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Capítulo 4 - A Fuga

Enfim acho que vou ter que me habituar, porque desde que vim para Coimbra tudo o que faço o chateia, ou não está de acordo com o que ele acha que deve ser. Antes do acidente não era assim, mas já vos contei certo? Antes éramos inseparáveis, rí­amos das coisas mais idiotas que nos lembrávamos...

Finalmente começou a missa e o Senhor Padre entra. Ele chama-se Ricardo. Sim, o mesmo nome que o meu Ex-Exelentissímo namorado. Coincidência? Não sei, no entanto, tem a sua ironia, a sua graça o que quiserem chamar. E neste momento não gosto nem do meu Ex nem do Senhor Padre. Quer dizer, na verdade nem tenho nada contra o Padre Ricardo, a não ser o estar enfiada nesta Igreja contra a minha vontade, mas a culpa nem é dele.

O Padre Ricardo foi colega de escola dos meus pais, e apesar de terem seguido caminhos diferentes (ele para o Seminário e os meus pais para Lisboa), continuaram bons amigos. Tanto assim foi, que os meus pais vieram casar-se aqui em Coimbra, para que fosse o Padre Ricardo a celebrar o matrimónio. Mais tarde também nós os cinco fomos batizados por ele, aqui em Coimbra. Por isso ele é quase como um "Tio", conhece-nos a todos desde que nascemos.

Agora vou contar-vos algo curioso: eu nunca gostei muito de ir à missa, era uma seca. Os meus pais nunca foram daqueles católicos extremos, íamos à missa e rezavam connosco à noite e parava aí. Íamos á catequese, porque era algo que os meus avós maternos tinham pedido aos meus pais.

A minha mãe começou a perceber que durante a missa eu fazia tudo menos estar atenta, e percebeu que o que mais me encantava na missa eram os cânticos. Então foi falar com a Maestra do Coro da Igreja, e entrei no mesmo. Cantar fazia tudo ficar com mais sentido.

Mas neste momento nem que o coro dependesse de mim, queria era estar bem longe dali. Por isso peguei no telemóvel para ver se me entredia a falar com a Magui ou com o Guga no Whatsapp. Mas, como nunca posso ter um minuto de descanso nesta porcaria de cidade, alguém que de vez em quando tem mania de se armar em meu pai, tira-me o telemóvel das mãos.

Irrita-me tanto quando o Pedro se arma em irmão mais velho e responsável. Tudo bem até é verdade: é mais velho tem mais 4 anos que eu, e tenho que admitir que até é responsável. Mas nada disso lhe dá o direito de me fazer coisas destas, como tirar-me o MEU telemóvel. Assim que levanto os olhos vejo o meu avô a olhar para mim com um ar...

Sabem aquele ditado que diz "se o olhar matasse já estavas morta" foi mais ou menos isso que senti. E se chegar atrasada à missa, mais toda aquela cena da roupa não bastasse, agora com mais esta do telemóvel, bem vamos dizer que estou feita, e que a missa em casa não vai ser só cantada, vai ser: cantada, rezada e muito "aplaudida".

Desviei depressa o olhar para o chão e cruzei os braços, não havia nada a fazer tenho que ouvir a missa, e passo a redundância, rezar aos santos para que a bronca em casa não seja tão má como isso.

O tempo foi passando, a missa seguia o seu rumo com todos os seus rituais. E eu, bem comecei a cantar para mim. Cantar era algo que adorava, pois para além de me acalmar, é uma forma de me libertar da tristeza, da frustração, do sofrimento que muitas vezes sinto. Ao cantar tanto posso chorar que nem uma "Maria Madalena" como posso dar uma gargalhada de ficar sem fôlego.

Assim, e sem o meu telemóvel, estava a fazer o que ninguém me podia tirar, nem podia perceber: cantar. Inesperadamente durante a homilia o Padre Ricardo decide falar da minha mãe, a sério? Qual era a necessidade? Eu digo-vos NENHUMA.

- Caríssimos irmãos, muitos de nós estamos aqui por uma razão muito especí­fica, faz hoje um mês que perdemos alguém muito especial nas nossas vidas: uma esposa, uma mãe, uma filha, uma nora, uma irmã...uma amiga. A Maria era isto e tantas outras coisas. Ela nasceu nesta cidade, aqui cresceu, se formou, se enamorou e se casou.

Mas haveria necessidade de fazer uma homilia sobre a minha mãe? Eu digo-vos NÃO HAVIA. Ela era filha e irmã de alguém que nem estava ali, era esposa do meu pai (logicamente porque de outra forma não seria minha mãe. Desculpem estou um bocado DAHl!).

Era MINHA MÃE. Porque é que ele estava a falar dela assim, como se todas aquelas pessoas que estivessem naquela igreja gostassem dela mais do que eu e os meus irmãos, porém ele continuava...

- Construiu a sua famí­lia longe da sua terra, é verdade que sim, mas sempre voltou para os momentos importantes como para baptizar os cinco filhos aqui presentes. E apesar de trabalhar bastante nunca descuidou a famí­lia, sempre foi uma mãe presente. Porém o Senhor decidiu que tinha chegado a sua hora e levou-a para junto de Si. Muitos de vós podeis pensar que é injusto, que tinha ainda muito a fazer, que tinha estas cinco crianças lindas ao seu cuidado, e se perguntam por quê?

Esta era uma das mil e uma perguntas que eu fazia a mim mesma, tantas e tantas vezes. Sem contar com as que fazia sobre o dito "acidente", que por mais que tentasse não me lembrava. Era como se alguém tivesse apagado aquele dia do meu cérebro.

Mas as que mais me martelavam eram: Por que é que Ele a levou? Por que é que ela não se salvou?

Nada disto era justo, nós precisávamos dela. Como é que podia ser a hora dela? Como é que alguém, seja Ele Deus ou outra entidade qualquer, pode decidir que chegara a hora de alguém morrer?

Era a nossa mãe, era alguém de quem dependí­amos e de quem precisávamos.

Como é que se decide de um dia para o outro levar uma pessoa?

A minha mãe para mim era muito mais que uma mãe: era minha amiga, minha confidente, minha luz, minha vida. Sem ela sinto que perdi algo que não consigo nem descrever. É como se faltasse alguma coisa dentro de mim. E apesar de não querer ouvir mais nada porque sentia de novo as malditas lágrimas a quererem sair, o Padre Ricardo continuou...

- Muitos de vós se perguntam como é possí­vel o Senhor ter levado a Maria e ter deixado estas cinco crianças órfãs de mãe? Como é possí­vel o Senhor deixar estas crianças na espectativa de poderem perder também o pai? Bem irmãos a resposta é simples: os mistérios do Senhor são inexplicáveis mas misericordiosos. Porque Ele nunca faz nada mal feito, apesar de nós apenas ouvirmos a nossa razão, e acharmos que tudo isto está errado...

Eu estava no meu limite, ele não podia estar a falar a sério, já não estávamos a sofrer o suficiente?

Era preciso alguém lembrar-nos da dor que sentíamos. Olhei para as minhas irmãs: a Luísa e a Sofia estavam a olhar para o Padre com um olhar triste e com lágrimas nos cantos dos olhos, o Pedro chorava bastante discretamente (ele é daqueles que acham que os homens não choram...), os meus avós estavam ambos com lágrimas nos olhos e a minha bonequita, a Clara, essa brincava com a sua barbie completamente envolta no seu pequeno mundo de fantasia.

Mas o Senhor Padre continuava a falar: que os desígnios de Deus eram misteriosos, que a minha mãe estava nos braços de Deus e a gozar a vida eterna, que a dor que sentíamos não era mais que a demonstração da nossa saudade. Foi neste momento que "flipei", simplesmente não aguentei mais.

Levantei-me e corri porta fora, e se bem se lembram os meus "queridos avós" tinham-se sentado na fila da frente, ou seja, tive que correr aquela nave enorme (para quem não sabe chama-se naves aos corredores das igrejas, normalmente tem três: duas laterais e uma central), já que a dita Igreja era dessas enormes.

Senti o Pedro a tentar agarrar-me o braço e vi o meu avô a olhar para mim com aquele ar fulminante, capaz de me matar só com o olhar.

Consegui ver-me livre da mão do meu irmão e corri, saí­ porta fora. Deixei-me estar durante uns segundos parada ali na escadaria da igreja, até conseguir algum ar que parecia faltar.

Passado uns minutos, quando finalmente consegui repirar com mais facilidade, corri dali e nem pensei para onde iria.

O que a bem da verdade, e se tivesse pensando friamente nisso, era algo que nem fazia sentido eu pensar. Nem conhecia muito bem a cidade, por isso fosse para onde fosse iria perder-me. Mas acham que aqui a Madalena se lembrou desse pormenor? Não.

E já agora porque é que existe uma expressão como "a bem da verdade"? Tipo será que existe o mau da verdade? Ou o bem da mentira? Ou até mesmo o mau da mentira?

A verdade é a verdade e a mentira a mentira, não há bem nem mau.

Nem me ralei com o que o avô me pudesse fazer, ele que me castigasse, me batesse, não quero saber, ali é que não conseguia mais ficar.

Vida eterna? Desígnios de Deus? De que raio é que o Padre Ricardo estava a falar. Quero lá saber dos desígnios de Deus. Será que ele acha que esta dor que tenho cá dentro se alivia ao saber que a minha mãe está "a gozar a vida eterna"?

O que queria mesmo era a minha mãe aqui...comigo. Queria poder dizer-lhe o que me vai dentro da alma, do coração. Queria contar-lhe sobre todo este caos em que se transformou a nossa vida, que tudo isto está a ser insuportável. Contar-lhe que o Richi me tinha trocado assim de um dia para o outro, sem pensar duas vezes. Queria poder sentar-me ao colo dela, à espera que ela me dissesse que tudo iria ficar bem.

Que tudo iria passar, e que não me vou sentir uma estranha e sozinha, que o meu pai vai ficar bem e que não o vou perder também. Em vez disso a resposta do Padre Ricardo era "que a minha mãe estava nos braços de Deus e a gozar a vida eterna..." , a sério? Era tudo menos o que me apetecia ouvir.

Quando dei por mim estava junto a um miradouro, não faço ideia onde estava, já vos disse que não conheço bem a cidade, mas tem uma vista magnífica.

Neste momento a única coisa que quero é silêncio. Não quero ver ninguém, nem falar com ninguém. Só quero chorar até que as lágrimas acabem de vez, até que os meus olhos sequem, quero acordar deste pesadelo, porque só posso estar a sonhar...eu quero a minha mãe.

Ao fim do que me pareceu uma eternidade, consegui finalmente parar de chorar. Reparei que estava a escurecer, não sei quanto tempo estive ali, e sinceramente nem quero saber.

Comecei à procura do telemóvel, tinha que ligar para o meu irmão e pedir que me viessem buscar. Porém, não o tinha comigo porque aquele "otário" do Pedro mo tinha tirado!

Boa Madalena! Estás nem sabes onde, sem dinheiro, sem telemóvel e sem saber para onde ir.

Nem sei o nome da rua de casa do meu avô. O máximo que sei é ir e vir da Igreja, mas nem sei o nome da dita, e Coimbra tem uma serie delas.

Olhei à minha volta, à procura de alguém que me pudesse ajudar: um polí­cia, um guarda, sei lá alguém. A única coisa que vi foi uma Igreja.

A sério? Uma Igreja? Será que Ele lá em cima está a brincar comigo!? Eu fugi de uma e quando quero ajuda o que é que vejo: uma Igreja.

Como não tenho outra alternativa, uma vez que parece que a rua resolveu estar deserta, dirigi-me até lá. Dei a volta à dita Igreja mas estava tudo fechado, encontrei uma porta mais abrigada e sentei-me no degrau.

Estava a anoitecer, estava com fome, com frio e cansada. Decidi tentar dormir o que era difí­cil porque só me vinha à cabeça o meu avô, era desta que ele me matava. A minha avó devia estar preocupada e ao mesmo tempo a tentar acalmar o meu avô.

Os meus irmãos? O Pedro devia estar pronto para me dar um dos seus sermões de irmão mais velho que se faz de pai, e as meninas deviam estar assustadas sem saber onde eu estava. Pensei na minha mãe e no meu pai, o coração começou a apertar de novo. Será que o vou perder também?

Não sei quanto tempo demorou, o que sei, é que acabei por adormecer. Com fome e freio, sem saber onde estava, mas por incrível que pareça à medida que ia adormecendo comecei a sentir-me cada vez mais calma e serena. E pela primeira vez desde há um mês atrás, adormeci sentindo-me em paz. Será que é isto que sentimos quando estamos prestes a morrer? Será que foi isto que a minha mãe sentiu? Será que estou a morrer?

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