Capítulo 33- Antes da tempestade...
O Senhor Rui levou-me a casa onde o meu avô e a minha avó me esperavam.
- Boa Tarde Sr. Fernandes, Boa Tarde Senhora. Aqui está a Madalena como combinado, foi um prazer tê-la lá em casa é uma menina maravilhosa.
- Obrigada Sr. Ramos. Vamos entrando Madalena, estávamos à tua espera para falar convosco.
- Connosco? Connosco quem? O que é que aconteceu?
- Vamos entrar querida, vamos...obrigado por tudo.- e assim despedi-me do Sr. Rui e entrei com a minha avó. Na sala estava a família toda, a minha tia tinha cara de quem estivera a chorar e eu comecei a tremer.
Aquilo estava estranho, estavam todos sentados e muito calados. Os meus irmãos estavam sentados todos uns ao lado dos outros, e foi para lá que me levaram. Sentaram-me ao lado da Luísa, que agarrou a minha mão dando um pequeno sorriso. Os meus avós estavam num outro sofá, e em pé perto deles os meus tios. Os meus primos não sei onde estavam, e quando comecei a pensar, as lágrimas já me caíam.
- Parem de rodeios e digam logo, o que é que aconteceu com o Pai?- digo assim que vejo o meu avô a sentar-se.
Só podia ter acontecido alguma coisa, a minha avó estava nervosa, a minha tia tinha lágrimas nos olhos, o meu avô olhava para mim sorrindo mas com lágrimas nos cantos dos olhos. Eu tremia por dentro desejando estar nos braços de quem me podia proteger e não estava ali.
- Avô. O papá acordou?- pergunta a Sofia já com uma lágrima no olho.
- Podias ser um pouco menos bruta a falar.- diz o Pedro fuzilando-me com o olhar.
- Cala-te Pedro. Ainda não percebeste que aconteceu alguma coisa?- levanto-me olhando para todos...- A avó está a tremer, a tia está com os olhos vermelhos de chorar e o avô está nervoso eu conheço-o.
- Nena, acalma-te e senta-te. Sofia anda cá ao avô?- Sofia levanta-se e vai ter com ele, e eu acabo por me sentar.
- Por favor, podes falar de uma vez, o que aconteceu com o Pai? - perguntei mais uma vez já sem conseguir segurar as lágrimas.
- O vosso pai, ele...ele acordou. Ele voltou para nós meninas.- grita a minha avó sem se aguentar mais, e enquanto todos gritavam, riam e choravam de alegria eu mantinha-me petrificada. - Madalena...- a minha avó caminha até mim...mas eu afasto-me...- ele está bem, ele voltou para nós.
Eu simplesmente olho para todos, as lágrimas caem, mas não consigo dizer nada, sinto-me num outro mundo. Sabem a sensação de ser uma marionete numa peça, é assim que me sinto. Uma marionete que assiste de camarote ao que se passa nesta sala. Olho para todos, viro costas e ando até à porta, o meu avô grita por mim, paro mas não me viro.
Saio e sinto a brisa que começa a aparecer, e as lágrimas a começarem a escorrer. Se podia correr sem rumo? Podia, mas eu aprendi a lição e em vez de fugir escondo-me ali perto e ligo para a única pessoa que me pode ajudar, que me pode fazer sentir segura.
"- Madalena, já chegaste? Nós não combinámos que era apenas por mensagens."
"- Preciso de ti...- não consegui dizer mais nada porque caí num choro profundo."
"- Madalena? Amor? Onde estás? Eu vou ter contigo? Onde estás?"
"- Perto da minha casa. Atrás de uns contentores."
"- Fica aí, não saias daí, em cinco minutos estou aí."
"- Diogo...eu não consigo respirar...eu não vou aguentar..."
"- Eu estou a sair de casa, tem calma."
Ele desliga, e eu encolho-me ainda mais. Ouço o meu avô, o meu Tio, todos a chamarem por mim, mas eu não consigo encará-los, eu não consigo dizer-lhes que eu não quero ver o meu pai, que eu tenho medo. Medo de o perder. Não de o perder para a morte, mas pior que isso medo de o perder para a vida.
Ao fim de um tempo deixo de ouvir as vozes que me chamam, provavelmente voltaram para casa e mais uma vez acham que fugi. Ouço alguém a aproximar-se e quando olho para cima vejo o Diogo. Apenas o abraço, como se ali o mundo não me fosse cair em cima, como me parecia que estava para acontecer. Ele não diz nada, apenas se mantém ali, naquele abraço tentando acalmar a minha crise de ansiedade. E eu deixei-me estar, chorei até não conseguir ter mais lágrimas.
- Ei! Estás mais calma? - eu não falo, apenas digo que sim com a cabeça...- Queres contar-me o que se passou?
- O meu Pai...- e tomo de novo ar, porque as lágrimas estão na ponta dos olhos, prontas para cair de novo...- ele...ele acordou.
- E tu estás a chorar!? Madalena ele acordou, ele voltou para vocês...- eu interrompo-o...
- E eu vou perde-lo de vez...- o Diogo faz uma cara de quem não está a perceber...- Diogo a culpa de eles terem tido o acidente pode ser minha. Eu não me lembro de muito, mas sei que nós íamos fazer uma viagem de férias, e eu acordei num hospital sem me conseguir mexer da cintura para baixo, descubro que os meus pais tiveram um acidente enquanto eu estava inconsciente...
- Madalena, tu não tiveste culpa. Erraste talvez, mas a culpa não foi tua.
- Diogo, eu tenho medo que ele me culpe. Eu sei, eu sinto que todos ali naquela casa de alguma forma me culpam pelo que aconteceu.
- Amor, estás a ser dura demais com eles todos. Ninguém te culpa, simplesmente porque a culpa não foi tua.
- Diogo, eu sinto aqui. Bolas até eu me culpo e nem me lembro do que se passou. Como é que eu vou encarar o meu pai? O que é que eu lhe vou dizer? "Pai, desculpa por tudo, mas eu não tenho culpa, até porque nem me lembro de nada...". Ele vai surtar, se já não surtou, ao saber que a minha mãe morreu.
- Eu não te quero assim. Ouve o que eu te vou dizer...- ele coloca as suas mãos cada uma num bochecha e olha bem fundo nos meus olhos...- Tu não tiveste culpa do que te aconteceu e muito menos tiveste culpa do acidente dos teus pais.
- Como é que sabes Diogo, tu nem estavas lá.- e mais uma vez as lágrimas escorrem pela minha cara.
- Eu estava.- olho para ele, e fico confusa.
- Como assim estavas lá? Como é que isso é possível?
- Fui eu que te levei para o hospital em Lisboa. Eu estava de férias em Lisboa, sou primo da Gabi, que foi tua colega lá em Lisboa.
- Tu? Porque é que nunca me contaste? Porque é que...
- Porque nunca pensei em te encontrar de novo minha "Rainha da Noite".- e olhou para mim com um sorriso que me derreteu.
- És tu, mas tu deixaste de me mandar mensagens? Porquê? Porque é que...
- Porque eu fiquei a saber que eras menor e tive medo, medo de me apaixonar mais do que já estava. Depois naquele dia quando te levei para o hospital tu estavas desacordada e eu voltei para Coimbra. Nunca nos meus sonhos eu pensei que pudesse voltar a ver-te.
- E agora? Eu estou aqui, o que vai acontecer?
- Ó meu amor, agora eu nunca mais te vou deixar ir embora. Eu amo-te Madalena, eu amo-te "Minha Rainha da Noite".
- E eu amo-te a ti meu Príncipe.- e assim acabamos por nos deixar levar, abraçamo-nos como se não houvesse mais nada ao nosso redor, até que ele se afastou.
- Tens que voltar...- eu fiz que não com a cabeça...- Rainha, eles devem estar preocupados. Diz-lhes tudo o que me disseste a mim, conta-lhes o que sentes, os teus medos, tudo.- eu voltei a negar...- Faz isso por mim, por favor.
Acabei por concordar, mas...com medo, muito medo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro