Capítulo 45 - Regresso a "Casa"
Estávamos a caminho de casa dos meus tios, e a ideia de ir àqueles dois lugares não me saia da cabeça. Sei que talvez me fosse fazer mal, mas algo me dizia que o tinha que fazer.
Assim que chegámos disse à minha tia que ia dar uma volta, que precisava de ficar sozinha. Ela ainda tentou que pelo menos a Nono fosse comigo, mas implorei-lhe para que me deixasse ir sozinha.
Ela acabou por concordar, apesar de hesitante. Prometi que não iria fugir, que apenas iria até ao jardim ali perto de casa. A minha intenção não era bem essa, mas também não iria dizer onde estava a pensar ir. Mas antes tinha que ligar a alguém, porque eu não iria aguentar ir sozinha.
"- Bom Dia Rainha. Como correu?"
"- Bom Dia. Correu bem, quer dizer eu acho. Só vou saber alguma coisa logo à noite. A Tia Luísa convidou-nos para ir jantar lá a casa"
"- Então quer dizer que hoje não nos vemos?"
"- Liguei-te para saber se podes vir ter comigo. Eu queria ir a dois lugares, mas não quero ir sozinha."
"- Eu vou, mas onde é que a minha Rainha quer ir?"
"- À minha casa, onde morei com os meus pais cá em Lisboa. Soube pela Tia Marta que estão à espera que o meu Pai decida o que fazer: se vende, aluga ou..."
"- Tens a certeza que queres lá ir? Não vai ser complicado?"
"- Vai...por isso quero ir contigo. Não me perguntes porquê Diogo, mas algo me diz para lá ir."
"- Tudo bem, sabes que podes sempre contar comigo. E qual é o outro sitio que queres ir?"
"- Ao cemitério!?"
"- Ok. passa-me a morada de onde estás. Vou só tomar café e já vou ter contigo. Amo-te Rainha"
"- Eu também te amo muito. Já te mandei a morada, estou à tua espera. Beijos"
Enquanto falava com o Diogo, eu cheguei ao jardim onde vínhamos com os meus pais. Ali havia de tudo: um campo de futebol, pista para andarmos de bicicleta, baloiços para os mais novos. Tinha mesas à sombra das árvores para que as famílias pudessem fazer os seus piqueniques, e acreditem ou não apesar das profissões dos meus pais nós fizemos muitos.
Eles sempre arranjavam tempo para nós. Nas nossas férias escolares sempre havia um deles que colocava esses dias de férias também. E no Verão, havia sempre um mês dedicado à família: duas semanas eram passadas em Coimbra, e as outras duas passávamos apenas nós fosse onde fosse.
Éramos felizes, e nem nos apercebíamos das pequenas coisas. Acho que nunca dei o devido valor ao esforço dos meus pais para nunca nos deixarem sozinhos. Principalmente à minha mãe, ela foi a que mais abdicou na vida em prole dos filhos. A verdade é que ela amava a vida do hospital, a adrenalina daquele lugar sempre lhe fez falta.
Porém, para conseguir ter tempo para nós, ela prescindiu de algo que a fazia feliz. Ela não queria que os filhos passassem pelo que ela e a Tia Marta passaram.
O avô Manuel também era médico e passava muitas noites e fins de semana no hospital. Tinha semanas que a minha mãe mal o via. Olhar para aquele lugar trazia-me lembranças boas, mas também alguma tristeza por não ter tido ainda mais. O meu telemóvel dá sinal de mensagem...era a Nono.
"- Oi, a minha mãe disse-me que ias ao jardim, precisas de mim?"
"- Não. Eu estou bem..."
"- Tens a certeza? Eu estou com o Simão mas se precisares..."
"- Está descansada o Diogo já está a caminho. Vou aproveitar e ficar um pouco com ele."
"- O Simão não gostou muito do jantar em casa da Tia Luísa..."
"- Porquê?"
"- Ciúmes do Guga...como se ele alguma vez olhasse para mim..."
"- Acho que o Simão devia era estar preocupado era com a Magui..."
"- Com a Magui porquê? O que aquela menininha vai fazer com a minha princesa?"
"- Desculpa, ele pegou no meu telemóvel, sem o meu consentimento."
"- A Magui morre de ciúmes do Guga."
"- E..."
"E o Guga morre de medo de a perder..."
"- Perder a Magui para mim? Não preciso tenho a minha princesa..."
"- Eu sei. Mas não te preocupes. A Magui mantém-no na linha."
"- Acho bem...já gosto mais dessa Magui..."
"- Tens a certeza que estás bem?"
"- Estou. Não te preocupes. O Diogo acabou de chegar. Beijos e divirtam-se."
Coloco o telemóvel na mala, e caminho até ele e abraçamo-nos como se não nos víssemos há dias. Cada minuto sem ele parece-me horas, cada hora parecem-me dias. Já não conseguimos viver um sem o outro, e continuar com este namoro escondido está cada vez mais difícil. Mas, tal como combinámos no dia que fizer os 18 anos, o que não falta muito, iremos abrir o jogo.
- Oi Rainha...
- Oi meu príncipe...estava cheia de saudades. Já não consigo viver sem estar aqui, no meu porto seguro...
- Hmmm!? E qual será o teu porto seguro?
- Nos teus braços. Só me sinto segura aqui, a ouvir o teu coração.
- E eu vou estar sempre aqui, minha Rainha. Agora, antes de irmos, tens a certeza que queres fazer isto?- eu assinto, tenho algum receio do que vou sentir...- Então, vamos onde primeiro?
- Vamos ao cemitério primeiro, é mais longe. A minha casa é...ou era neste bairro, assim não demoramos tanto.
O Diogo pega no telemóvel e chama um Uber que em cinco minutos está no local. Indico o nosso destino, e caso raro nem estava muito trânsito. Fui apresentando alguns lugares ao Diogo no caminho. Alguns ele já conhecia, outros ficou surpreso. Assim que chegamos, o Diogo paga e saímos. Lembro-me mais ou menos de onde era, e assim que lá chegámos tremi...
- Madalena...
- Eu estou bem...- Sento-me no chão, perto da campa...- Oi mamã. Este é o Diogo o meu príncipe, sabes tinhas razão ele é o meu apoio para sempre, não é fácil e acho que não vai ser quando o pai souber, mas nós não vamos desistir.- olho para ele que me sorri...- Já me decidi no curso, e vou fazer Medicina tal como tu, vou seguir os teu passos. Fazes-me falta, fazes falta lá em casa. Ficámos a morar em Coimbra, acho que o pai lhe custa voltar para casa. Ele começou a trabalhar com o Tio Vasco, acordaram em abrir um segundo escritório em Coimbra. Os manos estão bem, o Pedro continua chato...e as meninas estão lindas e crescidas. Todas as noites eu conto algo que tu me ensinaste, ou uma história engraçada. Ela adoram, principalmente a Clarinha.
- Madalena, temos que ir, senão a tua tia ainda estranha a tua demora...- olho para o Diogo e assinto.
- Não sei quando vou voltar, mas quero que saibas que independentemente de onde eu estiver, tu sempre estás sempre comigo. E não te zangues comigo por ter vindo aqui sem dizer à Tia Marta.
Saímos do cemitério, e de novo chamamos um Uber, que desta vez demora um pouco mais. O Diogo, pergunta-me se eu estou bem, e se quero mesmo ir à minha casa. Ele acha que esta visita me deixou já abalada, que não devia ir, porque podia-me ir mais abaixo ainda. Contudo, eu sinto que preciso de ir, não sei explicar é como se algo me chamasse até lá.
Quando lá chegamos vou directamente ao local onde sempre ficava uma chave, caso algum de nós se esquecesse. Para além dos meus pais, só eu e o Pedro sabíamos deste local, e graças a Deus ninguém a tirou de lá. Retiro a chave e entramos portão a dentro. O jardim parece mato, as janelas estão fechadas, parece mais uma casa fantasma.
- Isto aqui parece que foi abandonado.
- O que me custa mais é saber que muito provavelmente o meu pai vai querer vender a casa.
- Tu conseguirias voltar a morar aqui? Mesmo depois de tudo.
- Apesar de já considerar Coimbra como casa, foi aqui que nasci, cresci e vivi os melhores momentos da minha vida. Vem vamos entrar.
Entro, e percebo que taparam tudo com lençóis, e parece que a casa é limpa, porque não se vê muito pó acumulado. As malas que estavam à porta não estão mais aqui. Vou até à sala, à cozinha, e por fim subimos para os quartos. Quando entro no meu, está tudo na mesma e a mala que deveria estar lá em baixo está ao lado da minha cama.
- Não dividias o quarto com uma das tuas irmãs?
- Não. A Luísa na altura ainda dormia com as mais novas. Os meus pais estavam a pensar em fazer algumas obras no sotão para o Pedro, e a Luísa ficaria no quarto dele...
- E as mais novas ficavam juntas?
- Sim esse era o plano.- de repente ouvimos alguém dentro de casa...
- Quem está aí? Já chamei os donos, eles devem estar a chegar...então é melhor...
- Dona Vivi, já estamos aqui. Nós chamámos a polícia, então eles devem estar a chegar...- olho para o Diogo...
- É melhor aparecermos logo...- diz o Diogo.
- Mas e tu...- olho para o Diogo, e que se lixe, vou apresentá-lo como meu primo do Simão aos meus Tios. Peguei na mão dele, peguei no meu guarda joias, que era talvez a única coisa que vi que queria levar comigo e saímos do meu quarto.- Tia. Sou só eu...
- Madalena. Mas o que raio...como é que tu entraste aqui?
- Com a chave...- e mostro-lhe a chave...
- Mas onde é que essa chave estava? Tu não roubaste a chave ao...
- Não. Era a nossa chave mestre, como o pai dizia. Estava escondida, só eles, o Pedro e eu é que sabíamos onde estava.
- Nena, não podias ter-me pedido simplesmente para vir cá contigo? Nós chamámos a polícia? Tens a ideia da confusão que podia ter acontecido?
- Desculpa, não foi minha intenção...- nisto chega a polícia, o meu tio vai falar com eles e explicar o que aconteceu e quando volta, faz a pergunta que eu estava à espera.
- E quem é este rapaz?
- É o Diogo, é primo do Simão. Conhecemo-nos no dia em que fomos jantar com o Guga e com a Magui. E hoje encontramo-nos por acaso...
- E ele veio contigo até aqui porque?
- Porque pensei que ela morasse aqui. Ela só me disse que ia a casa dela...não pensei que...
- Tudo bem, bom vamos embora então. E tu Diogo...- ele assente...- queres boleia para algum lado?
- Não, não é preciso eu chamo um uber sem problema. Mas agradeço de qualquer forma. Adeus Madalena, foi um prazer reencontrar-te.
- Adeus Diogo.
E assim saímos da "minha" casa depois de fechar tudo. Digo a pé com os meus tios para casa deles. Olho, por um segundo para trás, e vejo o Diogo a fazer sinal que me liga, e eu apenas lhe dou um sorriso e continuo o caminho até casa.
Se acredito que os meus tios acreditaram na história de ter encontrado o Diogo por acaso? Não, nem um pouco, e tenho a certeza que assim que chegar a casa vou ter a minha Tia à perna. Mas, sinceramente se tiver que contar a verdade conto. Já tanho quase 18 anos (falta-me cerca de 6 meses para ser maior e vacinada como se costuma dizer), então ninguém me pode proibir de ficar com ele. Ninguém me vai separar do Diogo...
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