Capítulo 5 - Chá de camomila
Arco 1 - Despertar
Camicazi
Enquanto espero pelo Vitor, Banguela conta que teve a brilhante ideia (palavras dele) de vir junto comigo para ter certeza de que está tudo sob controle e falou que não estava, porque eu não cobri o símbolo na minha testa.
Ou seja, levei bronca do gato.
A porta se abre e os dois entram rapidamente na salinha, o que foi uma péssima ideia porque essa sala é pequena demais para três pessoas e um gato. Talvez seja o meu lado claustrofóbico falando, talvez.
- Qual a desculpa dessa vez, Banguela? – perguntou Vitor, pera esse gato já entrou aqui antes?
Vitor nota a minha confusão e comenta que não era a primeira vez que Banguela entrava aqui e sim a TERCEIRA VEZ. Isso só piora a cada instante. A primeira vez, ele colocou o gato em sua mochila e saiu para deixá-lo fora da escola, já a segunda vez a diretora ficou sabendo e brigou com o Vitor, além de chamar os seus pais.
- Não são desculpas, são fatos. Camicazi não cobriu o símbolo, ou seja, presa fácil. E essa menina é doida, pode acabar revelando o que não deve para pessoas que não devem saber de nada, como agora.
Presa fácil? Doida? Estou ofendida e magoada.
- P-pessoas que não d-devem saber de nada? – pergunto, porque realmente não entendi quando foi que eu fiz isso.
- O seu amigo, Takeshi, entra no quadro de pessoas que não devem saber de nada.
AH.
- Isso ele tem razão. – Vitor se virou para mim.
- O-o que você queria que eu fizesse? Precisava que alguém te chamasse.
- Eu te dei o meu contato.
- S-sim, eu fui mostrar a foto pro Takeshi, mas ai lembrei que era a do Pica-Pau. O que que tem a ver?
- Meu deus do céu Camicazi, para de ser lerda. Você me fez ir atrás dele, enquanto podia ter mandado mensagem pra ele! – Takeshi está um pouco irritado, eu acho.
EU ESQUECI COMPLETAMENTE DISSO, O CÉUS.
- E por que você não me lembrou disso??? Enquanto eu te mostrava a foto??
- Porque também não me toquei disso. – e o seu tom abaixou cada vez mais, percebendo a burrada que fizemos.
- Tá, discutimos isso depois, primeiro temos que tirar o gato daqui e depois apagar a memória dele.
- Hã??? Ninguém vai apagar a minha memória não. Eu me recuso.
- O Vitor tem razão sobre apagar a sua memória, mas eu só saio daqui quando a Camicazi sair.
- Banguela, você tem duas opções: sair por bem ou sair por mal. Se sair porque nós estamos pedindo, estará saindo por bem, caso ao contrário, a diretora vai ser a responsável pela a sua saída. E não acho que queira encontrar com ela novamente, ou sim?
- Meh, aquela mulher me deu arrepios. Misericórdia, toda vez antes de dormir eu vejo aquela cara irritada me expulsando. Estou preparando um discurso para acabar com ela, então quem sabe na próxima eu opto por conversar com ela, não é mesmo?
- Chega Banguela. – disse Vitor e o mesmo se virou para Takeshi.
- Você, já que está aqui vai ajudar, tira todo o seu material da mochila e bota o gato ai dentro. Depois, vai sair da escola e só vai parar de andar quando virar a esquina. Quando fizer isso, vai tirar o Banguela da mochila e volta para cá correndo se não quiser perder a primeira aula. Segundo, sem perguntas ou qualquer coisa a respeito do que aconteceu aqui. E terceiro, depois da aula, acompanhe a Camicazi até o treino dela e lá vai ser explicado tudo e também será discutido sobre o que fazer com você. Falta exatamente sete minutos pra aula começar, então vai logo.
Ajudo Takeshi a tirar as coisas da mochila e colocar Banguela dentro (o que resultou em alguns arranhões, mas nada sério). O meu amigo apenas concordou com o que o Vitor disse e ficou quieto, percebo isso enquanto o assisto saindo da sala.
- O-obrigada, pode ir para a sala se quiser. Não quero que perca a primeira aula por minha causa. – provavelmente o professor já vai estar em sala quando voltamos, então não quero atrasa-lo ainda mais.
- Eu ia dizer a mesma coisa agora. Não precisa se preocupar, acho difícil do professor não me deixar entrar agora.
- A-aula de quem agora?
- Inglês.
- Certo, e-então é de boas mesmo.
- Sim e você?
- Química.
- Ah, queria. Espero que ela esteja de bom humor.
Arregalo os olhos ao ouvir que ele queria ter aula de química. Quem em sã consciência quer ter aula de química??? Ainda mais a primeira do dia. Já é um cão a aula quando a professora está de bom humor, imagina de mal humor.
Vitor me olha e solta um riso baixo.
- Bom, eu gosto de química, nunca tive problema com isso.
- E-eu não entendo um A que a professora fala.
- Ah, ela não explica bem mesmo. Eu estudo por conta própria e como os meus pais atuam nessa área, fica mais fácil.
Ah tá, agora tudo faz sentido. Ele tem a minha admiração por estudar por conta própria, enquanto eu penso se devo desistir dessa matéria.
- Camicazi.
- Sim?
- Você não precisa falar comigo na escola, caso não queira. Digo, podemos manter uma relação profissional sabe? Não quero que se sinta pressionada e tals a falar comigo em qualquer momento. Não quero atrapalhar nem nada.
- N-não está atrapalhando, n-não me importo de não ser profissional ao não ser que você queira.
Digo e então olho para ele, ficamos um de frente para o outro.
- Eu também não me importo, tipo de não ser profissional.
- Então amigos? – pergunto, estendendo a mão com relutância.
- Sim, amigos! – ele diz e estende a mão dele até a minha.
Essa sensação é a mesma que tive, quando eu e o Takeshi nos tornamos amigos. Era o segundo ano do fundamental, estava frio e tinham jogado o gorro dele no lixo (o bullying era forte na época), eu dei o meu para ele e falei que podia ficar porque detestava gorros e assim teria um motivo para não usar. Desde então nunca mais nos desgrudamos.
- E se não se importar, acho que o Takeshi também vai gostar.
- Claro, seria legal.
E nós dois estamos sorrindo, dois tímidos e introvertidos tentando fazer uma amizade. O que de mal poderia acontecer?
Takeshi abre a porta com tudo, entrando e tentando recuperar o fôlego.
- Esse....gato....é....pesado. – o mesmo fala enquanto se apoia na parede.
- Eu acho que ele tem uns oito quilos.
- Também acho.
Takeshi bebe água, enquanto eu e o Vitor colocamos o seu material dentro da mochila.
- Já sabe, sem perguntas ou coisas do tipo. Só depois.
- T-tá.
Saímos correndo da sala, indo direto para as nossas salas.
Vitor já tinha se separado da gente, vejo Takeshi com aquela cara de que achou alguém bonito ou tem um novo crush.
- Podemos falar sobre ele. – digo me virando para ele.
- Ufa, porque eu não sei se ia aguentar até mais tarde. Mano, que cara lindo, sério, estou encantado.
- Hmm, achei que já estava de olho em alguém chamado Igor.
- E eu não posso mais falar que alguém é bonito por acaso?
- Pode, mas eu te conheço e sei que olhar é esse ai.
Paramos bem na porta e a professora já estava lá e o humor dela não está legal.
- Desculpa prof., eu vim com a Camicazi e achei que tinha esquecido o meu estojo. E aí sai correndo atrás do carro da mãe dela, com a Camicazi me acompanhando, só que ela viu o meu estojo caindo da mochila e me avisou. Com isso, voltamos para cá o mais rápido possível.
- Tá, tá, entrem e sentem logo.
Fomos direto para os nossos lugares e sentamos. Começo a tirar o meu material quando vejo de relance a professora olhando para a menina que fica na fileira da outra ponta.
Hotaru, uma garota com a pele morena e os cabelos castanhos, ela utiliza um óculos redondo e vermelho. Sempre achei bonitinha sua presilha de borboletinha. E não seria a Hotaru se não estivesse com algum chocolate em mãos, além de estar tramando alguma coisa ou tagarelando.
- Hotaru, a senhorita já viu que horas são por acaso?
- São sete e doze professora.
- Exatamente, não acha que está muito cedo para comer chocolate?
- Na verdade não, estou aumentando minha serotonina para ficar o dia todo alegre.
- Mas sabe que não é qualquer chocolate, certo?
- Sim, é o de setenta por cento e é exatamente esse que estou comendo. É muito bom, inclusive.
- Mesmo assim Hotaru...
- Prof. agradeço a preocupação, mas não há necessidade. Estou com os meus exames em dia e está tudo impecável, além de que vou regularmente ao dentista e também está tudo ok, nunca tive uma cárie ou coisa do tipo. Agora com licença, que eu tenho que jogar fora essa embalagem aqui.
E ai que está o problema, uma vez a boca aberta nunca mais fecha...
- Depois diz que é vegana, tá sempre com um chocolate na boca...- disse um ser (aluno novo que não decorei o nome ainda).
- Nunca falei isso, vegetariana é diferente de vegana. Não me considero vegana por comer chocolate, mas compenso de outras maneiras. Como jogar o lixo na LIXEIRA e não no chão como certas pessoas fazem. Sério professora, quero morrer ao ver isso, já estou por aqui – coloca a mão perto da cabeça – sabe o que dá vontade? De pegar a cara da pessoa e esfregar no chão até aprender onde é o lugar correto. Só que se eu fizer isso vou ser expulsa né, ai minha vó me mata e meu vô me enterra, e não tem rivotril em casa sabe, então tem que ser a base de chá de camomila mesmo. Tá ai uma dica, prof., chá de camomila, pra dar uma acalmada. Se quiser eu trago amanhã pra tu, viu.
As caretas da professora são as melhores, estou tentando segurar o riso e olho para trás a procura de consolo, mas o Takeshi está rindo baixinho. Bom, me juntei a ele e começo a rir também.
- Agradeço Hotaru, no entanto, não será preciso.
- Ah professora, eu faço questão viu e sabe...
- Hotaru, é aula agora, já deu.
- Também não trago mais chá de camomila, vou é tomar ele isso sim. Aff, que escola tóxica, não pode mais nem desabafar também. Já entendi, vou calar a boca e sofrer em silêncio como pediu, mas pode deixar que eu mando a conta da terapia.
Hotaru sentou e ficou com a cara emburrada pelo resto da aula. Porém, nas demais aula a mesma voltou a tagarelar e a fazer aviões de papel e "decolou" (foi o que ela falou) cada um – o que irritou os professores.
Deu o horário do intervalo e eu trouxe o meu lanche! Falo todo empolgada para o Takeshi sobre e ele responde que eu não fiz mais que a minha obrigação, grosso não? Vitor vai ao nosso encontro para se sentar conosco.
Igor aparece e chama o Takeshi para se sentar com ele e é óbvio que o meu amigo aceitou. Ficando apenas eu e o Vitor.
- O que os dois são?
- Hã... Ah, Igor entrou aqui no nono ano e desde que ambos se conheceram se tornaram amigos e ficam fazendo isso. Por mais que há algo a mais que amizade por parte dos dois, mas nunca avançou nem nada.
- Ah, certo. Hmmm, Camicazi.
- Oi
- O Igor é um lendário também.
- Que?
Osinal toca, com isso voltamos para as nossas salas e eu fiquei sem explicaçãosobre o Igor ser um lendário.
As demais aulas ocorrem, mas tudo que consigo pensar é sobre Igor ser lendário e se há mais lendários também. Achei que por ser uma também, saberia reconhecer, mas pelo visto não é o caso.
Incrível como até ontem de manhã me sentia confortável quando estava em casa, mas agora que estou chegando na mesma não me sinto mais tão confortável assim. É como se atmosfera de casa agora estivesse tensa e negativa, esperando pelo próximo acontecimento para transbordar o copo de vez.
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