Capítulo 35 - Vencendo Medos
A Sofia e a Clara não param quietas, nem caladas enquanto que a Luísa está demasiado calada, mas talvez seja apenas ansiedade. O Pedro, bem é impossível perceber o que ele sente, quando ele coloca aquela máscara de insensibilidade nem vale a pena tentar. E assim depois de arrumarmos a cozinha, fomos todos para o hospital.
Se estou com medo? Petrificada. Se estou nervosa? Sim, e muito, mas vou fazê-lo eu prometi à minha mãe apesar de ter sido em sonhos. Eu prometi e vou cumprir.
Assim que chegamos ao hospital o meu coração começa a bater mais forte, não sei se foi uma boa ideia vir. Sei que prometi à minha mãe (eu sei foi num sonho, mas quem disse que não foi real? Para mim pelo menos foi e isso é o que interessa, eu prometi).
Mas o medo de ser rejeitada pelo meu pai é continua grande, eu sei que não iria aguentar. Posso viver com o olhar frio do meu avô, o olhar triste da minha avó, os cochichos dos meus tios quando me veem e até posso suportar os ataques mesquinhos da Ana. Porém, se há algo que não vou conseguir suportar é a possível rejeição do meu pai, eu nunca irei conseguir viver com essa sensação horrível de ser renegada pelo meu herói.
Assim que chegamos à porta do quarto, eu paro...paraliso...e viro costas para todos, pronta para me ir embora, para fugir. O meu avô, que percebe que eu petrifiquei, volta atrás e abraça-me. Diz que vai entrar com os meus irmãos, a minha avó e a minha tia e que já me chamava para eu entrar. Eu assinto com a cabeça, e sento-me num sofá na sala de espera.
Assim que ele entra no quarto com todos, tiro o meu telemóvel do bolso e mando uma mensagem para o Diogo. É impressionante como em dois dias ele se tornou o meu mundo, o meu porto seguro.
"- Bom Dia amor, precisava de ti aqui, preciso de um abraço, que me digas que tudo vai correr bem..."
"- Bom Dia. Já estás no hospital?"
"- Sim. Estou à porta do quarto dele, os meus irmãos entraram primeiro. Diogo, não sei se consigo fazer isto. Não sei se quero fazer isto."
"- Queria tanto estar aí contigo, mas iria dar muito nas vistas. Porque não vais falar com a Mara, vocês deram-se bem, talvez te faça bem estares acompanhada."
"- Não quero chatear a tua irmã. Só queria...só queria que tivesses aqui comigo."
"- Eu também gostava de estar aí. Quando saíres manda mensagem, eu vou ter contigo onde estiveres."
"- Sou capaz de ter que ir para casa, ou então ter que fugir para estar sozinha. Vai depender de como correr a conversa."
"- Não vais fugir sozinha. Liga-me eu vou ter contigo...por favor?"
"- Diogo...eu não quero que te prejudiques por minha causa."
"- Por favor Madalena, não precisas de sofrer sozinha. Eu quero estar contigo, nos bons e principalmente nos maus momentos."
"- Parece que estás a recitar os votos de casamento...LOL"
"- Os meus votos de casamento para ti vão ser muito mais apaixonantes. Beijos e liga-me assim que saíres."
"- Ok. Eu ligo."
Coloco o telemóvel no bolso de novo, e caminho até à porta do quarto. Consigo ouvir os risos da Clara e da Sofia, as piadas da Luísa que fazem o meu pai rir-se também, como eu tinha saudades do seu riso.
Nós éramos uma família bem unida, apesar dos meus pais trabalharem muito nunca deixaram de estar connosco e de acompanhar tudo na nossa vida. Aliás lembro-me que o meu namoro com o Ricardo não era algo que eles gostavam.
Será que ele vai perder esse riso quando me vir? Será que tenho o direito de lhe tirar esse riso? Volto de novo para o sofá remoendo todas estas dúvidas, e quanto mais penso mais tenho a certeza que não devia ter vindo.
Eu já lhes tirei tanta coisa, não lhes posso tirar mais nada, levanto-me e vou em direcção ao elevador decidida a fugir, vou-me embora de Coimbra, vou-me embora das suas vidas.
- Oi, onde pensas que vais?- olho para a minha frente e vejo a Mara.- O Diogo conhece-te bem, ele telefonou-me para impedir que te fosses embora.
- O Diogo...ligou-te. Mas...- nós tínhamos combinado que não diríamos nada sobre nós a ninguém. Como é que a Mara ficou a saber...
- Madalena, todos nós sabemos o que o Diogo sente por ti. O meu pai e a minha mãe, podem até ter fingido que acreditaram naquela desculpa da casa de banho...
- Mas foi verdade, eu tive mesmo que ir à casa de banho.- Digo depressa, pois não quero arranjar problemas para o Diogo.
- Madalena. O Diogo para mim é transparente, nós temos uma relação meio estranha desde pequenos. Não precisamos de falar um com o outro, basta olharmos nos olhos um do outro.- eu nem sabia o que dizer, fiquei sem palavras.- Afinal onde ias?
- Embora.- falei já com lágrimas nos olhos...- Não posso, nem quero acabar com a alegria que está naquele quarto.
- E achas que indo embora vais resolver o quê? - ela olha para mim e leva-me até uma sala ali perto...- Madalena, qual é o teu medo?- eu não consigo dizer nada, só deixo as lágrimas saírem descontroladas.- Chora, chorar faz bem, alivia a alma.- Eu chorei, chorei até sentir que já não tinha lágrimas para deitar.
- Eu não vou aguentar. Se ele...se ele me culpar também...
- Mas se não fores àquele quarto e falares com ele, como é que vais saber se ele te culpa ou não.
- Eu não consigo, não vou conseguir olhar nos olhos e ver neles decepção, raiva, culpa. O meu pai sempre foi o meu herói. Eu vou quebrar se ele me culpar também.
- Madalena eu não sei o que aconteceu, mas sei que por muito que erremos os nossos pais nos amam incondicionalmente.
- Não. Como é que ele me pode amar, se eu...se a culpa de tudo isto pode ser minha, como é que ele me pode perdoar, se eu mesma não me perdoou.
- O problema é esse mesmo, tu culpas-te a ti própria. Só não percebo porquê?
- Nem eu sei.
- Madalena, não estás a fazer sentido. Como é que tu te podes culpar por algo que nem tu sabes o que é.
- Porque eu sei que aconteceu algumas coisa naquela noite, na noite em que eu fui parar ao hospital em Lisboa.
- Deixa ver se eu percebo: tu estavas no hospital?- apenas aceno com a cabeça dizendo que sim...- E os teus pais tiveram um acidente?
- Sim. Segundo percebi foi tudo no mesmo dia. Mas eu não sei, eu fiquei inconsciente durante 48 horas.
- Então tu e os teus pais tiveram um acidente? Foi isso?
- Não. Eu só sei que acordei no hospital, e fiquei a saber que os meus pais tinham tido um acidente. Passado uns dias a minha mãe morreu, e o meu pai esteve em coma este tempo todo. Mas eu não me lembro de nada desse dia.
- Tu estás a perceber o que estás dizer? Nada disso faz sentido Madalena, como é que podes culpar-te por um acidente onde nem estiveste envolvida.
- Porque todos me culpam.- e acabei por falar um pouco mais alto, chamando a atenção de quem estava ali no corredor do hospital, Mara apenas me abraça...- Ninguém diz nada, bem excepto a minha prima, mas eu percebo pelos olhares todos me culpam.- de repente alguém aparece à porta.
- Madalena, estás aqui. Pensei...não interessa, vamos as tuas irmãs foram para casa com a tua avó e a tua tia. Só ficou o Pedro com o teu pai.- Olhei para o meu avô e depois para a Mara, a coragem que hoje de manhã eu tinha, estava a desaparecer completamente.
- Tens que ir.- diz-me Mara com um sorriso...- Só vais tirar todas essas dúvidas se enfrentares os teus medos.- olho para ela de novo e abraço-a.
E nesse momento em um sussurro, que apenas ela consegue ouvir, digo-lhe: "Obrigado. Diz ao Diogo que eu ligo-lhe.". Assim que ela me solta daquele abraço, o meu avô pega na minha mão e vem comigo até à porta do quarto. Olha para mim e com um sorriso, dá-me a força que sinto que está cada vez mais a enfraquecer.
Ao entrar consigo ouvir a conversa do meu irmão com o meu pai. E de novo me sinto a perder as forças...Então foi como se tudo viesse de uma vez, parecia que estava num carrocel, imagens e mais imagens daquele dia. Nada daquilo podia ser verdade...simplesmente não podia.
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