Capítulo 14 - Mimos de Mãe
- Não esperamos pela mamã, só um bocadinho.- pergunta uma Rute com a sua voz de rainha do melodrama.
Faz aquela carinha que sempre fez quando quer alguma coisa e que sempre leva, pois é impossível resistir a tanto melodrama. Depois daquela só conseguimos rir. Graças a Deus temos uma ratinha nesta casa, ela é sem dúvida a alegria desta família.
Estava no meu quarto quando alguém bate à porta, demoro algum tempo a sair deste meu estado de letargia. Não me apetece ver ninguém, não quero falar com ninguém e muito menos ouvir mais um sermão. Estou cansado de se meterem na minha vida, principalmente a Mara, sei que a magoei quando lhe disse aquilo, sei que fui longe demais, mas estou sem chão, não sei o que fazer ou pensar.
Deixo-me estar onde estou, num dos cantos do meu quarto, encolhido com a cabeça entre os joelhos, mas o "alguém" que está à porta não desiste e continua a bater.
- Não quero falar. Deixem-me em paz...- digo alto para que quem quer que esteja do outro lado me ouça.
- Diogo. Sou eu a mãe, posso entrar? Podemos falar?
- Não quero falar com ninguém. Quero ficar sozinho, por favor...- as palavras saem um pouco engasgadas por conta do meu choro.
Acham mesmo que isso iria impedir a Dona Dulce de entrar? Claro que não. Nada iria impedir a minha querida mãe de fazer o que ela queria, e assim abriu a porta, mesmo eu pedindo para não o fazer. A porta! Bolas! Pensei que a tinha fechado, devo ter-me esquecido de a fechar à chave depois que a Rute saiu. A minha ratinha veio ter comigo assim que me ouviu fechar a porta, estava com uma cara assustada, deve ter ouvido não só a nossa discussão na sala, como todo o barulho que fiz no quarto.
Aliás parece que passou um furacão por aqui. Com a raiva com que estava atirei com tudo para o chão, e quando digo tudo, foi mesmo tudo. Antes da minha mãe fechar a porta, consigo ouvir o meu pai.
-"Esperamos pela tua mãe. O Diogo hoje é melhor nem aparecer, o melhor que ele faz é ficar no quarto a pensar na vida."
- Também não estava a pensar sair daqui hoje.- disse com um ar de raiva, tristeza, frustração, tudo misturado.
- Diogo.- a minha mãe olha para o quarto, acho que sei o que está a pensar.- Espero que tenhas uma boa criada para te arrumar o quarto, porque eu não te vou arrumar isto.
E depois de dizer a última frase desfaz-se numa gargalhada. Acho que ela queria que eu me risse também, mas sinceramente não tenho vontade. Confesso, no entanto, que se as circunstâncias fossem outras até tinha sido uma boa piada: primeiro nós não temos empregada e segundo eu nem dinheiro tenho para mandar cantar um cego, quanto mais para pagar a uma empregada.
- Mãe.- e olho para ela sentindo já uma lágrima a querer escorrer.
Ela senta-se na minha cama, que neste momento já nem tem lençóis, e com os abraços abertos chama por mim. Levanto-me do chão, deito-me na minha cama e coloco a cabeça sobre as suas pernas como fazia quando era pequeno. Como tinha saudades destes mimos, mas quando somos rapazes e crescemos começamos a pensar que este tipo de coisas são para meninas. Posso garantir-vos que mimo de mãe é bom em todas as idades.
- Diogo, sabes que o que disseste à Mara foi muito grave, tu magoaste-a e muito.- quis falar mas ela não me deixou e continuou.- Eu sei, e ela no fundo também sabe, que foi dito no calor da discussão e que tu a adoras. Mas sabes o que tens a fazer, certo?
- Eu sei, fui horrível com a Mara. Tu sabes que ela é muito mais que minha irmã.- calo-me durante uns segundos, respirando fundo. talvez tomando coragem para falar.- Estou perdido mãe, não sei o que fazer, o que sentir e ela hoje só sabia me recriminar.
- A Mara nunca te recriminaria, ela adora-te. Tu és e sempre serás o irmãozinho dela.
- Mas hoje eu precisava era dela ao meu lado, precisava dos conselhos da minha irmã e não das palavras que ela me deu, não precisava de sermões mãe. eu apenas queria a minha irmã, e não a minha segunda mãe.
- Diogo, estás a ser injusto com a Mara.
- Não, não estou. Eu só queria que ela tivesse feito isto que estás a fazer, pelo menos cá em casa.
- Vou-te fazer esta pergunta uma vez, e quero a verdade. O que é que fizeste naquele quarto de hospital, que deixou a tua irmã tão zangada?
- Eu...
Não quero dizer-lhe, mas sei que a minha mãe não me vai deixar em paz até o ouvir. Ahhh!! Que se dane mais sermão menos sermão que importância tem, até já devia estar habituado. E sei lá até pode ser que a minha mãe me ajude a perceber o que vai na minha cabeça, mas principalmente no meu coração.
- Eu beijei-a. Eu beijei a Madalena. Foi isso que a Mara viu.
- Tu beijaste-a! Diogo ela tem a idade da tua irmã.- eu quero responder mas de novo ela não me deixa continuar...- Tu gostas dessa miúda mesmo, ou é apenas algo passageiro?
- Não sei mãe, acho que gosto. Pelo menos o André diz que eu estou completamente apaixonado. Não sei se é paixão ou se é amor, só sei que me sinto diferente quando estou com ela, quando a vejo sinto uma necessidade indescritível de a proteger de tudo.- disse-lhe tudo o que sentia o mais sinceramente possível. Não sei se era Amor, mas com certeza era algo.
- Mas tu nem a conheces filho, como é que podes estar apaixonado. Viste-a o quê, umas duas vezes.
- Mas aí é que está, eu conheço-a mãe, e quando me apercebi quem era não consegui deixar de pensar nela.
- Diogo não estás a fazer sentido. Como é que podes gostar, amar alguém, seja o que for que dizes estar a sentir, que há horas atrás nem te lembravas quem era.
- Porque...Ai mãe, é uma história muito longa, e o pai está a espera de ti para jantar.
- O teu pai não está sozinho, pode jantar quando quiser, por isso tenho todo o tempo do mundo, podes começar a falar.
- Conheci-a em Lisboa durante as férias.- E comecei a contar-lhe toda a minha história com a minha "Rainha da Noite" a "Minha Anja".
"Este ano os meus pais decidiram ir passar férias a Lisboa. Sim Lisboa. Tantos sítios para ir tipo: Paris, Londres, até Madrid seria mais fixe. Mas não o meu pai tinha trabalho e a minha mãe queria passar um tempo com a minha tia e com a minha avó.
Estas seriam talvez as férias mais sem graça dos últimos anos. Fomos apenas os quatro: os meus pais, eu e a Rute. A Mara estaria a trabalhar pois não tinha conseguido férias e o Miguel iria lá ter por uns dias, já que conseguira ter uma folga nos estudos.
A casa dos meus tios não era um palácio, se bem que comparativamente à nossa em Coimbra podíamos dizer que sim, sempre achei a nossa grande, mas a dos meus tios supera. E era grande o suficiente para todos: os meus pais ficavam no quarto de hóspedes, eu e o Miguel (assim que ele chegasse de Londres onde estava a tirar o Mestrado em Administração) iríamos partilhar o sótão com o meu primo Simão, que tinha sido remodelado apenas para ele.
A Rute, como sempre iria partilhar o quarto com a nossa prima Gabriela, elas tinham uma diferença de um mês entre elas e muitas vezes pareciam mais gémeas que outra coisa, aquilo que uma fazia a outra ia atrás.
Saímos algumas noites os quatro, se bem que pela Gabi e pela Rute saiam todas as noites, mas com alguma diplomacia a minha tia e a minha mãe conseguiam, de vez em quando, convencê-las a ficar algumas noites em casa.
O que fazia o meu pai radiante pois não gostava que a sua menina andasse por aí à noite, apesar de não estar sozinha. Mas a Rute era a sua princesa, e em vez de saírem a Gabi convidava as amigas para passar o dia com elas o que muitas das vezes levava a passarem a noite também.
Nesses dias, eu e o meu primo aproveitávamos para sairmos sozinhos, claro que quando o Miguel chegou saímos os três. E foi numa dessas saídas que eu a vi pela primeira vez, era linda: cabelos loiros mas não muito claros e uns olhos verdes como nunca tinha visto.
Fiquei verdadeiramente encantado por toda aquela vista, pela maneira que se vestia devia ter uns 17 para 18 anos, estava com um vestido vermelho acima do joelho, umas sandálias altas com salto e um Bolero de cabedal preto que logo tirou. Tinha um corpo de menina, mas toda uma atitude de mulher...era fascinante olhar para ela.
Naquela mesma noite meti conversa com ela, disse que se chamava Natália e tinha 18 anos. Falamos durante um tempo mas logo voltou para os amigos e assim que lá chegou ouvi um verdadeiro coro de gargalhadas."
- Então conheceste-a em Lisboa?- assenti...- Mas ela mentiu-te? Diogo tu envolveste-te com ela?
- Não. Não da forma como estás a pensar. Posso continuar?- assim continuei a contar a minha história com a "Rainha da Noite/"Minha Anja".
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