VINTE E QUATRO - NOAH
Fui demitido na última semana. Tudo por causa de Mike. E da Callie. Pensar no nome dela deixa meu sangue quente.
Na hora não pensei em programa, faculdade, escola, em nada. Aliás, não sei se me importo com isso agora também.
Só tenho falado com Amy esses dias. Ignoro as ligações de Tyler e as vindas dele aqui. Se ele quer defender aquela garota, eu não tenho nada para ouvir. Não quero saber dela, não quero nada que tenha algo a ver com ela. Deus, eu sequer quero ouvir o nome dela.
Não sei se estou pronto para encarar as pessoas. Não sei quantos sabem do que aconteceu, não sei quantos sabiam sobre ela e Mike. Não sei nada. Eu não sabia de nada antes e pelo visto nada mudou.
Não sinto tanta raiva quanto antes. Agora é o vazio que toma conta. Mas não deixarei isso me controlar. Não posso mais ficar trancado nesta casa como um tolo idiota. Não posso esquecer que tenho uma vida porque ela esqueceu. Dane-se ela, dane-se o Mike.
– Aonde você vai?
Harold me vê abrindo a porta de casa. É quase meia-noite e estou sem sono.
– Lugar nenhum. – Fecho a porta.
Eu planejava andar por aí, apenas para sair um pouco de casa, mas não posso agora que Harold me viu.
– Quando vamos falar sobre o que aconteceu no hotel? – ele se aproxima com os braços cruzados.
Está escuro e não posso ver seu rosto, mas sei que está irritado. Só o tom da sua voz indica isso.
– Eu já disse que não quero falar sobre isso.
Vou em direção ao meu quarto, mas Harold entra em meu caminho.
– O que está acontecendo? – ele pergunta. – Sua mãe está preocupada. Amy está preocupada. – Fecho os olhos desejando que ele pare de falar. – Você mal está comendo, Noah. Foi expulso do programa por briga... Eu não acreditei quando me contaram.
– Eu não estava pensando direito. – Acabo dizendo. – Por favor, Harold, eu não quero falar sobre isso agora.
– E quando vai falar? Conte-me o que está havendo. Eu talvez possa ajudar, Noah. – Ele soa preocupado. – Posso não ser seu pai, mas você é como um filho para mim.
Controlo minha respiração – do jeito que tenho feito durante toda semana.
– Sinto muito, mas não tem como me ajudar. Eu só preciso – aponto para meu quarto e tento encerrar o assunto.
Harold, muito a contragosto, libera o caminho e me deixa voltar para o quarto sem dizer mais nada.
Inspiro intensamente e encosto minha testa na porta depois de fechá-la.
Então àquele dia volta a rodar minha cabeça. Ela do outro lado da porta, insistindo. Lembro-me de seu rosto quando me viu pela janela. Colo meus punhos na porta, todo o acontecido voltando na minha cabeça. Sinto uma enorme vontade de quebrar alguma coisa.
Acho que a raiva voltou. Quero gritar – preciso colocá-la para fora – e não consigo. Ela quer sair de outra forma, mas não permitirei.
Minha intenção era sair pela porta da frente, mas provavelmente Harold ainda está vigiando no corredor. Não quero arriscar ter que lidar com ele de novo. Logo meus olhos encontram minha janela. Afasto qualquer lembrança que teima em aparecer e saio. O ar frio da noite me envolve e me acalma no mesmo instante.
Passo a noite na praia encarando o mar. E pensando. Escutando apenas as ondas quebrando e a minha respiração.
Não posso continuar desse jeito. Não importa como me sinto, não preciso demonstrar. Ninguém precisa saber o que está havendo comigo.
Consigo chegar em casa antes de acordarem. Todo um banho rápido e vou para a cozinha preparar algo para comer. Nem me lembro da última vez que comi algo direito.
– Já está de pé? – minha mãe aparece na porta da cozinha. Está vestida para trabalhar.
– Preparei para você. – Entrego a ela um prato com ovos mexidos e bacon.
Ela estranha, mas pega o prato de minha mão antes de se sentar à mesa.
– Você comeu?
– Sim. Comi cereal. – Tento não a encarar muito. Alguma hora as perguntas virão e não sei se estou preparado.
Ela começa a comer. Seus olhos em mim todo momento.
– Você está pronto para dizer o que aconteceu para ter sido expulso do programa quando faltavam poucos dias para o término?
Pronto. Eu sabia que vinha em algum momento.
– Harold deve tê-la contado.
– Sim, mas não o motivo. O que deu em você? Você nunca foi de briga. Tem a ver com a Callie?
Baixo os olhos para a mesa e dou de ombros. Realmente não estou preparado para perguntas.
– Tem uma hora que não dá mais. – Tento explicar. – Ouvi algo que me enfureceu e não me segurei. – Levanto os olhos para minha mãe que me observa atentamente. – Não sei o que deu em mim.
– Eu conheço você. Para ter se enfurecido é porque foi algo realmente grande. – Ela vira meu rosto para ela. – Mas, Noah, a dor física passa rápido. Seja quem for que tenha batido, nem deve estar sentindo mais. Mas aquela outra dor, a que te fez bater nele, é que permanece. E eu posso ver que você não está bem. Bater nele não te ajudou e nem ficar trancado naquele quarto.
Balanço a cabeça e tento dar meu melhor sorriso.
– Eu estou me sentindo bem melhor, mãe. – Digo e aponto para seu prato. – É melhor comer.
– Oh, sim. – Ela aponta para mim com o garfo. – Eu deveria fazê-lo preparar isso para mim todos os dias.
– Só pedir. – Sorrio.
É estranho que ela não tenha começado um sermão. Parece até que ela entendeu meu lado mesmo sem saber realmente o que aconteceu.
– Bem, querido. Tenho que ir. – Ela beija minha cabeça antes de se levantar. – Se cuida.
Harold aparece na porta.
– Está saindo? – ele pergunta olhando para minha mãe.
– Estou quase atrasada.
– Eu te levo.
– Então se apresse. – Ela acena para mim e sai apressada.
Estico para Harold o copo com café que preparei para ele.
– Obrigado. – Ele sorri levando o copo à boca. – Como você está?
– Bem. – Respondo sem olhar para ele.
Logo escutamos o grito de minha mãe, chamando por ele.
– É melhor eu ir. Eu trago algo para comermos no almoço. Até mais. – E sai apressado atrás de minha mãe.
Amy deve acordar bem mais tarde, portanto tenho a casa exclusivamente para mim. E isso está longe de ser bom. Estar sozinho me faz pensar em coisas que não quero. Só tenho que me manter ocupado e ficarei bem.
Lavo a pequena pilha de louça na pia, arrumo meu quarto, tento assistir algo na televisão. Até que não consigo mais. Pego meu celular, olho a lista de contatos e decido ligar para Thomas.
– Thomas?
– O próprio. – Ele responde. Ouço som de um vidro se estilhaçando ao fundo.
– Sou eu, o Noah. – Digo sem saber se ele viu meu nome antes de atender. – Está ocupado? Queria saber se topa sair para algum lugar, sei lá.
– Estou muito ocupado. Jogando. – Isso explica o barulho ao fundo. – Você pode vir pra cá, se quiser, claro.
Ele começa a gritar e eu acredito que seja com o jogo.
– Tudo bem. Estou indo.
Desligo e me levanto para sair, mas paro ao ver Amy se aproximando. Ela se senta no sofá – ainda parece que está dormindo.
– Bom dia! – exclamo. – Deixei cereal para você. – Ela apenas balança a cabeça. – Hal disse que traria o almoço. Eu vou sair.
Amy parece finalmente olhar para mim.
– Você vai sair? – ela soa surpresa. Faço que sim com a cabeça. – Com o Tyler? Ou com a Callie? – ela parece animada.
– Vou jogar na casa do Thomas.
A decepção é clara em seu rosto.
– Então você não voltou a falar com eles?
– Não. – Respondo prevendo sua pergunta. Abro a porta. – Você vai ficar bem?
– Aham. – Ela deita no sofá.
Vou direto para a casa de Thomas. Ele abre a porta quando estou prestes a apertar a campainha pela quarta vez.
– E aí, cara?! – ele bate na minha mão. – Fica à vontade.
Ele nem me espera responder e entra me largando na varanda. Puxo a porta e o sigo até o porão. A única iluminação aqui vem da pequena janela próxima ao teto e da televisão enorme no canto. Há um sofá em frente a ela e videogame no chão entre eles.
– Não tenho nada para te oferecer. – Thomas diz se jogando no sofá. – Só se quiser limonada.
Ele ergue um copo com limonada que só agora noto.
– Prefiro algo mais forte. – Brinco e me sento ao seu lado.
– Mesmo? – Ele fica de pé com os olhos arregalados. – Tem o armário de bebidas do meu pai. Ele nem vai dar falta. – Ele corre até as escadas. – Já volto!
Thomas volta quase no mesmo minuto com uma garrafa de vodca sob o braço, uma jarra – que acredito ser de limonada – em uma mão, um copo na outra e um sorriso bobo no rosto.
– Eu não falei sério, Tommy. – Estou rindo. – Está cedo para beber.
– Sabe o que dizem, não é? São cinco horas em algum lugar. – Ajudo-o a segurar a jarra e ele aproveita para encher meu copo apenas com vodca. – Deixe de ser careta, Noah.
– Ei, eu não estava sendo... – Paro e encaro o copo cheio que ele coloca em minha mão. – É melhor eu ficar apenas com a limonada.
– Fala sério! – ele dá uma golada em sua limonada depois de pingar álcool em seu copo. – Ah, Tyler veio aqui ontem. Perguntei por você e ele disse que você não quer falar com ele.
– É.
Confesso que quero falar com Tyler, mas não estou pronto para ouvir o que ele tem para dizer. E nem sei se terei paciência para ouvir quieto.
– Ele estava muito irritado com você, cara.
– Não estou preocupado com Tyler, Thomas. – Quando dou por mim, a bebida já está descendo pela minha garganta, queimando tudo durante o percurso.
Bebê-la pura desse jeito faz as coisas rodarem no mesmo instante.
– Vocês brigaram, ou algo assim?
– Ele está sendo irritante. – Dou outro gole. – Não estou com paciência para isso. – Bebo mais um pouco.
– Bom, veio no lugar certo. – Thomas abre os braços. – Não precisamos lidar com os problemas aqui. – Ele se estica para pegar o controle do videogame.
Dou outro gole, esse me deixa um pouco mais tonto. A cada nova golada perco mais o foco do que conversamos. Percebo que Thomas fala de Jessie, porém é a única coisa que entendo. Meu copo esvazia e eu o encho rapidamente. Thomas se vira para mim, mas estou longe. Meus sentidos anestesiados pelo álcool, meus problemas esquecidos, a dor desaparecendo. Esse líquido incolor me dá o conforto que achei que jamais voltaria a ter novamente.
– Callie e eu terminamos. – Solto e começo a rir. Por que eu disse isso mesmo?
– Você e Callie? Sério? Eu não sabia.
– Você deve ser o único. – Deito a cabeça no encosto do sofá.
– O que aconteceu, cara? Vocês eram o casal mais perfeito de toda Santa Mônica.
Isso me faz rir um pouco mais.
– Nada é perfeito.
– Certo. Não é da minha conta. – Ele diz pausando o jogo. – Mas agora entendo porque está assim.
– Estou assim porque me ofereceu isso. – Ergo o copo para ele.
Thomas dá de ombros e ri.
– Acho que posso te ajudar.
– Você já está me ajudando. – Fecho os olhos e dou um gole.
– Não, não. Tenho a solução perfeita para você.
– Qual é?
Abro os olhos e o vejo mexendo em seu celular.
– Está com sorte. Hoje à noite tem encontro.
– Encontro?
– Tem uma galera aí que se reúne para jogar cartas, sinuca, conversar e beber. É divertido. Você vai gostar e se distrair bastante. Nem pensará no seu término.
– Desde quando sai com essas pessoas? – pergunto.
– Não vem ao caso, Noah. Só não se mate de beber antes da hora, meu amigo.
Mal estou mantendo meus olhos abertos mesmo. Deixo-os se fecharem e termino o que está no meu copo.
Tomo um baita susto com Thomas sacudindo meu ombro. Meus olhos demoram a abrir.
– Você apagou legal mesmo. – Thomas ri.
– Que horas são? – levanto-me com muita dificuldade.
– Hora de sairmos.
Olho para a janela. Está escuro lá fora. Thomas ajeita as coisas ali e reparo a garrafa de vodca quase vazia. Bebemos mesmo tudo aquilo? A dor na minha cabeça diz que sim.
– Você consegue andar, não é? – Thomas pergunta me avaliando.
– Sim, claro. – Dou dois passos sem problema. – Vamos logo. Estou ansioso para conhecer esses seus amigos.
Thomas sai na frente, guiando-me e falando desses amigos. Quase não presto atenção. Sinto que preciso de álcool no meu corpo novamente. Não olho para onde Thomas me leva, mantenho meu foco nos meus próprios pés. Paramos em frente a uma casa azul. Thomas bate na porta e espera.
– Tommy? – o homem que abre a porta estranha. Toca uma música alta dentro da casa. – O que faz aqui?
– Fala, querido irmão! – eles se cumprimentam. – Trouxe um amigo para se divertir com a gente.
O irmão de Thomas – quase idêntico a ele, a diferença apenas na barba rala que tem – olha para mim com a sobrancelha erguida. Em seguida estica a mão para mim.
– Seja bem-vindo! – aperto sua mão. Ele olha para o irmão. – Não sabia que viria, Tommy.
– Falei com o Spencer, o dono da casa. – Thomas diz afastando o irmão da porta para entrar. – Ele disse que não teria problema.
– Certo. Sou Hunter, irmão do Tommy. Tenho certeza que ele não falou de mim.
– É, não falou. – Sou sincero. – Sou Noah.
– É um prazer, Noah. Pode entrar e ficar à vontade!
Entro atrás dele e vejo a sala da casa. Há mais três pessoas ali além do irmão de Tommy. O mais velho – que deve ter uns cinco anos a mais que eu – presumo que seja o dono da casa. Vejo a mesa de sinuca, o bar no canto e o videogame ligado a televisão.
– O que vocês fazem nesses encontros? – pergunto a Hunter.
– Jogamos. – Ele aponta para a mesa de sinuca e para o videogame. – E bebemos – aponta para o bar.
Thomas cumprimenta os outros e aponta para mim. Todos acenam. Já parecem bêbados.
– Ele terminou com a namorada. – Ouço Thomas dizer.
– Cara... – O que eu acredito que seja Spencer diz. – Namoro não está com nada. É a melhor coisa que aconteceu com você. – Ele ergue um copo com algo dentro que não parece vodca. – Está convidado para vir sempre. Sinta-se em casa.
– Obrigado. – Agradeço sem saber onde ficar exatamente.
Thomas se aproxima de mim com dois copos pequenos. Fazemos um brinde por eu estar solteiro e passamos a conversa com os amigos dele.
– Você joga sinuca, Noah? – Sky se apoia no taco de sinuca.
– Nunca joguei antes. – Respondo.
– Não jogo com iniciantes – ele se gaba e Miles me entrega o controle do videogame.
– Vamos matar uns zumbis para você esquecer a sua garota.
– Nisso eu sou bom. Se preparem. – Sorrio e me sento no sofá.
Miles configura o jogo, diz que vai ser desafiador pois temos recursos limitados. Thomas me entrega mais um copo cheio. Dou um grande gole, saboreando bem antes beber novamente. Thomas senta-se ao meu lado, parecendo bem ansioso.
– Noah, nas suas costas! – Thomas grita e eu me protejo.
– Não vale ajudar! – protesta Miles.
– Ok, eu fico calado. – Thomas levanta as mãos e finge fechar o zíper em sua boca.
A partida avança e fica cada vez mais eletrizante quando os recursos de Miles acabam e seu personagem se aproxima do meu tentando utilizar-se da minha cobertura.
– Vai pra lá, você não era o mestre do jogo? – eu troco de lugar no jogo, mas ele continua a me seguir.
– Sem balas.
– O que eu ganho em troca de te salvar?
Ele pensa por um momento e se assusta quando eu o deixo na mão.
– Você pode levar um pouco da nossa mistura especial. Um gole e você já esquece os problemas, uma garrafa inteira e você mal lembra do seu nome.
– Troca justa. – aceito sem discutir.
Sobrevivemos em equipe por mais alguns minutos, até que nossa base é invadida por zumbis demais e Miles cai. Eu não consigo me salvar dos comedores de cérebro e me suicido jogando-me do topo do prédio.
– Quero meu prêmio – cruzo os braços impaciente.
– Aqui. – Hunter me entrega um cantil metálico. – Você mereceu.
Só consigo chegar em casa graças a carona de Hunter. Ele não bebeu essa noite, porque seria o motorista de quem precisasse ser levado para casa. Eu agradeço por isso.
Pela janela vejo Harold na sala. Não posso de jeito nenhum ser visto desse jeito. Dou a volta na casa – usando as paredes de apoio – e paro na janela de meu quarto. Tento abri-la, mas parece impossível.
– Noah?
Viro rosto na direção da voz e vejo minha irmã assustada. Ela sai de trás da mesa e vem até mim.
– Você tá bêbado?
Sacudo a cabeça, negando. E bom, isso só deixa a minha situação pior. Tudo parece rodar.
– Eu...
– A mamãe vai te matar.
– Eu só tenho que chegar ao meu quarto. – minha língua se enrola. Não sei se Amy consegue me entender.
– Você vai me pagar por isso. – Ela avisa e abre a porta que dá para a cozinha. – Vamos, Noah!
Vou até ela com bastante dificuldade.
– Harold me verá. – Lembro-a.
– Ele está muito concentrado no time dele jogando.
Sigo Amy, segurando-me no ombro dela. Paramos no corredor e vejo Harold com os olhos fixos na televisão. Amy me dá uma cotovelada que quase me faz gritar. Ela olha para mim e acena em direção a Harold. Não sei o que ela quer dizer. Minha cabeça não está funcionando muito bem.
– Diga alguma coisa e vai para o seu quarto. – Ela sussurra impaciente.
– Certo. – Olho para Harold. – Ei, cheguei. – Espero que não tenha soado nada bêbado. Harold apenas levanta a mão, me cumprimentando de longe.
– Agora vai. – Amy me empurra em direção a meu quarto.
Quase tropeço em minhas próprias pernas. Busco apoio na parede e sigo para o meu quarto. Paro na porta.
– Fico te devendo. – Murmuro.
– Ah, eu vou te lembrar.
Sorrio em agradecimento e entro em meu quarto. Chuto meus tênis para fora de meus pés e caio na cama feliz.
Feliz por não ter nada que me aborreça em mente. Feliz por saber que só acordarei amanhã. Feliz por ter encontrado algo que me ajude a superar.
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