Hoje era o dia do tão aguardado baile. Deveria ser também o grande dia para mim, deveria ir com o meu Príncipe, em vez disso vou sozinha. O meu pai ainda tentou que eu fosse com o meu irmão, mas eu recusei-me a ir com ele.

"Chego finalmente a casa, com o meu guarda costas particular de hoje, o meu irmão. Ouço o meu pai chamar-me do escritório. Bolas, mal chego e já vou ouvir um sermão. Ultimamente tem sido assim, todos os dias tenho que relatar o dia na escola: com quem estive, o que almocei, com quem falei, com quem almocei, o que falei com A, B ou C. Eu já não aguento mais isto.

- Boa Tarde Madalena. Como foi o dia hoje?

- Igual aos outros. Tive aulas, estive com a Rute, falámos sobre os últimos testes, almocei sozinha, porque ela foi almoçar com a Mara. E fiquei à espera do Pedro. Ou seja, a mesma coisa de há três meses para cá.

- Madalena. Bem, mas eu chamei-te por duas razões. Primeiro a tua médica telefonou-me, parece que já está tudo bem contigo. Ela quer apenas ver-te daqui a um mês. Só para garantir, mas ela diz que nos últimos exames tudo esta sarado.

- Isso sim é uma optima notícia. Obrigado Pai. Posso ir?

- Não. A segunda coisa: o Baile.- pronto, desistiu e já não me vai deixar ir...- Estive a pensar, falei com o teu irmão, e pensámos que ele poderia acompanhar-te, ser o teu par...

- NÃO. Eu prefiro ir sozinha, eu já nem queria muito ir. Vou porque a avó insistiu muito. Se for para o Pedro ir de guarda-costas eu não vou.

- Madalena...

- Não, vou sozinha ou não vou de todo.

- Tudo bem. Sabes não era assim que eu sonhei este momento. Eu e a tua mãe sempre sonhámos com este momento, desde o ano em que o Pedro teve o seu Baile. A tua mãe sonhou com o vestido, em como ia arranjar o teu cabelo, no teu par...

- O vestido acho que a mãe ia gostar, o cabelo sabes que nunca liguei a penteados e sempre odiei que a mãe me fizesse coisas elaboradas como ela gostava...e em relação ao par, bem só não tenho porque vocês decidiram assim.

- Madalena.

- É a verdade, tu nem me deixaste falar naquele dia. Não me ouviste, nunca me ouves. Até hoje para ti, para o avô a culpa de tudo o que aconteceu é minha. Mas esquecem-se que eu fui tão vítima naquela noite como vocês. Sim errei ao sair sem vos dizer. Mas eu não te mandei ir acertar contas com o Ricardo, eu não te mandei entrar na porra do carro, levares a minha mãe junto e espetares o carro contra um camião. EU NÃO MATEI A MÃE. FOSTE TU. Estou cansada de ser acusada de algo que não fiz, estou cansada de pagar por um erro que não posso corrigir."

Depois daquele discurso todo, saí do escritório. O meu pai ficou dias sem me falar, mas ao contrário do que eu pensei, ele não me proibiu de ir ao Baile. Assim hoje estava em casa da minha avó, para me arranjar. Acho que ela estava mais entusiasmada que eu, mas vê-la feliz e a sorrir era bom. Pelo menos no meio da minha tristeza eu podia fazê-la feliz.

Não posso dizer que não ficou bonito. Eu tinha pedido à minha avó para não fazer nada de muito elaborado, e ficou bem simples. O vestido, apesar de não ter sido um dos que mais gostei, pois era muito "aberto" foi o que teve um voto unanime das três mulheres que estiveram comigo. Não sei o que o meu pai vai dizer quando me vir, contudo, a escolha não foi totalmente minha.

Quando finalmente estava vestida, saímos as duas do quarto e descemos. Estavam todos na sala à minha espera: o meu avô, o meu pai, o meu irmão, as minhas irmãs, os meus tios, e os meus primos. Claro que Ana também estava toda arranjada. O vestido dela era elegante, cheio de folhos no final, na cintura tinha uma fita em preto que fazia o contraste com a cor do vestido que era de uma cor nude. Já o cabelo fez uma trança meio de lado...

- Madalena Sá Fernandes, que vestido é esse?- pergunta o meu avô, o meu pai e o Pedro ficam ao lado dele também com uma cara nada boa.

- Mãe, não é justo. Eu queria comprar um vestido com uma racha que era metade dessa e tu não me deixaste, mas a Madalena...

- Espero que tenhas outro vestido lá em cima, porque com esse "trapo" tu não sais de casa.

- Para minha defesa, não fui eu que escolhi. Eu sabia que a vossa reacção ia ser essa, mas a avó não ligou e comprou este mesmo depois de eu ter escolhido um outro.- eles olham para ela que apenas sorri.

- Ah! Parem os três, ela é jovem tem mais é que mostrar o que tem de bonito. Não é quando chegar à minha idade que vai mostrar.- a minha avó diz e rimos com ela.- Afonso, vá leva as nossas meninas para o Baile, diverte-te princesa. Tu também Ana, juízo.

- Porque é que a mim me pedes para ter juízo? A Madalena é que faz sempre asneira.

Olho para a minha avó e abraço-a. Ela tem sido o meu tudo neste momento. Sem ela eu já tinha caído de vez. Saímos e fomos as duas para o carro com o meu primo. Ana, não parava de dizer que não era justo ela não poder ter o vestido que nem o meu. Até que o Afonso não aguentou mais, e gritou com ela, simplesmente a mandou calar. Finalmente chegámos, e a entrada estava linda. Era feita por vários túneis cheios de luzes.

Estava tudo lindo, cheio de luz. À medida que fomos avançando ao longo dos múltiplos túneis, mais deslumbrada ficava. Finalmente conseguimos ver o local onde seria o Baile, era uma grande tenda oval. Cá fora havia algumas cadeiras, bancos e mesas. De repente, alguém se atira para cima de mim, e quase me faz cair. Viro-me e claro que tinha que ser a maluca da Rute.

- Mada, estás linda. Meus Deus, esse vestido é tipo...SEXY.

- Doida, tu já o tinha visto. Estás linda também.

Rute tinha escolhido um vestido vermelho rodado, sem alças, mas de gargantilha. Calçava uns sapatos de salto alto fino em cor nude. Eu estava com um vestido azul cai-cai, com uma fenda que vinha da coxa até ao pé, e calcei uns sapatos pretos também de salto fino.

- Boa Noite Anaconda. Estás linda.- diz Rute dando uma pequena gargalhada...- Desculpa engasguei-me.

- Boa Noite mosca morta. Vou ver se encontro o meu namorado. Porque eu tenho um...

Ana olha para mim e sorri maliciosamente. Raiva. É tudo o que consigo sentir ao olhar para ela. Porém, basta ela virar costas e caminhar até à tenda para as lágrimas começarem a querer sair. Ele deveria estar aqui, era para ele estar aqui. Era para ser a nossa noite, e agora é apenas a pior noite de sempre.

- Ei! Nada de chorar, olha a maquilhagem. Vamos já encontrei a nossa mesa. Estamos seis na mesa e estamos cá mesmo para trás então se por acaso quiseres ir embora...ou apenas apanhar um ar fresco ninguém vai reparar.

- Seis? Ok, pelo menos não sou a única sem par...- Rute pisca o olho...- Rute o que é que tu fizeste?

- Eu!? Eu não fiz nada, nem fui eu que distribuiu os alunos pela mesa. Eu só fiz um pedido: ficar nas mesas cá mais atrás.

E lá fomos nós para a o local onde iríamos jantar, e dançar. Estava tudo ainda mais bonito. Havia inúmeras mesas, algumas com seis outras com oito cadeiras. A decoração das mesmas estavam simples, e cada uma tinha um arranjo de flores em tom de rosa e violeta. Havia também mais lá para a frente uma grande zona de dança. Encontrámos a nossa mesa e sentámo-nos. Passado algum tempo vejo o Tomás a entrar. Ele veio directo para perto de Rute, falou-me e eles sentaram-se.

Passado um tempo apareceu uma menina, que eu nem conhecia direito, com um rapaz. Eles apresentaram-se, dizendo que eram primos e como nenhum dos dois tinha par decidiram vir os dois juntos. Sara e Samuel, eram bem simpáticos. Começámos a falar dos cursos que eles iriam fazer, Sara iria para a Via de Ensino, já Samuel ia para Engenharia.

O jantar foi servido, e nada de vir a sexta pessoa. Aquilo estava meio estranho, mas vai ver que a pessoa acabou por desistir de vir por estar sozinha também. Porém o facto de Rute estar constantemente a enviar mensagens, estava a deixar-me com uma pulga atrás da orelha. Depois do jantar maravilhoso, chegou a vez do discurso do Director da escola e da premiação do Aluno e Aluna de mérito.

- Boa Noite. Em primeiro lugar quero agradecer a todos os alunos que se empenharam este ano na organização e decoração do espaço. Parabéns. Agora quero desejar-vos a todos boa sorte nas vossas vidas. Até agora tudo foi relativamente fácil, mas é partir deste momento que cada um de vocês fez a sua escolha que a vossa vida vai começar. Boa sorte a todos e todas, e espero que todos vocês um dia olhem para trás e se lembrem desta noite como um novo recomeço nas vossas vidas. E agora deixo-vos com a Professora Vânia.- todos batem palmas, e gritam que nem uns doidos.

- Boa Noite meninos e meninas. Bem normalmente fazemos isto na entrega de diplomas. Porém o comité este ano sugeriu fazê-lo apenas com os alunos, deixando os pais de fora desta comemoração. Quero que saibam, que mesmo não recebendo este prémio, todos sem excepção estão de parabéns. Então sem delongas, o prémio de ALUNO de mérito vai para: Bernardo Fonseca e Costa.- batemos palmas e vemos o tal Bernardo ir buscar o prémio.- Parabéns Bernardo. E agora o prémio de ALUNA de mérito vai para: Madalena Sá Fernandes.

Eu estava tão longe de ouvir chamar o meu nome, que nem me levantei. Rute olha para mim, e eu olho para ela encolhendo os ombros.

- Madalena, chamaram-te. Melhor Aluna de mérito.- diz Sara a olhar para mim.

- Madalena Sá Fernandes. Estás por aqui?- levanto-me e caminho até ao palco, que está longe demais. Neste momento quero matar a Rute por nos ter colocado numa mesa tão longe.- Parabéns Madalena.

Agradeço e fico ali a olhar para as centenas de miúdos. De repente parece que vejo...não, não pode ser. Ele não teria coragem de vir. Ele não. Finalmente mandam-nos sair dali, e eu caminho devagar para o meu lugar, sempre com os olhos postos no mesmo lugar, é ele...eu não estou louca. De repente sou puxada pelo braço...

- Sempre tu...sempre a estragares a minha vida. Mas eu juro que isto não vai ficar assim. Um dia eu ainda te vou ver na lama. Podes ter a certeza prima.

Ana larga-me o braço com força, e eu apenas fico a olhar para ela. como é que alguém assim pode ser da minha família. Ela é má, mesquinha, cruel, vingativa. Deixo aquela sensação de tristeza para trás e viro-me para o local onde o vi. E foi tudo fruto da minha imaginação...ele não está lá...não está lá ninguém. Mais uma vez me iludi...