Capítulo 14 - Fita vermelha
Arco 2 - A missão e os Irmãos
Thomas
"- Aaaaaa, não consigo! Não consigo! – digo e bato minhas mãos no chão.
Minha mãe veio até mim, sentou no chão ao meu lado e passou seu braço sobre os meus ombros.
- O que não está conseguindo, querido?
- Não consigo fazer aquelas chaminhas que nem o pai. – respondo em meio as lágrimas.
- Meu bem, você tem apenas oito anos e veja só, faz apenas alguns meses que despertou seus poderes. Há coisas que são muito difíceis ainda para se realizar, mas com o tempo você será igual ou até melhor que o seu pai!
...
- Mãe! Mãe! Mãe! Olha isso, olha isso! Eu consegui!
Eu corria em sua direção com aquelas chaminhas que tanto quis invocar. Minha mãe estava na cozinha e quando me ouviu, veio ao meu encontro.
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim! Isto!
Mostro para ela as chaminhas.
- Filho, isso é incrível! Você conseguiu em tão pouco tempo, se passou apenas um ano desde que despertou. Já sabe qual será o nome?
- Eu estava pensando em Little Fuoco (Pequeno Fogo).
- É um ótimo nome!
- Quero mostrar para a Hotaru!
- Quando a gente for ao parque podemos chama-la e aí você mostra.
- Sim!
...
- Hotaru! Hotaru! Hotaru! Veja só o que eu consegui fazer!! – falo animado e corro em sua direção com o Little Fuoco.
Ela escuta e se vira.
- Veja! Eu apresento o Little Fuoco! – digo e estendo as mãos para ela.
Ela olha para mim com aqueles olhos brilhantes.
- Que fofo, mas ele não causa queimaduras?
- Não! Ele é bonzinho, só irá causar queimaduras se eu der a ordem.
- Aaah sim, faz sentido mesmo. Já que é assim... é meu.
A Hotaru pegou meu Little Fuoco e saiu correndo, fiquei desesperado e a segui.
- Me devolve, me devolve!
Ela se vira para mim, mas continua correndo.
- Não quero!
- Mas é meu!
- Achado não é roubado!!
- Mas você não achou, você roubou!
A gente continua correndo pelo parque.
- Por favor, devolve. – digo e as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.
Ela para de correr e olha novamente para mim.
- Tudo bem, eu devolvo, mas só se você me entregar algum chocolate! – ela responde como se fosse a melhor forma de devolver o Little Fuoco.
- Mas não tenho nenhum.
- Então não devolvo.
Começo a chorar de vez.
- Você realmente é um idiota, só pode. – ela diz como se isso fosse obvio.
- P-Por que?
- O fogo não é seu? Era só ter falado pra ele ir até você.
É verdade, o Little Fuoco responde a todos os comando que eu der.
- Ah, é verdade!"
- Preciso que pegue um envelope que está no bolso da jaqueta. – digo com um pouco de dificuldade.
Camicazi apenas concorda com a cabeça, desfaz o abraço e pega o envelope.
- Abra-o.
Ela abre e tira uma fita vermelha de lá.
- Essa fita é pra você. Era para ser roxa, mas acabei pegando vermelho, você gosta dessa cor?
- S-sim. – ela responde.
- Eu e o Banguela pensamos que seria melhor se usasse uma fita específica para as missões, essa é mais resistente que os nossos uniformes, então não há com o que se preocupar. Deixe-me ver como que vai ficar.
A Camicazi junta seu cabelo, faz um rabo de cabelo e o prende com a fita. Realmente combinou com ela.
- Ficou muito bom! Ela realça mais ainda o ruivo dos seus cabelos. Eu queria te entregar após o fim da missão, como se fosse um presente. Você gostou?
Ela balança a cabeça afirmando que tinha gostado. O seus olhos se enchem de lágrimas, parece que ela ficou mais triste ainda.
- E-eu gostei...me desculpa, me desculpa por tudo. Eu não consegui ajuda-lo...eu...
A gente nunca quer perder ninguém, nunca quer dar o último adeus, porque é uma das coisas mais difíceis de se fazer, já que não queremos aceitar que o ciclo dessa pessoa chegou ao fim. Ficamos presos no "e se...", criando tantas possibilidades que poderiam impedir a morte de alguém e muitas vezes isso nos leva a sentir culpado pelo aconteceu e deixamos de seguir em frente.
Essa foi a segunda missão da Camicazi e pude ver o quão boa foi. Ela, certamente, irá brilhar muito lá na frente, é uma pena que não estarei pessoalmente aqui, mas fico feliz por ter acompanhado o começo de sua jornada.
- Não é sua culpa, nada do que aconteceu é sua culpa, é graças a você que conseguimos resgatar todos os Lendários. Você foi incrível. Fico feliz que tenha gostado da fita.
- Não quero te perder... – ela diz com a voz embargada.
- Não é porque você não irá me ver mais, que significa que eu tenha partido de vez.
Ela volta a olhar para baixo.
Já posso sentir a morte chegando, não tenho tanto tempo.
- Camicazi olhe para mim, preciso que fale umas coisas para meus pais e para a Hannah.
Ela arregala os olhos e fica mais desesperada ainda.
- Não...o Banguela já está deve estar chegando. Ele vai ajudar, vai te socorrer. Você vai poder falar pra eles diretamente, só tem que aguentar mais um pouco. Por favor, aguente mais um pouco.
Eu sei que falar isso só vai piorar a situação, mas meu tempo está acabando e quero que essa mensagem chegue a eles.
- Vou tentar aguentar o máximo possível, mas preciso que diga a eles. Por favor, Camicazi.
Ela respira fundo e olha para mim, as lágrimas estão correndo pelo o rosto, o mesmo está vermelho por causa do choro.
- Diga.
- Primeiro para o meus pais. Diga a eles que os amo muito, posso ter tido o mesmo fim que o meu irmão, mas não me arrependo. Estarei bem e ao lado do Bernardo, quero que eles fiquem bem também. E eu agradeço por tudo que eles fizeram por mim, jamais esquecerei. Para não deixarem a tristeza os dominar, que possa aproveitar a vida.
"Diga para a Hannah não deixar a vingança a consumir, para viver e ser feliz. Para seguir em frente e realizar os seus sonhos, porque é isso que eu e o Bernardo sempre desejamos para ela. Diga para ela se formar e atuar na área que tanto gosta, se tornará uma médica incrível, tenho muito orgulho dela. Diga que a amo também, sempre a considerei como minha irmã mais velha, agradeço por ter estado em todos os momentos difíceis ao meu lado. Peça para ela pegar uma carta que está dentro da minha cômoda e entregar para a Hotaru.
"Agora é para você, Camicazi. – noto seu olhar surpresa. – Você é incrível, sei que vai ter um futuro brilhante. Não se culpe por nada que aconteceu, graças a nós, todos aqueles Lendários estão salvos. Ninguém irá te segurar lá na frente, fico feliz por ter conseguido te acompanhar em duas missões e por ajudar no treinamento. Viva para si mesma e não para os outros, vá em busca da sua felicidade. Peça para a Hannah os livros que estão no meu quarto, eles irão te ajudar bastante, assim como me ajudaram, ela sabe quais são.
Ela volta a me abraçar e faço o mesmo.
Uma brisa gentil aparece e direciona o meu olhar para quem está atrás da Camicazi, demoro um pouco para entender que se trata do Bernardo.
- Vamos. – ele diz com sua voz suave e gentil ao estender sua mão.
Concordo com a cabeça e estendo a minha também.
Camicazi
Ele está ficando cada vez mais gelado e pálido, olho para as minhas mãos e vejo sangue.
Sangue.
Sangue dele.
Sangue do Thomas.
Estamos em frente a base, a mesma uma cor cinza, ao nosso redor há construções inacabadas que também são cinza. Há alguns escombros espalhados e possuem a predominância da mesma cor. Tudo aqui é cinza, um cinza que carrega o frio e a tristeza devido a partida de alguém.
Fecho os olhos e continuo chorando.
Posso contar a quantidade de vezes que fui em velórios, todos são sempre tristes e carregam uma energia pesada. Mas presenciar a pessoa morrendo é pior ainda, ter que vê-la perdendo a vida e não há nada que possa ser feito, é algo que nunca irei esquecer. Agora entendo o que a Hotaru falou sobre alguém morrer em seus braços.
Noto suas mãos escorregarem pelas minhas costas, desfazendo o abraço. Um aviso de que a morte chegou e o levou.
Sinto uma brisa calorosa e gentil como se estivesse me chamando para olhar para trás.
Viro e vejo dois meninos.
O menor parece ser o Thomas, já o maior deve ser seu irmão mais velho.
O Bernardo apenas acena com a cabeça, enquanto o Thomas acena com a mão e sorri alegremente. Já eu mostro um sorriso triste e aceno de volta.
Vitor
É tarde demais, chegamos tarde demais.
Não há mais nada que possa ser feito.
Encontramos a Camicazi e o Thomas jogados no chão, ao redor deles estão os Caçadores desacordados e as estacas.
Olho para o Banguela e vamos na direção dos dois Lendários.
- Camicazi está viva. – disse Banguela soltando um suspiro de alívio, após checar a mesma.
Checo o Thomas na esperança de ter dado tempo, mas não há sinal vital nenhum.
- O Thomas não. – digo com a voz embargada.
Escutamos passos apressados em nossa direção, é a Sabrina e o Théo. Eles olham para a situação e encaram eu e o Banguela.
- Eu sinto muito, tentamos terminar o mais rápido possível. – disse Théo.
- A culpa não é de vocês e sim de quem negou a nos ajudarmos. – disse Banguela olhando para os dois.
Novos passos podem ser escutados.
São o Dustin, a Allysson, a Hotaru.
E a Hannah.
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