Capítulo 11 - Promessa
Arco 2 - A missão e os Irmãos
Obs - Vitor se refere a Takeshi como Luke, já que o nome dele é Takeshi Luke.
Thomas
Hotaru conseguiu alguns papéis que relatam testes feitos em animais que desenvolveram os poderes e os que não desenvolveram – todo animal nasce com poder, no entanto, fica a critério do mesmo se vai ou não querer desenvolver tal poder –. Aparentemente, era para entender como que funciona a questão de escolha deles. De qualquer jeito não deixa de ser algo horrível.
O bom é que ela conseguiu liberta-los, inclusive o Tom (porquinho da índia da Hannah). Eles já estão sendo tratados no centro veterinário.
Já o Théo encontrou uma planta de outro galpão, agora é questão de tempo para descobrirem o lugar e iniciar mais uma missão.
Após finalizarmos o relatório, somos liberados e vou atrás da Hotaru, numa tentativa de conversar com ela (nem que seja 1 minuto).
No passado éramos amigos bem próximos, mas após o que houve com a família dela, Hotaru se fechou para o mundo. Ela pode conversar com todos, mas há um limite, tipo um muro. Sempre a considerei como alguém importante para mim.
- Hotaru.
Ela para e se vira para mim.
Sou pego de surpresa, geralmente tenho que chamar umas 5 vezes para ela parar de andar e, então, chamar novamente para falar comigo. O que foi o suficiente para eu esquecer o que ia falar.
- O que foi?
- Você está machucada?
- Não.
- E terminou de ler aquela hq da Turma da Mônica? – digo e começo a andar pelo corredor em direção a enfermaria, Hotaru me acompanha.
- A que conta a história do Bidu, sim. Inclusive terminei, também, Kimetsu no Yaiba (*Demon Slayer).
- Está mais rápida do que eu, parei no arco da vila dos ferreiros. Não tive tempo para continuar a leitura.
- Agora que a missão foi finalizada, você pode terminar de ler.
- Isso vai depender se vão ou não me escolher para investigar o local que o Théo encontrou.
Hotaru para de andar e se vira para mim, ela está séria.
- A Camicazi estava estranha quando a encontrei, parecia que tinha uma aura sombria nela. Não sei explicar, mas era algo estranho.
- Aura sombria?
- Isso, mas não deve ser nada demais. Ela está com o Banguela e ele tem um ótimo histórico e uma imagem incrível. – disse e deu de ombros, como se estivesse afastando essa conversa, voltando a andar.
Já tinha algo me incomodando em relação a ele e a Camicazi, não fazia ideia sobre o que era. Mas agora, depois de ouvir isso, tenho algo em mente sobre o que pode ser.
Decido seguir Hotaru, mas antes decido falar algo.
- Sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, certo?
- Sim, você e a Hannah fazem questão de sempre dizer. Foram tantas vezes que consigo me recordar direitinho vocês falando isso.
Chegamos na enfermaria, Camicazi já está acordada e conversando com o Vitor e o Banguela. Nós dois vamos em direção a eles.
- E então, como está se sentindo? Preparada para a próxima? – diz Hotaru para a Camicazi.
- A-acho que ainda tenho que me recuperar direito.
- Já se acostuma viu, quebrar partes do corpo, perder muito sangue ou ser encurralada se torna algo diário.
Imediatamente Camicazi arregalou os olhos, Vitor parece estar se segurando para não rir e se o Banguela fosse humano, certamente estaria rindo agora.
- A Hotaru está apenas brincando, não leve a sério – digo e tento sorrir de maneira confiante.
- Eles estão fazendo uma checagem na Hannah, querem ter certeza sobre o que aconteceu com ela. Logo mais, ela deve voltar. – disse Banguela ao olhar para mim.
- A Hannah é bem forte, vai dar tudo certo, obrigada por falar. – digo a Banguela.
Ficamos conversando por mais um tempo.
- Se me dão licença, tenho que ir ao banheiro – disse Banguela pulando da cadeira.
Aproveito a oportunidade para segui-lo e assim tirar a limpo minhas dúvidas. Quando entro no banheiro, Banguela está rodeando a caixinha de areia para usar (me pergunto quem é o responsável em limpa-la).
- Banguela, precisamos conversar.
- Não é possível que não tenho paz nem pra mijar.
- Foi a única oportunidade que apareceu.
- Primeiro eu vou terminar de fazer minhas necessidades e depois, quando já tiver feito tudo, iremos conversar. Agora licença. – ele disse e se concentrou em achar um espaço na caixinha. - Um pouco de educação seria legal, imagino que seus pais ensinaram a não olhar os demais usando o banheiro.
- Ah sim, claro, desculpas. – digo e sinto meu rosto esquentar de vergonha.
Fico de costas para ele e aguardo.
É horrível quando ficamos ansioso para falar algo de uma vez e temos que esperar o outro falar quando é possível, só deixa tudo pior ainda.
- Oras, onde foi que colocaram aquele tapete? Por acaso o viu?
- O tapete de limpar as patinhas? – digo ao me virar e encarar o gato.
- Patas e sim.
Olho em volta e o encontro, pego e coloco no chão rente a bacia.
- Pronto, devem ter tirado pra limpar.
- Provavelmente, no último feedback reclamei sobre a falta de higiene.
- Então, agora podemos falar.... – sou interrompido pelo gato que limpava suas patas no tapete.
- Nananinanão, eu não disse que já podíamos falar ou disse por acaso??
- Não, mas... – sou interrompido novamente.
- Então pronto. Quando eu falar que pode, aí sim iniciaremos a conversa.
- O que mais falta? Você já fez xixi e limpou as patas.
- O que mais poderia ser? Beber água, agora vamos até os bebedouros. Ainda acho que devia ter um espaço próprio para gatos, seria muito interessante. Uma vez fiz essa proposta no feedback, mas pelo visto descartaram.
Qual o sentido em ir ao banheiro e depois beber água?? Não deveria ser antes?? De qualquer jeito, não irei discutir com ele.
Chegamos aos bebedouros e aproveito para fazer o mesmo que o gato. Pego um copo e coloco um pouco de água gelada, tomo todo o conteúdo e olho para baixo, mais especificamente na direção do Banguela.
Já vi gatos bebendo água da torneira, assim como aqueles que bebem através de algum pote, mas é a primeira vez que vejo um gato molhando a pata e, então, a lambe para ingerir a água. Tenho que admitir que é uma cena fofa.
- O que foi? – Banguela diz e me encara.
- Nada, é que é a primeira vez que vejo um gato beber água assim.
- Ah sim, Camicazi falou a mesma coisa. Isso é apenas uma mania minha mesmo. Bom, já terminei tudo, agora pode falar o que queria. Falando nela, não se preocupe, já está ótima, só precisa descansar.
- Fico feliz que ela esteja bem, mas não é sobre isso...você não contou tudo, não é??
- Não sei do que você está falando. – respondeu com um olhar indiferente.
- Você não contou toda a verdade para a Camicazi é sobre isso que estou perguntando.
Nós dois estamos tensos devido ao rumo que essa conversa tomou.
- Contei o que é importante.
- Esse importante é para você ou para ela? – estou tentando manter a calma.
- O que acha? É claro que seria para ela.
- Então por que não contou a verdade? É importante, é algo que a pertence. Não pode continuar escondendo por muito tempo. Se ela descobrir de outro jeito será pior.
- Você está proibido de contar a ela e, também, de pedir para que alguém faça isso. Eu sou o treinador dela, logo, sou eu quem decido o que deve ser feito e o que deve ser falado! Acredite ou não, mas estou fazendo isso pelo bem dela. E não é como se ela não estivesse preparada para tal, os treinamentos não consistem apenas em usar os poderes de Saturno.
Balanço a cabeça e cruzo os braços.
Já esconderam muita coisa para a Camicazi e continuam fazendo isso, quanto mais tempo for escondido pior vai ser. Tenho medo de como ela pode reagir, do que pode sentir, no que pode acontecer com ela. E o preconceito é muito grande no mundo dos Lendários, é questão de tempo que passem a olhar estranho para ela ou, então, sentir medo por estarem perto dela.
Sei disso, porque vivi e continuo vivendo tal realidade.
- O Vitor também sabe?
- Sim.
Não consigo evitar de ficar mais bravo ainda e Banguela nota.
- Não o culpe e muito menos fique com raiva dele, eu o proibi de falar. Se quer ficar com raiva ou culpar, faça isso comigo, deixe-o de fora disso.
Respiro fundo e o encaro.
- Pelo menos me deixe participar dos treinos e acompanha-la durante as missões.
- Por mim tudo bem, já tinha a intenção de pedir que a acompanhasse nas missões.
- Certo. – me viro para sair.
- Obrigada.
Olhei para trás de imediato, Banguela realmente me agradeceu??
- Posso ser abusado e tudo mais, mas sou educado.
Apenas aceno com a cabeça e saio.
Vitor
Camicazi voltou para casa no mesmo dia, seu cotovelo não estava mais quebrado e os demais machucados já tinham sido curados, isso foi possível devido a medicina lendária.
Como num piscar de olhos, o fim de semana acabou e a segunda chegou junto com a escola.
O sinal do intervalo acabou de tocar, pego meu lanche e saio da sala. Desde que eu, o Luke e a Camicazi viramos amigos, passamos o intervalo juntos – maior parte do tempo é jogando Genshin Impact.
Acabo me deparando com o Igor no meio do caminho, nunca fui muito com a cara dele e passei a gostar menos ainda quando fiquei sabendo sobre ele e o Luke. Sei lá, acho meio estranho a maneira que o Igor o trata e a Camicazi concorda com isso.
Sem perceber, ele me puxou para o canto e sua cara não era das melhores.
- E então, como foi com a garota bomba?? – disse enquanto cerrava os olhos.
Olho para baixo e depois o encaro.
- Não sei quem você está referindo, não conheço nenhum Lendário que tenha um título assim.
Ele solta uma risada amarga e continua me encarando, como se quisesse intimidar.
- Não se faça de sonso, quem mais poderia ser? Aquela ruiva que não desgruda do Takeshi. Já se esqueceu o que ela é? Sabe muito bem que aquilo é uma bomba.
- Ela não é aquilo e muito menos uma bomba, ela é uma humana e se chama Camicazi. Tenha mais respeito. – digo e respiro fundo.
Estou tentando não surtar porque senão é capaz que eu seja expulso da escola. Sei que ele não gosta dela, mas isso já é demais.
- Vou agir com respeito com aqueles que julgo que merecem e, com certeza, ela não merece. Você não viu o que vi, lá na floresta quando ela lutava contra aquele infeliz. Aquele aura sombria e arrepiante, ela não é uma de nós... – arregalo os olhos ao escutar isso e minha raiva aumenta mais ainda, sou obrigada a interrompe-lo.
- Você estava lá e não a ajudou?? Você viu o que estava acontecendo e ficou parado sem fazer merda nenhuma?? Como?? Como pode fazer isso?? Ela e a Hannah poderiam ter morrido!
- Acha mesmo que vou interferir uma luta dela? E por acaso, sou um idiota para mexer em uma bomba? Ao menos tenho mais coragem que você, já que vou para a linha de frente. Você não passa de um covarde. Vou dar apenas um aviso para vocês:
"Mantenha-a longe do Takeshi e eu os deixarei em paz, ele nunca deveria ter estado perto dela. Se você e o Banguela querem ficar nessa brincadeira suicida, o problema é de vocês, mas deixem o Takeshi longe, bem longe. E escute o que vou te dizer, essa garota será o motivo da nossa ruína..."
Me sinto paralisado, ele não está errado em me chamar de covarde. Porque é o que sou, nunca tive coragem de ir para a linha de frente e quando tentei, entrei em pânico imediatamente. Foi por isso que optei em ser ajudante, porque é a única profissão dos Lendários que não precisa ir nenhuma vez na linha de frente. Eu diria que essa é a parte que mais detesto de mim, é por isso que sempre fico atrás de uma tela e, definitivamente, me sinto horrível quando tocam nesse assunto.
- Está errado, ela não será o motivo da nossa ruína e ir ou não para a linha de frente não diz se você é ou não um covarde. – diz uma voz calma e delicada que só poderia ser da Allysson.
Nós dois olhamos para ela imediatamente.
- É claro, tinha que ser a defensora da Estrela do Mar.
Nunca vi graça nesse apelido que deram para o Dustin, só por causa dos seus elementos e a dificuldade em controla-los.
- Camicazi será o motivo da nossa ruína e o Dustin será o motivo da nossa humilhação.
- Camicazi será nossa luz e o Dustin o nosso orgulho, essa é a verdade. Mas você será o motivo da sua própria ruína e humilhação. – disse Allysson. É incrível como ela consegue ser calma e delicada enquanto dá uma tapada.
Igor virou-se rapidamente e saiu com fogo nos olhos, minha vontade é de ir atrás e acabar com ele.
-Deixe-o, não adianta perder tempo com gente igual ele. Pessoas de mente fechada pensam que estão sempre corretas e se recusam a aceitar quando erram. É por isso que muitos acabam sofrendo depois, porque escolheram o caminho da dor ao invés do amor.
- Aconteceu alguma coisa? – disse Dustin ao se aproximar.
- Nada demais. – disse Allysson.
- Apenas lidando com o Igor. – respondo-o.
- Ah, aquele cara é sempre problema. É melhor irmos ou iremos perder o intervalo.
Apenas concordo com a cabeça e começamos a andar. Vejo o Luke e a Camicazi no corredor, começo a andar em suas direções, mas antes disso Allysson segura o meu braço.
-A Camicazi foi muito bem em sua primeira missão. Vocês estão cuidando muito bem dela. – ela diz enquanto mostra um sorriso gentil e volta a andar com o Dustin.
Ela foi embora tão rápido que nem deu tempo de agradecer, mas me sinto melhor. Às vezes, tudo o que você precisa é de um simples e sincero elogio para continuar seguindo em frente.
Vou até o Luke e a Camicazi.
-Então deixa eu ver se entendi, o seu cotovelo quebrou e teve uns machucados espalhados pelo corpo, mas agora tá tudo curado?? Estou me sentindo como se estivesse em uma história de fantasia e eu fosse aquele amigo que não tem poder nenhum e fica todo empolgado quando vê magia.
Acabo soltando uma leve e curta risada com o que acabei de ouvir, dou um leve tapa na cabeça do Luke para indicar que cheguei e fico ao seu lado, enquanto a Camicazi está na outra ponta.
-Ei Luke, já se esqueceu que não é pra ficar comentando coisas do tipo aqui?? – digo brincando.
-É impossível não falar sobre a medicina de vocês, quando que ela vai chegar para nós meros mortais?? – ele diz no mesmo tom e junta as mãos como se estivesse orando, o que não passa de drama.
- Eu tenho que concordar com o Takeshi, é incrível. Meu cotovelo tá impecá...
Uma pessoa passou e esbarrou com tudo nela, fazendo com que caísse no chão e derrubasse seu saquinho de lanche. Luke se abaixa imediatamente para ajudá-la a levantar e eu vou em direção ao seu saquinho para pegá-lo.
- Olha por onde anda garota!
Ah não, essa voz de novo não. Sério, o quanto somos azarados para ter que se encontrar com o idiota do Igor??
-Igor, por favor! Você que não a viu. – foi o Luke que disse, não consigo deixar de ficar surpreso com isso.
- Ah Takeshi... E-eu não tinha visto, sabe como é, não quero ficar em último lugar na fila da cantina e perder meu lanche. – Igor diz e dá para perceber o quão sem graça ele ficou, isso é uma cena adorável de se ver.
- Mesmo assim tome mais cuidado, nem eu faço isso.
- Me desculpe Takeshi, realmente não foi por mal. Mas tenho que ir agora, antes que a fila fique grande.
- Espera eu vou com você, também vou comprar.
Takeshi saiu andando rápido junto com Igor para a fila, olho para a Camicazi e dá pra perceber de longe o seu desconforto.
-Você se machucou?
- Não, estou bem. Só espero que o potinho da bolacha não tenha quebrado.
Avançamos em direção ao canto que costumamos ficar todos os intervalos.
-Não entendo como o Luke pode ser amigo de um cara que te trata tão mal assim. Tipo, ele pediu desculpas pro Luke. – digo e deixo bem claro minha indignação.
Camicazi e o Luke se conhecem a anos, como ele poderia ser amigo de alguém que é escroto com ela? E nem ele merece alguém como o Igor, de tantas pessoas pra gostar, ou seja lá o que ele sente, tinha que ser esse idiota?? Não consigo entender de jeito nenhum.
Chegamos no nosso cantinho e me abaixo para sentar.
- Não é como se o Takeshi tivesse culpa... ele só não sabe que isso acontece. – ela diz enquanto desliza pela parede para se sentar e fica encarando o chão.
Espera, como assim ele não sabe????
-Que?? Isso é possível???
- Bom é, literalmente, não contar nada para ele. Todas as vezes que o Igor decide falar ou fazer algo é quando o Takeshi não está por perto.
- Você... você deveria contar, ele tem que saber disso. O Luke merece alguém bem melhor que esse cara.
- Eu acho melhor não, quero evitar confusão. Não é como se fosse toda hora e hoje pode ser que ele não me viu mesmo. – disse tentando encerrar o assunto.
Dá pra perceber claramente que ela não acredita no que acabou de falar, mas encerramos esse assunto porque o Luke já está voltando.
Thomas
Acabei de sair de uma reunião com a direção e o Banguela, foi decidido que irei ajudar no treinamento da Camicazi durante um mês e no último dia nós iremos para uma missão - o lugar da planta que o Théo encontrou.
Só começo a ajuda-la no treinamento amanhã, então vou para um lugar que sempre gosto de ficar.
Hannah já está bem melhor do que antes, teve alta do hospital e a recomendação é que repouse alguns dias em casa.
Há uma casa meio que abandonada – deve fazer uns 10 anos que venho aqui e nunca vi ninguém morando nessa casa – e na parte de trás há uma escada que vai até o telhado que é reto, dá pra fazer dali uma varanda ou coisa do tipo. Em torno de uns 10 anos atrás, eu, a Hannah e o meu irmão descobrimos essa casa, fizemos desse telhado o nosso espacinho e vivíamos vindo aqui, seja para brincar, pensar ou só para matar o tempo mesmo. Dá pra ver boa parte da cidade e assistir ao pôr do sol, é a coisa mais linda que já vi na minha vida.
Quando termino de subir, me deparo com Hannah sentada na beirada de costas para mim.
- Se não estou enganado, a mocinha deveria estar descansando lá em casa. – digo e sento ao seu lado.
- Dentre todas as pessoas que resgataram, devo ter sido a que ficou menos tempo lá, mas não poder ver o céu iluminado pela luz do sol ou então a noite brilhando por causa da lua e as estrelas é horrível. Veja, o sol está começando se pôr e parece mais bonito desde a última vez que vi.
- Você tem razão, está bonito mesmo.
Ficamos durante um tempo contemplando o fim do dia e a chegada da noite.
- Você o visitou durante o período que fiquei fora? – ela pergunta sem olhar para mim.
- Sim, tive que ir mais vezes porque um certo alguém decidiu fazer uma missão de última hora. Pobrezinho, teve que ficar me aturando durante todo esse tempo.
- Eu quero ir lá hoje, só estou criando coragem.
- Vá quando estiver se sentido bem. Não se force, sabe que ele não iria gostar disso.
- Sim, eu sei. Você vai lá?
- Como sabe?
- Você sempre vem aqui antes de ir pra lá.
- Ah é, tem razão.
Ficamos em silêncio e olhando a vista.
Hannah abraça suas pernas e apoia o cabeça em seus joelhos, seus cabelos estão flutuando um pouco devido ao vento.
- Eu não confio muito naquela garota... – ela diz como se tivesse tirando um peso sobre si.
- Que garota?
- A ruiva, não lembro o nome dela, só sei que é bem diferente.
- A que te resgatou?
- Hm.
Imaginei que algo do tipo poderia acontecer, mas não imaginava que ela iria falar para mim e de maneira tão rápida assim.
- Não quero que se sinta ofendido, não é por causa disso e sim... – eu a interrompo.
- Eu sei, não se preocupe, só fiquei surpreso por ter falado tão rápido assim. Pelo o que vi durante a missão, é uma boa garota. Vou ajudar no treinamento dela durante um mês, após isso iremos para uma outra missão, vai dar tudo certo.
- Preciso de um tempo para processar tudo isso e entender melhor ela, mas agora quero notícia boa. Contou para a Hotaru?
Ela me pegou de surpresa a ponto de não saber o que falar. É o bastante para me deixar nervoso e com o coração acelerado.
- Tá esperando o que para contar a ela? – diz com um leve tom de irritação e olha para mim.
- Se eu contar, ai sim irá se afastar de vez.
- Não dá pra saber, pode ser que não.
- Não me dê falsas esperanças.
- Não estou dando, estou apenas falando que há uma possibilidade de ela dizer sim ou não e isso só vai ser possível saber se perguntar.
- Não tem sentido falar agora se vou estar completamente ocupado durante um mês, posso tentar depois que a próxima missão seja finalizada.
- Deveria falar logo antes que seja tarde demais.
- Irei, mas quando a missão acabar. Agora tenho que ir. – digo e me levanto no mesmo instante.
- Vai vê-lo? – diz e levanta a cabeça para me ver.
- Sim.
Ela apenas balança a cabeça e volta a olhar para o horizonte e eu ando na direção oposto dela para descer as escadas, no entanto me lembro de algo.
No dia que ela foi para a missão, eu estava voltando para casa quando vi uma feira e algo específico chamou atenção, pensei nela imediatamente. Eu comprei e iria entrega-lo no mesmo dia, no entanto não deu tempo. Agora que tenho a chance, pego um pequeno embrulho que guardei no meu bolso mais cedo e jogo em sua direção. Ela estende a mão e o pega.
- Você saiu tão rápida que sequer me deu tempo para entrega-lo.
- Foi mal, tudo aconteceu muito rápido e nem tive tempo direito de avisar.
Ela abre o embrulho e o coloca de cabeça para baixo para tirar o que tem dentro, é um colar com um pingente de uma flor de lótus – sua flor favorita.
- É lindo, eu amei, obrigada. – dá para notar que ela ficou realmente feliz.
- Não vá perder que nem o anterior. – digo num tom brincalhão.
- Nem me lembre disso ou ficarei triste.
Chego no lugar que o Bernardo, meu irmão mais velho, está e como de costume compro sempre a mesma flor, lírio. Está bem calmo para falar a verdade, vou em direção a ele.
E então, é ali que ele está:
Meu irmão aos 18 anos foi considerado como um herói para muitos, enquanto para outros não fez mais que sua obrigação, por ter impedido que um Caçador de Elite (são os melhores Caçadores) descobrisse e entrasse no nosso território, só que para isso o mesmo teve que dar a vida dele. Era uma missão e tanto eu, quanto a Hannah participamos junto ao lado dele, até que acabamos nos separando. Quando entendemos o que o Bernardo estava tentado fazer, fomos o mais rápido possível até ele, mas a morte foi mais rápido e tomou sua vida, só deu tempo de se despedir. Não sei ao certo o que houve com o Caçador, pois quando cheguei estava apenas a Hannah e o meu irmão.
Coloco o lírio na frente da lápide, venho aqui algumas vezes, já a Hannah é todo mês.
- Bernardo, você não adivinha quem voltou. Não falarei quem é, logo você descobre.
Conto a ele tudo o que aconteceu desde a última vez que vim aqui, o que demanda um bom tempinho.
- Ah... – alguém diz tão baixo quanto um sussurro.
Olho para trás e dou de cara com Hotaru.
- Oi. – digo e aceno com a mão.
- Oi... não sabia que estava aqui. – ela diz e abaixa a cabeça.
- Eu cheguei faz um tempinho, estava contando as novidades para ele. O seus avós vieram?
- Ah não, faz um tempo que venho sozinha... se importa se eu colocar uma flor para ele?
- Por favor, tenho certeza que ele vai adorar.
Ela assente com a cabeça e coloca a flor, uma camélia cor de rosa.
- Posso colocar um lírio para seus pais e o seu irmão?
- Claro, eles iriam adorar. Deve ser meio chato ter apenas eu falando lá toda hora, não devem mais estar me aguentando. – ela solta uma risada meio forçada e triste.
Lembro o que a Hannah disse mais cedo, tomo um pouco de coragem.
- Hotaru.
Ela olha para mim, sendo o suficiente para me deixar mais nervoso ainda.
- Eu preciso te contar algo... vou ajudar a Camicazi no treinamento e... – perco toda a coragem.
- E o que??
Lembro o que respondi a Hannah, meu coração parece que vai sair pela boca de tão acelerado que está.
- E será um mês de treinamento e depois disso vamos fazer uma missão junto... – respiro fundo. – Daqui 1 mês e 1 dia irei te contar o que quero, é uma promessa.
- Qual é o sentido disso?? Conte agora. – diz enquanto cruza os braços e o seu olhar é de alguém curioso.
- Porque eu acho melhor, apenas aceite por favor. – digo e olho para baixo.
- Então ao menos me diga sobre o que trata, não me faça morrer de curiosidade. Se fizer isso, volto para puxar o seu pé.
- Se eu contar sobre o que se trata, estarei te falando o que é, então não.
- É assim que vai tratar a sua amiga de não sei quantos anos?? – ela aponta o dedo para mim.
- Não vejo problema nenhum com isso. – solto uma leve risada e começo a andar.
- Eu vejo.
Hotaru continua tentando descobrir sobre o que se trata, já eu fico apenas rindo sobre a situação.
Após um tempo, ela vai embora para não deixar seus avós preocupados e eu deixo o lírio para sua família e caminho para a saída.
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