Capítulo 11 - Amor ou Atração
O André foi buscar o outro caloiro, que pelos vistos era primo, e seguimos os quatro para o hospital. Sim foi a desculpa perfeita para conseguir: fugir do meu pai e ir ver a minha "Anja".
No caminho explicou-nos que se tinham mudado para Coimbra há cerca de um mês e que a irmã tinha fugido, como não conhecia a cidade acabou por se perder. O tio tinha ligado a dizer que já tinha aparecido e que estava no hospital, por isso era importante ele atender.
Acabei por lhe perguntar o nome dela, da irmã. Quando me respondeu fiquei de queixo caído. Como é que isto podia estar a acontecer? Por muito que eu quisesse afastar tudo me aproximava dela. A minha "Anja", a Madalena era irmã do caloiro que "salvei", por muito que todos me afastassem dela, o destino aproximava-nos.
A nossa história parecia que ainda nem tinha começado, quanto mais acabado. Olhei para o André que olhou para mim e me disse entre dentes "Mas que acaso". Mas eu sei, tenho a certeza que tudo isto não é um acaso, não acredito em acasos, não existem, tudo acontece por uma razão. E neste momento tenho a certeza que a minha história com a "Minha Anja", que a nossa história ainda agora começou.
Quando estávamos a chegar o meu telemóvel tocou, era o meu pai, com certeza estava na faculdade à minha espera, resolvi enviar-lhe uma mensagem "Estou com o André, viemos trazer uns caloiros a casa que não se estavam a sentir bem. Já vou para casa.".
Passado alguns segundos recebi a resposta "Espero-te em casa, espero que não estejas a mentir. Vou ligar à Mara".
Claro que ele vai ligar à Mara: primeiro para garantir que eu não estava lá e segundo para garantir que caso estivesse ou aparecesse me mandava de volta para casa. O que eles não se lembram é que conheço suficientemente bem o hospital, sei bem por onde entrar sem ter que me encontrar com a Mara ou quem quer que seja. Quando chegámos os dois miúdos agradeceram-nos e entraram.
- Tens noção que vais ser o herói desta miúda. Salvas-lhe a vida dela e depois a do irmão e do primo.
- Cala-te, eu não o salvei, só ajudei como membro da Associação de Estudantes. E depois nem fio nada demais, qualquer um deveria ter feito o mesmo numa situação daquelas.
- Pois...qualquer um. Mas quais são as probabilidades do caloiro ser irmão da miúda que já salvaste por duas vezes. Diogo, sei que não acreditas, mas, há acasos e acasos...
- Para André, vou ver se a consigo ver. Nem que seja por uns segundos. Espera aqui por mim...- ia já a sair do carro quando de repente me lembrei...- Se o meu pai te ligar, nós fomos levar uns caloiros a casa porque se estavam a passar mal, estamos a lanchar e vamos já para casa...
- Ok...mas vais ficar a dever-me uma...- dei de ombros, se fosse a contar as vezes que já salvei o André, ele ainda me deve muitos favores.
Saí do carro e dirigi-me à zona das consultas, dali fui para o elevador saindo no primeiro andar, passei pela zona da entrada das visitas e encaminhei-me para outro elevador. Entrei juntamente com uma série de outras pessoas e saí no sétimo andar. Dali passei pelas duas enfermarias, com algum cuidado para não me verem, e segui caminho para a zona dos UCI. Agora seria talvez a parte mais complicada.
Quando cheguei bem perto da porta onde ela estava vi a Mara e o Martim. Que beijo é aquele? Que raio é que eles estão a fazer? A Mara disse-me que eram só amigos, ontem negou qualquer envolvimento com ele e agora. A minha querida irmã vai ter muita coisa que me explicar.
Escondi-me num canto até eles se irem embora, o que demorou um bom tempo: entre indicações às enfermeiras e uns tantos mimos entres aqueles dois, passaram-se séculos pelo menos foi o que me pareceu a mim. Finalmente foram-se embora e aproveitei a enfermeira ter entrado noutro quarto para entrar no dela.
Estava tão calma, tão serena. Já não tinha nem metade dos fios que tinha ontem, talvez fosse um bom sinal talvez estivesse melhor. Será que ela me ouve!? Tentei chama-la pelo nome mas ela não reagiu. Nada, nem um piscar de olhos, nem um leve movimento dos dedos, nada. Então fiz algo que talvez não devesse, algo que não consegui evitar - beijei-a.
Embora ela não tenha reagido foi o melhor, o mais doce beijo que alguma vez dei a alguém. E foi como se algo me tivesse aberto os olhos, o coração, todo o meu ser estremeceu. Sim eu sentia algo e já não podia nega-lo. E eu já não o queria negar. Aproximei-me de novo segredei-lhe junto do seu ouvido "Minha Anja, Minha Rainha...volta para o teu Principe." e beijei-a de novo.
- Posso saber o que pensas que estás a fazer aqui Diogo?- a Mara, bolas fui apanhado...- Anda à minha frente, depressa antes que a família chegue.
- Mara...desculpa eu...eu sei que...
- Diogo à minha frente. JÀ.- Raramente eu a via zangada, mas sei que quando ela está desta forma não posso nem devo pensar em dizer alguma coisa. Virou-se para uma enfermeira, sem se quer olhar para mim...- Pode por favor levar o meu irmão até ao gabinete do Doutor Martim?- de seguida olhando para mim...- TU Não sais de lá, percebeste?
Eu apenas assenti e dirigi-me até ao elevador. Olhei para o lugar onde estava a Mara, a família da Madalena estava ali com o Martim, os dois caloiros estavam lá também. Mara é chamada pelo "namorado" e ela dirigiu-se para junto deles.
Entrei no elevador com a enfermeira que olhava para mim sem saber se ria ou se mantinha com um olhar sério. Quando cheguei perto do gabinete do Martim um enfermeiro chegou perto de mim e mandou-me entrar, olhei para ele...
- Escusas de olhar para mim assim. Só estou a seguir ordens da Doutora Mara. Sabes que não deves sair até ela chegar, certo?
- Sim, sim eu sei. Já agora de 0 a 10 quanto é que ela está zangada?
- Tu és irmão dela, devias saber...
- Sei no que se refere a zanga entre dois irmãos. Aqui, ela está mais como uma médica furiosa com alguém que invadiu uma UCI.
- Bem, eu diria que 100. Mas não te preocupes, tenho a certeza que o Doutor Martim consegue acalmar um pouco a fera antes de ela vir falar contigo.
Eles têm alguma coisa um com outro, eu sabia: depois do que vi à porta do quarto e agora com esta do enfermeiro. Ele não foi explicito, contudo a forma como ele disse aquela última frase"tenho a certeza que o Doutor Martim consegue acalmar um pouco a fera...".
Agora tenho um trunfo na manga se ela me chatear muito. Ou talvez não, neste momento eu era um irmão que estava muito encrencado, não sei se atirar à cara da Mara que também ela estava a esconder algumas "coisas" ajudaria muito a minha situação.
Resolvi mandar uma mensagem ao André: "Fui apanhado pela Mara. Estou à espera do sermão. Já te digo alguma coisa."
Passado alguns segundos ele respondeu-me: "Mal. Ao menos conseguiste ver a miúda?".
Foi a minha vez de responder: "Sim vi-a...e...beijei-a. Não consegui evitar, foi mais forte que eu...".
Ele respondeu-me quase logo de seguida: "Diogo tu estás maluco, a miúda é menor...".
Porra, porque é que todos me dizem a mesma coisa, parece que têm o disco riscado. Eu sei que ela é menor, o que é que eu posso fazer, não é como se o "amor", ou sei lá o que sinto: atracção, paixão, o que quiserem chamar tivesse um botão de On/Off.
Eu não procurei isto, aliás tentei afastar-me disto e afastar-me dela, estava longe de pensar que a poderia encontrar de novo, que me podia sentir assim por uma miúda. Mas aconteceu, e não o consigo evitar, e neste momento nem o quero evitar mais. E depois nem sei se ela sente o mesmo por mim, nem sei se ela se vai interessar por mim, provavelmente tudo vai ficar por aqui...um beijo roubado.
Estive sozinho naquele consultório mais do que queria ou podia, o meu pai já devia andar louco à minha procura. Depois uma boa meia hora, no que a mim me pareceram séculos á espera que a Mara aparecesse, o meu telemóvel vibrou dentro do bolso das calças.
Peguei nele vi que tinha recebido duas mensagens quase seguidas: a primeira do meu pai a dizer que estava à minha espera em casa, pelo que li esperava-me um bom sermão (por ter saído da faculdade sem ele...e por me estar a demorar tanto) e a segunda do André a dizer que o meu pai lhe tinha ligado a saber de mim e que lhe estava a dever mais uma pois ele tinha-me safado de mais esta.
Se bem que não sei se me vou safar desta, tenho a certeza que a Mara vai contar ao nosso pai que eu estive no hospital e provavelmente contar o que ela viu.
De repente a porta abre e vejo não só a Mara como o Martim. Estivemos os três em silêncio durante alguns segundos até que a Mara olha para mim, ela tenta começar a falar mas parece que se arrepende na hora H, sem saber o que dizer. Mas ela sabe que não precisa de me dizer nada, só o olhar dela me diz tudo: decepção, desilusão, mágoa.
Eu tenho noção que não o devia ter feito, eu sei que foi errado por muitas razões, eu sei que ela já me tinha avisado e não era preciso ela dizer nada porque no fundo eu tinha a plena consciência que o que fiz foi errado sobre todos os ângulos possíveis. Por isso decidi acabar com aquele silêncio esquisito...
- Não precisas de dizer nada. Eu tenho consciência que o que fiz está errado, que não o devia ter feito...e que estou proibido de voltar a vê-la.
- Tu sabes? Tens consciência? Diogo...- ela olha para mim e senta-se na cadeira...- Tu pensaste que podia ter sido um dos familiares dela a entrar naquele quarto? Tu pensaste nos problemas que...
- Já te disse que não pensei, já te disse que errei...- neste momento eu já gritava, não sei o que mais ela queria que eu dissesse.- Não sei o que queres mais de mim...
- Diogo, tens noção que podias ser acusado de...sei lá uma série de coisas. E desta vez Diogo, não ias parar ao Reformatório, era a prisão. E para de gritar...
- Desculpa, eu...- a Mara tinha razão, desta vez era prisão na certa...- Eu não sei o que te diga mais, eu só não sei o que fazer. Ajuda-me, por favor?
- Explica-me como é que queres que te ajude numa doidice destas?
- Eu não sei Mara. A verdade é que nem eu sei o que se passou, o que sinto. Está tudo confuso aqui dentro...- aponto para a minha testa...- e principalmente aqui. - e levo a minha mão direita ao coração...- E agora posso ir? O pai está a minha espera em casa.
- Vai. Diogo, esta conversa não acabou aqui, espero que isto não se volte a repetir.
- Está descansada eu não volto cá. Mas ao contrário do que pensas esta conversa acaba aqui sim.- E com isto saio do consultório.
Se nem a Mara me percebia e podia ajudar nesta confusão que sinto, como é que vou resolver isto. Assim que cheguei ao carro dei um pontapé no pneu e gritei com toda a raiva e frustração que tinha acumulado dentro de mim. O André saiu do mesmo e tentou falar comigo, mas eu estava tão irritado, que nem ele me conseguiria acalmar.
E o pior é que eu estava furioso comigo e não com a Mara, até porque ela tinha razão eu não podia sentir isto, era errado, era "imoral" era até...Ahhh!!! Que raiva, era tudo menos imoral: era bonito, puro, calmo tudo o que um grande amor devia ser. Mas continuava a ser errado, eu tinha que a esquecer: por mim e principalmente por ela.
Depois de uns minutos entramos os dois no carro rumo à minha sentença de morte, e não estou a exagerar, o meu pai quando está furioso é pior que um urso pardo.
- Diogo, queres falar sobre o que aconteceu?
- André agradeço por tudo mas não quero falar. Aliás eu quero esquecer o que aconteceu...
- Tens a certeza que queres esquecer? Tens a certeza que é o que queres?
- Sim...Não...não sei, eu não sei mais nada...estou confuso.
- Tu sabes sim, tu apenas não o queres admitir. E tu não a vais conseguir esquecer Diogo, eu conheço-te...
- Eu vou sempre lembrar-me do que aconteceu hoje, nunca vou esquecer os beijos que lhe dei. Só não vai acontecer de novo, isto é errado e para nosso bem vai ficar apenas como uma lembrança, um sonho.
- Uma lembrança, um sonho apenas teu. Porque a rapariga nem vai saber que tu a beijaste...
- Por isso mesmo, vai ser mais fácil. Amanhã tudo me vai parecer apenas um sonho e nada mais. Agora vamos, o meu pai deve estar furioso.
- Como queiras, só para que saibas, tu tens noção que tudo o que acabaste de dizer não vai acontecer.
Dei um olhar fuzilante ao André. Sei que vai ser difícil, sei que amanhã e no dia seguinte a vontade de estar com ela, de a ver, de a beijar vão lá estar de novo.
No entanto, eu tenho que conseguir, eu tenho que a esquecer por muito que me doa, por muito que me faça mal, iria doer mais tarde aos dois. Assim vou cortar o mal pela raiz, como uma planta daninha que cresce sem pedir licença. Afinal já o fiz uma vez...posso voltar a fazer o mesmo.
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