Capítulo 19: Sangue Imundo

O silencio na cozinha do Going Merry era gritante para Luffy, nenhum deles ousou se mexer e isso estava inquietando o pequeno D. que sentia seu coração se afundar mais a cada segundo, era isso? Sua aventura acabava aqui? Perderia todos os amigos que conquistou?

- Luffy... - A voz de Nami cortou o silencio fazendo os outros a encararem, o capitão ainda mantinha a cabeça baixa enquanto a única garota do grupo buscava as palavras certas para continuar - Ele... ele te machucou?

Isso pareceu deixar todos mais tensos, os pesadelos de Luffy, o jeito que ele odiava locais cheios e como parecia sempre esconder sua verdadeira face, uma alegre e descontraída, por baixo de um espírito sádico e vigilante...

- Não - Luffy disse por fim, não notando como todos relaxaram - Pelo menos não diretamente.

O D. fechou os olhos com força apenas para os abrir quando sentiu uma mão sobra a sua, virou o rosto lentamente encontrando os olhos preocupados de Sanji.

- Não precisa contar se não quiser, Luffy, para nós pouco importa quem seja esse homem, o que nos importa é você bem e se você não se sentir bem falando então tudo bem - Nami garantiu, Sanji ainda não tinha soltado a mão de seu capitão e o sentiu suar frio.

- E-eu era pequeno quando o conheci, éramos eu, Sabo e Ace cuidando uns dos outros, s-só os três, vovô nunca aparecia e os bandidos que deviam cuidar de nós sequer nos deixavam entrar em casa, a gente vivia na floresta - Começou - U-um dia, enquanto Sabo e Ace tavam fora, ele apareceu, o lugar onde meus irmãos estavam queimou, assim como a vila onde vivi quando menor, tudo virou cinzas, S-Sabo morreu aquele dia e todo mundo soube que era minha culpa, porque o governo estava atrás do filho do líder revolucionário.

Sanji o entendeu, a maldade do mundo filtrada no sangue, ele odiava saber o que era isso, por impulso, puxou Luffy para mais perto, tocando os cabelos escuros em um carinho suave.

Luffy se aconchegou contra o maior, respirando fundo antes de continuar.

- E-eles queriam me matar, t-todos eles, tentaram atacar a floresta várias vezes, Ace ficava tão irritado sempre e ia atrás deles pra tentar se vingar, eu odiava tudo aquilo - Luffy fechou os olhos com força, não queria contar sobre isso, mas... queria mostrar que não tinha segredos, queria ser transparente e verdadeiro com sua tripulação, sua família, mesmo sobre algo que nunca contou nem a Ace - F-foi durante o inverno, Ace passava mais tempo fora caçando, ele não queria que eu ajudasse, não queria que eu me machucasse, mas eu tive que ajudar daquela vez, ou não teríamos jantar, m-mas o perdi de vista.

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Luffy vagava pela floresta coberta de neve tentando encontrar o irmão, sabia que era melhor não gritar para não chamar a atenção dos Reis da Floresta, não entendia o porque de eles não o atacarem mais, mas não daria chances de ser um alvo fácil.

Foi quando ouviu alguém o mandando correr, Luffy chamava aquelas vozes de vozes misteriosas, ele nunca tinha certeza de onde vinha sendo que só tinham árvores e animais ao seu redor, mas sempre o ajudava e alertava sobre os perigos, era amigo tinha certeza.

Então quando foi mandado correr, ele apenas o fez, achou que talvez fosse um Rei que havia acordado e não iria ficar para verificar.

Luffy sentiu quando o perigo passou de trás de si para a frente e freou antes de virar, correndo para o outro lado.

Isso durou alguns minutos até ele sentir a tensão o dominar, ainda não via nada além da floresta branca, mas sentia o perigo vir de todos os lados, o cercando.

O garoto estava assustado, morreria para um Rei? Onde estaria Ace? Por que tudo parecia tão mais difícil desde aquela noite quando Dragon apareceu?

- Exatamente como disseram - A voz o fez arrepiar antes de se virar para encarar um homem adulto ali, ele usava roupas pesadas e quentes e tinha uma máscara ocultando seu rosto - Ele é pequeno e magro, é perfeito... peguem-no!

Luffy saltou a tempo quando algo disparou bem onde ele estava minutos atrás, seu pulso sendo enrolado por uma cobra que o ergueu para a árvore.

O Monkey não ficou ali para entender o que acontecia, saindo correndo, ele não tinha ideia do que tudo aquilo significava, mas algo dizia que não era nada bom.

O menino correu como nunca, fugindo daqueles homens, não sabia o que queriam consigo, mas não estava a fim de descobrir, queria achar Ace, mas se fosse para a casa na árvore seria seguido e ele não queria colocar o irmão em perigo.

Luffy escorregou na neve que cobria um galho e caiu com tudo, o ar sendo expulso de seus pulmões, o garoto gemeu de dor tentando levantar, mas não deu tempo, seus perseguidores estavam muito perto e logo Luffy se viu cercado.

O garoto então cogitou lutar, mas estava com muito frio e sentia seus membros rígidos, sendo de borracha ele sabia que poderia quebrar se se esforçasse muito no frio sem o devido aquecimento, era isso? Já era?

- Você nunca teria chance de fugir, garoto - O que deveria ser o líder sorriu - Amarrem-no e o levem.

Luffy tentou se erguer, mas tinha batido a cabeça e estava muito tonto, não conseguiu lutar contra enquanto era erguido e amarrado, uma corda sendo posta em sua boca para o impedir de falar.

- O filho de Dragon... a recompensa será incrível! - O homem riu fazendo Luffy se debater, as lágrimas querendo vir.

Era tudo culpa dele, novamente, era culpa de seu pai que isso tudo estava acontecendo, culpa do sangue que carregava! Era esse terror que Ace viveu a vida toda?! Nunca mais julgaria o irmão por odiar ser filho de quem era, isso se conseguisse escapar dessa situação.

O garoto foi levado para uma casa beirando a vila de Foosha, ainda se debatia tentando fugir, mas não surtiu muito efeito enquanto era jogado no chão, os homens que o capturaram retirando as vestes pesadas de inverno enquanto começavam a relaxar.

Com dificuldade, Luffy se sentou se encolhendo, ele não era inteligente como Ace e Sabo, não conseguiria pensar em algo para fugir e isso o enchia de terror enquanto ouvia a conversa nojenta sobre o que queriam consigo.

Era como quando invadiram o bar de Makino uma vez, tentando tocar a mulher que derrubou os dois homens usando uma faca, ser dona de um bar a fez proficiente em separar bêbados, mas a cena nunca tinha deixado a mente de Luffy e agora ele revivia isso.

- Acha mesmo que Dragon vai pagar, chefe? Ele não parece interessado no pirralho se o deixou sozinho naquela floresta - Um dos homens falou fazendo os outros calarem.

O líder pareceu refletir um pouco.

- Bem, se Dragon não pagar o que exigimos poderemos o vender, isso não é importante - Ele disse por fim antes de encarar Luffy com o olhar mais sujo que o garoto já viu - Hora de conferir a mercadoria, não me interrompam.

Luffy tentou gritar, tentou se soltar, tentou qualquer coisa enquanto as lágrimas caiam por seu rosto.

Ele conseguiria fugir algumas horas depois, voltando para a floresta e encontrando Ace no caminho, o mais velho iria acionar as armadilhas contra os perseguidores do irmão, mas o terror que Luffy viveu nunca sumiria de sua mente.