Capítulo 20 - As Notas e a Saída
Era engraçado pensar na Ana a ajudar-me a subir as minhas notas: primeiro porque nós iríamos no mínimo fuzilar-nos só com um olhar, e depois para eu subir as notas só se fosse para rebentar a escala e sinceramente acho que sozinha faço um melhor trabalho. Mas não era eu que ia dizer, por isso dei apenas um leve sorriso, mas sei que Ana estava furiosa com aquela saída da minha Tia, porque ela sabia tão bem como eu, que nos próximos eu seria melhor que ela em todas as disciplinas.
Assim que cheguei a casa senti um cheiro maravilhoso pela casa: bolo de chocolate. Tenho a certeza que as minhas três abelhitas estão a rapar o chocolate todo da taça.
Fui entrando bem devagar na cozinha, a única que me viu foi a minha avó, as abelhitas andavam à volta do "mel" e de costas para a porta, aproximei-me bem devagar e quando estava bem perto, elas largaram a taça por um milésimo de segundo e eu aproveitei e retirei-lhes a taça da frente e fugi para ao pé da minha avó.
- Madalena! A taça é nossa, dá-nos já. A avó disse que podíamos lamber tudo.- Diz a Sofia com um ar triste, apoiando as mãos sobre a bancada.
- Humm!! Que abelhitas tão gulosas que temos aqui. E não iam partilhar comigo?
- Não...- e a minha abelhita mais sapeca, a dona Catarina, conseguiu tirar-me a taça que eu tinha acabado de colocar na mesa por um segundo.
- Ei!!! Era a minha vez...- e foi nesta altura que a minha tia e a Ana entram na cozinha.
- Que andam vocês a aprontar? A sujar a cozinha da avó?
- Mamã, fizemos um bolo de chocolate, olha...- e mostrou a taça de onde continuava a rapar.
- Sim Catarina, dá para perceber. Olha só o teu vestido, acho que não sobrou bolo para a sobremesa do jantar. Ficou tudo na vossa roupa, olhem só.
- Não "icou" tia. Ó ali no "fono" - a minha abelhita mais pequena logo mostra onde está o bolo a fazer.
- Anda cá minha bonequita, então estiveram a fazer bolo de chocolate com a avó?- Clarinha que agora estava ao colo da minha tia, enquanto esta lhe lavava as mãos, acentiu...- Será que a tia pode comer uma fatia?- Clarinha sorri com um ar de sapeca.
- Naum tia, é "xó" da "inha", da "nina e da "fia".
- Não dás nem um bocadinho à tia?- e depois de alguma cócegas na barriga, Clara lá acena que sim.- É verdade mãe, a Ana e a Madalena já receberam as notas.
- A sério. E então meninas que tal? Madalena?- lógico tinha que me perguntar a mim primeiro.
Não me interpretem mal, eu nem tive más notas, quer dizer para quem teve duas semanas para estudar, não me posso queixar. O problema é que estão todos à espera que a Ana tenha tido melhores notas que eu, porque acompanhou a matéria toda desde o início do ano lectivo, e sei que assim que souberem as minhas vão começar a comparar-nos. O que vai fazer a Ana implicar ainda mais comigo.
- Eu prefiro dizer-vos as notas depois de ter recebido os testes todos e ainda falta receber alguns...
- Então se ela não diz, digo eu: 16 a Filosofia, 14 a Matemática, 16 a Biologia e um 15 a Português.
- A tua prima já disse as notas.- disse a minha avó...- Agora é a tua vez. Vá Madalena não tem problema nenhum, todos sabemos que tiveste menos tempo para estudar.
- Ninguém está à espera que sejam tão boas como as da Ana.- acrescenta a minha tia, e lá está o problema as minhas foram melhores (bem fora aquele 13 a Português...)
- Avó, por favor eu prefiro mesmo só dizer depois de receber todos. Sabes onde está o avô? Queria perguntar-lhe se podia ir dormir a casa da Rute hoje.
- Queres ir dormir fora?- de repente ouço a voz do meu avô e tenho a certeza que me vai obrigar a dizer o que não quero.- Porém não nos queres dizer as notas, devem ter sido mesmo más!?
- Não, não foram más, quer dizer podiam ter sido melhores...- e penso de novo naquele 13 a Português...- mas preferia mesmo dizer as notas depois de receber os testes todos.
Enquanto estávamos a ter esta conversa sentia todos a olhar para mim. Sei que se dissesse os resultados dos testes todos iam ficar contentes por mim porque me esforcei mesmo muito. Não é fácil entrar na escola em pleno Novembro quando praticamente a matéria dada é já considerável e tens apenas duas semanas para captar o que conseguires.
Porém, também sei que a Ana iria ouvir o que talvez também não merecia, tenho a certeza que ela também se esforçou. Bem não vou colocar as mãos no fogo, porque sei que ela usa muitas vezes cábulas - ou pequenos papeis conhecidos por auxiliadores de memória - mas quem sou eu para julgar.
- Hum! Vamos fazer um pacto. Tu queres ir a casa dessa tua amiga?
- Sim, ela até me deu o numero do pai dela para falares com ele.- disse com alguma esperança que ele me deixasse ir.
- Muito bem, então se tu me dizeres as tuas notas e eu achar que não são más eu deixo-te ir. Que achas?
- Tudo bem, mas com uma condição: por enquanto só te digo a ti. E quando receber os testes todos, aí direi as notas a todos.
- Por mim tudo bem. Vamos para o escritório?- e segui o meu avô, entrámos, ele foi-se sentar no seu cadeirão e eu na cadeira à frente dele, parecia que estava no gabinete do director da escola...- E então vamos lá saber essas notas, as da Ana não foram más, e sabes que não estamos à espera que as tuas sejam iguais, até porque tiveste menos tempo.
- Porque é que nos estão sempre a comparar? Nós não somos iguais, aliás somos bem diferentes!- bufei para o alto, mas porque é que estão sempre a comparar-nos às duas, desde pequenas que é isto...- Avô promete-me que independentemente das minhas notas não lhe vais dizer nada...
- Dizer o quê? A Ana teve boas notas, estou muito orgulhoso dela e agora vamos ouvir as tuas.
- Tudo bem: 13 a português, sim eu sei, uma porcaria...- comecei pela de Português, sei que assim não vai começar a ladainha do "Ah. E tal as tuas são melhores que as da Ana...", "Ela tem que seguir o teu exemplo...e bla, bla, bla..." - Nem eu acredito que tive um 13, nunca tive uma nota tão baixa na vida, mas eu recupero ou não me chamo Madalena Fernandes...
- Concordo, não foi uma nota boa, mas tenho a certeza que vais subir. Para além disso gostei de saber que tens noção que podes fazer melhor, e que sabes que a tens que subir.
- Ok, continuando: 14 a Filosofia...- Olho para o meu avô, que me olha com um ar não sei se sério por estar zangado ou por querer rir e não querer dar parte fraco...- Bem, Filosofia não é bem o meu forte, é tudo muito vago, muito filosófico...
- Muito Filosófico. Entendo, bem não foi mau. Tenho a certeza que se te esforçares um pouco mais vais também conseguir subir. Senão me engano a Ana teve 16, podes sempre à tua prima que te ajude...
- Se não te importares, prefiro pedir ajuda à Rute. Acho que Filosofia é algo que a fascina mesmo, ela teve 20. Acho que só mesmo ela para conseguir perceber aquilo.
- Começo a gostar mais dessa tua amiga, 20 a Filosofia não é para todos.- e dá um daqueles sorrisos de canto que tanto nos caracterizam aos dois.
- Bom, para finalizar tive 18 a Biologia e 19 a Matemática. Acho que dá para perceber que são as minhas disciplinas preferidas.
- Madalena. Eu não percebo porque não quiseste contar a todos na cozinha as notas. Foram notas magníficas para toda a matéria que tiveste que aprender no tempo que tiveste, e comparando com...
- Não, pode parar. Vês por isso não queria dizer, estão sempre a comparar-nos. E a Ana também teve boas notas.
- Não te estou a comparar com ninguém, ambas tiveram notas muito boas. Mas...
- Mas nada, nós somos diferentes. Avô não digas nada à Ana, nem a ninguém, por favor? Nós combinámos, foi o nosso acordo?
- Dizer o quê? Que tenho orgulho das duas? Não percebo essa tua atitude, mas prometo que não lhe digo nada. Bem dá-me logo o número do pai da tua amiga e vai fazer a mochila. Madalena nada de sair à noite.
- Obrigado, a sério. Prometo que nós não vamos sair, a Rute diz que a mãe dela é perita em jogos familiares.- e antes de sair dou-lhe um abraço e um beijo.
Eu nem acredito que o meu avô me ia deixar ir, a sério eu ainda estava meio que parva. Sei que provavelmente tem a ver com o facto de ter tido boas notas, mas nunca pensei que autorizasse, afinal depois de tudo o que se passou em Lisboa ainda me persegue, apesar de eu não me lembrar de nada, sei que de alguma forma os meus avós, os meus tios e até o Pedro me culpam. Acho que até eu me culpo de certa forma, e nem sei exactamente do que me culpo.
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