Capítulo 52 - Dias sem Ti...
- O número da Nono já está aí. Os restantes, vamos ver se mereces. Ah! E nem vale a pena tentares, ele está bloqueado, apenas eu posso acrescentar os números.
- Pai, tu podes proibir-me de o ver, de falar com ele. Posso até estar "presa" nesta casa, mas o meu coração é livre. E ter um coração livre é a maior e melhor liberdade. Eu nunca vou deixar de o amar, nunca.
Ele simplesmente sai do meu quarto. E agora? O que é que eu faço? Eu sabia, eu sabia que ele nunca iria aceitar, eu sabia que tudo o que se passou vai sempre ser uma sombra na minha vida. Mas eu não vou desistir, eu não vou desistir de ser feliz. E a minha felicidade é o Diogo.
Assim que ele sai, pego no telemóvel, da idade da pedra e ligo para a única pessoa para quem estou autorizada a falar: a Nono. Eu não sei o que vou fazer, eu sabia que o meu pai ia ficar furioso, eu sabia que ele me ia separar do Diogo. Mas a minha raiva maior é com o Pedro, se não fosse ele...talvez...
"- Estou?"- não é a Nono.
"- Eu...eu queria falar com a Leonor?"- será que o meu pai se enganou no número?
"- Quem fala?"- pergunta a pessoa do outro lado.
"- Desculpe, eu...devo ter o numero errado...eu..."- já ia desligar...
"- Espere, o número é este. Podia dizer quem fala por favor? O seu número não identificou..."- claro que não, burra...
"- É a prima...a Madalena..."
"- Madalena!? Porque é que o teu número não identificou? É o Simão, a tua prima..."
"- Simão. Onde está a Nono...eu..."- espera, o Simão...é isso...- "Simão, preciso que ligues ao teu primo...preciso que ele saiba..."- a dor fica insuportável, eu não aguento...- "Simão...liga...Diogo..."
E a última coisa que me lembro é de ouvir alguém a chamar por mim...
Quando acordo estou na minha cama, com o meu pai aos pés da cama, a minha tia de um lado e a minha avó do outro. Olho para todos, e a única coisa que consigo fazer é virar-me para a minha avó e chorar...chorar toda a dor que sinto.
- Nena, tens que te acalmar. Por favor.- ouço a minha tia a dizer, mas ela não consegue entender a dor que eu sinto. Ouço o telemóvel do meu pai a tocar, ele atende.
"- Estou...Olá Marta..."- é a minha tia..."- Não está tudo bem..."- Como assim está tudo bem? Nada está bem."- Ela apenas teve um problema no telemóvel e eu arranjei-lhe um mais velho, que também deu problemas."- eu não acredito que ele está a mentir à minha tia.
- TIA...TIA...TIRA-ME DAQUI...TIAAAAA- vejo o meu pai sair do quarto e o meu avô olha para mim.
- Madalena. Podes gritar o que quiseres, podes partir o quarto todo. Mas, ouve bem o que te digo: de Coimbra tu não sais, e se insistires nesse namoro, acaba-se a faculdade, acabam-se os sonhos...
- Carlos. Pelo amor de Deus, parem com esta parvoíce. Querem o quê? Que a miúda entre num convento?
- Não seria uma má ideia. Não vais repetir o que fizeste em Lisboa, não vais. Não vou permitir que os teus disparates levem de vez o teu pai. Já basta a tua mãe...pobre Maria.
Olho para todos, eu sabia, eu sabia que todos me culpavam, eu sabia que nada do que me diziam sobre o que sentiam era verdade. Levanto-me, pego no meu telemóvel sem ninguém ver e vou para a casa de banho, fecho-me lá dentro e deixo-me cair, já não tenho forças.
"- Mada...Mada...o que é que aconteceu? A minha mãe está a discutir com o teu pai...eu nunca a vi assim."
"- Ele descobriu...do Diogo...o Pedro viu-nos e contou. Nono, eu estou com medo. Eu não vou aguentar, eu..."
"- Calma. O Simão já falou com o Diogo. Ele está a caminho da tua casa..."
"- Não. Nono, ele não pode vir...por favor...ele não pode..."- a dor volta, a dor que me sufoca.
"- Madalena. É a tia, ouve meu amor. Eu vou falar com o Avô Manuel, nós vamos a Coimbra, nós vamos buscar-te. Eu..."
"- Dói Tia, está a doer tanto...eu sabia que o pai não ia aceitar. Até quando vou ter que pagar pelo que fiz? Até quando me vão culpar? Eu não tive culpa, diz-me que não matei a mãe? Diz-me que a culpa não é minha? Por favor Tia..."
"- O quê? Quem é que te disse isso Madalena? Eu vou matar o teu pai. Madalena Sá Fernandes, ouve bem o que eu te vou dizer: Tu não tiveste culpa nenhuma. Se alguém tem que assumir a culpa do acidente esse alguém é o teu pai. Que saiu daquele hospital transtornado, colocando a vida dele e a vida da tua mãe em risco."
"- Tia...eu quero a minha mãe."- e desabo de novo num choro compulsivo. Até que sinto alguém abrir a porta e pegar em mim ao colo. Deitam-me na minha cama, e sinto algo picar-me e logo adormeço.
Os dias vão passando, semanas...e as saudades do Diogo apertam. A Tia Marta e o Avô Manuel tentaram fazer o meu pai repensar no que fez, mas ele estava irredutível. Então decidiram colocar uma acção em tribunal, eles iriam requerer a nossa guarda.
Contudo, falei com eles e pedi que voltassem atrás. Não era justo tirar as minhas irmãs de perto do meu pai. Que culpa é que elas tinham? Já não tinham a mãe, seria justo ficar sem o pai? Não, não por minha causa. Estava quase a fazer os 18 anos, e aí a vida seria minha.
Nunca mais consegui estar com o Diogo, víamo-nos de longe, já que ele começou a ir buscar a Rute. Conseguia falar com ele pelo telemóvel dela, mas era pouco, muito pouco. Estava a seguir o tratamento, mas com uma médica que a Tia Cátia arranjou. Eu odiava a médica, mas era para o bem da minha saúde, então lá ia eu todas as semanas.
Eu mal comia, dormir era coisa que pouco fazia até que a minha avó percebeu que eu estava apática, mais magra e com umas olheiras enormes.
"Hoje íamos todos almoçar em casa dos meus avós. Eu só queria ficar em casa no meu quarto. A minha vida agora era: casa/quarto-escola-casa/quarto. Não me apetece ver ninguém, nem falar. As minhas irmãs bem tentam, mas só quero o meu canto.
- Madalena.- a minha avó assim que me vê abraça-me.- Ei! que carinha é essa?
- É a minha.- respondo. Sei que fui grossa, e até mal educada, mas estou mesmo sem paciência.
- Madalena. Importas-te de responder como deve ser à tua avó.- diz o meu pai.
-Desculpa avó. Eu não quis ser mal educada...desculpa.
- Tudo bem princesa. Vem, ajuda-me lá na cozinha, e vamos conversando...
- Tenho mesmo que ir? Eu queria ir para o jardim...
- Nem pensar, não te vou deixar ir para o jardim sozinha e pensar em coisas tristes. Anda vais ajudar-me a fazer aquele doce que tu adoras.
- Vó...- mas nada do que eu dissesse iria fazer com que a Dona Cândida desistisse da ideia.
E lá vou eu para a cozinha, onde está a minha Tia Cátia, a Ana, a Catarina e as minhas três princesas. Cumprimentei a minha tia, e fui para um dos bancos da bancada da minha avó. Fiquei a ver as três mais novas a tentar fazer o doce com a avó. Porém era mais o que elas comiam do que o que faziam.
- Chega. Vocês as três vão agora mesmo lavar essas mãos e essas bocas. Se continuam aqui, não temos doce para o almoço. Ana vai com elas por favor...
- Eu!? Porque é que eu tenho que ir...manda a Madalena, está ali sem fazer nada desde que chegou.
- Ana, eu mandei-te a ti e não a Madalena...
- Deixa tia, eu vou.- digo e saio do banco...- Vamos lá minhas monstrinhas do doce...
Assim que lavo as mãos e as caras das minhas três princesas, aproveito que estou fora da cozinha e vou para o jardim de casa dos meus avós. Não é grande, mas tem um lugar que só eu e a Luísa conhecemos.
Então caminho até lá, deito-me e olho para o azul do céu, e em voz bem baixa faço uma oração à minha mãe...se ela me vê, ela sabe que preciso dela, preciso da ajuda dela. O tempo passa e nem percebo que acabei por adormecer, até ter o meu pai a gritar ao meu ouvido.
- Posso saber o que estás aqui a fazer Madalena, estamos à mais de duas horas à tua procura?
- Desculpa, eu só queria ficar sozinha. Acabei por adormecer...não fiz por mal. Desculpa...
- Isto tem que acabar filho. Tu já viste a tua filha: está tão magra que até posso ver os ossos da cara, está pálida, com olheiras...Chega filho, amanhã vais à médica com ela.
- Não. Não quero...não quero...- choro, eu não quero médicos, não quero. Sinceramente eu só queria morrer.
- Vais e acabou. E para garantir que o teu pai não faz mais asneira nenhuma, eu também vou.
- Estás a mimar essa menina demais Cândida. Isso é só manha para fazer o Pedro voltar atrás nessa coisa de namoro.
- Tu Sr. Carlos Fernandes, não quero ouvir nem uma palavra. Ou o sofá da sala vai ser o teu novo amigo até eu decidir o contrário..."
Depois de colocar os dois em sentido, obrigou o meu pai a ir comigo à médica, porém eu pedi que fosse ela a ir comigo. E assim foi, ela passou-me umas vitaminas, já que eu estava anémica e uns comprimidos para tomar ao jantar para me ajudar a dormir.
O Baile do final do ano, estava próximo. E apesar de eu não me apetecer ir, a minha avó quase que me obrigou a ir. Isto depois de ter uma discussão com os dois homens da família. A Rute andava feliz da vida com o seu namoro com o Tomás. Porém andava também muito misteriosa, e por mais que eu lhe perguntasse o que ela estava a maquinar, ela não me dizia nada.
Fomos com a minha avó e com a Dona Dulce comprar os nossos vestidos. Se eu estava com alguma vontade para ir? Nenhuma. Mas elas apenas me colocaram no carro e rumaram para o Centro Comercial. Passámos um dia inteiro no mesmo, não vos sei dizer quantos vestidos experimentei, mas foram muitos. E ainda comprámos sapatos, mala, brincos, colares e maquilhagem nova.
No final do dia, posso dizer que foi um dia bom. No meio de tantos maus, consegui ter um dia em que me senti viva. Ou pelo menos um pouco mais viva do que no dia anterior. Como disse a minha avó: tenho que aprender a viver um dia de cada vez. E quem sabe um dia tudo isto passe. Quem sabe? Eu só espero que passe logo...
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