Ele desprendeu um botão da camisa, começou a alisar a careca e a assobiar o solo de Adeus Paulistinha.
Os dois esperavam o elevador no corredor principal do Aeroporto. Felipe começou a se sentir enjoado e desejou não estar ali. Ele notou que havia um segurança do aeroporto olhando para os dois e sentiu uma gota de suor escorrendo pelas costas.
O elevador chegou, as portas se abriram e os dois deram de cara com uma proteção acolchoada envolvendo as três paredes diante deles. Havia um aviso e Paulo leu em voz ritmada:
— O Aeroporto Internacional Afonso Pena informa que estamos em manutenção. Desculpe o transtorno.
O forro acolchoado dava a impressão de que o elevador era muito menor do que realmente era. Simultaneamente, os dois se deram conta de que a manutenção era somente na parte externa e entraram.
— Segure a porta! — Gritou Paulo antes que as portas se fechassem. — Olha só o que tá vindo.
Havia uma mulher muito atraente correndo em direção a eles. Ela hesitou por um instante quando reparou nos dois homens que seguravam a porta do elevador. Um deles tinha o cabelo desarrumado, a barba por fazer e estava com as calças sujas. O outro era careca, corpulento e a encarava com um sorriso malicioso. Apressadamente, ajeitou a roupa e entrou.
— Obrigada — disse.
— Imagina — Paulo sorriu para ela — eu é que agradeço!
Ela olhou para as paredes forradas, notou que o elevador parecia pequeno demais para os três e detestou a sensação de proximidade com aqueles desconhecidos. Sentiu que se continuasse ali, em silêncio, tão próxima daqueles homens, logo algum deles sentiria a necessidade de iniciar uma conversa. Sacou o celular e virou de frente para a porta.
Paulo mordendo os lábios, reparava no corpo da mulher. Ela usava um terninho cinza e uma saia até pouco abaixo dos joelhos. Os cabelos dela eram pretos, compridos e ondulados. Ela usava um daqueles saltos de bico afinado que a deixavam ainda mais atraente, apesar de aparentarem ser a coisa mais desconfortável do mundo para se calçar.
— Já te falei que eu adoro Curitiba? As mulheres mais bonitas estão no Sul cara, pode apostar.
Felipe constrangido, fixou os olhos no chão. Ele não ia dizer nada, porque isso não tinha importância, mas Paulo estava errado em julgar que aquela mulher era de Curitiba. Primeiro porque quando se está em um aeroporto, é de se esperar que haja gente de todos os lugares. E segundo, porque o modo como ela agradeceu foi tão paulista que fez Felipe lembrar de uma prima de Santo André.
O perfume da atraente executiva invadiu rapidamente todo o espaço dentro do elevador. Felipe estava muito enjoado e concluiu que a ausência de espelhos ou vidros causavam uma terrível sensação claustrofóbica.
Houve uma rápida falha na luz. Felipe e Paulo se olharam. A luz voltou e em seguida falhou novamente. O painel do elevador também se apagou completamente. Houve um silêncio de morte durante dois segundos em que uma escuridão completa se manteve dentro do elevador.
— Meu caralho! — Disse Paulo.
A mulher se virou para Felipe e Paulo. Eles tinham a mesma expressão que ela. Pela terceira vez as luzes e o painel do elevador se apagaram. Houve um barulho distante de estouro, seguido de um ranger de cabos de aço. O elevador freou bruscamente. Os três foram sacudidos e perdendo o equilíbrio caíram de joelhos.
— Ai meu Deus! — Gritou a executiva.
— Cacete, que porra é essa... — Paulo tateou as paredes, agarrou o forro acolchoado do elevador e tentou se colocar em pé.
Estava uma escuridão completa. Os três dentro do elevador ficaram em silêncio por alguns instantes. Eles estavam parados e não havia som do funcionamento do motor. Ao longe, eles escutavam vozes mas não conseguiam distinguir o que diziam.
— Iluminem aqui, por favor — disse a mulher — derrubei o meu celular e não estou achando.
— Droga... — Respondeu Paulo. — Acho que o meu ta sem bateria.
Felipe tentou ligar o seu celular mas também não conseguiu. Ele sabia que a bateria estava carregada pois havia checado a alguns minutos. Tentou pressionar o botão de ligar mas o aparelho não reagiu.
— Estranho... Acho que o meu parou de funcionar.
— Mas que merda! — Disse Paulo tateando o painel. — Deve ter um botão de emergência em algum lugar aqui. Aliás deveria ter uma lâmpada de emergência também.
A executiva estava engatinhada procurando o seu celular. Ela passou as mãos pelos quatro cantos do elevador até que o encontrou.
— Porcaria — a voz da mulher estava trêmula — acho que quebrou.
— Achei! — Paulo pressionou o maior botão que encontrou no painel mas nada aconteceu. Ele tentou pressionar os outros botões, nenhum deles reagiu. — Socorro! Estamos presos no elevador! — A voz dele parecia abafada pelo forro acolchoado. — Socorro, estamos aqui!
Os três ficaram em silêncio mas não ouviram nenhuma resposta ao pedido de ajuda.
— Por favor socorro! Ficamos presos, socorro — a executiva se encostou em um canto e começou a soluçar. A sua voz aos poucos deu lugar a um choro desesperado. — Tenho que sair daqui... Por favor, quero sair daqui.
— Calma meu anjo. Alguém já deve estar vindo tirar a gente... — Paulo esticou as mãos até encontrar a cintura da mulher. — Não fica com medo não que eu tô aqui.
— Me solta! Socorro! Socorro! — Gritou em desespero batendo com força nas portas do elevador — Alguém me tira daqui! Socorro!
Felipe agarrou o ombro de Paulo e o puxou com força contra a parede. Com uma das mãos manteve o homem imobilizado e com a outra pegou um isqueiro que o vira guardar no bolso minutos atrás. Quando Felipe acendeu a chama, uma fraca luz revelou os profundos e sombrios traços de sua face.
— Não encoste nela — disse gravemente.
Paulo sentiu o sangue subindo-lhe a cabeça. Colocou as mãos nos braços de Felipe e o empurrou. Os dois permaneceram se encarando por alguns instantes.
— Desculpe por querer ajudar — disse Paulo quando reparou nos olhos borrados da mulher que ainda soluçava.
Felipe recuou e se virou para ela. — Moça precisamos manter a calma. Vamos ficar em silêncio um pouco e tentar ouvir alguma coisa.
Felipe apagou a chama. A escuridão invadiu novamente o pequeno ambiente. Os três notaram que o calor aumentava e o ar parecia cada vez mais abafado.
Ao longe, ouviam-se vozes exaltadas. Felipe pensou ter ouvido um grito. Quando a executiva se acalmou, os soluços cessaram por alguns instantes e os três conseguiram fazer silêncio absoluto. Lá fora puderam ouvir um crescente zumbido acompanhado de gritos e um tremor que parecia vim de uma multidão em algum tipo de caos.
Em seguida houve o som de uma grande explosão que durou vários segundos. O estrondo foi tamanho que ambos puderam sentir a incrível onda de choque.
Paulo parecia ter perdido a audição. Tentou pedir por socorro e não ouvindo a própria voz começou a gritar.
A Mulher voltou a chorar de modo descontrolado — preciso sair daqui, por favor preciso ir para casa, por favor me tira daqui...
Em meio a escuridão Felipe apenas podia ouvir os gritos de desespero e os golpes que algum de seus acompanhantes estava dando nas paredes do elevador. Pingando suor e sentindo falta de ar, ajoelhou-se. Com as mãos abafou os gritos.
Paulo perdendo a lucidez começou a ferir os próprios punhos contra o forro acolchoado do elevador. Felipe podia sentir os movimentos do homem que golpeava a parede sem parar de gritar. O cenário enlouquecedor se agravou quando Paulo começou a jogar o próprio corpo contra as portas de metal. Na terceira vez em que se arremessou, houve um som oco e um silencio.
Felipe tateou o chão até encontrar o corpo de Paulo, imóvel e ensanguentado. Acendeu uma chama com o isqueiro e o que viu parecia uma cena de terror. As paredes estavam sujas de sangue e a testa de Paulo gravemente ferida. Haviam alguns rasgos no forro que pareciam emitir alguma luz.
A mulher entrou em pânico assim que Felipe iluminou o chão. Ela viu um homem com pedaços do cranio expostos e começou a se debater. — Meu Deus, meu Deus, socorro! Preciso voltar... Preciso voltar... Não me deixa morrer, meu Deus socorro!
— Eu preciso de ajuda, por favor se acalme — Felipe evitava tocar a mulher, mas ela parecia não ouvi-lo. — Por favor se acalme... Por favor... Como é o seu nome?
— Eu só quero sair daqui, por favor, me tira daqui...
— Eu vou tirar a gente daqui. Mas preciso da sua ajuda. Eu acho que esse é um elevador panorâmico. Precisamos tirar esse forro das paredes. Como é o seu nome?
— Júlia... Eu me chamo Júlia.
Caro leitor, ou leitora, caso tenha gostado desse capítulo não esqueça de votar. Vamos lá que a história continua...
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