Capítulo 40 - Choque
Eu continuo ali parado sem me mexer, parece que cristalizei, ouço o Martim a falar comigo a levar-me não sei para onde. Entramos num quarto, ele pede que eu tire as roupas e dá-me umas calças daquelas que os médico usam no hospital e uma Sweat dele. E só neste momento percebi que tinha as roupas ensopadas, mas o medo de perder a minha rainha era tão grande que nem consegui sentir frio.
Ele pede que me deite na cama, e uma enfermeira entra, Martim diz que me vai dar apenas um antibiótico de prevenção pois estive muito tempo com a roupa molhada. Aos poucos fui fechando os olhos, e apercebo-me que o Martim me dopou, ele deu-me tudo menos um antibiótico.
Quando abro os olhos, vejo os meus pais e Mara ao meu lado, eles falam baixinho. Mas eu consigo ouvi-los. Percebo que a minha mãe está a chorar. Não sei o que se passou para estar aqui deitado.
"- Mara, ele está mesmo bem?"- ouço a minha mãe. Sei pelo tom da sua voz que está ou esteve a chorar. Sinto o seu carinho...
"- Não te preocupes, ele só ficou em choque. O Martim apenas lhe deu algo para ele descansar."- O Martim dopou-me? Quando eu acordar ele vai-me ouvir.
"- Eu só não percebo o que ele estava a fazer com essa miúda. Eu já o tinha avisado, que o queria longe dela."- e pronto já cá faltava, porque será que o meu pai não percebe que por mais que eu queira, não consigo fugir do que sinto.
"- Rui. Pelo amor de Deus, se não fosse o teu filho a menina tinha morrido."- A Madalena? Como será que ela está. Preciso de abrir os olhos, preciso de a ver, de a sentir....
"- Pai. A Madalena e o Diogo gostam um do outro..."
"- O QUÊ? AH, MAS ISSO VAI ACABAR, PODEM ESCREVER O QUE VOS DIGO..."- O meu pai grita, apesar de eu estar numa cama de hospital, para ele eu estou errado e ponto.
"- O teu filho é maior e vacinado, ele pode gostar de quem quiser, e não és tu que o vais impedir Rui."
"- Dulce, o nosso filho é maior...a miúda é menor. Se acontecer alguma coisa, o que achas que vai acontecer ao Diogo? Para onde achas que ele vai? Dou-te uma pista, desta vez não será um reformatório."- E pronto lá vem a cobrança eterna, nunca na vida deixarei de ser criticado por um erro que nem cometi.
"- Vocês podem parar por favor. Pai, o Diogo cometeu um erro, e já pagou por ele. Apesar de nem ter tido culpa, mas ele pagou. Para de o recriminar. Mãe, apesar de eu saber que o Diogo "ama" a Madalena, o pai não deixa de ter razão, ela é menor. Se a família sabe..."
Se a família da Madalena sabe pode acontecer duas coisas: ou aceitam porque apenas a querem ver feliz, ou a proíbem de me ver, e denunciam o caso à policia. Só de pensar que posso ficar sem a ver, o meu coração começa a disparar. Eu não a posso perder...simplesmente não posso.
- Ei! Olha só quem acordou.- sento-me depressa de mais e sinto uma tontura...- Calma, o Martim deu-te um calmante para descansares. Tu entraste em choque, estás fraco não deves levantar-te assim.
- A Madalena? O que aconteceu com a Madalena? Por favor diz-me que ela está bem, por favor...
Mara olha para mim, mas desta vez não consigo perceber o que os seus olhos me querem dizer. A a minha mãe apenas me abraça. Porém, mesmo sem o fazer de propósito, afasto-a com alguma rispidez, mas, a única coisa que quero neste momento é ver a minha Rainha, o meu amor. Sim porque eu já aceitei que estou perdidamente apaixonado por ela...
- Diogo.- o meu pai grita comigo, sei que fui seco e até insensível com a minha mãe, mas o meu coração está ferido, está dolorido...- Podes estar enfiado numa cama de hospital, por pura inconsciência, mas eu tua mãe estava apenas preocupada contigo...
- Desculpa mãe.- digo dando eu agora um abraço à minha mãe...- Mara como é que ela está, quero ir vê-la, por favor, deixem-me ir vê-la?
- Não podes Diogo, a Madalena...ela...- Mara não consegue terminar de falar sem baixar os olhos, e quando levanta de novo, eu sei que a situação da minha Rainha é grave, a Mara não precisa de dizer mais nada...- Ela está viva, mas o estado dela é grave, não te vou mentir.
- Diz-me, como é que ela está, não me estás a dizer tudo. Mara como está a Madalena?
- Ela está em coma.
Olho para a minha irmã como se lhe pedisse que retirasse o que acabou de dizer, que era mentira, que eu estava sonhar, mas a Mara limitou-se a abraçar-me. O meu mundo desabou naquele momento, a minha vida sem a minha Rainha era uma vazio. O meu coração partiu-se em mil e um pedaços.
Eu não vou conseguir viver sem ela, sem o seu sorriso, sem as suas piadas, sem aquelas saídas doidas que eu amo. Podem até achar que eu estou a exagerar, que estou a ser dramático ao extremo, que estou a ser até muito meloso. Mas eu e a Madalena somos almas gémeas, fomos feitos para ser um do outro.
- Filho.- a minha mãe abraça-me de novo, Mara junta-se ao mesmo abraço...- Ela vai ficar bem, temos que ter fé.- diz a minha mãe e desta vez eu não afasto nenhuma das duas, pelo contrário abraço-as e choro.
Deixo tudo o que está cá dentro sair: a dor e o medo, é tudo o que consigo sentir. Dor por saber que a Madalena esta a sofrer de novo, porque a dor dela se transformou na minha. E medo, um medo absurdo de a perder, um medo que faz com que o meu coração se aperte. Aos poucos vou-me acalmando e os olhos pesando de novo, tenho a certeza que a alguém me injectou de novo alguma coisa no soro...e tudo fica escuro de novo.
"- O Avô dela já cá veio duas vezes Mara, ele está furioso. Diz que a culpa é do Diogo, que ele vai apresentar queixa à polícia. Mara estou com medo, sabes que o teu irmão já tem ficha...e se..."- como assim apresentou uma queija contra mim, bolas eu salvei-a de novo, eu salvei a neta dele.
"- Aquele velho é...- silêncio...- Desculpa sei que não devia falar assim de uma pessoa mais velha, mas aquele homem irrita-me.
- Eu estou com medo Mara. O teu pai foi chamado para uma reunião com o director do hospital, a policia e o avô da Madalena.
- Mãe, não te preocupes eu estava no Parque com o Diogo e com a Madalena sei o que se passou. O Martim também estava, então somos os dois testemunhas, do que se passou."- a Mara como sempre a defender-me com unhas e dentes.
- O que vai ser do teu irmão, ele não pode ter mais nenhuma queixa o advogado avisou-nos. E os avós da Madalena eles têm dinheiro Mara, tu sabes quem é aquele homem não sabes?- não quero ver a minha mãe sofrer, a Dona Dulce já passou por muito.
- Sei, e depois. Não é porque é um poderoso juiz que me intimido. O Diogo salvou a Madalena, está tão destruído ou mais do que eles. Bolas, é a terceira vez que ele a salva e não ouvi nenhum deles agradecer uma vez se quer.
- E achas que eles querem saber disso, para aquele Senhor o Diogo é apenas uma má influencia na vida da neta. Eu sei que o teu irmão errou muito no passado, que fez uma serie de asneiras e pagou por elas assim como todos nós.
- Ele pagou pelos erros. Mãe foram dois anos longe de nós. Ele aprendeu bem a lição.- e se aprendi, foram os piores anos da minha vida, dois anos longe de quem eu verdadeiramente amava e fiz sofrer. Acho que por isso o meu pai é tão rígido comigo agora.- E queres saber mesmo com todos os seus defeitos, com todo o seu historial, ele é muito melhor que aquele que se dize ser avô.
"- E a Madalena, como é que ela está? Tu é que a estás a seguir, ou tiveste que passar para outro médico?"
"- A Madalena está estável o que para agora não é mau, temos que esperar que o corpo recupere. Eles bem quiseram tirar-me do caso, mas o Dr. Cabral não deixou, e eles tiveram que calar a boca, engolir o orgulho e colocá-lo no...naquele lugar.- a Mara nunca falava desta forma, a não ser quando estava mesmo chateada ou no TPM característico das mulheres.
- Mara, sei que podes estar chateada, mas sabes que não gosto que falem assim, principalmente dos mais velhos.
- Desculpa, mas aquele "Senhor" irrita-me. Ele viu como a Madalena saiu daqui, e agora culpa o Diogo? De quê? De a salvar de novo?
- Mara, eu percebo que não gostes que falem assim do Diogo, mas tu sabes qual é o problema aqui...
- A idade. Mãe, o Diogo apenas a salvou, como faria com qualquer pessoa. Sim há a questão dele estar perdidamente apaixonado por ela, mas eles não sabem disso, nem vão saber.
"- Achas que ela vai sair desse coma?- pergunta a minha mãe e eu quero muito saber a resposta, mas de novo a escuridão me cerca e eu deixo-me ir por ela, mesmo que tente lutar contra ela é mais forte que eu.
Não a posso perder, não agora que finalmente ela sabe quem eu sou. Sei que ela está magoada comigo, se eu lhe podia contar tudo? Podia, mas como médico, ou futuro médico eu sei que estas coisas de perda de memória são muitas vezes complicadas.
Eu só espero que ela me perdoe, só espero conseguir explicar-lhe o porquê de eu não lhe ter contado. Eu amo-a, e por mais errado que isso possa ser, por causa da diferença de idades...bem eu não mando no meu coração. E como diz a minha avó: o coração tem coisas que a própria razão não percebe e não controla.
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