Capítulo 9 - Hannah
Arco 2 - A missão e os Irmãos
Camicazi
- Calma, tá tudo bem e eu sou um lendário também. Aqui, beba devagar, vai ajudar. – disse enquanto se sentou ao meu lado e entregou uma garrafa.
- É só água. - pelo visto, ele percebeu minha desconfiança.
Sinto que meu corpo todo está tremendo, tento disfarçar para pegar a garrafa.
- Beba devagar, sentindo a água na sua boca e quando a engole.
Tomo um gole tentando fazer o que ele disse, após isso fecho e entrego para o mesmo. Meu coração parece que vai sair pela boca de tão rápido que está.
- Pode ficar, tenho outra comigo. Então, primeira vez em uma missão?
Balanço a cabeça indicando que sim.
- Ah certo, certo. Acredite se quiser, mas a minha foi pior que a sua.
Olho para ele sem entender nada.
- Eu estava com tanto medo, mas tanto mesmo, que quando vi um Caçador eu, literalmente, molhei meus shorts. Achei que por causa disso ia poder voltar pra casa, só que não pude e tive que realizar tal coisa com os shorts molhados ainda por cima. Quando os meus irmãos viram, caíram na risada que nem por Deus podiam parar.
Enquanto ele falava estava rindo, acabei não conseguindo segurar e ri também.
Assim que me toquei o que estava fazendo, parei na hora.
- Não precisa parar de rir, é engraçado mesmo. Toda vez que lembro disso, caio na risada também. Mas por favor, não saia espalhando pra todo mundo, porque aí sim minha dignidade vai ficar no negativo. Ah propósito sou o Thomas e você?
- C-Camicazi.
- Nome diferente, bonito, acho que é a primeira vez que escuto esse nome.
- É p-por causa do livro C-como treinar o seu dragão.
- Aah certo, só assisti os filmes, então deve ser por isso que não conheço a personagem. Qual o seu elemento?
- S-saturno.
- Puxa que chique, sou do fogo.
Apenas assinto com a cabeça.
- Está melhor? – ele pergunta se virando para mim.
Eu passei a prestar atenção no que ele estava falando, principalmente quando falou sobre sua primeira missão, que deixei de reparar em tudo de ruim que estava sentindo.
- Sim, obrigada.
- Ótimo. É estranho como nossa mente funciona, em um momento estamos bem, aí é só aparecer algo que acaba com a gente por dentro. O mais engraçado é que só melhoramos quando enfrentamos a nossa mente, pensamento, medo e por aí vai.
Apenas concordo com a cabeça, já que não sei o que realmente dizer.
- Agora mudando de assunto, qual a sua função?
- Resgate – digo, enquanto, pego o papel e o mostro.
- Aaah isso é perfeito, assim podemos continuar juntos. Deixe me ver quais Lendários são.
Thomas olha o meu papel e então começa a encarar um nome específico, Hannah.
- V-você a conhece?
- Sim, é a minha irmã mais velha. É por causa dela que estamos aqui, ela deixou ser pega para descobrir a localização e quais foram capturados. – sua voz demonstra orgulho da irmã, já seus olhos transmitem uma certa preocupação.
- Consegue se levantar? – falou ao se levantar e estender sua mão para mim.
Faço que sim com a cabeça, pego sua mão e levanto.
- Vamos então. Se você começar a sentir qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, me avise de imediato, não vai estar atrapalhando e nem nada do tipo.
- O-ok.
Seguimos em direção ao objetivo.
Entramos na base, até que não foi tão difícil, já que todos os Caçadores estavam paralisados – por causa da Sabrina. Não sei o porque, mas na minha mente esse local seria algo assustador, apavorante, mas na verdade, até que é bem organizado.
O seu lado externo lembra um galpão, entramos pelos fundos onde há alguns automóveis. Para chegar ao local certo - as celas - precisamos ir para o subsolo. Thomas estava responsável pelo mapa (disponibilizaram antes de iniciar a missão), dei graças a Deus porque não sei ler mapas.
- Tá, é só virar à direita que vai dar acesso às escadas.
Viramos à direita e descemos as escadas.
Continuo sem sinal, ou seja, sem Banguela e Vitor, espero que ao menos eu não me distancie do Thomas.
Ok, chegamos no lugar e agora está assustador.
No lado direito há cinco celas, uma do lado da outra, já o esquerdo possui uma mesa com alguns papéis e outras coisas que não faço ideia do que seja e nem quero saber. Mais à frente há uns três degraus para subir que dá acesso a uma porta. A única fonte de luz daqui é a da lâmpada, o lugar é totalmente fechado (o que está me incomodando um pouco).
- O-onde estão as chaves?
- Eu as peguei quando passamos pelos Caçadores. Toma, vê se alguma desse conjunto é das celas, eu vou qual que é a da porta. – Thomas me entregou um molho de chaves e foi verificar a porta.
- Ah, você passou aquele pozinho nas mãos certo?
- P-pozinho?
Não me lembro de ter usado algum pó e nem nada do tipo. AH PERA, LEMBRO SIM!
- É um branco?
- Isso.
- Então sim.
- Ótimo, ele serve pra não deixar sua digital nos objetos. Se você não tivesse passado, eu ia falar para colocar luvas.
Volto minha atenção para as celas e Thomas para a porta.
Nessas cinco celas há, pelo menos, 6 Lendários. Alguns estão sentados no chão, já outros de pé, mas todos possuem um olhar triste e perdido, como se todas as suas esperanças tivessem sido destruídas, sem saber por mais quanto tempo irão aguentar, suas forças se foram há muito tempo.
É uma cena muito triste de se ver, me pergunto quantos devem estar assim e não fazemos ideia de seus paradeiros.
Sinto os olhares deles em mim, o que me deixa mais nervosa, mas volto a me concentrar nas celas.
- Consegui abrir! – digo me sentindo animada.
- Ótimo! Bom trabalho!
Thomas sai da porta e vem até a cela aberta, se virando para todos.
- Estamos aqui para ajudar, vão direto para a saída, sigam os Littles Fuocos – ele conjurou chamas que viraram uns serezinhos de chama. – irão guiar até a saída, além de garantir a proteção de vocês.
Eu realmente achei que ele ia botar fogo em tudo com essas chaminhas, mas eles estão tocando nas coisas e pessoas, porém nada acontece. Não estou entendendo mais nada.
- Eles são seres elementais, sendo fogo o seu elemento. São bem bonzinhos e gentis, só queimam as coisas quando eu deixo, ou quando estão sendo atacados, inimigos por perto e tals. – Thomas explicava ao mesmo tempo que ajudava os Lendários a se levantarem.
- A-ah certo, são bonitinhos. – respondo, enquanto, faço a mesma coisa que ele.
- Siim, minha irmã gosta de chamá-los de Pryopuff.
- Muito obrigado, meus queridos. Graças a vocês, esse inferno irá acabar.
Foi um senhor que agradeceu. Quando estava tentando abrir a cela, pude vê-lo e seu semblante era muito triste, agora um pequeno sorriso – honesto e verdadeiro – aparece em seu rosto.
Ao mesmo tempo que sinto um certo alívio, sinto tristeza, ele poderá voltar para a sua família. Mas quanto teve que sofrer e aguentar para que este dia chegasse?
- Por que está agradecendo eles? Do que adianta ser o único salvo? Não terá ninguém me esperando, porque todos foram mortos e isso aconteceu porque vocês – se vira para mim e para Thomas. – chegaram tarde demais! Eu perdi minha filha e minha esposa, do que adianta viver se as pessoas que você mais ama morreram? E o senhor também disse que à essa altura não há ninguém para recebê-lo. – era um homem, deve ter entre uns 30 a 40 anos.
- Ao menos poderei escolher como irei morrer e não terei que lidar mais com esse inferno. – respondeu o senhor.
- Eu sinto muito pela demora. Se pudéssemos, teríamos evitado que vocês e todos os demais viessem parar em um lugar como esse. Não podemos trazer os mortos de volta, mas vocês não terão mais que ficar sofrendo aqui, ficarão seguros e confortáveis. – disse Thomas, enquanto ia até o homem e o ajudava a andar.
Por mais que todos estivessem respirando, há alguns que não parecem vivos, falta aquele brilho nos olhos. Não estão vivendo e sim apenas existindo.
A vontade de chorar é muito grande, mas agora tenho que passar a ideia de que tudo irá ficar bem, mesmo não tendo certeza disso.
Seguimos para a próxima cela, Thomas continua invocando as chaminhas (só lembro que o nome começava com Littles).
Há uma moça jogada no chão, a mesma possui longos cabelos negros que cobrem boa parte de seu corpo. Chego mais perto para ver sua respiração.
Sinto um alívio quando vejo que está respirando, é tão leve e fraca que quase passa batido, mas ainda assim está respirando.
- Ela está assim desde que voltou, não abriu os olhos nem uma única vez. – era o senhor que estava falando.
- Desde que voltou? Há quanto tempo seria?
- Garoto, há muito tempo que perdi a noção de tempo. Não há janelas e muito menos uma rotina que temos que cumprir. Quando ela chegou aqui, ficou exatamente nesse mesmo canto, sem pronunciar uma única palavra. Certa vez, os Caçadores vieram para pega-la, quando retornou estava inconsciente e desde então está assim.
Noto machucados em seu rosto, pescoço e braços, alguns já estão se cicatrizando. Julgando pela aparência dos mesmo, foram experimentos para obter antídotos contra seus elementos, eletricidade e Plutão (ruína, morte e renascimento).
- Ela está viva, mas precisa de ajuda. É necessário que alguém a carregue. – é a primeira vez que consigo falar sem gaguejar.
- Eu posso carrega-la, não estou tão fraca assim. – disse uma mulher.
Ela veio até nós e delicadamente pegou a moça, uma das chaminhas do Thomas estendeu os bracinhos para segurar o da mulher e então saíram do local.
"É considerado como uma tarefa simples, mas tem uma carga emocional muito grande. Estará lidando com pessoas que sofreram muito, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Terá aqueles que irão agradecer, outros irão dizer que é tarde demais e alguns não farão nada porque deixaram de acreditam na esperança."
Essas foram as palavras do Banguela referente a minha função nessa missão. Eu já imaginava que seria algo triste, mas não assim. Sinto um aperto muito grande, como se o meu coração estivesse doendo, pressiono minhas unhas contra a palma da mão para segurar as lágrimas.
Esvaziamos todas as celas, restando apenas a porta trancada.
- Está tudo bem se quiser chorar agora, não tem problema algum. – olho surpresa para Thomas.
- Eles vão ficar bem? – é tudo o que consigo falar sem deixar minha voz falhar.
- Eu gosto de pensar que sim. Pelo menos, é o que tento transmitir para eles. Com o tempo, vai ser mais fácil de segurar as lágrimas. – Thomas olha para mim e vejo as lágrimas contidas que tanto anseiam em sair.
Apenas balanço a cabeça, concordando com o que o mesmo acabou de dizer.
- As chaves que ficaram comigo não são da mesma fechadura da porta, você usou todas para abrir a cela?
- Sim, cada chave era pra cada cela. Será que funciona na porta?
- Acho difícil, deixa eu ver.
Thomas fica analisando as chaves e a fechadura, nenhuma delas servem para abrir a porta. Procuramos em volta atrás de algo que possa abrir aquela porta.
- Achei!
Olho para e o vejo sorrindo como se tivesse encontrado um troféu. Bom faz sentido a alegria, já que sua irmã deve estar do outro lado da porta.
Entramos e damos de cara com o que parece um consultório médico. Seguindo reto há uma mesa, com notebook e outras coisas, no lado esquerdo perto da mesa há uma estante com vários coisas e um armário, já no canto do mesmo lado há uma maca toda de metal (tipo a de consultórios veterinários) com uma garota deitada nela, de barriga para cima, com os pulsos, pescoço e pernas amarrados na maca fria e dura.
Essa garota aparenta estar recebendo medicação na veia.
- Hannah, é ela! – Thomas estava sorrindo ao rever a sua irmã e vai para perto dela.
Já eu, apenas o acompanho e consigo visualizar melhor como é Hannah. Deve ser um pouco maior que eu, seus cabelos são da cor pêssego e ondulados. Está vestindo um casaco azul claro e o uniforme – um macacão curto – e meias listradas de amarelo e preto (não pude deixar de lembrar das meias que a Louisa recebe do Will na história Como eu era antes de você).
As mangas de seu casaco estão arregaçadas, dando espaço para duas medicações em cada braço. Espera, que medicação se parece com o vermelho vivo do sangue?
- Que medicação é essa? – viro para o Thomas.
- Não é medicação, é o sangue dela. Hannah é Lendária do sangue, eles devem estar recolhendo para estudar, como sempre fazem.
Não consigo deixar de evitar arregalar os olhos diante ao que acabei de ouvir.
- Esse é um bom exemplo dos experimento deles. Mas ela vai ficar bem, vou ver o que mais tem nessa sala e deixo ela aos seus cuidados.
Aos meus cuidados?? A gente se conheceu não faz nem um dia e ele já tacou essa bomba para cima de mim. Estamos falando de mim, quais as chances de eu fazer besteira com a Hannah?? E o que raios faço com essas bolsas de sangue???
- Espera eu... – nem pude terminar de falar, porque ele já tá do outro lado da sala.
Volto minha atenção para Hannah, há alguns arranhados tanto no rosto quanto nos braços. No casaco há a presença de sangue, principalmente, nas mangas. Já nas demais partes da roupa, possui alguns rasgos e sujeira. Seus olhos estão fechados, ou seja, ela teve um encontro com o sono.
Minhas mães falam que quando estamos dormindo mostramos nosso verdadeiro rosto, porque é quando tiramos a máscara que tanto insistimos em usar. Agora olhando bem para a Hannah, é notável a invasão do cansaço e do medo em seu rosto.
Decido desfazer as amarrações de seus braços, pernas e pescoço. Estava um tanto apertado, ficando evidente as marcas das mesmas.
- O que faço com as bolsas de sangue?
-...
Thomas estão tão concentrado no papel que está lendo, que nem ao menos me ouviu. Vou até ele.
- A-as bolsas, o que faço? – dessa vez ele escutou e olha para mim.
- Que bolsas? – aponto na direção da Hannah. – Ah tá, as bolsas de sangue. Ela tem que mandar o sangue voltar para o seu corpo, mas está desacordada certo?
Faço que sim com a cabeça.
- Tira as bolsas do suporte e as agulhas do braço, ai coloca o sangue em algum recipiente. Assim, é só levar ela e o sangue.
- Certo...
- Não sabe como tira as agulhas certo?
Faço que sim com a cabeça.
- Ok, eu tiro e você procura um lugar para colocar o sangue.
Thomas começa a tirar as agulhas e faz os curativos, enquanto procuro algo para pôr o líquido vermelho.
Abro o armário e as gavetas da estante, há seringas, curativos e outras coisas do mesmo tipo. Continuo procurando e encontro uns papéis, dou uma olhada.
- O estudo que você falou, está aqui. – digo e vou ao seu encontro. Ele pega os papéis e dá uma olhada.
- Tem um envelope em cima da mesa, são outros papéis parecidos, coloque lá.
- Certo.
Guardo dentro do envelope, aproveito para dar uma olhada nas gavetas da mesa.
- Achei uma lata, serve?
- Perfeito, terminei aqui. Coloque o sangue na lata, depois pegue a Hannah e saia daqui. Vou estar logo atrás de você.
Ponho tudo na lata e, então, tento pegar Hannah.
Espera, Hannah é mais alta. Como faço pra carregar pessoas mais altas do que eu???
Coloco a lata no primeiro bolso que achei na minha roupa. Levanto ela, posiciono meu braço em suas costas e o outro atrás dos joelhos. Tento manter meus braços mais alto para que seus pés não encostem no chão.
- Não seria melhor carrega-la nas costas? – diz Thomas me olhando estranho.
-...ela é maior do que eu.
- Ela é maior do que você?!?!?!?!? – ele só não gritou porque estamos no território do inimigo, mas sua expressão é de surpresa. – Quanto que você tem de altura??
- 1,53... – digo e sinto a tristeza batendo na porta, pronta para entrar.
- Caraca, ela é mesmo maior do que você. Hannah possui 1,56 de altura.
A tristeza invadiu-me de vez.
- Eu não quis te ofender e nem nada do tipo, é que eu fiquei surpreso. Me desculpe. – ele percebeu minha tristeza, já uma boa hora para chorar?
- T-tudo bem. – digo e tento fazer uma cara positiva.
- É melhor nas costas, será mais fácil para correr, caso precise.
Coloco Hannah de volta na maca para fazer o que ele disse. Com a ajuda de Thomas, coloco ela nas minhas costas.
- Perfeito, vai na frente. Só quero terminar de ver se tem mais algum papel ou coisa do tipo que possa nos ajudar e complicar eles.
- Certo.
- Um Little Fuoco irá te acompanhar, se algo acontecer, ele irá te ajudar.
- Obrigada.
Saio com o pequenino me guiando, dou uma última olhada no lugar e em Thomas.
A alegria do Thomas, por ter achado a irmã, é contagiante. Mas agora que ficha está caindo, volto a sentir tristeza.
Os Lendários que encontramos aqui, mais o estado que Hannah se encontra, é tudo muito triste, agonizante e revoltante. Por que temos que sofrer tanto nas mãos desses caçadores? O que é que fizemos de errado, se é que existe motivo, para agirem assim?
Tudo isso é desumano, injusto e horrível. Para mim, não há nada que possa justificar tal atitude deles.
Quanto mais penso nisso, maior fica esse aperto que sinto.
Fiquei tão concentrada nessas questões que não percebi que já tínhamos saído da base.
Sejam rápidos, os Caçadores estão saindo da paralisação do tempo feito pela Sabrina. Já descobriram que estamos aqui! – foi a Allysson, através da telepatia, nos avisando.
Começo a correr com o pequenino ao meu lado, escuto disparos por todo lado. Não sei ao certo o que estão atirando, mas aparentam ser barulhentas e tem um bom nível de destruição.
O pânico está batendo, tento não ceder a ele de novamente. Sinto o medo aumentar cada vez mais, meu coração fica mais disparado ainda.
- CAMICAZI CUIDADO!
Olho para trás e vejo Thomas correndo com os Caçadores atrás atirando coisas. É ai que eu entendo, bombas estão sendo jogadas e uma veio na minha direção.
Tento correr o mais rápido possível, mas a bomba é mais rápida e beija o chão, continuo escutando Thomas berrando. No entanto, sinto meus pés saírem do chão, estou sendo arrastada e não sei para onde, pois é difícil de distinguir o que estou vendo devido a rapidez.
Sinto uma pancada forte na minha cabeça, sendo o suficiente para meus olhos fecharem e com isso não sinto mais nada...
Representação do Little Fuoco:
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