Capítulo 13 - A Reprimenda
- A conversa contigo acabou Mara. Tu não és nem minha mãe, nem meu pai. Tu não és nada meu, és apenas minha meia-irmã.- ouvir aquilo fez o meu coração estilhaçar-se em mil bocadinhos.
Sim, por sangue eu era apenas sua meia-irmã, mas nunca nos tratámos assim, nunca nos sentimos assim. Para mim o Diogo sempre foi muito mais que isso, sempre foi tudo para mim. Mas a sua raiva era tanta, que não mediu o que disse e depois de o ter pronunciado continuou o seu caminho até ao seu quarto.
- Diogo pede imediatamente desculpa à tua irmã.- grita o meu pai.
- Diogo! - eu estava branca, tonta e até enjoada, mas calmamente disse-lhe...- Nós temos que continuar esta conversa não te podes esconder para sempre.
- Chega , os dois. Deixa o Diogo...- disse minha mãe impedindo-me de subir até ao quarto do Diogo.
- Mãe. Ouviste o que ele disse? Ele...ele...- e não aguentei mais as lágrimas simplesmente começaram a cair que nem uma fonte. A minha mãe abraçou-me tentando acalmar-me, como tantas vezes ela já o tinha feito ao longo dos meus 28 anos.
- Eu ouvi, e sabes bem que apenas o disse porque está com raiva.
- Sei, claro que sei, mas não é por isso que me dói menos, não é por isso que não me feriu...
- Eu sei minha querida. E ele não o devia ter feito, mas tu sabes que ele te adora.
- Sei. Mas isso não quer dizer que ele não tenha errado e que eu não esteja zangada com ele.
- Ele já disse que errou, já disse que não a vai ver mais...
- Acreditas mesmo nisso, disse-o ontem e na primeira oportunidade foi lá: sem autorização, às escondidas. Vocês sabem o quanto nós somos ligados, mas o que o Diogo fez hoje, o que ele acabou de me dizer.
- Mara tem calma, por favor. Não foi assim tão grave, ele errou sim mas ninguém soube e ninguém vai saber.- Diz Martim que até aí se tinha mantido sem proferir uma palavra.
- Não foi grave? Martim! Só não o foi porque eu o vi lá antes da família o ver. Nem quero imaginar se um deles entrasse pelo quarto adentro e visse o que o vi.
- Mara afinal o que é que o teu irmão fez de tão grave para estares assim tão furiosa?
Penso bem antes de falar, se eu contasse sobre o beijo sei que o Diogo irá ficar em maus lençóis. Conheço o nosso pai o suficiente para saber que ele irá fechar o Diogo no quarto às sete chaves. Então decido que não lhes vou contar nada, mesmo que ele tenha acabado de dizer o que disse, eu adoro o meu irmão e sei que ele me adora.
- Não basta o facto de ele ter entrado no quarto da UCI sem ter autorização. Ele é meu irmão mas isso não lhe dá livre acesso a tudo...
- Mara, tudo bem ele errou e já assumiu o erro, para quê continuar esta discussão. Quando ele se acalmar ele vai falar contigo como um menino pequeno arrependido, como sempre faz.
- Desta vez não vai ser assim tão fácil, ele magoou-me muito, e não estou a falar da cena do hospital, estou a falar do que ele me disse aqui.
- Esta discussão não acabou, o nosso filho vai ter que me ouvir ainda.- disse o meu pai pronto para subir até ao quarto do Diogo.
- Tu não vais a lugar nenhum neste momento.- a minha mãe coloca-se à frente do meu pai. - Pelo menos não por agora, estão os dois de cabeça quente. Vão dizer o que querem e o que não querem. Por isso vão mas é acalmar-se os dois primeiro. Martim ficas para jantar?
- Seria um prazer, mas não quero incomodar.- o meu amor sempre educado e delicado.
- É óbvio que não incomodas, Mara vai à cozinha e coloca mais um prato na mesa. E tu...- virando-se para o meu pai...- sê um bom anfitrião e oferece uma bebida ao Martim, eu vou lá acima chamar a Rute para ajudar a Mara. E vou tentar falar com o Diogo.
- Porque é que tu podes ir falar com o Diogo e eu não?
- Ó Homem estás a ficar surdo? Vocês agora só iam piorar as coisas, tu estás nervoso e ele estás nervoso, se falarem agora só vai sair dessas bocas o que não querem. Por isso vais ser um bom marido e um bom pai e vais fazer o que eu te estou a dizer.
E dito isto a minha mãe dá um beijo ao meu pai e sobe, passa primeiro pelo quarto da Rute pedindo-lhe que me vá ajudar o que ela faz sem refilar. Ela adora passar tempo comigo, e eu adoro a nossa ratinha, sou mais velha que ela 12 anos por isso muitas vezes sou mais mãe dela do que irmã.
Apesar de eu lhe fazer quase sempre as vontades, mas é que não consigo dizer-lhe que não. É a nossa princesa, a nossa bebé. Assim que chega ao pé de mim abraça-me e faz uma cara que eu só tenho vontade de rir, a sério esta miúda devia ser actriz.
- Ok, quem é que está a morrer? Tu ou o Diogo?
- Rute!! Que pergunta é essa? Ninguém está a morrer, a sério às vezes acho que não és deste mundo.
- Eu estou a falar a sério, um de vocês tem que estar a morrer, tipo um de vocês deve estar mesmo muito mal. Vocês nunca discutem, nunca gritam um com o outro.
- Ratinha.
Agora percebi, ela está preocupada com o que se passou na sala, deve ter conseguido ouvir tudo o que dissemos, afinal não estávamos a falar baixo, e de facto ouvir-nos a discutir é no mínimo estranho, nós nunca discutimos, pelo menos assim desta forma.
- Sério, não me vais contar, pensei que era a tua irmã preferida...- e faz uma cara de cachorrinho abandonado.
- E és, até porque não tenho outra.- e rimos as duas..- Não preocupes essa cabecinha, tudo vai ficar bem.
- Não, não vai. O Diogo está mal, eu ouvi-o entrar no quarto e acho que basicamente deve ter destruído o quarto todo.
- Ai, que exagerada Ratinha! Tenho a certeza que não foi assim tão dramático.- e não consegui deixar de dar uma gargalhada com o que ela disse. Esta miúda tem veia de artista só pode.
- Foi sim, eu tentei falar com ele. Ele abriu a porta, deu-me um abraço e pediu que o deixasse sozinho. Assim que fechou a porta de novo consegui ouvi-lo, estava a chorar e tu sabes que ele nunca chora.
Olhei para a Rute, e percebi o olhar preocupado dela e agora também eu estava preocupada. O Diogo nunca chorava, a única vez que o vi chorar foi no dia do enterro do avô Sebastião, nosso avô materno. Se bem que eu não era neta dele de sangue, sempre me tratou como tal.
Assim como a Dona Dulce, conquistou-me com a sua candura e a sua capacidade de me fazer feliz com pequenos gestos. Para mim ele simplesmente foi o avô que a vida me deu, uma vez que os a minha mãe biológica já não tinha pais.
Mas o Diogo sempre foi o neto preferido do avô Sebastião, eram unha com carne. Acho que às vezes o meu pai até ficava com ciúmes daquela relação, e quando ele morreu o Diogo chorou durante dias. E foi a única altura que me lembro de o ver chorar...depois disso só hoje.
- Não te preocupes ratinha, a mãe está com ele. E assim que ele se acalmar eu falo com ele.
- Mas afinal o que é que aconteceu? O que é que ele fez? Ele vai outra vez para aquele lugar horrivel?
- EI! Rute, o Diogo não vai a lado nenhum. Não te preocupes...anda cá.- e abracei a nossa ratinha. Ela era pequena quando o Diogo foi para o reformatório, mas algo pelos vistos ficou nesta cabecinha.
Depois desta nossa conversa e de acabarmos de colocar a mesa, fomos ter com o Martim e o nosso pai. Enquanto ela se atirou para o seu colo, fazendo com que o meu pai desse um leve grito, mas a nossa ratinha logo o fez rir ao lhe dar um dos seus apertados abraços. Eu sentei-me ao lado do Martim, que para além de ser meu colega no hospital era meu amigo de infância, e agora era também meu namorado apesar de ninguém ainda o saber, e com toda esta confusão que o Diogo aprontou acabamos mais uma vez por adiar a revelação do mesmo.
- Vamos jantar, ou esperamos pelo Diogo e pela mamã?
- Esperamos pela tua mãe. O Diogo hoje é melhor nem aparecer, é melhor ficar no quarto a pensar na vida.- diz o meu pai com uma voz de ira.
Sei que o Diogo abusou no que disse, no entanto, tenho a certeza que foi tudo da boca para fora. Ele estava nervoso, confuso mesmo, e de certa forma a sofrer pelo que está a sentir e não pode.
- Pai. O Diogo errou mas acho que ele está mesmo a sofrer.
- É pai, o Diogo está a chorar. E tu sabes que ele nunca chora, nunca mesmo.- diz a ratinha.
- Mara. - o meu pai olha para mim com aquele olhar que só ele me dá quando quer alguma coisa.- Tu sabes de alguma coisa não sabes?
- Mesmo que soubesse, há coisas que não me competem a mim dizer-te. Ele está a falar com a mãe e ela sabe como lhe tirar as coisas lá de dentro sem precisar de muita ginástica.
- Nisso tens razão, a tua mãe sabe falar com vocês e tirar de vocês tudo sem esforço nenhum. Tirei a sorte grande com ela.
- Tens razão, tiraste mesmo. E eu também, tenho a melhor mãe do mundo graças a ti.- e olho para o meu pai com um olhar cheio de amor e agradecimento pela mãe maravilhosa que ele me deu...- Vamos jantar?
- Não esperamos pela mamã, só um bocadinho.- pergunta uma Rute com a sua voz de rainha do melodrama.
Faz aquela carinha que sempre fez quando quer alguma coisa e que sempre leva, pois é impossível resistir a tanto melodrama. Depois daquela só conseguimos rir. Graças a Deus temos uma ratinha nesta casa, ela é sem dúvida a alegria desta família.
Quero agradecer a este grupo por me ter ajudado a promover esta história. O meu primeiro original de raiz a chegar aos 1K...
Obrigada ap__marques e LuHaubert por me datem a oportunidade de pertencer a este grupo.
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