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Capítulo 48 - O Jantar em Família

- Eu confio na Mara, mas...para mim é difícil falar sobre o que aconteceu percebes. A Tia Luísa escreveu um relatório, ela escreveu tudo. Mas eu sei que a médica é capaz de me perguntar sobre o que aconteceu...- e as lágrimas caem-me pela cara.

- Calma, primeiro vamos falar com a Mara, e podemos pedir-lhe que vá contigo. Tenho a certeza que ela não se vai negar.

- Sim, acho que com a Mara ao meu lado seria mais fácil. E agora o outro ponto...

- ...o meu Tio deu-nos duas semanas para contar ao meu pai sobre nós.

- Madalena...nós tínhamos combinado...eu...nós não podemos.

- Diogo, eu tenho 17 e não 14 anos. O meu pai pode ficar meio que chateado, mas...

- E se ele perguntar à quanto tempo estamos juntos? E se...

- Nós podemos sempre esconder essa parte da história. Ele sabe que a Rute é a minha melhor amiga, sabe que eu vivo em vossa casa com ela...ele até já te conhece mesmo que de longe quando vais buscar a Rute lá a casa...

- Uma coisa é ele conhecer-me como irmão da tua melhor amiga, outra completamente diferente é descobrir que afinal sou teu namorado.- vejo-o levantar-se e ir até à beira mar.

E agora, nós temos mesmo que contar. Por um lado conheço o suficiente do meu tio e padrinho, sei que se eu não contar, ele conta. Por outro lado sei que se o meu pai ouvir sobre o meu namoro por outra pessoa, as coisas vão ficar piores.

Mas como é que eu vou explicar isto ao teimoso do meu príncipe. Olho para ele, ali na beira mar, sei que está irritado, pela maneira com que chuta a água que lhe chega aos pés. Está com medo, o mesmo que o meu: medo do meu pai e da sua reacção, medo de me perder, medo do que lhe possa acontecer. Levanto-me e caminho até ele, achei melhor dar-lhe um tempo para se acalmar.

- Ei!!! Ainda estás irritado?

- Eu não estou...- ele diz claramente irritado...- Desculpa.- O Diogo abraça-me como se com aquele abraço me quisesse manter para sempre ali...- Eu estou com medo Rainha. Medo de te perder, do teu pai me...

- Tens medo que ele te denuncie? Diogo isso não vai acontecer, nós só vamos dizer que estamos a namorar. Podemos omitir o tempo...

- E o teu tio? E se ele...

- Eu disse ao meu tio que estávamos a namorar há um ano e meio. Eu não queria colocar-te...

- Por isso eu te amo. Porque não pensas apenas em ti, pensas em mim, em nós.

- Diogo. Amar é muito mais que paixão. Amar verdadeiramente é conseguirmos ser antes de tudo amigos, companheiros um do outro. É saber confiar, é saber que vamos estar lá nos bons e nos maus momentos. A minha mãe disse-me um dia que "Amor é quando te sentes amado sem precisares de ouvir um Eu Amo-te."

- A minha sogra era alguém muito sábia.- e ri-se, de repente sinto-me sair do chão.

O Diogo pega em mim e rodopia pela areia. Aos poucos vai parando, e devagar começamos um beijo, não um beijo qualquer. Era um beijo apaixonado e não só mais um beijo, foi algo que começou lento e calmo, em que a nossa respiração ficou mais lenta, em que o nosso corpo se arrepiou e o nosso coração bateu tão forte que mal se aguentava dentro do peito.

Foi um beijo em que todos os sentimentos de carinho foram reunidos em um toque. E o toque do Diogo era tão viciante como o beijo. Entre o beijo e os toques, toda eu tremia de desejo, perdi-me no tempo, no mundo, no Univetso. Cada beijo, cada toque alimentava a minha sede de mais, era como uma fome inesgotável de desejo.

Não consigo ficar longe dele, de o sentir, de o ouvir.Quando finalmente parámos, estávamos deitados na areia. Olho para os olhos dele, e vejo tudo o que mais quero: amor, carinho, dedicação, devoção.

- Diogo. Seja o que for que aconteça depois de contarmos ao meu pai, eu nunca, mas nunca te vou deixar. Eu já não consigo imaginar a minha vida sem ti, eu morro se ficar sem ti.

- Eu amo-te Rainha. Quero-te na minha vida para sempre...- e neste momento o meu telemóvel toca.

- Temo que ir. Os meus avós já estão lá em casa...e o meu tio deu-nos 10 minutos para lá chegar.

- Ok. Vamos só passar pelo hotel, eu tomo um duche rápido e vamos.

- Consegues fazer isso tudo em 10 minutos?

- Vou tentar...vamos...

E assim lá fomos a caminho do hotel onde o Diogo estava instalado. Não era nada de muito luxuoso, mas era simpático. Eu preferi ficar na recepção à espera dele, para evitar cair em pecado e demoramos mais. Em 10 minutos estávamos a sair do hotel, e 5 minutos depois estávamos à porta de casa dos meus tios.

- Não foi mau...cinco minutos de atraso.- diz o meu tio a olhar para o Diogo...- O teu primo quando saiu a primeira vez com a Leonor, passou da hora em 30 minutos.

- Ursão. Por favor...- olho para o meu tio com ar de chateada, mas a rir...- Este é o Diogo.- Eu apresento-o...- Príncipe este é o meu Tio Luís e padrinho. Mas para os amigos é o Ursão.

- Prazer Sr. Luís. E obrigado pelo convite.

- Luís, deixa-os entrar e deixa de colocar medo no rapaz. Olá sou a Marta, tia desta menina linda.

Entramos, e assim que vejo os meus avós corro para eles. Eu sei que já tinha estado com eles no dia em que cheguei, mas foi tudo muito rápido. O meu avô adorou o Diogo, e agradeceu-lhe uma duzentas vezes por me ter salvo a vida. Já o meu tio adorava picar quer o meu príncipe quer o Simão.

- Pai. Pelo amor de Deus deixa de ser chato...

- Leonor Sá Lopes. Eu ainda sou teu pai.

- Ursão. Já percebeste que estás a ficar velho?- o meu tio olha para mim e eu rio...- As tuas princesas estão a namorar, qualquer dia casam...e um dia até a Maria se vai casar e tu vais ficar sozinho com a tua Mamã Ursa.

- Primeiro: não sou venho. Segundo: namorar é uma coisa, casar só quando tiverem 50 anos. Terceiro: eu espero ter muitos netos e sobrinhos netos para ensinar só coisas boas....

- Pai, se eu me casar ao 50 anos, como é que queres ter netos? - pergunta a Nono.

- Pois eu sou o patriarca desta família ainda, e digo que quero ainda poder conhecer muitos bisnetos. Então Leonor e Madalena...casem-se logo meninas.

Claro qeu a gargalhada que se seguiu foi gigante, mas fazer o quê juntar o meu avô Manuel e o tio Luís, era a mesma coisa que ir ao circo e ver o espectáculo dos Palhaços pobre e rico. Tive saudades disto, dos nossos serões após um jantar apenas a dizer disparates. De repente o Martim lembrou-se de jogarmos o jogo da mimica. Fizemos três grupos ao acaso, no primeiro grupo ficou a tia Marta, o Martim, o Avô Manuel e a Leonor; no segundo grupo fiquei eu com o Miguel e o Tio Luís; e por fim o último com o Simão, o Diogo e a Avó Marina.

Todos rimos muitos, a equipa do Diogo e do Simão era talvez a mais divertida, porque a minha avó só se ria das figuras que os dois faziam. E quando foi a vez dela fazer a mimica, ela simplesmente ficou parada sem fazer nada, até o Miguel era melhor no jogo que a avó. Quem acabou por ganhar foi a equipa do avô Manuel, que claro se autoproclamou o Rei da Mimica.

Depois do jogo, os meus avós despediram-se de mim. Prometeram que nas férias estaríamos de novo juntos. Vou ter saudades deles, dos tios, do meus primos...sei que a minha vida agora é em Coimbra, até porque ficar longe do Diogo já nem era possível, eu morreria. Depois foi a vez do Simão e do Diogo se irem embora, os meus Tios permitiram que eu e a Nono nos fossemos despedir deles lá fora.

- Ei!!! Que carinha triste é essa?- olho para o Diogo...e uma lágrima teimosa cai...- Rainha...

- Desculpa, ter que me despedir de tudo isto de novo...

- Madalena, não é que nunca mais os fosses ver...

- Eu sei, mas...- um sentimento ruim veio de repente, como se esta fosse a última vez que os visse...- Sabes quando sentes que algo vai acontecer, algo que tu nem sabes o que é? Sei lá eu só sinto que não os vou voltar a ver...- digo isto a olhar para a Nono que se despede do Simão.

- Rainha, deixa de pensar nessas coisa. Nada de mau vai acontecer.- ele abraça-me e beija de leve os meus lábios.- Vou-me embora antes que o teu tio venha cá fora com a caçadeira para nos intimidar de novo...

- O Ursão não tem uma caçadeira, não te preocupes.- sorrio...- Tem uma metralhadora...muito mais eficiente.

- Credo, agora sei de onde tiraste essa tua veia de palhaça...- soltamos uma gargalhada e mais uma vez selamos os lábios.- Até amanhã. Queres que te venha buscar?

- Não, os meus tios querem levar-me. Encontramo-nos na estação.

- Sim. Liga-me quando chegares e eu vou ter com vocês.

Despeço-me do Diogo, e sinto a Nono abraçar-me. Vemos os dois carros afastarem-se e entramos em casa. O Ursão está sentado no sofá com um copo do que parece ser um uísque, e a tia Marta vem da cozinha com uma chávena com um chá.

- Gostei do Diogo. Mas Nena o que te disse em relação a contares ao teu pai mantém-se, uma semana.

- Eu sei Ursão.- sento-me ao colo dele...- Sabes que gosto de ti como um pai, não sabes Ursão?

- Sei minha princesa. Eu não sou teu pai, mas sou teu padrinho. E prometi aos teus pais que sempre estaria aqui para te ajudar.

- Obrigado por tudo.- dou-lhe um abraço, um beijo na sua bochecha e subo com a Nono para o quarto.

Família, uma palavra simples, comum, e muito usada. Talvez com um significado que nem todos valorizam, mas os que nunca souberam o que significa de verdade essa palavra, são aqueles que nunca tiveram uma. A palavra família não se aplica apenas ao pai, à mãe, aos irmãos, mas a todos aqueles que nos tem no coração, que apesar dos nossos erros os perdoam.

Conhecem a nossa alma, veem -nos para além do que os olhos conseguem alcançar. Sabem quais as nossas qualidades, e sobretudo os nossos defeitos. Família é onde existe amor, mesmo não tendo o mesmo sobrenome. A minha família não podia ser melhor, sim temos as nossas discussões, as nossas diferenças. Mas acima de tudo amamo-nos.

Amanhã deixo parte dela em Lisboa, e não sei porquê neste momento enquanto estou aqui deitada, sinto um aperto no coração. Uma sensação esquisita, como se esta fosse a ultima vez que eu estaria com os meus tios, com os meus primos, com os meus avós. 

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