Estou com uma raiva daquele miúdo que nem sei, uma coisa é ele não atender a Magui, se bem que ela não tinha feito nada de mal. Afinal tudo foi uma armação daquele animal do Richi. Mas agora não me atender a mim...isso já era demais

Não demorou muito para a Tia Luísa atender...que saudades dela. Saudade é um sentimento profundo que deixa a pessoa a pensar. Pensar em alguém que está distante, e que não queremos sentir a sua ausência. Saudade é mais que um sonho é algo profundo que aperta o coração.

Nestes últimos dias, aprendi que sentir saudades é tão natural quanto respirar. Que sinto saudades ao inalar um qualquer aroma que me faz lembrar de algo ou alguém esquecido. Que sinto saudades quando revejo um retrato num qualquer móvel. Que sinto saudades, quando escuto um som que reconheço como um momento importante.

Sinto saudades de quem partiu, das memórias que vão ficando perdidas no tempo que passa: de uma infância que há muito se foi, de amores e amizades, de amor e carinho de mãe . Sinto saudades dos sonhos que costumava acalentar.

Sinto saudades porque posso, porque sou humana, porque estou viva. Sinto saudades de tudo um pouco, e esse sentimento tanto me conforta como me aflige a alma. Sinto falta da sua voz, da sua risada, de tudo que me fazia sentir. E sentirei saudades para sempre. Sinto falta de tudo nela, desde a voz ao olhar, e com saudade vou viver até ao fim.

Por fim a Tia Luísa atende...

- Estou...quem fala? - diz a mãe do Guga.

- Tia Luisa, é a Mada.

- Olá minha princesa como estás? Está tudo bem?

- Sim, agora está tudo bem.

- Eu soube o que aconteceu, a tua tia ficou desesperada.

- Foi...eu não consegui, eu só não queri ouvir aquilo tudo Tia...

- Princesa sei que sentes saudades, mas lembra-te que a tua mãe queria que vocês fossem felizes.

- Como? Como é que eu vou consegui ser feliz sem o ela?

- Madalena...

- Como posso ser feliz se o sol da minha vida se foi, sem nem eu me despedir?

- Pareces até a Margarida agora, que drama Madalena.

- Mas é a verdade Tia, nunca mais vai ficar igual.

- Igual, infelizmente não, mas não podes ficar assim. Às vezes a mudança faz-nos bem, ensina-nos, e faz-nos ser mais forte.

- Estás a dizer que a mãe morreu para me preparar para algo mais grave?

- Não princesa, apenas te estou a dizer que as mudanças a maioria das vezes trazem-nos dor sim, mas também nos podem ensinar muito.

- Custa tanto, tenho saudades deles.

- Ainda não foste ver o teu pai?

- Não. Eu prefiro não ir...o Pedro vai quase todos os dias, e até as meninas já foram. Eu não me sinto capaz...eu...

- Tu?

- Eu não sei o que aconteceu naquele dia Tia, não me lembro de nada e isso consome-me e angustia-me ainda mais. Eu não sei se a culpa foi mesmo minha ou não?

- Como assim? Madalena, alguém te disse que a culpa era tua? Alguém te acusou?

- Não. Quer dizer a Ana está sempre a dizer que a culpa foi minha, mas...

- Ouve o que te vou dizer: o acidente dos teus pais não foi culpa tua. O condutor que vinha em sentido contrário teve um AVC, ele saiu da sua faixa e chocou de frente com os teus pais. Eles não tiveram tempo para se desviar.

- Mas...

- Princesa já pensaste em voltar à psicóloga, talvez te ajude. Eu já te disse, que podes voltar ou não a lembrar-te, mas viveres com essa culpa não te faz bem.

- Eu sei tia. Vou falar com o avô, talvez me faça bem desabafar.

- E já sabes que tens um lugar na clínica à tua espera. Ainda vais tirar medicina?

- Não sei, neste momento não sei de nada. Tia, eu estava a tentar ligar ao Guga mas ele não atende passa-se alguma coisa? Ele está pior?

- Ah! Já soubeste, foi a Magui que te contou. Ele está bem, mas é tão casmurro como o pai.

- Pois, eu conheço bem a peça. Posso falar com ele?

- Claro que sim, eu vou te passar. Beijos minha princesa.

- Adeus Tia. E obrigado por tudo.- a chamada fica em silêncio, ouço o Guga a reclamar...

- O que queres?- Uau...este não é o Guga que eu conheço. Ele nunca me falou assim, nem quando estávamos furiosos.

- Primeiro quero saber se estás mesmo bem?

- Estou bem, era só isso?

- Deixa de ser grosso Guga...

" - Gustavo Sousa, podes estar numa cama de hospital mas posso perfeitamente dar-te uma boa palmada nesse teu rabo."

Ouço a Tia Luísa zangar-se com ele, e riu. Pensar num adolescente de 15 anos apanhar no rabo da mãe, não deixa de ser uma imagem cómica.

- Desculpa Mãe, desculpa Madalena...

- Madalena!? Ok, Sr. Gustavo. Quantas vezes já te disse que não te quero a andar na porcaria daquela mota quando não estás no teu juízo perfeito?- ele sabe perfeitamente que eu detesto que ele ande de mota quando está chateado, bem eu detesto que ele ande de mota no geral, e por esta altura também já gritava com ele...

- Eu estava no meu perfeito juízo, apenas um pouco irritado...

- GUSTAVO. Deixa-te de cenas, eu já perdi muita coisa este ano não achas que chega? Querias o quê acabar de vez comigo?

- Madalena, não dramatizes. Eu não morri...- eu interrompo-o de forma tão irritada que acho que se a irmã da Rute não acordar só pode estar mesmo a morrer de cansaço.

- GUSTAVO, EU NÃO ACREDITO QUE OUVI O QUE ACABASTE DE FALAR. TU TENS NOÇÃO DO QUE ACABOU DE SAIR DESSA BOCA...EU...

- Desculpa, mas podes falar mais baixo eu não estou surdo. Perdoa-me, não foi por mal...- eu já chorava mais uma vez as lágrimas corriam-me pela cara...- Mada, perdoa-me por favor.

- Bolas, Guga. Eu não aguento sofrer mais, não aguento perder mais ninguém...- as lágrimas já me caiam pela cara, ficar sem o Guga...não eu não iria suportar.

- Calma, eu estou bem. Não foi assim tão mau, só parti a perna e duas costelas...

- Estás a armar-te em palhaço é? O que disseste não teve piada Guga, eu não te posso perder também. Porque é que não me atendeste o telemóvel?

- Mada, tu nunca me irás perder, e eu estou bem, a sério. Em relação ao telemóvel eu tirei o som, eu não quero falar com ela.

- Sabes que ela está de rastos não sabes?- o Guga ia começar a falar mas eu não o deixei...- Bolas tu sabes bem como é o Richi, ele era teu amigo muito antes de ser meu namorado. Sabes bem que é vingativo...

- Eu vi Mada, ninguém me contou ok? Queres que eu faça o quê?

- Guga, ele fez de propósito. A Magui teve uma zanga com ele porque me defendeu, bem e fez algo que para o Richi lhe deve ter doído muito o seu ego machista.

- O que é que ela lhe fez?

- Bem ela deu-lhe um pontapé naquele sitio e sabes melhor que eu que o Richi não é de se ficar.

- Essa é a Magui que conhecemos! Mada, mas eu não sei, mesmo que isso seja verdade todos os que estavam no ginásio viram.

- E desde quando é que o Gustavo Freitas de Sousa se importa com o que os outros dizem? Não sejas parvo, a Magui adora-te, ela ama-te. Gu por favor não faças isto, nem tu nem ela merecem...

- Eu não sei, bolas tu sabes que eu não vou conseguir estar longe dela muito tempo. Mas, só de pensar que aquilo possa ser verdade.

- Mas não é, achas que a Magui te ia trair logo com aquele ogre do Richi. Por favor a menina odeia aquele miúdo muito mais que eu. Agora vais pegar no teu rico telemóvel e mandar uma msg, e vais pedir que ela vá aí para fazerem as pazes.

- Depois do que eu lhe disse não sei se será assim tão fácil...

- Guga, se tu lhe pedires para cair num poço por ti, podes ter a certeza que ela o faz. Bem eu também o faria, mas nós somos irmãos do coração por isso. Agora liga-lhe senão quem vai aí para te partir o resto das costelas sou eu.

- Como é que nós conseguimos sobreviver sem ti aqui? Adoro-te Ma. Eu vou ligar-lhe, obrigado. E o Richi vai pagar, ai se vai...

- Faz as pazes com a Magui, e deixa o Richi em paz. Para ele ver-vos juntos vai doer mais do que um bom murro.

- Nisso tens razão, aquele tem o Ego maior que o pescoço de uma girafa. Beijos Ma e obrigado.

- Estou longe mas continuamos juntos. Beijos Gu. E dá muitos beijinhos aos meus primos lindos.

Quando desliguei a chamada tinha uma Rute a olhar para mim com uma cara estranha. Nem sei como explicar, era como se lhe tivesse pintado na cara uma mistura: de espanto, confusão, admiração, dúvida. Era divertidamente estranha a cara com que ela me olhava. Esperei um tempo para ela falar, contudo, como ela não o fez eu tirei-nos daquele misterioso silêncio.