Capítulo 11 - Um lado diferente da história
Boa Nova — BH, 07 de outubro.
Entre os lençóis se remexe a mulher, o qual faz parte dessa história tanto quanto o protagonista, talvez alguns pensem nela como o par romântico, eu prefiro pensar como a pessoa que mudou o rumo de tudo, ou melhor, a jovem que teve a vida mudada pela semente que cresce em seu ventre.
Poderia dar mil motivos para a importância de Caroline Ferraz nessa história, mas não o farei, quem julgará sua importância será apenas você.
Ela se vira na cama, a manhã nem havia começado e o calor estava presente. O ventilador ligado a noite toda não aplacava a temperatura alta daqueles dias. Carol abre os olhos e pega o celular sobre a mesa de cabeceira, eram 5:28. Havia acordado antes até do despertador.
Sem muito o que fazer, ela levanta, vai até o banheiro. A vontade de urinar estava aumentando, e isso que ouvira uma mulher dizer que no final da gestação era impossível segurar o xixi. Ela mesma não prestava tanto atenção as conversas corriqueiras no posto de saúde, preferia embarcar nos livros do que qualquer outra coisa, pelo menos entre as páginas ela conseguia se compreender e compreender os personagens que faziam sua vida mais feliz.
Após escovar os dentes, ela vai para a cozinha fazer o café. Enquanto a água fervia, a jovem mulher arrumava a mesa. Sua mãe logo acordaria e queria que tudo estivesse pronto para se começar bem a semana de trabalho. Às 5:50 ela sai de casa em direção à padaria e volta poucos minutos depois com o pão.
Depois do café da manhã a família é desfeita, o irmão do meio vai para escola e a caçula fica se arrumando. Caroline tinha a missão de trançar os cabelos da pequena que adorava um penteado. Já a mãe deles, trancada no quarto, se arrumava para o trabalho. Havia a sua espera várias peças para se fazer. Maria era costureira, e muito requisitada entre as pessoas da cidade, tanto que roupas de formatura, casamento, festas eram todas ela que fazia e sempre com uma qualidade excelente. A mais velha normalmente se trancava no quartinho do fundo logo de manhã e de lá só saia de noite, suas refeições muitas das vezes eram feitas com o prato do lado da máquina de costura. Carol, era a responsável pelos irmãos, por cuidar da casa, das refeições e ainda trabalhava seis horas em uma padaria, isso quando não estava auxiliando a mãe nas costuras.
A família Ferraz se virava como podia, as costuras feitas pela mais velha lhes concedia uma boa renda para viver, porém, Caroline gostava da independência de ter o seu próprio dinheiro e com ele comprar suas coisas, o que agora será mais do que necessário, muito mais. Por outro lado, Maria se aliviava de não ter que pagar as contas da filha e foi ela a maior influenciadora para a jovem arrumar um emprego logo que mudaram para a cidade. Ah se ela soubesse no que isso daria, talvez jamais tivesse deixado Carol sair de dentro da casa de aspecto antiga. Talvez trancafiaria a filha ou a casaria com o primeiro partido que aparecesse, só que a segunda opção não era viável, não para uma mulher que tem dois filhos pequenos e que trabalha de 12 a 16 horas por dia, principalmente no final de ano.
Júlio Ferraz da Silva, é assim que se chama o pai de Caroline, que faleceu em maio de 2021 aos 52 anos com um tumor maligno na próstata. Após esse acontecimento e sem condições da família continuar tocando os cuidados do sítio em que moravam, eles se mudam para a Boa Nova e vendem a propriedade, comprando assim uma casa antiga no centro da cidade com 4 quartos, 2 banheiros, sala, cozinha, despensa, quintal e um quarto com banheiro ao fundo separado da construção principal. Uma casa perfeita para a família Ferraz, talvez, sim, talvez, não!
Depois de Caroline levar Laura para a pré-escola, a mais velha vai até a padaria e lá passará as próximas 3 horas entre enjoos e massas de pães e doces, saindo para o almoço e voltando 1 hora depois para terminar de cumprir sua carga horária como atendente e doceira. Umas das coisas que ela gosta de fazer é cozinhar, é um dom que veio de sua avó paterna que a ensinou muito bem. Digamos que nossa mais nova amiga tem uma rotina continua que segue a risca entre cuidar de tudo ao redor e agora também de sua saúde e dá criança a qual carrega em seu ventre, e se você está curioso para saber sobre esse assunto, peço que aguarde mais um pouco. Tudo tem seu tempo e motivo para ser esclarecido. Não irei entregar as cartas de uma vez para não perder a graça nessa brincadeira.
Um dos pensamentos de Carol era como ela faria a partir desse momento, como ela cuidaria de tudo sem ceder aos sentimentos que a atormentava cotidianamente. Não estava sendo fácil aguentar a barra a qual foi imposta no instante que se deixou levar por um desejo incontrolável que, em vez de satisfazê-la e fazê-la feliz, foi ainda pior. Agora estava sozinha, sem apoio, sem um pai para seu filho, sem um pai para si. Se Júlio ainda fosse vivo, o pai talvez apoiasse a filha ou capasse o desgraçado que ousou enganá-la. Tal pensamento me faz rir, é, ele faria exatamente isso!
Caroline, digamos que sempre foi uma jovem inocente, conhecia o mundo, mas tudo através das conversas. Ela nunca havia vivido mais que um pequeno e misero romance infantil que durou apenas um verão. Ela era sonhadora, romântica e feliz, seu sorriso irradiava a todos que estavam por perto, mas isso mudou desde o falecimento do pai, a perda a tornou triste e sem esperança, e a única esperança que encontrou se tornou sua maior decepção.
Os últimos 3 anos não haviam sido fáceis, a mudança do sítio, a adaptação ao novo lar, a ida à escola da mais nova, o amontoado de trabalho que sua mãe pegava para fazer, os finais de semana em família, ou quase, as brigas e os choros. A dor da perda e a solidão interna que viviam cada um e a suprimiam de seu jeito.
Não estou passando a mão na cabeça de ninguém por aqui, apenas narrando fatos que aconteceram e que muitos vou explicar futuramente, entretanto, para entender alguns acontecimentos e escolhas dessa jovem, tem que conhecer sua rotina e sua família, só assim irá pesar na balança o que lhe aguarda nesse manuscrito. Antes de tudo, conheça ambos os lados da moeda, depois escolha a história que melhor o convêm, não julgue antes disso. Reflita o quanto a sobrecarga está sendo para a família, se ponha no lugar de cada um, assim como faz com Luís Henrique, que sei que o faz.
Cada pessoa tem sua história, seus medos, seus desejos, suas preocupações. Cada um tem seus motivos, seus anseios, suas escolhas, seus caminhos. Tudo se une apenas quando o destino deseja entrelaçar as vidas em uma sequência de acasos, tudo unido e levando a perfeita harmonia ou a felicidade que se espera, pelo menos é isso que esperamos nesse romance que se iniciou com uma tragédia.
Seja bem-vindo a Caminhos Entrelaçados, aproveite sua estadia e pegue um lencinho só por via das dúvidas vai que precise.
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Tem muita água para rolar nessa cachoeira de emoções.
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