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Capítulo 3 - Vitor

Arco 1 - Despertar


Camicazi

Chegamos em frente a um galpão, abro a porta e entramos. Dou de cara com um mini corredor, em seu lado direito possui uns armários encostado na parede e um banheiro também, continuamos andando até a próxima porta, abro-a e entramos.

Imaginei algo completamente diferente, no lado esquerdo há uma mesa encostada na parede que vai até o fim da sala, nela há um computador e umas três telas, há também outras tecnologias que não faço ideia do que seja, e tem um armário fixado na parede.

Já do lado direito, há um sofá, encostado na parede em que fica a porta, que vai até o final da mesma. No meio possui um tatame e no fim da sala tem uma estante gigante cheia de livros.

Vejo que a mesa está cheia de papéis e outras coisas, vou em direção a ela (curiosidade falou mais alto) para ver quando escuto a porta batendo.

- Não mexa nas minhas coisas!!

Levei um susto e viro de imediato, dando de cara com um garoto.... pera, eu acho que ele é da minha escola.

- Desculpa, mas ninguém pode mexer nas minhas coisas, exceto eu, senão fica tudo uma bagunça e perco horas arrumando.

- D-desculpa.

- Camicazi, esse é o Vitor, o seu Ajudante.

Espera ai, ele é o Vitor??? ELE????

Quando o Banguela falou que eu ia ter um ajudante imaginei alguém como aquele velho mago do Shrek 3, o Merlin, e não um garoto que estuda na mesma escola que eu, sendo apenas UM ANO MAIS VELHO.

Vitor não tem uma longa barba e muito menos calvície capilar e não são tingidos de branco. Pelo ao contrário, tem um cabelo longo o bastante para ser preso em um coque (mesmo que mais da metade já esteja solto), além de ser moreno com as pontas arroxeadas – amei esse cabelo -. Ele possui bastante piercing em ambas as orelhas.

- Pelo visto, o Banguela não falou como eu era né?

Ele percebeu o meu conflito interno, então. Ok, fiz papel de idiota agora.

- Achei que não havia necessidade.

Pude notar um sorrisinho em Banguela, gato danado.

- Bom, você já sabe de algo ou...

- Apenas contei a ela o que somos, falta explicar seus poderes.

- Ok, bora lá então.

Vitor abre um armário, pega uma maçã e a põe sobre a mesa.

- Primeiramente, temos que levar em consideração os critérios de ser uma lendária de Saturno. Que são: início, meio e fim. Podemos avançar para o seu fim, como voltar para o início ou permanecer no meio. Usamos como base o relógio, para o início usamos em sentido anti-horário, para o fim usamos em sentido horário e para o meio apenas deixamos parado o ponteiro.

Ele estendeu a mão sobre a maçã.

- Por exemplo, para transformar essa maçã em uma semente, seria seu início, eu teria que fazer um movimento anti-horário. Ou seja, é como se eu movesse o ponteiro em sentido oposto ao seu movimento normal.

Cada vez mais que escuto o que ele está falando fico mais empolgada, porém, tenho que ressaltar que não estou entendendo quase nada.

Vitor passou a mão sobre a maçã em um movimento anti-horário e, meu Deus, a maçã se transformou em uma semente!! Agora ele fez em sentido horário e ela apodreceu!!

Se isso for um sonho, não quero acordar agora.

- Tenho que ressaltar que caso a maçã seja mordida, o seu fim será alterado. Não irá mais apodrecer e sim restar apenas o talo dela. O fim tende a ser por causas naturais, mas uma vez que qualquer coisa seja alterada no meio, o seu fim será alterado também.

- O que acabei de falar é o básico, uma vez dominado, o resto se torna fácil.

- Há vários livros ali como você pode ter visto, Camicazi. Com o tempo, você irá ler todos e entender o que está escrito, vai ajudar bastante. E como sua primeira tarefa vai ser fazer essa maçã se tornar uma semente e depois vai fazer a mesma apodrecer. – disse Banguela.

- Leva tempo até conseguir realizar essa tarefa, o importante é que você consiga pegar o jeito sobre como funciona para realizar as demais coisas.

- C-certo.

Ok, como raios eu faço isso???

- Vem aqui.

Enquanto Banguela falava, me indicava para sentar em uma cadeira e ficar de frente com uma mesa que tinha um ponteiro de um relógio.

Vitor colocou a maçã bem no centro da mesa.

- Começamos com o ponteiro primeiro, depois vai ser apenas com a mão. Canalize sua energia para o ponteiro e gire – o em sentido anti-horário.

- C-como??

- Apenas gire o ponteiro.

Faço o que ele pediu e nada aconteceu, aff.

- Você não canalizou o poder, Camicazi. – disse Banguela.

- E c-como que faço isso?? – tento conter meu desespero o máximo possível.

Vitor e Banguela olham um para o outro e, então, Vitor conjura uma chamazinha roxa.

- Está vendo isso aqui?? Tente fazer o mesmo.

Estico o meu braço e encaro a minha mão, não sei como que essa coisa toda funciona, socorro.

Chama apareça!

Chama apareça!!

Uma faísca então?

Nada?

Banguela coloca a pata na minha testa, o que me assusta.

- Sem pensar, apenas sinta. Feche os olhos.

Fecho os olhos.

- Ótimo, agora imagine a chama que o Vitor fez percorrer pelo seu corpo.

Imagino uma linha roxa sobre mim.

- Visualizou?

- Sim.

- Ótimo. Agora sinta essa chama se espalhar por todo o seu corpo. Sinta percorrer por suas veias.

Sinto algo percorrendo pelo meu corpo, um calor me invadindo e acompanhando essa energia por todo lugar.

- Agora foque apenas a sua mão direita. Foque a energia que há nela.

Faço o que ele pediu e consigo ver essa energia que tem cor, roxa, envolvendo toda a minha mão.

- Visualize um ponteiro na sua frente e segure-o. Gire para a esquerda.

Vejo o ponteiro e toco no mesmo. Seguro ele com precaução e o giro para a esquerda.

- Abra os olhos, Camicazi. – disse por último, Banguela.

Abro os olhos e não tem mais maçã na mesa e sim uma semente. Noto que a minha mão está no ponteiro e que o mesmo tinha sido girado.

- Para a sua primeira vez, você foi muito bem.

Espera, foi eu mesma que fiz isso?? Eu consegui?? Transformei a maçã em uma semente???

- Sinta-se orgulhosa de si mesma, Camicazi, você mesma que fez isso. – disse Banguela e pude notar um leve sorriso por parte dele.

- O-obrigada.

- Hã? Por que está agradecendo? – perguntou Vitor.

- Se v-vocês não tivessem me ajudado, eu não teria conseguido.

- Apenas demos algumas orientações, que faz parte da nossa obrigação, o resto foi com você. Camicazi, você conseguiu por mérito próprio. – disse Vitor e Banguela assentiu com a cabeça.

- C-certo.

COMO QUE SE REAGE A ELOGIOS???

Nunca sei o que falar ou fazer nessas situações, exceto mexer a cabeça e sorrir. Sou tomada pela vergonha e sinto que fico vermelha por completo.

Não é fácil a vida de pessoas que não sabem como reagir perante a elogios. 

Bom demais para ser verdade, começo me sentir cansada, sem forças. Parece que esse simples ato foi o bastante para drenar toda a minha energia, é como se eu tivesse corrido uma maratona, e como sou sedentária é pior ainda. Me sinto tonta também, apoio a cabeça na minha mão e fecho os olhos.

- O que foi?

- E-estou me sentido um pouco cansada e tonta...- digo enquanto abro os olhos e me direciono para ambos, fazendo um sorriso forçado.

- Bom, para um procedimento de uns, talvez, três dias você fez em torno de uma hora. Não é para menos. – Banguela falava enquanto Vitor ia buscar algo.

- Toma. – disse me entregando água e uma bolacha salgada.

- Obrigada. – digo enquanto como a bolacha e bebo a água.

- Melhor?

- Um pouco.

- Por hoje está bom, certo Vitor?

- Ah sim, tire o resto do dia para descansar porque amanhã será um treino um pouco mais pesado.

Se já me cansei com isso, quem dirá amanhã então. Podem preparar o meu funeral.

- Já estava me esquecendo, teria como trocarmos nossos contatos? Caso você precise de mim para alguma coisa ou eu tenha que te avisar sobre algo.

- C-claro. – pego o meu celular e vou nos meus contatos.

Vitor mostra o seu número, enquanto, eu mostro o meu.

Ok, ele é que nem eu. Ao invés de sua foto ser uma selfie ou coisa do tipo é de algum desenho, mais precisamente do Pica-Pau em uma motoquinha vermelha. Já a minha é da Tori, de Heartstopper, tomando limonada (a do Takeshi é do seu gato com roupinha de abelha parecendo que vai matar todo mundo).

Fico sentada por mais uns minutos até sentir que o mal estar passou e acompanho Banguela em direção a porta.

- Até amanhã, Camicazi.

- A-té.

Chego em casa com Banguela, minha mãe Runa já tinha voltado para o trabalho.

- Tem comida para você, já que não almoçou. – disse minha mãe Sayaka ao sair da cozinha e indo em direção ao seu escritório.

É verdade, sai sem almoçar e estava morrendo de fome.

- E, Camicazi... eu e a Runa conversamos e até o dia da sua resposta, não falaremos nada sobre o que ocorreu mais cedo e qualquer coisa relacionada a isso. Ou seja, sem perguntas e sem comentários, entendeu?

Apenas concordo com a cabeça, mas acho difícil dela ter visto porque já tinha entrado no escritório. Mas depois disso, qualquer sinal de fome desapareceu.

- Nem vem, saco vazio não para em pé. Pode ir comer, nem que seja um pouco. Eu não li a sua mente, você que deixou bem a mostra sua reação.

Nunca imaginei que um gato me obrigaria a comer, para falar a verdade ainda estou me perguntado se tudo isso é verdade.

Vou para a cozinha, pego e esquento minha comida. Coloco na mesa e me sento, fico encarando minha comida, enquanto, a mesma me encara de volta até reunir coragem o bastante para comer.

- A propósito, já que estou te treinando, é justo que me pague. E meu pagamento é uma casa e comida, quero adiantado viu.

- Não teria que ser ao contrário??

- Sou eu quem decido isso e não você. Meu treino, minhas regras.

- T-tá.

Como o pouco que consigo e vou direto para o quarto.

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