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Capítulo 2 - A Missa

- Odeio-vos. Odeio esta casa, odeio esta cidade, odeio a minha vida. Quem me dera ter morrido como a mãe.- E saí­ da cozinha tão depressa como disse todo aquele discurso.

Sei que provavelmente ficaram a olhar para mim, não sei se ficaram admirados ou em choque. Assim que cheguei ao quarto, que não era só meu. Sim, ao contrário da casa de Lisboa onde apenas dividia o quarto com a Lu, em Coimbra tinha que dividir com as três. O quarto era grande, tinha um daqueles beliches com três camas onde dormiam as mais pequenas e uma cama de solteira para mim. Não me levem a mal, adoro as minhas irmãs, mas sou uma adolescente preciso da minha privacidade.

Deitei-me na minha cama e abafei os meus gritos na almofada. Eis que de repente sinto alguém a fazer-me festas nas costas, levantei os olhos e vi a minha avó Cândi (o nome dela é Cândida, é mãe do meu pai, e é um doce...) e sei no fundo que tudo o que disse na cozinha a magoou, não era direcionado exatamente para ela. Acho até que não o disse para ninguém em concreto, simplesmente saiu.

Sabem, aquelas coisas que nos saem da boca para fora sem pensar? Foi mais ou menos isso, apesar de sentir na realidade tudo aquilo que disse. Odeio a minha vida agora, odeio ter tido que mudar de cidade, de casa, de escola; odeio o caos em que a minha vida se transformou desde que há um mês fiquei sem a minha mãe, e de certa forma sem o meu pai.

A minha avó continuava a tentar acalmar-me. Sim porque mais uma vez não consegui evitar as lágrimas e mais uma vez a minha grande promessa de nunca mais chorar foi quebrada. O que mais me irritava é que não só me estavam a obrigar a ir uma missa, que não tinha sentido nenhum, (se ao menos o ir fizesse com que ela voltasse, bem se isso fosse verdade eu ia à missa todos os dias e a todas as horas possíveis, mas não...nada a vai trazer de volta...), eu ainda tenho que vestir AQUELE vestido.

Alguém por favor podia explicar aos meus avós o porquê de eu não vestir AQUILO? Tipo primeiro "aquela coisa" não é de todo o meu estilo (preto e infantil), e se isso por si só não chegasse, foi o vestido que "me obrigaram" mais uma vez, a usar naquele dia. Tudo bem talvez tenha exagerado ao colocar umas calças de ganga e uma T-shirt, mas AQUELE vestido! (sim e continuo a dizê-lo com ênfase...). Não, recuso-me a vestir, e nem que chamem os bombeiros, a polícia ou mesmo o Papa. Recuso-me a vestir AQUILO.

- Madalena, sei que tudo é complicado, sei que o deves estar a sentir. Sei que estás a sofrer minha menina, mas porque é que não vestiste o que te deixei aqui?

- Eu não vou vestir AQUILO. E nem tu, nem o avô e nem mesmo o Papa me vão obrigar a vesti-lo.

- Mas é o único vestido preto que tens, e já o usaste no dia do funeral não vejo qual é o problema...

- Exatamente por isso, já o usei. Não pretendo usá-lo nunca mais na minha vida, aliás podes queimá-lo...

- Ah! Já percebi, o funeral...então é esse o problema. Madalena...

- Já te disse não há nada que me possas dizer que me convença a vestir AQUILO, só mesmo morta...- a minha avó olha para mim com uma lágrima no canto do olho...- desculpa...

- Nunca mais digas isso, ouviste? Eu, não te vou obrigar a vestir algo que não queres. Vamos ver no armário outra coisa para vestires, algo que te agrade a ti e ao avô?

- Por mim ficava em casa, por favor avó deixa-me ficar. Para quê esta missa? Os avós e os tios nem estão cá, para quê tudo isto?

- Os teus avós e os teus tios também vão, mas em Lisboa. E sabes que não posso fazer nada, faz isto por mim, pode ser?

- Tudo bem, mas sabes que nada vai voltar a ser como antes, nada vai alterar o que aconteceu, nem uma missa.

E pronto lá estavam de novo a porcaria das lágrimas a descer pela minha cara, não consigo evitar, que raiva que tenho de mim mesma. Por que é que não me consigo controlar? Por que é que não consigo controlar as lágrimas? Finalmente a minha avó percebeu na realidade qual era o problema, não era vestir ou não o vestido. Nada disso, o que era um vestido preto, mesmo que feio e infantil, perante o facto de não ter a minha mãe comigo? Porque haver ou nãoo uma missa não faria a minha mãe voltar, nada no mundo a traria de volta. E eu só a queria aqui comigo... 

Ela simplesmente me abraçou e no final pegou nas minhas mãos e levou-me até ao meu armário, mas encontrar alguma coisa ali era quase a missão impossível. Eu podia ser organizada na escola ou em outras coisas da minha vida, mas em roupa eu era mesmo uma desgraça. Costumava dizer à minha mãe, que tudo estava arrumado dentro da minha organização esquisita.

Lá conseguimos as duas encontrar um vestido cinzento que não era muito curto e que a minha avó achou que o avô Carlos não iria refilar, calcei as sabrinas pretas e coloquei uma encharpe creme para dar um ar mais jovial ao conjunto.

Finalmente, depois de me vestir eu e a avó descemos, quando passei pela sala nem olhei para o meu avô. Doía-me sentir cada dia que passava estávamos assim tão distantes. Antes de tudo acontecer, éramos tão unidos. Todos estranhavam a nossa relação, todos achavam que ele por eu ser menina nunca criaria esta ligação comigo. Mas , a verdade é que desde que me lembro que éramos inseparáveis.

Senti-lo afastado, sentir que ele nunca iria conseguir entender o porquê de todas as minhas reações. Se fosse o meu avô de antes, ele pegava em mim e levava-me ao nosso jardim e sentada ao seu colo ele deixaria que eu chorasse tudo o que me ia na alma e depois pedia que eu lhe contasse o que se passava. Era sempre assim, contudo, agora para ele o que interessava era que todos cumprissem as 'suas regras".

Fui tomar o pequeno-almoço com a minha avó, todos já tinham acabado o seu. Ninguém falou do que tinha acontecido, e de certa forma agradeci. Apesar de sentir tudo o que tinha dito não me apetecia muito ter mais uma discussão àquela hora e naquele momento. Assim que acabámos e termos arrumado a cozinha, fomos vestir os casacos e rumámos em direção à Igreja.

Quando lá chegámos, fomos rodeados por pessoas que nunca tinha visto na vida, outras que se apresentavam como primos, ou tios, ou o raio que parta. A maioria daquelas pessoas nem conheciam a minha mãe e outras mal conhecem o meu pai. Porém, nestas situações há sempre que apresentar os pêsames à família...

Ahhhh! Que raiva. Família? Onde raio que estava a família da minha mãe? Eles nem sequer cá estavam. Todos eles moravam em Lisboa, onde eu queria estar. Ainda implorei á minha Tia Marta para ficar com ela. A Tia Marta é irmã mais nova da minha mãe, e para além de ser minha tia ela é minha madrinha e, o marido, o meu Tio Luí­s é o meu padrinho. Foi tipo uma troca: eles são os meus padrinhos e os meus pais são os padrinhos da minha prima Leonor que tem apenas uns meses de diferença de mim.

Mas deixaram-me ter essa hipótese de escolha? Não. Claro que não, o meu Avô Carlos não permitiu. Segundo ele, nós tínhamos que estar onde estava o meu pai, e já que ele veio para o Hospital de Coimbra lá viemos nós de Lisboa para Coimbra. Podem estar à vontade e dizer o que pensam, o meu avô é completamente retrógrado e caprichoso.

A minha Tia Cátia, a irmã do meu pai, o Tio António e os melgas dos meus primos o Afonso, a Ana, e a Catarina (a minha abelhita, era como eu a chamava...) falavam com os ditos primos, tios-avós, sobrinhos-netos, primos em vários graus, afilhados, etc. Era uma cornucópia de parentes que eu nunca tinha visto na vida. Neste momento cheguei a uma triste conclusão: que só conseguimos perceber o "tamanho" da nossa famí­lia quando vamos a casamentos e a funerais.

Também havia muitos amigos da minha mãe e do meu pai do tempo da escola. Tudo aquilo estava a chatear-me, fazia me lembrar o que mais eu queria esquecer: o dia em que a perdi, o dia do funeral. O dia em que finalmente percebi, que tudo era real, tudo era verdade.

Porque até àquele dia eu estive a viver numa outra realidade, em que tudo estava adormecido à minha volta. E no dia do funeral algo me abriu os olhos, ver a minha mãe ali no caixão fez com que eu acordasse dessa realidade paralela. Por fim dei-me conta que a tinha perdido, que o sol que iluminava o meu céu tinha desparecido de vez. Que para sempre me ia falrar uma peça no puzzle que era a minha vida.

No meio de abraços, beijos, cumprimentos...lembrei-me do dia em que acordei no hospital, o dia em que finalmente me contaram sobre o que acontecera aos meus pais. No meio de toda a confusão que estava na minha cabeça, a única coisa que percebi foi que eu não estava com eles e que o meu acidente e o acidente deles tinham sido em momentos diferentes.

"Acordei...mas aquele não era o meu quarto...estou num lugar estranho, com um cheiro estranho. Estou assustada. Quero gritar, chamar alguém...mas não posso, tenho um tubo na boca. Tenho uma agulha espetada no braço direito, e o esquerdo está com gesso.

Doí-me tudo, juro que até a ponta do cabelo me doí. Não há nada no meu corpo que não me doí. Quando estou quase a desistir, e a fechar de novo os olhos, aparece alguém. Diz que eu estou no hospital, mas que está tudo bem, que a minha família já esteve comigo e que logo voltaram para me ver de novo.

Bem, pelo menos os meus pais sabem onde estou mas o que é que me aconteceu, não me lembro de nada. A última coisa que me lembro foi de estar a arrumar a mla para as nossas férias, e depois...nada, não me vem nada à memória. Não me lembro de nada a partir desse momento.

Volto a fechar os olhos, acho que os remédios que me estão a dar para as dores devem ser muito fortes, porque as dores estão a desaparecer...se bem que os pesadelos voltam num piscar de olhos. Ouço alguém a falar comigo, longe, muito longe. Não sei o que ele está a dizer, não o consigo perceber, até parece que está a falar chinês. Sinto um leve toque na cara, é como se me estivesse a dar um beijo...um leve e suave beijo.

Quando abro os olhos de novo, vejo os meus tios e os meus avós. Estão com olheiras, devem ter passado a noite em claro. Quando a minha tia se aproxima percebo que tem os olhos vermelhos e inchados, esteve a chorar, tenho a certeza. Procuro pelos meus pais...eles não estão ali, alguma coisa se passou...eu sinto.

Observo os quatro adultos que estão ali naquela sala e a pergunta que me está na garganta não sai. Primeiro porque ainda tenho a porcaria do tubo, mas principalmente porque não a quero fazer. Não pode ser verdade, o que estou a pensar não pode ter acontecido. Os meus olhos começam a ficar molhados, a respiração começa a ficar pesada...tudo apita...e deixo de os ver, está tudo negro de novo...um imenso mar de escuridão.

Quando ao fim do que me parece uma eternidade abro de novo os olhos, apenas a minha tia Marta está no quarto...tento falar...continuo a ter a porcaria do tubo na boca...mas não consigo aguentar mais, e por mais que me custe tenho que fazer a pergunta, tenho que saber...

- Tia...a mãe?- ainda tenho o tubo na boca...não é fácil falar...a minha garganta está seca parece que esteve no deserto do Saara...- Água...- peço logo a seguir.

- Calma Madalena, toma só um bocadinho...- colaca-me uma gaze humedecida com água, o suficiente para me molhar os lábios e o céu-da-boca...

- Onde estão? A mãe...o pai...porque não estão aqui?

- Madalena, tenho uma coisa para te dizer, mas preciso que tenhas calma, preciso que me ouças até ao fim.

- Tia...não, o pai e a mãe...estão bem? Eles...

- Nena, (é um diminutivo um pouco estranho, eu sei...mas a minha prima Leonor tem a mesma idade que eu e chamam-lhe nono, então eu fiquei a Nena)...houve um acidente e a tua mãe...- deixei de ouvir... - o teu pai ....- de novo deixei de conseguir ouvir...-...tens que ser...

- Não...não...não. É um pesadelo, eu quero acordar...eu não quero...não quero viver...

Começou de novo tudo a apitar, a enfermeira entrou e colocou qualquer coisa no soro e entrei de novo na escuridão.

Depois disto não me lembro de muito mais, era como se estivesse numa outra dimensão, tudo o que fazia era mecânico, era como se fosse um robot e fizesse o que me competia. Mais tarde soube o que tinha acontecido, mas apenas acordei desde estado de sonambulismo no dia do funeral para onde fui arrastada. Depois? Depois como já sabem obrigarem-me a vir para Coimbra, a deixar tudo o que conheci um dia. Num piscar de olhos tudo o que tive um dia desapareceu...

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