VINTE E OITO - NOAH & CALLIE
Eu sabia que Callie estaria aqui. É a festa da melhor amiga dela. Só não esperava ser recebido por ela na entrada. Não a reconheci a princípio, – na verdade não olhei para o rosto de ninguém –, mas sua voz chamou minha atenção. Eu não estava preparado.
E parece que ela não quer falar comigo. Certo. Eu a ignorei antes, não me surpreende ela decidir me ignorar agora. Mas não faz com que eu me sinta bem. Perdi a coragem.
– Noah. – Spencer me chama sacudindo meu ombro. – Cadê sua animação?
– Uma hora ela aparece. – Digo baixinho. Acho que Spencer nem escuta.
– Vamos beber! – ele grita e vai na frente.
Miles, Sky e Hunter o seguem e eu fico para trás. Cumprimento alguns conhecidos antes de ir atrás deles. Não deixo de notar como a casa está decorada de acordo com o tema por todos os cantos. E os convidados são, em sua maioria, um contraste contra as cores e flores do Havaí. Pelo visto quase ninguém foi avisado do tema e se deveria vir à caráter.
Encontro-os sentados no quintal, em um sofá em forma de meia lua com uma mesa de centro. Sento-me na ponta. Miles na outra ponta ergue seu cantil.
– Se quiserem, trouxe algo de casa. – Diz. E pelo jeito que fala, acho que também já bebeu em casa.
Sky pega o cantil da mão dele, abre e cheira. Logo sacode a cabeça e devolve para Miles.
– Só o cheiro me deixou zonzo. – Conta.
– Vocês são fracos. – Miles beberica calmamente. – Não quer, Noah? Você adora nossas misturas.
– Hoje não. – Respondo. – Quem é o motorista da noite?
– Nem olhem para mim. – Hunter ergue as mãos. – Chamaremos um táxi.
– Você paga então. – Miles resmunga.
Spencer fica de pé e aponta em direção a piscina.
– Se precisarem de mim, estarei lá. – Ele desaparece no meio das pessoas.
Annie se aproxima de nós. Está usando biquíni e saia de palha – como outras líderes de torcida que vi quando cheguei – e carrega um balde de gelo com garrafas de cerveja dentro.
– Olá, meninos! – ela coloca o balde sobre a mesa. – Aproveitem a festa!
Acena e sai. Miles e Sky a seguem com os olhos.
– Ainda bem que eu vim. – Sky diz muito mais animado.
Hunter pega uma garrafa do balde para mim e outra para ele.
– Estou adorando este lugar desde o momento em que pus os pés aqui. – Miles começa. – Sinto saudades das festas da escola. As garotas da faculdade não curtem muita bagunça como as do colegial.
– Nem me fale, cara. – Sky coloca os pés na mesa de centro. – Caras da faculdade fazem sucesso com as mais novas, então essa noite promete.
Eles riem como se fosse a piada mais engraçada do mundo. Eu fico incomodado com esses comentários absurdos. Tento ignorá-los e olho para os que estão dançando enquanto bebo minha cerveja. Vejo Spencer entre eles.
Também vejo Tyler dançando. Sei que devo conversar com ele, mas agora não parece adequado. Nem sei se ele ainda quer falar comigo.
Então meus olhos correm de volta para onde estou, só que eles desviam para Callie, que vem em nossa direção com outro balde de cerveja.
– Trouxe mais cerveja – ela troca os baldes.
Hunter a ajuda colocando as garrafas vazias no balde que ela segura, mas antes que ela possa se afastar, Miles a puxa pelo braço.
– Como posso agradecê-la por isso? – ele pergunta.
Minhas mãos se fecham no mesmo instante.
– Não me vem nada em mente agora – ela sorri.
– Nada? Na minha há milhões de ideias no momento. – Miles diz.
– Talvez depois – ela tenta se soltar dele para levar as garrafas vazias.
– Não precisa ir. – Miles ainda segura seu braço.
– Eu volto depois.
Finjo não estar prestando atenção neles, – assim como Hunter e Sky não parecem estar – contudo meus olhos e ouvidos estão bem vigilantes.
– Não, você vai ficar aqui agora. – O garoto que eu coloquei o colar mais cedo, que chegou junto do Noah, me segura pela cintura e me puxa para mais perto.
Abaixo-me para ficar perto do seu ouvido e sussurrar.
– A festa só começou, minhas amigas estão doidas atrás de um cara como você.
– Eu não quero elas – ele fala alto e claro. – Você vai ficar ou não?
Solto-me de suas mãos e agarro o balde com mais força. Mordo meu lábio e sorrio.
– Desculpa, não posso agora – dou-lhe as costas e ele ri. Mas me toco que nem sei seu nome e paro de andar. – Você não me disse seu nome.
– Miles – ele estende a mão e eu a aperto.
– Prazer em conhecê-lo – digo ajeitando os fios rosas atrás da minha orelha.
– O prazer foi todo meu. Você pode vir trazer mais cervejas para nós quando quiser.
Dou uma olhada no balde que acabei de deixar e calculo que não demorará muito até eles beberem todas.
– Quem sabe eu não faça o favor – me inclino para pegar uma garrafa que ficou para trás e Miles enfia a mão no bolso de trás do meu short.
Agora Miles passou do limite. Minha paciência foi para o espaço. Mais um pouco assistindo isso talvez eu faça uma loucura. Quando dou por mim, estou de pé. Callie não demonstra nada em sua expressão e isso me deixa pior. Vou até eles.
– Algum problema, Noah? – Miles pergunta sem tirar os olhos de Callie.
Não respondo. Seguro o braço de Callie e a tiro de perto dele, levando-a para a cabana de bebidas.
Por um momento, minha raiva vai embora quando olho ao redor e me lembro da última vez que estivemos aqui. Não quero lembranças agora. Eu a trouxe aqui com apenas um propósito.
– O que foi aquilo lá? – eu a solto. – Você o conhece?
– Por que eu tenho que dar satisfações a você?
– Eu sei que não tenho direito de me meter, mas ele não presta. Não fique perto dele.
– Por que você se importa com quem eu fico perto? – ela cruza os braços e suas palavras batem na minha cara e doem como um tapa.
– Só estou te falando. Ele...
– Ele nada. Desde quando você conhece ele? Quem é você para me dizer quem eu posso falar ou não? Você não é o Noah, disso eu tenho certeza.
Se antes foi como um tapa, agora suas palavras me atingem como um soco.
– Isso não é sobre mim. É sobre Miles. Ele não tem nenhuma boa intenção.
– Eu não ligo para essas supostas intenções que você está falando, eu não ligo para o que você acha. Eu tenho o meu direito de escolher.
– Eu não acho nada. Eu sei que ele não presta. Eu sei que ele não serve para você. Por que não me escuta? – controlo minha voz para não perder a cabeça aqui e agora.
– Não acredito que você quer tomar conta da minha vida – ela passa as mãos no rosto e me olha. – Eu preciso ir, tenho mais o que fazer.
Ela sai sem olhar para trás. Saio em seguida, se ela voltar para onde estava, eu não a deixarei em paz.
Não a vejo mais. Respiro aliviado ao chegar no sofá e saber que ela não está aqui.
– Por que tirou a garota daqui? – Miles pergunta assim que me sento.
– Não é da sua conta. – Pego minha cerveja.
– Ah, Noah, não acredito. Ela é a sua ex? – sua voz está me irritando.
– É sim. – Hunter responde brincando com uma tampa de garrafa. – Callie Lewis.
Bebo a cerveja tentando não ligar para eles.
– O que foi falar com ela? – Sky pergunta curioso.
Respiro fundo.
– Ah, deixa eu ver, nada que te interesse. – Solto.
– Alguém viu o Spencer? – Hunter pergunta. Quero agradecê-lo por estar mudando de assunto.
Abro a boca para responder que o vi dançando, mas Miles é mais rápido.
– O assunto Callie é mais importante. – O sorriso em seu rosto me irrita profundamente. – Nem adianta dar ataques de ciúmes, Noah. Você não a quer, então deixe que eu me divirta.
Se ele queria me enfurecer, ele conseguiu. Apenas o encaro com toda raiva que sinto estampada em meu rosto, mas não falo nada. Hunter abre os braços como se estivesse impedindo algo de acontecer.
– Miles, fica na sua. – Ele diz e olha para mim. – E você, relaxa aí. Vamos aproveitar as bebidas porque viemos para isso.
Miles sorri e bebe o que tem em seu cantil.
– Acabo de ver o Spencer. – Sky começa a rir e aponta para o pessoal dançando.
Hunter ri também.
Eu não tiro meus olhos de Miles. Ele não sairá da minha vista esta noite.
– Vou ao banheiro. – Ele diz ficando de pé.
Espero-o se afastar e vou atrás sem deixar que ele me note. Abro espaço entre as pessoas. Por pouco não o perco de vista, mas ele não está mais sozinho. Está colocando alguém contra a parede. Não alguém, é Callie. Mesmo de longe, percebo o desespero em seu rosto.
Meu sangue ferve. Corro até eles o mais depressa que posso e empurro Miles para longe dela. Ele esbarra contra algumas pessoas, ri e tenta se aproximar outra vez. Eu fico no seu caminho.
– Você ainda tem seus sentimentos por ela – ele diz com arrogância.
Parto para cima dele e soco seu rosto. Ele cai no chão e forma-se um círculo ao nosso redor. Meus olhos passam rapidamente por cada rosto e não encontro o de Callie.
– Miles, fique longe dela – eu digo, ainda a procurando.
– Cara, eu não acredito que você seja um ótimo mentiroso. – Ele se levanta e limpa as mãos na calça. – Quantas vezes você ficou com ela depois desse término de mentirinha?
– Miles – rosno.
– Vamos, Noah, diga. Vocês fazem um ótimo show – ele bate palmas lentas e debochadas. – Saia da minha frente, Young.
– Vá embora daqui. – Aponto em direção a saída. – Não quero mais olhar para sua cara.
– Você não manda em mim.
– Não me faça te arrastar até a rua, Miles. Só vá embora.
– Você não vai querer ter problemas comigo, Noah.
– Mexa com Callie ou com qualquer outra garota aqui e veremos quem terá problemas.
Ele me olha como se tivesse dúvidas. Eu digo para alguém chamar Annie e não é preciso esperar muito tempo até que ela apareça.
– O que está acontecendo aqui? – ela pergunta perdida, mas eu sei que é só show dela.
– Mande colocá-lo para fora antes que eu o coloque com as minhas próprias mãos – aponto para Miles, que de alguma forma caiu e está sentado no chão, rindo de mim.
– Noah – Annie segura o meu braço.
– Só faça isso e você não terá mais problemas.
Ela concorda e chama alguns caras para carregar Miles até a rua. Eles o pegam pelos braços e o arrastam pela casa, abrem a porta, ainda o carregam pela varanda e o largam no gramado. Eu assisto a tudo junto aos curiosos.
Com Miles fora, me sinto mais seguro de ir atrás de Callie. Subo as escadas e vou direto para a porta do quarto de Annie. Sei que Callie está nele. Paro ao ver a porta aberta.
No quarto, só a luz do abajur está acesa. Callie está sentada na cama, chorando. Sem a peruca, seu cabelo cai na frente de seu rosto. Eu não esperava vê-la desse jeito. Isso acaba comigo. Dói mais que suas palavras lá na cabana de bebidas.
– Callie.
– Vá embora – ela diz entre soluços.
– Me perdoe...
– Qual a parte do vá embora você não entende, Noah?
Entro no quarto e fecho a porta.
– Nós precisamos conversar – digo com firmeza.
– Eu te disse isso algumas semanas atrás e você não quis me ouvir.
– Eu vou te ouvir agora.
– Não quero falar – ela recolhe as pernas e coloca a cabeça no joelho. – Vá embora, eu não quero mais problemas.
Assisto-a chorar. Parte de mim se perde ali com ela. Eu achei que estaria ajudando-a se separasse Miles dela. O que eu fiz só piorou as coisas.
– O que você está esperando? – sua voz abafada pelo seu corpo não é doce como usual. Ela está indefesa.
Não a respondo. Atravesso o quarto e me sento ao seu lado na cama – não tão perto para machucá-la mais nem tão longe para afastá-la.
– Eu te avisei – murmuro.
– Não preciso de você agora para me dar lição de moral.
Afago suas costas. Ela derrama mais lágrimas e se recusa a falar comigo. Quando meus dedos se rendem ao seu cabelo, eu ajeito os fios para poder vê-la, porém ela enterra o rosto nas mãos.
– Fale comigo. – Continuo acalmando-a.
– Eu estou sempre estragando tudo. Que desastre que eu sou – ela inclina seu corpo para o meu lado e eu a abraço.
– Não diga isso – apoio meu queixo sobre a sua cabeça.
– Pare de me defender, olhe o que eu fiz com você.
– Não vamos falar de mim – engulo em seco. Ela sabe de alguma coisa
– Eu guardo segredos, eu destruo amizades e meu próprio relacionamento, eu machuco as pessoas que amo, eu deveria ser presa por isso – ela choraminga em meu peito.
– Callie...
– Noah, me desculpa por ter feito isso com você. Eu não sei se vai adiantar de alguma coisa explicar o passado, mas você merece isso, merece saber o que aconteceu comigo mesmo que não se importe mais – ela se afasta e me encara.
Eu quero dizer que me importo com ela, mas eu mal consigo falar.
– Callie, se eu não me importasse com você, eu teria te avisado e brigado por você? – é a única coisa que consigo pensar.
Ela segura a minha mão.
– Eu importo para você ou era medo de me ver com outro cara? – ela não se dá o trabalho de me olhar. Está distraída demais contornando os nós dos meus dedos.
– Eu me importo com você – soo verdadeiro. – Callie, olhe para mim.
Ela levanta o olhar.
– Eu não deveria ter lhe deixado do lado de fora – seguro seu rosto com as duas mãos. – Eu explodi com você, eu mal conseguia pensar e foi errado o que eu fiz. – Enxugo as lágrimas dela e um pouco do suor que lhe escorre a testa. – Eu sinto sua falta.
Não há emoção em seu olhar. Eu queria poder ler seus olhos como eu fazia no início do nosso relacionamento. Eu os lia como alguém olha para o céu e diz como está o clima. Eu sabia se ela estava ensolarada ou nublada. Mas agora eu não vejo nem se ela está bem.
Suas mãos frias sobrepõem as minhas. Lágrimas quentes escorrem pelo seu rosto e eu tento enxugá-las. Sua maquiagem está grudando em minha pele e eu passo a enxergar lentamente através dessa cortina.
– Callie, o que são essas cicatrizes? – eu paro para observar atentamente.
– Noah, esqueça-as.
– Callie – chamo seu nome atrás de explicações.
O que você andou fazendo durante esse tempo? Eu não consigo imaginá-la brigando com alguém.
– Você teve notícias do Mike? – ela foge das minhas mãos.
– Por que eu deveria ter notícias dele?
– Ele foi preso sob acusações de abuso sexual – ela teme suas palavras. – Depois que eu fui embora da sua casa, eu fui atrás dele para fazê-lo pagar por isso – ela aponta para mim e depois para si. – Eu juntei provas e testemunhas para uma acusação séria.
– Mas e as cicatrizes?
– Ele me bateu.
Eu sinto tudo de novo. A raiva que eu tenho dele. As memórias daquele dia e a confusão que eu virei.
– Como...
– Não importa, Noah, ele está preso agora. – Noto o orgulho em sua voz.
– Graças a você – me aproximo dela novamente. – Você não é o desastre que diz ser, Charlotte Lewis. Você é o melhor desastre que me aconteceu.
Ela se coloca mais perto de mim e segura meu rosto. Seus dedos correm por cada parte dele. Ela sentiu saudades e não está se esforçando para esconder isso. Deixo que ela leve o tempo que quiser, eu não sei se conseguiria deixá-la agora.
Quando ela chega ao meu cabelo, quase que instantaneamente, seus lábios se juntam aos meus com tal ferocidade que eu me assusto. Eu a puxo para mais perto e me inclino para trás, levando-a comigo.
Ela não para. Rápido demais para matar a saudade. Controlado para se encontrar em mim. A parte dela que ficou comigo. Ela tira o que parece ser um casaco e o joga no chão. Seus braços ficam mais livres para me tocar.
– Noah – ela diz entre beijos. Prendo-a com mais força contra meu corpo porque eu quero senti-la. Como eu senti falta dela.
Ela está usando o colar. Eu não sei porque ela ainda está com ele. E ela estava usando-o quando deixou Amy lá em casa outro dia. O que ela pretende com isso? É para se lembrar do que fez ou é como se dissesse o que não consegue falar?
– Eu te amo – ela diz antes de eu voltar para seus lábios.
Em um pequeno espaço de tempo, tudo muda. A conversa vira um beijo. E um beijo acende algo incontrolável dentro de nós. Por mais alguns segundos, aceitamos aquelas chamas que não queimam.
Deslizo para fora do alcance de Noah e me visto rapidamente. Espio pelo espelho e flagro Noah me observando.
Pego minha peruca no chão e vou ao banheiro recolocá-la. Ouço Noah se levantar com esforço. Por que eu não me sinto bem? Há algo faltando? Será que eu não fui boa demais? Encho o meu reflexo no espelho de perguntas.
Saio do banheiro e me apoio ao lado da porta. Ele não vai ter como me ignorar – sair pela janela não é bem uma opção.
Noah se aproxima e suas mãos deslizam pelos meus braços.
– Diga, por favor – mal ouço minhas palavras e duvido que ele as tenha ouvido.
Seu rosto não demonstra nada, ele fecha os olhos e me solta. Antes de sair, ele beija minha testa e não me responde.
Assim que ele desaparece, eu escorrego até o chão e soco a parede atrás de mim. Eu deveria aprender a diferença entre se importar e amar o mais rápido o possível.
Olá queridos leitores!
Espero que não tenha ficado confuso que há uma mudança de ponto de vista nesse capítulo. Quando você faz a leitura offline, os divisores com os nomes de quem está narrando (Callie ou Noah) aparecem. Usamos este recurso poucas vezes, então não se preocupem.
Atenciosamente,
Isadora — Gorro Vermelho
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro