Capítulo 17
Héctor não piscava olhando o teto, tentando acalmar o seu coração.
uma lembrança entre tantas discussões que teve com a mãe invadiu sua mente. será que a filha o odiava tanto porque ele odiava a sua própria mãe? Era o carma da ação e consequência?
A pequena Dália era perdidamente apaixonada pela avó paterna, embora jamais conhecesse a história por trás da presença Constante da mulher em suas vidas.
Naquele dia em especial ele e Norma discutiam na sala, pela centésima vez, apesar de que ele sempre teve muito cuidado ao discutir com a mulher perto da filha e não fora diferente assim como o motivo. desde que casara discutia mais com ela, porque simplesmente não compreendia que ele não a queria se metendo em seus assuntos ou com sua família.
não era para Dália estar ali, havia a deixado em seu quarto minutos antes.
- Você não é nada nem ninguém para mim e nem eu sou para você, por isso assim como eu não me meto na sua maldita vida não se meta na minha. - Dissera ele controladamente.
- Não se preocupe seu ingrato, eu não piso os meus pés mais nessa casa! - Dissera de volta chorando.
Lembrava-se da esposa ter ido atrás de Norma depois de fuzilá-lo com o olhar cheio de ódio, e de ele se jogar no sofá, foi quando ouviu o chorinho abafado da pequenininha ao pé da escada, que descia engatinhando, ele não sabia dizer se ela engatinhava para que ninguém pudesse ouvi-la, ou se por que estava nervosa demais para andar.
Com o coração partido foi até ela estendendo as mãos para Ajudá-la. mas ela ficou de pé com o rostinho molhado pelas lágrimas, ele ajoelhou-se ficando na altura dela e, na mesma entonação racional muito singular para a idade lhe perguntou o que estava acontecendo. quase sorriu ao perceber que entendia o 'dálies', pois pensava que a filha tinha o próprio dialeto em um português que apenas ele e a mãe compreendiam. foi então que as perguntas vieram.
Não queria que a filha conhecesse o lado ruim de Norma tão cedo quanto ele; então, se esforçava para manter-se por perto. Não queria dizer para a filha que a presença da suposta tia Norma tinha sido necessária em uma época, mas não era mais.
Norma podia ter perdido a importância para ele há muito tempo, mas se fazia necessária na vida da esposa e da filha, então se esforçou para suavizar a voz, mesmo achando que não tinha a mínima vocação e prometeu que a tia Norma voltaria, pois ele conversaria com ela e resolveria os problemas.
Infelizmente, para ele, Açucena não era uma criança chorando por um motivo supostamente banal; não sentia falta da tia Norma. Seu caso era sério, e não havia palavras ou promessas que pudessem tranquilizá-la.
Poderia levantar daquela cama, deixar transparecer as verdadeiras emoções; porém, sabendo que não teria serventia nenhuma, observou Enquanto Samara deixava o quarto em busca de Açucena.
Enquanto aguardava o retorno de Samara ouviu a porta sendo aberta sem ser batida, deu um meio sorriso imaginando se o motivo da fúria da filha seria grave o bastante para envolver a polícia, não se mexeu de sua posição.
- Perdoe-me por atrapalhar seu descanso, mas aconteceu um fato que necessita de sua explicação. – disse o delegado Abraão, Héctor virou-se para ele constatando que estava sozinho.
- E o seu guarda-costas? Ou eu deixei de ser periculoso. – perguntou sarcástico, o delegado apenas fechou a cara o ignorando.
- Você reconhece essa roupinha? – perguntou estendendo-lhe o conteúdo dentro de um saco plástico.
O delegado viu a expressão dele rapidamente vacilar de neutra para emocionada quando colocou os olhos na peça, por apenas alguns rápidos segundos o policial viu em seu olhar toda a dor que havia naquele homem.
- Como essa peça chegou às suas mãos?
- Sua filha a recebeu dentro de uma caixa junto com outras peças de roupas, e uma ossada, possivelmente o esqueleto da sua esposa. Uma amiga da sua família acredita que seja você o autor desse presentinho macabro, ela reconheceu esse vestidinho como uma das peças de roupas favoritas da sua filha Dália.
- Antes de eu te responder, posso te fazer uma pergunta? – perguntou cansado, estava muito exausto para fazer o tipo que não está nem aí naquele momento.
- Pode perguntar.
- A Açucena veio aqui furiosa comigo, imagino que seja por causa do pacote que ela recebeu. A suspeita dela de que fui quem a mandou o pacote partiu dela ou da dona Norma? - perguntou nervoso tentando a todo custo convencer a si mesmo que a resposta para sua pergunta não era importante e falhando miseravelmente.
- Interessante que eu não falei que a amiga da família fosse a dona Norma.
—É a única pessoa capaz de querer me prejudicar; aliás, fez isso antes mesmo do meu nascimento — Abraão ficou sem entender o que se passava. Observando isso, ele voltou a perguntar. — Pode me responder, delegado, por favor?
- Eu não tenho certeza, mas ela só saiu correndo para vir para cá depois de falar com a dona Norma.
- Entendo. – disse distraído. – E quanto a sua pergunta, sim eu reconheço essa peça infantil, e a dona Norma tem razão era da minha filha Dália, e sim uma de suas favoritas, mas não faço ideia de como isso foi parar nas mãos da Açucena, eu não tenho me comunicado com ninguém delegado desde que vim parar aqui, e como o senhor sabe estive preso pelos últimos anos as pessoas com quem eu falava enquanto estive lá duvido muito que fariam qualquer tipo de favor para mim.
- Pessoas essas que o senhor ainda não me deu nenhum nome.
— Por favor, Abraão, me poupe. Não me fale dessa forma, sabendo tão bem quanto eu que, não importa o que eu diga, minha situação não vai mudar. Não me diga que você tem a doce ilusão de que, se eu entregar o batalhão de pessoas que me manteve encarcerado, as coisas vão mudar e você vai chegar a quem me prendeu. — Abraão sacudiu a cabeça. Ele entendia mais da Justiça do que muitos policiais. — Voltando ao vestidinho da Dália, entregue para Açucena, mesmo que eu fosse capaz de fazer o que ela garante que eu fiz, no momento em que minha casa pegou fogo, eu estava Vulnerável demais, perdi a consciência e, quando acordei, já estava há dias jogado naquele quarto daquela casa abandonada. Então, não tive acesso a nada do que ficou na mansão. — Ele achou prudente se defender, ao menos, daquela acusação.
- Entendo. – os dois homens se encaravam. – O senhor disse que estava no laboratório quando sentiu a fumaça e, que alguém o acertou na cabeça quando saía para averiguar o que acontecia isso significa que havia alguém na casa, talvez essa pessoa tenha salvado algumas coisas do incêndio.
Surpreso Héctor ficou sem saber o que falar, nunca pensara sobre isso. Obviamente que havia alguém na casa, mas por que salvar seus pertences? Uma batida na porta fez seu coração acelerar, provavelmente era Samara com notícias de sua filha, timidamente ela colocou a cabeça para dentro.
- Oi Samara, e aí a Açucena se acalmou? – perguntou o delegado.
- Sim graças a Deus ela está mais calma, o Luan está com ela. – respondeu entrando se prostrando ao lado da cama. – Delegado Abraão, como eu acabei de dizer para Açucena eu estive ao lado dele a maior parte do tempo e posso lhe assegurar que ele não saiu daqui, ele não tem telefone para ligar e ninguém além do senhor ou do Rafael vem vê-lo. – disse o defendendo.
Os dois homens a Encaravam perplexos, o delegado Abraão preocupado assim como todos os outros se preocupava que ela estivesse se apegando a ele por associação paterna, por causa dos problemas que ela tinha com o pai e ele com a filha.
Héctor por sua vez estava impressionado pela coragem dela ao defendê-lo, ele não sabia o que fazer não tinha o costume de receber esse tipo de defesa das pessoas, ela era uma moça forte e corajosa, o idiota do pai deveria saber disso e cuidar dela e não querer mata-la, sentiu um misto de afeto e raiva, afeto pela moça corajosa ao seu lado o defendendo como ninguém jamais fizera antes e raiva do pai sem coração que não sabia valorizar a filha que tinha.
- Eu acredito em você Samara. – disse o delegado sorrindo.
...
- Açucena! – gritava Samara correndo atrás dela, com a visão embaçada parou. – Graças a Deus. – disse a puxando para seus braços. – Se acalme mana, assim o seu coração não aguenta.
- Eu tenho um coração forte, eu queria ter um pai biológico com um coração. – disse chorando.
- Venha e me conte o que aconteceu. – disse a puxando para um banco da praça na frente do hospital.
Açucena narrou tudo o que acontecera desde o momento que chegara e encontrara a caixa na porta até quando deixou a Norma e Luan sem olhar para trás. Samara lhe explicou que seria praticamente impossível o Héctor estar por trás daquela encomenda.
- Você não entende! — protestou Açucena.
- Eu não entendo mesmo! Como que uma pessoa esperta e inteligente como você caiu na conversa fiada dessa avó Rumpelstiltskin.
- Avó Rumpelstiltskin! É sério isso? Além disso, ele é homem. – disse sorrindo.
- Mais se enquadra perfeitamente naquela sua avó, ou você não assistiu Once Upon a Time! – as duas riam, Samara tirou o cabelo do rosto da amgia. - Minha querida, é claro que eu te entendo! — replicou ela. – Mais você precisa pensar antes de chegar nele daquela forma, já pensou que você pode estar muito errada e destruir qualquer possibilidade de um bom relacionamento com o seu pai?
- Eu não posso perdoá-lo por difamar a minha mãe, talvez você esteja certa e não foi ele quem me mandou aquela caixa, mas ele falou horrores da minha mãe para os meus pais ainda que ele não a tenha matado, não posso!
- Açucena! – chamou Luan sentando ao seu lado. – Fiquei tão preocupado.
- Luan fica com ela que eu vou voltar. A dona Eugênia já deve estar oferecendo a minha cabeça em sacrifício. – disse Samara se levantando ao virar deu de cara com Rafael.
- A minha mãe está pegando no seu pé? – perguntou ele curioso.
- Nada! É que ela é muito rígida, mas faz parte do papel de chefia, com licença. – respondeu correndo para o hospital.
- Você a constrangeu. – disse Luan.
- Você sabe de alguma coisa Açucena? Se a minha mãe está pegando no pé dela mais que o necessário? – perguntou sério. Os amigos entreolharam-se, com o olhar Luan pediu para ele não dizer nada.
- Rafael ela é mais dura com ela do que com as outras. - respondeu dando de ombros.
- Eu vou encontrar o delegado e talvez eu faça uma visita à minha mãe no trabalho. – disse seguindo por onde Samara saíra.
- Por que você disse a ele? Obviamente que a Samara não quer que ele saiba.
- Ele tem o direito de saber o que a mãe dele está aprontando. – disse o encarando, o olhar triste dela partiu-lhe o coração.
- Vamos embora daqui, a senhorita já teve emoções demais por hoje. O delegado vai nos atualizar, mas por enquanto, a senhorita está sob a minha guarda. - um pequeno risinho embargado escapou dela, enquanto Luan passava as mãos em seu rosto.
- E o meu livre arbítrio, onde fica?
- Onde Judas perdeu as botas, agora vamos! Eu dirijo porque se você pega nesse volante de novo é capaz do carro implorar por misericórdia.
Ela foi colocada cuidadosamente dentro do carro, como uma porcelana, enquanto ele ocupou o banco do motorista e o silêncio não era ruim quando estavam juntos, os dois chegaram à conclusão juntos e um sorriso involuntário escapou de seus lábios.
Açucena havia aceitado a justificativa de Samara, sabia que a amiga por mais que gostasse do Héctor não mentiria para ela, ainda que não compreendesse todo esse afeto que a enfermeira nutria por seu pai biológico, sacudiu a cabeça dispersando qualquer pensamento naquele momento queria apenas aproveitar a companhia do belo rapaz ao seu lado. Sorriu quando ele parou na praia e de mãos dadas caminharam por algum tempo em silêncio, era incrível como ele parecia saber quando ela precisava de tempo para por os pensamentos em ordem.
- Se não foi ele quem me mandou aquela caixa, quem foi então? – perguntou em dado momento que sentaram olhando as ondas.
- Eu creio que se descobrirmos quem lhe mandou esse presente macabro, descobriremos quem matou sua mãe.
- Se for assim então ele sabe quem me enviou. – retrucou frenética.
- Pensei que já que não fora ele quem te mandou o esqueleto, você iria descarta-lo da sua lista de suspeitos.
- Não mesmo! Eu vou esperar sair o resultado da autópsia para ter certeza de o esqueleto é mesmo da minha mãe, e então vou voltar a falar com ele, por que ninguém me tira da cabeça que se ele não a matou é cumplice e eu vou descobrir. — soltou um suspiro cansado. – Podemos, por favor, mudar de assunto? Eu estou tão cansada! – disse deitando a cabeça no ombro dele.
- Com toda a certeza! – concordou a abraçando.
O local era pouco frequentado, ainda mais durante a noite, então o mar promovia um espetáculo particular para quem estivesse ali.
- Qual sua história bíblica favorita? — Luan puxou o assunto.
- Eu acho linda a história de José, agradeço a Cristo por ser filha única em alguns momentos, não estou dizendo que não queria que minhas irmãs estivessem vivas, mas parece ser tão complicado ter irmãos.
- Está tudo bem, não precisa explicar, estamos aqui para descontrair e não para pensar em coisas tristes. Eu sempre admirei a história de Salomão, pela sabedoria dele.
- Me deixa ver se eu consigo acertar, principalmente naquela história do bebê. — ele concordou sorrindo. - Desenho favorito? – ela perguntou sorrindo também, era tão fácil sorrir ao lado dele.
- Vida de insetos! — disse ele sorridente. - Eu acabei finalmente virei uma linda borboleta! — os dois riram.
- Eu teria coragem de assistir todos os desenhos da minha infância agora como adulta, vida de insetos estaria na lista, mas eu confesso que amo a bela e a fera, principalmente por causa da canção da aldeia, onde todo mundo canta que vai caçar a fera, sei lá é meio tenso, mais é muito bom.
- Eu acho que sou o único menino fã de a bela e a fera também amo essa parte! — ele sorriu.
- Conhece alguma fala do filme? Você tem uma voz linda seria um ótimo dublador! – disse o encarando ele sorriu tímido.
- "A fera vai apavorar os seus filhos, vai persegui-los à noite, só estaremos seguros quando eu empalhar a cabeça dela"!
- A sorte do mundo é que você é crente, daria para interpretar o Gastão. Vou sugerir à televisão fazer um live-action da bela e a fera e colocar você para interpreta-lo!
- Está amarrado! — ela deu uma gargalhada melodiosa.
- Você foi a melhor coisa que aconteceu comigo desde que eu cheguei nessa cidade! — disse ficando séria, ele ficou vermelho ao ouvi-la.
- Há, eu agradeço! Desculpa é que eu fiquei um pouquinho sem jeito agora. — os dois dividiram a vergonha, sorrindo posteriormente aconchegando-se um no outro.
Algumas semanas depois finalmente o resultado da autópsia chegou comprovando que de fato os ossos eram de Olivia, até que por fim foi reconhecida, e Açucena queria um lugar digno para enterrar os restos mortais da mãe.
...
As semanas seguintes foram complicadas para Héctor, um incêndio destruiu o hospital onde estava internado, levando-o de volta ao Hospital Central enquanto outro lugar fosse preparado para receber os pacientes do Hospital doutor Eric Martinelli, a única coisa boa disso foi que finalmente ele foi liberado, não havia motivo para ele ocupar um leito de um hospital público sendo que ele poderia ser tratado em casa, afinal ele estava bem precisava apenas se fortalecer um pouco mais.
Comprou uma nova casa, em uma região mais isolada, com poucas casas o bairro seria habitado em um futuro distante, pelo menos era o que ele pensava. Nessas semanas ele reformou a casa, conforme seu desejo, montando seu próprio laboratório e contratando uma pequena equipe de funcionários que certamente manteriam o máximo de distância dele.
Assim que se apossou dos bens novamente, tratou de olhar currículo por currículo de cada funcionário, investigar os familiares dos mesmos para garantir o emprego de quem não era cúmplice daquele cretino que jogou seu nome na lama. Os laboratórios e farmácias Demetriou sofreram uma varredura, desde a sede em Granville até a última filial, fora do país, ele mesmo preparou cada carta de demissão, que era sempre encerrada com um pequeno aviso, aconselho ao senhor que procure um advogado, o processo não demorará a chegar.
Certas coisas não precisavam ser feitas em público, e agradeceu ao jornalista Isaac por manter sua empresa longe do escândalo da clínica do Olavo, embora soubesse que nada do que fizesse poderia aliviar a dor das pessoas que sofreram nas mãos do Olavo, ele decidiu fazer um pagamento em indenizações aos envolvidos na clínica clandestina, confiando mais uma vez no jornalista que junto ao Luan lhe salvou a vida, para que tudo fosse feito no mais absoluto sigilo. Compreendia que um milhão de reais não seria suficiente para pagar as vidas que estariam marcadas por aquilo, ainda assim, poderia ajudar.
Naquele dia ele estava verificando os contratos de confidencialidade que o advogado havia preparado para as pessoas que iriam receber a indenização assinassem quando uma batida na porta o irritou, odiava ser interrompido pelo que quer que fosse.
- O que é? – perguntou sem mandar entrar. Timidamente Jessica colocou a cabeça para dentro.
- Senhor. A dona Norma e a Açucena estão aqui. – ele surpreendeu-se jamais esperava pela visita da filha, a mãe ele sabia que mais cedo ou mais tarde ela iria aparecer. – Eu sinto muito, disse que o senhor mandou que ninguém o incomodasse agora, mas as duas não me ouvem, estão ameaçando fazer um escândalo no portão se eu não abrir.
Ele sorriu a coitada da Jessica estava tremendo, ele a encontrara e ao irmão na rua no dia que recebera Alta do hospital os dois moravam estavam passando por uma situação de rua e ele não poderia permitir que uma garota de dezenove anos, com um irmão ainda mais novo permanecesse na rua, mas ele não sabia como fazer para ela deixar de ter medo dele, sorriu ao se recordar das situações que ele assistia dela com o irmão pelas câmeras que tinham pela casa, talvez ela tivesse medo dele, talvez ela apenas o respeitasse, apenas não era tão audaciosa como a Samara.
- Está tudo bem Jessica. Eu receberei as duas, pode mandar abrir em o portão que já estou indo.
As duas ocuparam o enorme sofá da sala climatizada, Açucena estava calma, a ameaça do escândalo veio de Norma, ela jamais faria algo assim, na verdade já estava pronta para ir embora quando a funcionária abriu o portão, sentiu as mãos suarem ao vê-lo descer a escada, afinal o que estava fazendo ali? Por que fora na onda da avó?
- Bom dia para vocês. Em que eu posso ajuda-las? – Açucena surpreendeu-se com a voz forte e altiva do pai, em nada o homem a sua frente lembrava aquele que ela vira no hospital.
- Você não muda mesmo né? – provocou Norma sarcástica. - Sempre se escondendo em fortalezas, não entendo por que tanta reclusão de onde vem tudo isso.
Açucena olhou séria para ela, não foi ali para esse tipo de provocação que elas foram até ali, ele por sua vez, ouviu a repreensão da mãe como se nada do que ela falasse tivesse qualquer importância, ela ficou triste afinal ele também não se importava com nada do que ela falasse.
- "Mais por que eu ficaria triste por causa disso? Que me importa se ele liga ou não para mim?" – pensou irritada abrindo a boca para dizer o que a levou até ali, sendo interrompida por ele.
- Se tivesse me criado desde pequeno, talvez soubesse. — respondeu a mãe sem nenhuma emoção.
Açucena teve que concordar com ele e pela primeira vez que desde que vira o pai lançou a ele um olhar comovido, ele pareceu compreender que ela não compactuava com a avó, não que ela estivesse interessada na opinião dele.
Héctor viu o olhar da filha e por um momento uma curta trégua teve início entre os dois, aquela troca de olhares acendeu uma fagulha de esperança em Héctor.
- Parece que estou falando com um adolescente de quinze anos e não com um homem de quarenta e nove anos, que construiu um império! Não acha que já passou da idade de fazer esses dramas? Nunca te faltou nada ao lado da Violeta e do Leônidas. Além disso, você não vive se vangloriando, dizendo que eu não te faço falta?
- "Você é mesmo muito estúpido, tolo e idiota. O que você pensou que essas duas estão fazendo aqui? Não se iluda achando que sua filha veio aqui te dar as boas vindas por que não foi". – pensou repreendendo a criança interior.
- Bem, eu... — Açucena iniciou antes da explosão dos dois. — Eu quero te dar uma chance não só de provar que você não matou minha mãe, mas também de se aproximar de mim. Já ficou comprovado que você não me mandou o esqueleto dela junto com aquelas roupas. Eu acho que a gente começou essa relação muito mal, mas se você fizer o que vou pedir, nós podemos tentar desenvolver algo parecido com uma relação familiar. – disse ela cautelosa, e um princípio de incêndio estava substituindo a fagulha da esperança que acendeu o coração dele àquele olhar.
- Por favor, continue. — usou uma entonação mais leve para incentivá-la.
- Quero enterrar a mamãe ao lado das meninas. Eu já averiguei e só conseguirei isso com sua permissão, afinal de contas você é dono do mausoléu.
- "Estúpido. Tolo. Idiota. Imprudente. Emocionado. Criança tola e ridícula, nunca mais, ouviu bem? Nunca mais se permita sonhar com coisas que jamais serão suas, você não teve nada disso antes e não terá agora, aceita que dói menos". – pensou sem que nenhum musculo do seu rosto denunciasse o turbilhão de emoção que o atormentava.
- Ouça bem moça, eu respeito a sua infância, principalmente o que você viveu ao lado da sua mãe, é a sua vida, as lembranças do que você viveu, é o que você acredita e eu tenho um profundo respeito por suas ilusões de menina, filha nenhuma deveria descobrir o que você soube e se dependesse de mim, jamais você saberia, mas ouça bem porque eu não pretendo repetir. Aquela mulher só vai ocupar o lugar ao lado das minhas filhas, inclusive da filha que ela tirou a vida por cima do meu cadáver! A não ser que você queira me matar aqui e agora, guarde os ossos em qualquer lugar, e espere que eu morra aí sim você pode tomar decisões referentes a isso, afinal de contas eu sou o dono do mausoléu, logo será seu após a minha morte. Mais enquanto eu ainda estiver vivo, nunca, jamais, em hipótese alguma os restos mortais, daquela fulana ficam perto dos restos mortais das minhas filhas! — o tom de voz era neutro, mas a fúria presente no par de olhos acinzentados era tanta que provocou um movimento involuntário nas duas que deram dois passos para trás ao se levantarem.
- E se eu cometer a ousadia de desafiar sua autoridade e conseguir uma forma de fazer isso? Vai me matar também? — a voz trêmula da filha o interrogou.
- Ao contrário da sua mãe, eu não seria capaz de matar uma filha, pelo contrário eu daria minha vida por qualquer uma de vocês, mas o direito da paternidade foi tirado de mim da pior forma, é justamente por não querer uma assassina de crianças no meu mausoléu que estou tomando essa decisão, cabe a você decidir de que forma vai aceitar. Você pode tentar inutilmente conseguir esse enterro, a sua outra alternava é me matar ou procurar outro lugar para enterrar sua mãe e continuar alimentando suas ilusões e fantasias. Você não é obrigada a aceitar a realidade apresentada diante de você.
Confusa, açucena saiu correndo para fora da residência.
- Eu fico pensando em que tipo de mulheres seria a Lírio e a Dália se tivesse crescido ao seu lado. – alfinetou Norma cruelmente.
- Você sente um prazer doentio ao me humilhar não é mesmo? – perguntou sabendo que não teria uma resposta.
- Humilhar você? – perguntou gargalhando. - Você não é capaz de se comover com o sofrimento da sua filha Héctor, pelo amor de Deus, quer me convencer que se importa com o que eu falo?
- Então por que ainda perde o seu tempo falando?
- Porque eu tenho esperança de que um dia você caia na real e perceba tudo o que perder por causa desse seu maldito orgulho, veja agora, a sua filha está disposta a esquecer tudo, e você só precisa dar a ela um lugar digno para enterrar os restos mortais da mãe, mas você não consegue perdoar o fato de a Olivia ter ido embora te abandonando por puro orgulho você queria uma mulher infeliz ao seu lado, e por orgulho não quer ajudar a filha que diz ser capaz de morrer por ela, você não é capaz de morrer por ninguém.
Ele não soube em que momento deixou de ouvir a mãe, até que uma voz feminina muito especial se fez ouvir. Era Samara, confuso sacudiu a cabeça, mas o que ela estaria fazendo aqui olhou para os lados, as duas se encaravam furiosamente.
- A senhora não conhece seu próprio filho! – esbravejava Samara. – Ops! Mais ele não é seu filho, não é mesmo? Nós sabemos que sangue não significa nada, ele sempre foi órfão de pai e mãe, e fora solitário, mas agora ele não está mais sozinho e a senhora não sabe do quanto o homem que saiu do seu ventre é especial e melhor que todos vocês que nunca o mereceram.
- Samara. – ele chamou.
- Mas quem é mesmo você? – perguntou Norma olhando de um para o outro. – Espero sinceramente que você não esteja tendo um caso com uma garota que tem idade para ser sua filha.
- A senhora é uma criatura suja, não é? – perguntou Samara horrorizada. Héctor sentiu uma raiva irracional pela mãe.
- Por favor, Norma você já fez mais do que o que veio fazer, saia da minha casa.
- Vocês dois me enojam, eu só não vou falar isso para a Açucena por que ela está passando por um momento difícil.
- Tchau Norma. – disse a empurrando porta a fora. – Me desculpa por isso. – disse envergonhado
- Tudo bem, nada disso é culpa sua. Mais o que aconteceu? A Açucena saiu chorando eu a chamei ela nem me ouviu, o que elas vieram fazer aqui?
- Nada de importante, O que você faz aqui?
- Eu vim te trazer um bolo de cenoura maravilhoso que a minha mãe Rosa faz. – só então ele percebeu que ela tinha algo nas mãos.
- Eu não gosto de bolo de cenoura. – mentiu.
- Todo mundo gosta de bolo de cenoura.
- Eu não sou todo mundo.
- Lembra-se do dia que você me salvou?
- Claro. Você não me deixa esquecer. – disse cruzando os braços.
- Pois bem, você me confortou e tranquilizou.
- Tranquilizei? Não era o que parecia. - disse travesso.
- Mais olha isso! Jogando na minha cara minha fragilidade! – disse no mesmo tom travesso. – Por esse ato impensado, eu comerei do seu bolo também, e como eu posso ser atropelada ou sei lá o que, é melhor você comer logo do bolo comigo, pois só vou embora depois de você experimentar do bolo da minha mãe. — ela abriu um sorrisinho travesso diante do revirar de olhos dele.
- Entendo, quer dizer que se eu não comer logo desse bolo, vai ficar tarde e você vai se arriscar por nada?
- Por nada não, pelo bolo de cenoura e por sua companhia. Onde fica a cozinha?
- Samara eu sei que você é grata por eu ter salvado sua vida, mas eu apenas estava no lugar certo na hora certa, não aconteceu nada demais, não precisa ficar ao meu lado ou me defendendo dos ataques da minha mãe.
- Você precisa aprender uma coisa sobre as pessoas que convivem com a família do doutor Eric, nós gostamos de pessoas, nos apegamos a qualquer coisa viva e não largamos nunca. Eu quero que você saiba que você não está mais sozinho, tem alguém que vai gostar de conhecer a pessoa que você realmente é, pois eu duvido muito que toda essa carranca não esconda uma pessoa muito sensível, disposta a dar aquilo que fez falta a ela durante a vida toda.
- Você está falando de mim ou de si mesma?
- Caramba! Eu sabia que reconhecia você de algum lugar, só não esperava que fosse do meu próprio espelho. – disse balançando a mão. Contrariado ele se percebeu sorrindo.
- Só tem um problema Samara, você vai descobrir que está errada sobre mim. Eu não tenho nada a oferecer a ninguém mocinha. — avisou, se fechando mais ainda pelo que havia acabado de acontecer, não daria espaço para ninguém magoa-lo novamente.
- Eu entendo, também não sei se tenho algo a oferecer a alguém. – respondeu no mesmo tom magoado e ressentido, odiava o que estava começando a sentir em relação àquela moça, ele era pai nem da própria filha como poderia ser pai da filha alheia!
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