Capítulo 26 - A Convidada Inesperada
A noite tinha sido cheia de recordações, quer boas quer más, mas também tinha sido cheia de revelações inquietantes, a Filipa tinha mexido comigo, não da mesma forma como a Madalena, mas ela conseguiu nem que por breves minutos fazer-me esquecer de tudo.
Antes de entrar deixei-me estar no carro, apenas permitindo-me fechar os olhos e deixar que os meus pensamentos voassem para longe, para aquela noite em que trocamos o nosso primeiro beijo. Eu não podia negar mais o que sentia, mas ao mesmo tempo, não podia enganar-me a mim mesmo, este era um amor impossível. E hoje encontrei alguém que talvez me fizesse feliz, no entanto, seria isso possível?
Saí do carro e entrei em casa, a luz da cozinha estava acesa, ouvi barulho e a esta hora só podia ser a minha mãe ou a Mara: uma porque não conseguia dormir até todos chegarem e a outra provavelmente a arranjar-se para ir para o hospital.
- Bom noite mana.- disse abraçando-a por trás dando-lhe um pequeno susto.
- Diogo! Queres-me matar do coração! E já é Bom Dia.
- Desculpa não fiz por mal, vais para o hospital?
- Vou. Aliás isto é que são horas de se chegar a casa?
- Fui sair com o André. E tu sabes como é que é aquele rapaz, acabou por beber demais e ainda tive que o levar a casa. E antes tive que levar a Petra e a Filipa.
- A Filipa? Quem é essa?
- Uma amiga da Petra, que virou minha amiga.- Mara olha para mim com aquela cara de inquisidora que só ela tem.- Só uma amiga, nem vale a pena vires com essa tua cara de inquisidora, daqui não levas mais nada.
- Assim ofendes-me!- e faz uma cara de alguém ofendido, se eu não conhecesse a peça acreditaria mesmo que a ofendi.- Tens a certeza que é só uma amiga?
- Tenho, apesar de ser uma óptima miúda o meu coração infelizmente pertence a outra.
- Diogo, não gosto de te ver assim.
- Isto passa, espero eu. E a mãe?
- Subiu à pouco. Quando desci estava a dormir no sofá. Podias ter ligado sabes que a Dona Dulce não dorme sem ter os seus "pintos" todos em casa.
- Eu nunca pensei demorar tanto, a "Tia" Teresa ainda me disse para ficar lá, mas eu precisava do meu canto.
- Foi assim tão má a noite? Então e a tal Filipa?
- A Filipa é e vai ser uma boa amiga, pelo menos eu acho. A noite digamos que foi de recordações amargas.
- Queres falar? Eu ainda tenho algum tempo antes de ter que sair.
- Eu não consigo, Mara eu juro que já tentei, juro que quero, mas não a consigo esquecer. Até tentei hoje com a Filipa, mas sei lá não acho justo usá-la assim. E não é ela, percebes?
- Estás mesmo apanhado. Mas tu sabes que não podes, ela é menor Diogo.
- Eu sei, eu sei. Mas e se ela se lembrar de mim? E se ela quiser? Se for de comum acordo?
- Ela não deixaria de ser menor, e os pais podem-te acusar na mesma. Diogo, a Rute no dia da nossa discussão perguntou se tu irias voltar para o reformatório.
- Ela lembra-se? Mas ela era pequena, quer dizer...
- Eu também nunca pensei que ela tivesse ficado com essa memória, mas ficou. Eu tenho que te dizer uma coisa e não vai ser fácil.
- Diz, hoje estou meio anestesiado pela bebida mesmo, então força aí.
- A Madalena é amiga da Rute, a melhor e única amiga da Rute. E ela está cá em casa.
- Humm! Não percebi bem, deve ser a bebida a confundir-me todo. Quem é que está cá em casa?
- Ela, a Madalena. A Rute e ela são amigas, e bem a Rute convidou-a para passar o fim de semana cá em casa.
- O quê? Estás a gozar comigo certo?
- Ouve, o pai é que a foi buscar e não a reconheceu. E a mãe só se apercebeu quem era quando a viu cá em casa.
- Eu não vos percebo. A sério obrigaram-me a afastar dela e agora colocam-na debaixo do mesmo tecto.
- Diogo ninguém fez isto por mal. E o que querias que os pais fizessem? É a primeira vez que a ratinha tem uma amiga, a primeira vez que ela traz alguém cá a casa. Ela está tão feliz.
- Eu sei, e fico feliz pela ratinha, mas tinha que ser logo ela? Eu vou-me embora, vou para o meu quarto e não pretendo sair de lá até o fim de semana acabar.
- Não sejas dramático, porque é que não aproveitas e te aproximas dela como amigo.
Eu olhei para a cara da Mara surpreso com o que acabo de ouvir: primeiro recebo um sermão porque me viu no hospital com "ela" e agora está a dizer-me para me aproximar, não a consigo perceber. No entanto, e pensando bem não deixa de ser uma boa ideia, eu posso ser apenas amigo dela, será que posso? Ou será que quero? Será que consigo ser só amigo dela?
- Mara, não sei se é uma boa ideia e se ela souber quem eu sou? Eu deixei de lhe responder às mensagens sem nenhuma justificação, no mínimo levo uma boa bofetada.
- Nada que não mereças. Diogo eu sei que me passei um pouco contigo, mas também já percebi que tu gostas mesmo dela, neste momento vocês não podem ter nada, mas no futuro quem sabe. Comecem por ser amigos, depois logo veem.
- Eu tenho medo Mara. Não sei se consigo ser só um amigo, pior não sei se quero ser só amigo dela.
- Podes tentar. Deixa o futuro nas mãos de Deus.
- Vou pensar, mas agora vou dormir.- chego-me perto dela e dou-lhe um abraço.- Obrigado mana, adoro-te.
- Vai descansar e manda mensagem à mãe só para ela saber que já cá estás. Também te adoro maninho.
Abraçamo-nos de novo e fui para o quarto. Eu e a Mara sempre fomos muito ligados e falamos um com o outro de tudo, e quando digo de tudo é mesmo tudo. Depois daquela discussão que tivemos, sentámo-nos os dois para conversar e foi quando eu lhe contei tudo o que aconteceu em Lisboa, e assumi pela primeira vez em voz alta que eu estava terrível e perdidamente apaixonado pela "Minha Rainha".
Assim que me vi no meu canto, no meu quarto deixei-me cair na cama. Estes dois dias iam ser difíceis, muito difíceis. Voltar a vê-la, tê-la tão perto sem poder fazer o que mais quero: beijar aqueles lábio de novo, e quem sabe dar uns amassos.
Podes ir parando com essas ideias Diogo, não podes pensar nisso, simplesmente não podes. Levanto-me e antes de entrar no banho mando uma mensagem para a minha mãe.
"- Já estou em casa. O André bebeu demais e tive que o levar a casa. Desculpa pelas horas. Adoro-te."
Depois de enviar a mensagem fui até à casa de banho e tomei um banho, demorei um pouco mais do que o normal, precisava de relaxar e de preferência deixar de pensar nela.Contudo, é óbvio que ela era tudo o que me vinha à cabeça e imaginar que a minha Rainha estava aqui tão perto, sim bem perto, estava exactamente no quarto aqui ao lado.
Com ela cá em casa o meu plano de a esquecer era completamente impossível. Como se eu a conseguisse esquecer de qualquer das maneiras. No fim do banho deitei-me de novo e peguei no telemóvel, a minha mãe tinha-me respondido.
"- Tudo bem filho, dorme bem. Ah! E temos uma visita e não sei se vais gostar."
Resolvi responder avisando-a que já sabia, desta forma ela não se preocupava.
"- Eu já sei quem cá está. Encontrei a Mara na cozinha ela contou-me."
"- Desculpa filho eu sei que não vai ser fácil para ti. Daqui a pouco falamos melhor. Também te adoro."
"- Falamos depois, não te preocupes. Beijos."
Coloquei o telemóvel na mesa de cabeceira e logo o meu pensamento me fugiu de novo para quem eu tanto procuro esquecer e não consigo, para aquela que ultimamente ocupa toda a minha vida - a minha Rainha da Noite.
Amanhã vai ser o dia, amanhã vou vê-la e não sei como reagir, o que dizer. Será que ela se lembra de mim? Será que ela sente alguma coisa por mim? Devo lutar por ela ou simplesmente desistir? Devo apenas ser seu amigo? Será que consigo ser apenas seu amigo? Será que eu quero ser só seu amigo? E se acabarmos por sofrer mais?
Todas estas perguntas e muitas outras povoam a minha cabeça, mas as respostas, essas continuam a não aparecer. E com estas dúvidas e com uma dor de cabeça enorme acabo por adormecer. E o sonho, sempre o mesmo sonho: eu e ela, numa discoteca (naquela onde a conheci, é sempre na mesma...).
"Estamos a dançar, trocamos alguns beijos, algumas carícias. De repente alguém nos separa e leva-a para longe, para bem longe. Eu corria atrás dela, mas não a consigo alcançar, eles estão sempre um passo à minha frente e quando parecia que a iria conseguir agarrar algo me impedia de a agarrar. Ela gritava por mim, e isso era o que mais fazia o meu coração doer, por muito que eu lutasse eu não conseguia...eu estava a perde-la.
Eu perdi-a, sempre a perco, sempre corro, sempre tento agarra-la, mas ela sempre me escapa..."
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