TRINTA E NOVE - NOAH & CALLIE
Quando eu comentei que queria a companhia de Callie no concerto em Santa Mônica, eu tinha ideias por trás do convite. Ela poderia aproveitar para rever a sua família e, caso eu conseguisse pedi-la em casamento, poderíamos anunciar e definir os detalhes da cerimônia.
Não foram necessárias muitas horas de conversa. Chegamos ao acordo de que o casamento seria em Santa Mônica, na beira da praia, com nossos amigos e familiares. Callie veio com essas sugestões como se planejasse cada detalhe do grande dia desde que começamos a namorar.
Demorou três semanas até que pudéssemos nos reencontrar em Santa Mônica. Nossos pais ficaram bem animados e se ofereceram para ajudar a organizar e pagar a cerimônia. Callie e eu brigamos por independência, argumentamos que podemos arcar com tudo se estabelecermos limites, mas eles insistiram de todos os modos.
– Eu quero presentear a minha filha com um belo vestido – disse o senhor Lewis, abraçando a esposa, com lágrimas de orgulho e emoção atrás dos óculos.
– Vocês não precisam fazer isso – Callie tentou convencê-los de desistir.
– Charlotte, por favor. – A senhora Lewis segurou as mãos da filha sobre a mesa do restaurante.
– Tudo bem então. – Ela desistiu.
Minha mãe não deixou passar, ela tem esse orgulho que não seria derrotado só porque nós decidimos arcar com tudo. Ainda mais que os pais da nora dela pagariam o vestido. Então ela falou de uma lua de mel em qualquer lugar, nós poderíamos escolher à vontade.
– Então, mãe, eu não posso abandonar a turnê – tentei me explicar. – A data que agendamos no Seaside bate com o meu último dia de folga, não tem outro dia disponível para um evento desse tamanho.
– E nós teremos quanto tempo para organizar esse casamento? – ela ergueu as sobrancelhas.
– Quase dois meses.
– Vocês precisam da urgência? – reconheço nas palavras da minha mãe que ela não está satisfeita.
– Sim. Depois dessa data, eu vou estar mais cheio do que nunca e Callie terá diversos compromissos da faculdade.
– Não é muito tempo, mas vocês não querem nada muito grande mesmo. – Ela se conformou. – Nós vamos pagar parte da festa, sem mais discussões, Noah Young.
Eu ajudei no que pude, desde escolher a decoração das tendas até selecionar o que seria servido no jantar – de longe a questão mais importante da festa e precisava de todo cuidado. Callie ainda ficou mais uns dias para acertar tudo.
As seis semanas que antecederam o casamento voaram. Cada show que fazia me lembrava o quão próximo eu estava do maior momento da minha vida. Nesse meio tempo, eu deixei o país para apresentações. Mas a cada duas semanas, eu voltava para casa, pelo menos por um dia, para ver Callie.
Ela estava comigo, não importava o fuso horário, o momento, o problema que nós estávamos passando, ela tirava meia hora do seu dia para falar comigo. Conheci diversas pessoas durante as viagens, mas nenhuma delas é como Callie.
Foi piscar para eu me ver em Santa Mônica de novo. Callie me recebeu com um abraço enorme no aeroporto, mas mal deu tempo de aproveitá-la, tivemos que correr até o ensaio para o casamento. Pela noite, meus padrinhos me sequestraram para a despedida de solteiro – Ty e Thomas tomaram a direção da festa – e eu mal conversei com Callie. Mas pelo que ouvi aquela noite, ela também tinha sido raptada.
No dia seguinte, eu mal dei chance de nos separarem. Acordei Callie cedo e fiz ela sair de casa antes que percebessem. Nós passeamos pela cidade, parando em cada lugar que guarda um pouco da nossa história, desde a escola até o Píer. Foi como voltar no tempo.
Eu estive nervoso em várias ocasiões diferentes na minha vida, especialmente antes de grandes shows. Porém, em nenhum desses momentos eu estive tão nervoso como no dia do nosso casamento. Eu jamais encontraria as palavras certas para descrever aquele dia, apenas que eu estava nervoso à beça.
Callie caminhava até mim com seu maravilhoso sorriso de sempre, mas ele parecia maior, fazendo com que eu não conseguisse conter o meu. Eu só tinha olhos para ela. Todos os convidados pareciam fora de foco. Havia apenas Callie e eu ali na beira da praia, no Seaside Club. Como testemunhas, tínhamos o sol – que estava prestes a se pôr – e a brisa do oceano.
Não me controlei e a abracei assim que se aproximou de mim. Pareceu o caminho mais longo do mundo.
– Ei. – Sussurrei em seu ouvido. – Você está linda.
Callie não disse nada, tentava não chorar. Beijei sua testa e segurei sua mão.
Durante toda a cerimônia meu coração esteve acelerado. Recitamos nossos votos e colocamos a aliança um no outro mantendo nossos olhares conectados.
O sol se pôs no exato momento em que fui autorizado a beijá-la.
Eu não quis me afastar de Callie nem por um segundo na festa. Eu sabia que nosso tempo ali era limitado então não podia desperdiçá-lo. Só depois de o fotógrafo nos dispensar é que fomos cumprimentar a todos. Lembro–me de estar faminto mesmo conseguindo roubar algumas coisas da bandeja do garçom que passava por perto.
Ainda teve a dança. Foi um pouco engraçado, já que não tivemos tempo para ensaiar, nem nada. Eu ria – acompanhando os convidados – mais que dançava. O bom é que Callie foi paciente comigo todo o tempo.
Tudo estava tão maravilhoso que eu tive que agradecer – em algum dos vários discursos que foram feitos naquele dia – aos responsáveis pela organização. Nossas famílias e amigos fizeram um ótimo trabalho em apenas dois meses.
Eu não queria que o dia acabasse, mas confesso que estava doido para ficar sozinho com Callie. Queria aproveitar nossas últimas horas juntos antes de eu ter que embarcar em um avião na manhã seguinte.
Agora estou voltando para casa. Quatro semanas sem vê-la e a saudade está me matando.
Abro a porta de nosso apartamento e coloco minha mala para dentro primeiro.
– Ei, Callie. Cheguei.
Callie aparece no corredor e ao me ver, corre até mim. Envolvo meus braços ao seu redor. Ela descansa o rosto em meu pescoço e eu apoio o queixo em seu ombro.
– Pensei que fosse chegar mais tarde. – Ela murmura.
– Eu quis fazer uma surpresa. – Explico.
Callie ergue a cabeça para me olhar e eu não perco tempo. Enterro uma mão em seu cabelo e a puxo para um beijo. Ela aperta minha nuca, mostrando que sentiu minha falta. Eu a carrego até nosso sofá e só paro o beijo para poder encará-la.
– Senti sua falta, Callie Young.
Ela passa o dedo pelo cabelo que cai em minha testa.
– Eu estava contando as horas para te ver. – Ela segura em meus ombros. – Como você está?
– Bem cansado. – Beijo seu queixo. – E você?
– Estou bem. – Sua resposta não me convence muito.
– Tem alguma coisa errada?
Ela não responde. Entendo como uma confirmação. Levanto a cabeça novamente e levo minha mão para o seu cabelo que está espalhado na almofada. Beijo sua testa com calma e me sento. Callie se senta também, parece apreensiva.
Pego sua mão e beijo a aliança em seu dedo.
– O que aconteceu? – tento não soar tão preocupado, mas é claro que estou. Não consigo vê-la desse jeito e ficar tranquilo, ainda mais quando ela não diz nada. Mil coisas passam pela minha cabeça.
– Preciso te falar uma coisa.
– Você quer mudar de apartamento? Quer ir para uma casa? Que tal voltarmos para a Califórnia quando você acabar seu projeto? – antecipo-me perguntando tudo de uma vez.
– Noah, não é nada disso. – Callie aperta as minhas mãos, fazendo–me encará-la. – Eu não sei nem como te contar isso – Ela joga a cabeça para trás, como se afastasse as lágrimas.
– É algo muito sério? – Estou mais tenso e não tento esconder.
– Eu estou feliz por você ter chegado mais cedo, eu não sei se seria capaz te contar pelo celular – ela desvia do assunto.
– Você está me assustando, Callie. O que aconteceu?
– Noah – ela dá uma pausa para respirar fundo –, eu estou grávida.
Eu não sei o que dizer. Chego a pensar que entendi errado, mas a expressão no rosto de Callie me diz que ouvi corretamente.
– Callie, eu... – Paro. Ainda não sei o que devo dizer, então prefiro me calar.
– Eu sei que nós não planejamos nada, que as coisas estão acontecendo muito rápido, que talvez isso não esteja nos seus planos, mas aconteceu. Eu descobri ontem.
– Não estava em meus planos. – Confesso. – E sei que não estava nos seus também. – Respiro fundo e tento encontrar as palavras certas. – Estamos juntos, Callie. Apesar de não termos planejado nada, nós vamos conseguir.
Ela me abraça. Sinto que ela está aliviada.
– Eu fiquei com medo de você não aceitar a notícia e nosso casamento acabar. – Admite.
– Não acredito que isso passou pela sua cabeça.
– Você sabe, eu vivo com medo do que pode acontecer. – Ela beija a minha bochecha. – Você vai ser um ótimo pai, Noah.
– Você acha? Eu nem sei por onde começar.
– Que tal começar me ajudando a contar para nossos pais que eles vão ser avós? – sugere. – Essa ideia me assusta muito.
– Acha que eles não vão gostar da notícia?
– Quer saber mesmo o que eu acho?
– Quero. – Volto a ficar assustado.
Ela se afasta com um semblante mais leve.
– Eu acho que, quando contarmos, eles vão querer nos matar. Porém aceitarão a ideia tão rapidamente que esquecerão o sermão que pretendem dar. Além do mais, nós somos adultos, casados, pagamos nossas próprias contas, eles não mandam mais em nós.
– Eu sei, mas a ideia da minha mãe querendo me matar assusta bastante. – Passo a mão pelo meu cabelo. – Certo. Precisamos fazer isso.
– Lembra daquela vez que nos beijamos escondido na sua casa? Ela quase nos matou. – Callie alcança seu celular na mesa de centro.
– Não tenho como esquecer. Ela está sempre me lembrando quando vou visitá-la.
– Sério? Isso aconteceu faz, o que, sete anos?
– Eu não entendo a cabeça dela, Callie.
– Quem entende? – ela sorri e coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha. – Com quem falaremos primeiro?
– Acho mais seguro falarmos com seus pais.
– Tudo bem, então.
Contar aos pais de Callie foi tranquilo, a mãe dela perguntou se aquilo não era uma brincadeira de mal gosto enquanto o pai já comemorava. Até consigo respirar um pouco aliviado. Mas então vejo Callie ligando para minha mãe.
– Oi, Julia! – Callie diz.
– Callie, querida. Está tudo bem?
– Está tudo ótimo. E vocês aí?
– Estamos bem também. Noah está com você?
– Sim, ele está aqui do meu lado, a chamada está no viva voz.
– Oi, mãe. – Falo. – A gente precisa te contar uma coisa.
– O que vocês precisam contar? – só o tom da sua voz me apavora.
– Você vai ser avó – Callie solta logo a bomba antes que desista.
– Espera, você está me dizendo que... – Ela faz uma longa pausa e eu me preparo. – Noah Young, eu não estou acreditando. Me diga que isso é uma brincadeira.
– Não, mãe. Não é uma brincadeira.
– Vocês estavam planejando isso e nem me contaram?
Enterro o rosto nas mãos.
– Não, Julia. Não estava em nossos planos, não agora pelo menos. – Callie diz com mais facilidade que eu teria. – Eu só descobri ontem.
– Vocês sabem o que é cuidar de uma criança? Não, não sabem. Vocês poderiam ter evitado isso e...
– Mãe, por favor. – Eu a interrompo. – Nós não ligamos atrás de um discurso ou algo assim. Só queremos te contar a notícia. – Seguro a mão de Callie. – Vai ganhar seu primeiro neto, não deveria estar comemorando?
– Noah!
– Talvez a gente não tenha mesmo ideia de como fazer isso, mas iremos conseguir. Eu sei. – Decido não deixá-la falar. – Você me criou muito bem, mãe. Então eu sei que não tem como isso dar errado. – Sorrio para Callie. – E você conhece a Callie. Acha mesmo que ela não saberá cuidar de uma criança?
Fico admirando o sorriso que se abre no rosto de Callie que quase me esqueço da minha mãe.
– Não podem me culpar por estar preocupada. – Ela diz aparentando estar mais calma. – Podem ser adultos e estarem casados, mas irei sempre me preocupar.
– Nós entendemos, Julia. E os avós estão aí para nos ajudar, mesmo que nós estamos morando longe agora, nada como mandar uma mensagem ou ligar pedindo socorro. – Callie me tranquiliza com suas palavras. – Mas você já disse, nós somos adultos e temos que viver com nossas responsabilidades.
– É, não precisa ficar tão preocupada. Eu vou cuidar muito bem da Callie e do nosso filho.
– Noah, seu pai estaria orgulhoso de você agora.
Ela quase nunca fala do meu pai. Mesmo quando eu perguntava mais sobre ele, ela mal conseguia dizer. E agora ela me diz isso e eu travo, imaginando se ele estaria mesmo orgulhoso. Não tenho nenhuma lembrança dele, mas pelo pouco que minha mãe me contou, sei que ele amava música e com certeza teria me apoiado em cada momento.
– Noah, o que tem o seu pai? – Callie pergunta. Nós nunca conversamos sobre isso.
– Câncer de pulmão. – Murmuro. – Estava num estágio avançado e mais a pneumonia, ele não conseguiu se recuperar. Eu tinha só dois anos.
– Sinto muito, Noah – ela beija o meu rosto. – Por que você não me contou isso antes?
– Não encontrei o momento certo para o assunto antes e só agora veio.
– Seu pai era um bom homem, ele fez tudo o que podia para ficar com você nos seus últimos dias. – A voz da minha mãe suaviza, ela parece que vai chorar. – Você deveria tê-lo conhecido, Callie. Eu tenho um pouco de ciúme com Noah porque ele merece o melhor, no entanto você é a pessoa certa para ele, eu nunca vi o meu bebê tão feliz.
– Mãe, não precisa me envergonhar, tá bem?
Callie ri.
– Desculpa, filho. Bom, vocês já me deram a notícia e eu preciso ir trabalhar. Fiquem bem e me falem se precisar de qualquer coisa. – Ela desliga.
Deito a cabeça no ombro de Callie.
– Conseguimos. – Suspiro. – Enfrentamos minha mãe, vamos conseguir lidar com qualquer coisa agora. – Sorrio ao perceber o que está acontecendo. – Nós vamos ter um bebê. É isso mesmo? – ergo a cabeça para encará-la e a encontro rindo. – Precisamos começar a planejar as coisas. Eu quero o melhor para essa crian...
– Calma, Noah! – ela segura meu rosto e me olha gentilmente. – Você está exausto, é melhor dormir um pouco. Não precisamos organizar nada agora.
– Não estou exausto. – Minto e levo a mão para a sua cintura.
– Eu estou vendo que está cansado. – Ela beija o canto da minha boca. – Podemos conversar sobre isso melhor quando acordar.
– Callie... – Estou mesmo me sentindo cansado e precisando de umas longas horas de sono, mas não quero pensar em dormir agora. – Descobri que vou ser pai, não posso me permitir dormir agora. – Callie cruza os braços e me olha como se eu estivesse falando bobagens. – Você não está preocupada?
– Minha maior preocupação era você não aceitar tudo isso, Noah. Não posso ficar me preocupando com mais coisas agora.
– Tem razão. Não pode mesmo. – Eu fico de pé. – Vamos conversar mesmo assim quando eu acordar. – Pego minha mala e a puxo em direção ao nosso quarto.
– Quando acordar, veremos isso. – Callie vem atrás de mim. – Estou tentando entender o motivo de tanta pressa.
Largo a mala e me viro para ela, segurando suas mãos.
– Eu não quero perder nenhum detalhe. Não sei se poderei estar muito presente nesses primeiros meses.
– Eu sei que vai estar, Noah. Mesmo que esteja em outro lugar, eu sei que poderei contar com você. Como eu sempre contei. – Ela me abraça forte.
– Eu te amo demais, sabia? – beijo-a lentamente, mas Callie não demora para me afastar. – O que foi?
– Dormir. Você precisa dormir.
– É, eu sei. – Sorrio e tento beijá-la mais uma vez.
Callie foge do quarto e eu caio na cama. Estou tão cansado que não demoro muito para apagar.
Assim que acordo, conseguimos conversar. Porém a única decisão que tomamos é a de continuarmos neste apartamento. É adequado e não há razão para procurarmos outro lugar. O quarto que está sobrando – que, em teoria, era para ser o meu quarto – tem espaço o suficiente para o bebê.
A cada viagem que eu faço e retorno, é surpreendente ver a barriga de Callie crescendo. Apesar das fotos que ela me manda, nada se compara a ver pessoalmente e sentir a diferença toda vez que a abraço. E participar da arrumação do quarto é perfeito.
– Podemos ir às compras amanhã. – Digo olhando para o quarto quase vazio. Os móveis foram entregues essa manhã, mas ainda não estão montados. – Ainda não temos nenhuma roupinha para ela.
– Ela? – Callie franze a testa para mim.
– Sim. É uma menina. – Afirmo e aponto para as paredes brancas. – Eu prefiro elas assim. As cores vão estar nas outras coisas. Podemos usar todas as cores. O que acha?
– Por que está dizendo que é uma menina? – ela segura meu rosto. – De onde tirou tanta certeza?
– Eu não sei. Discorda de mim?
– Eu acho que é um menino. – Ela diz passando a mão na barriga. O hábito apareceu de repente. – Vamos descobrir na próxima consulta. Você irá comigo.
– Claro que irei, mas... – Seguro sua cintura a puxando para mim delicadamente. – Não precisamos saber agora.
– Quer que seja surpresa? – Faço que sim. – E como iremos comprar as coisas?
– Eu disse que podemos usar todas as cores. Cores suaves. – Dou de ombros. – Eu acho que ficará melhor que apenas uma cor.
– Certo. Se está com tanta certeza que teremos uma menina acredito que tenha nomes em mente, né?
Beijo seu rosto. Não conversamos sobre nomes ainda.
– Sim. Gosto de Zoe ou Lily. – Sorrio.
– Eu penso em três. Connor, Aidan ou Ethan. – Ela diz descansando os braços sobre meus ombros.
– Gosto desses nomes. – Admito. – Melhor anotarmos para nosso próximo filho, já que agora será Zoe ou Lily.
– Você vai mesmo insistir nisso? – Ela sorri incrédula. – E se for um menino?
Balanço a cabeça e não respondo. Aproximo meus lábios dos dela.
– Eu já amo tanto essa criança e ela nem nasceu. – Sussurro.
– Eu também. Fico imaginando como ele será. Se parecerá mais com você ou comigo.
– Ela. – Corrijo.
Ela ri e me beija suavemente. Sorrio contra seus lábios, puxando–a ainda mais para mim. Eu a ergo em meus braços e a carrego até o nosso quarto.
Passo o resto da minha folga focado no quarto do bebê e acaba ficando bem melhor do que eu poderia ter imaginado. Toda decoração deixa claro que é um quarto de criança, mas tem todo um ar de modernidade. Um quarto todo rosa ou todo azul nunca esteve em meus planos. Ainda bem que Callie concordou comigo e deu suas ideias para deixar o ambiente mais bonito, mais alegre e confortável.
Com o passar dos meses, consigo ter mais folgas para ficar com Callie, acompanhando-a de perto, indo a todas as consultas médicas, prestando atenção a todos os detalhes. Me sinto o cara mais feliz do mundo, apesar de sentir a preocupação bater algumas vezes. Ser pai é uma grande responsabilidade. Passei toda minha vida tentando ser o mais responsável possível, e agora eu simplesmente não sei se estou pronto. A maior parte do tempo eu não penso nisso, tento pensar positivo.
Encosto o ouvido na barriga de Callie e fecho os olhos. Gosto de fazer isso, faz com que eu me sinta mais próximo do bebê. Os dedos de Callie passeiam pelo meu cabelo.
– Quando me contou da gravidez, disse que eu vou ser um ótimo pai. – Comento e deslizo a mão pela sua barriga. Estamos no quarto do bebê. – Você tem certeza disso?
– Noah. – Ela levanta minha cabeça para que olhe em meus olhos. – É claro que eu tenho. Por que essa pergunta agora?
– Eu não sei. – Beijo sua barriga e em seguida sua testa. – Às vezes fico um pouco apavorado com a ideia de fazer algo errado.
– Você não vai fazer nada errado, Noah. – Ela segura meu rosto com as duas mãos. – Só de olhar para você já vemos que não tem como não ser um pai maravilhoso. – Suas palavras me confortam rapidamente. – Você cuida tão bem de mim.
– Faço o meu melhor. – Meu sorriso aparece espontaneamente.
– Sim, faz.
– Mas cuidar de você é diferente. – Seus olhos castanhos não desviam dos meus. – É um bebê, Callie. Precisa de todo cuidado e eu preciso ser responsável.
– Noah, eu não conheço ninguém mais responsável que você. – Ela sorri tentando me animar.
Afasto a mecha que cai em sua testa. Talvez não seja assim tão complicado. Preciso ser otimista. Não li todas aquelas revistas sobre gravidez e bebês em vão. Eu vou conseguir. Nós vamos.
– Se lembra do nosso primeiro beijo? – encosto o rosto em seu pescoço. Ela afirma. – Se lembra do que eu disse após ele?
Sinto seu corpo vibrar quando ela ri.
– Você disse algo sobre nós termos filhos, tentando me ajudar com a matéria. – Sua mão sobe e desce nas minhas costas. – É como se soubesse como estaríamos agora.
Beijo seu ombro antes de erguer a cabeça.
– Eu não fazia ideia, mas deveríamos ter convidado o senhor Herman para o nosso casamento. – Callie parece não entender quando me refiro ao nosso professor de biologia da época. – Se ele não tivesse passado aquele trabalho, talvez nada disso teria acontecido. – Olho ao redor antes de voltar a fitar os olhos de Callie. Penso melhor. – Não. Acho que aquele trabalho apenas me deu a oportunidade que eu precisava.
Os lábios de Callie se esticam num sorriso antes de se juntarem aos meus.
Conforme as semanas se passam, mais nervoso eu fico. Não mais preocupado comigo mesmo, e sim com o dia do nascimento. Não gosto nem de ficar muito tempo sem falar com Callie.
Todos que trabalham comigo e até a mídia querem saber mais sobre a gravidez. Callie não gosta de muita atenção sobre ela, então tentamos manter a discrição, dando respostas educadas, mas vagas. Falando sobre somente àqueles que importam.
Passei a ligar mais vezes para minha mãe nas últimas semanas. Pegando dicas com ela, qualquer coisa para me deixar mais preparado e me ajudar a não ficar apavorado quando chegasse a hora. Mesmo assim, sempre que eu estava em casa e Callie me chamava, eu já achava que ela estava entrando em trabalho de parto e ficava desesperado.
Acordei cedo hoje e não encontrei Callie na cama. Ela estava andando de um lado para o outro na sala, disse que estava se sentindo desconfortável. Sugeri que ligasse para a médica, mas ela não me deixou. Me garantiu que era apenas um incômodo e que iria passar logo.
Não passou. Algumas horas depois as dores vieram e eu vi que ligar não era a solução. Estava na hora. Peguei tudo que precisava e esperei por um táxi. Durante todo caminho até o hospital, não larguei a mão de Callie. Só pensaria em largar quando ela estivesse no quarto sendo atendida.
Agora estamos no quarto do hospital e eu ainda seguro firme sua mão. Ou é ela que está apertando a minha com força. Eu não sei.
– Você precisa de alguma coisa? – pergunto, não suportando vê-la com tanta dor.
– Só fica aqui comigo. – Ela diz controlando a respiração. – Eu não sei se eu consigo, Noah.
– Você consegue, Callie. Você é forte. – Encosto o rosto no seu e fecho os olhos. – E eu estarei aqui com você. Todo o tempo. Estamos juntos, lembra?
Ela não diz mais nada, mas aperta minha mão com mais força.
Não saio do lado dela em momento nenhum. O alívio só vem quando ouvimos um choro. Isso quer dizer que somos pais, que nosso bebê nasceu. A médica diz que é um menino.
– Eu devia ter apostado com você. – Callie diz baixinho. Sua voz soa tão cansada.
– Não seria justo. Você esteve com ele por todos esses meses, é claro que sabia. – Estou rindo, mas ainda estou nervoso. Callie sorri sem tirar os olhos da enfermeira.
Esperamos juntos por ela trazer nosso filho enrolado numa manta. Ela o coloca nos braços de Callie que só então solta minha mão.
– Ei, Aidan. Nós estávamos ansiosos para te conhecer. – Ver Callie com nosso garoto no colo, olhando para ele com lágrimas nos olhos, me deixa de um jeito que nunca me senti antes.
Nada nem ninguém pode explicar esse momento. É lindo.
Passo um braço por trás dos ombros de Callie e ficamos nós dois olhando para o nosso pequeno Aidan.
– Eu gosto de Aidan. – Digo e Aidan pisca para mim. Entendo isso como uma aprovação. – Ele gosta também. – Estou sorrindo como um bobo.
– Noah. – Callie quer que eu o segure. Ela vira o rosto para mim e seus olhos me dizem que vai ficar tudo bem.
Afasto meu medo e seguro Aidan com todo cuidado possível.
– Ei, filho. – Pego sua mãozinha e ele segura meu dedo. – Ele é adorável, Callie.
Callie encosta a cabeça em meu ombro e juntos o admiramos.
Nosso filho. Nosso Aidan.
Eu não poderia estar mais feliz.
Aidan acaba de desmaiar depois de horas acordado e pedindo a minha atenção. Acomodei-o no colchonete do chão da sala e estou usando desse tempo para continuar com a minha tese de mestrado. Apoio o livro na minha perna, acendo a luz do abajur e foco nos parágrafos intermináveis.
A minha mente se perde. Aidan rouba a minha atenção sempre, ele se encaixou tão bem na minha vida que não foi difícil me ajustar, ele é a minha nova prioridade. Eu deveria largar o mestrado, como meus pais aconselharam, mas eu preciso tentar conciliar antes de desistir – estou tentando seguir com as pesquisas, mas não há muito tempo de sobra.
As dobradiças da porta rangem e eu nem preciso me virar para saber que é Noah chegando.
– Callie? – ele me chama. Aidan se mexe ao ouvir a voz do pai.
– Ele acabou de dormir. – Informo-o. Noah chegou, posso tentar estudar agora.
– Ainda bem que não cheguei falando alto. – As chaves batem contra a mesa de vidro e eu estremeço. Se ele acordar... – Callie, eu não acredito que você está estudando.
– Primeira vez que consigo isso essa semana. – Dou de ombros e encontro o parágrafo que estava lendo.
Noah me abraça por atrás e seu queixo faz pressão contra a minha cabeça.
– Você precisa dormir – ele fecha o livro que seguro e tira-o da minha mão. – Aidan não vai acordar agora.
– Como você sabe? – tento tomar o que ele tirou de mim.
– Eu não sei. Posso cuidar dele enquanto isso, você merece um pouco de descanso.
Ele se afasta e eu pego outro livro na mesa de centro.
– Duas horas, por favor, depois eu vou dormir – insisto.
– Por que você não dorme bem hoje e estuda amanhã? Eu não vou trabalhar, posso tomar conta dele.
– Não, eu faço essa promessa todo dia e nunca consigo. – Resmungo.
– Você não me deixa escolha.
Noah me pega no colo, eu tento me soltar, mas ele me segura firme. Agarro-me aos móveis e paredes pelo caminho porque sei que, se eu deitar, vou dormir na hora.
– Como foi o seu dia? – pergunto para distraí-lo
– Tenho um novo projeto, mas não é o quarto CD.
– Você pode me contar?
– Ainda não.
Meu corpo relaxa quando Noah me deita na cama. Puxo-o para que ele fique comigo por, pelo menos, um minuto. Suas mãos na minha cintura provocam cócegas, seu perfume de hortelã misturados com traços de madeira e poeira, oriundos do estúdio que ele passou o dia todo, é reconfortante. Seus lábios tem gosto de café.
– O jantar está na geladeira – afasto seu rosto delicadamente. – Se Aidan chorar e o problema não for com a fralda, você pode me acordar.
– Eu vou ter uma conversa séria com ele sobre acordar a mãe de madrugada – sorri.
– Se você conseguir isso, vai chover canivetes.
– Encomende os guarda chuvas de concreto. – Eu solto-o e me esparramo na cama. – Não, descanse por hoje.
Ele puxa o cobertor até os meus ombros, me dá um beijo de boa noite e sai para buscar Aidan na sala, trazê-lo para nosso quarto e deixá-lo no berço.
Adormeço rapidamente. Os sonhos não vem, na verdade, eu descanso com as memórias do meu aniversário de 18 anos, que parece distante agora.
A única coisa que eu guardei desse dia, além das memórias, foi o colar com o pingente de coruja. Não o tirei desde então, nunca tive a intenção, nem mesmo no nosso casamento. Noah vive pedindo que eu deixe ele me dar uma peça mais bonita, sem as marcas do tempo dessa antiga, sem as memórias e o significado dessa. Lógico que a minha resposta é sempre não. Não é à toa que Aidan tem o quarto decorado por peças que remetem a coruja e a sabedoria que ela representa.
Desperto com o choro do bebê, parece distante e abafado por alguém cantando uma canção de ninar. Abro os olhos, a silhueta de Noah com Aidan nos braços andando pelo quarto faz uma lágrima escorrer.
– Eu te disse para me acordar caso acontecesse. – Assusto Noah.
– Você vai ficar de castigo – ele briga com o bebê.
– Meu turno, você pode dormir – sento-me e estendo os braços para que ele deixe-o comigo.
– Minha mãe ligou de manhã para saber como estávamos e avisar que eles virão nos visitar no mês que vem, talvez passar uma semana aqui. – Noah se aproxima. – Volte a dormir, Callie.
– Ele está chorando de fome, Noah.
– Oh, isso explica muita coisa. – Noah entrega-o para mim e se deita ao meu lado. – Se ele continuar miando, me acorde.
Por que Noah insiste em dizer que o choro do Aidan parece um miado? Nosso filho se acalma em meus braços. Noah desmaia de cansaço. Eu ainda não lhe disse, mas Aidan já carrega seus traços – por enquanto olhos, nariz e boca, quem sabe ele não herde o talento também – e tudo o que ele tem meu é a cor do cabelo.
Após amamentá-lo, espero-o arrotar e dormir. Devolvo-o ao berço e deslizo para debaixo dos cobertores. Passo o dia todo sendo a melhor mãe possível e me sinto exausta. Agora eu sei e entendo porque a minha mãe carrega o semblante cansado e nervoso.
Ter Noah em casa ajuda muito – e chega a ser engraçado. Ele se atrapalha em coisas simples, mas, num geral, é um ótimo pai. Também é bem ciumento e super protetor, alguns amigos dele vieram visitar e Noah vigiava o que eles faziam com Aidan – eu o perturbei com isso por dias.
Só durmo até as oito horas porque é quando Aidan chora tão alto na sala que eu escuto no quarto. Levanto-me, tomo um banho e prendo meu cabelo longo.
– Noah, o que você acha de eu cortar meu cabelo? – entro na sala e ele me entrega o bebê.
– Por que você faria isso? – Noah passa para a cozinha. – Tem algum motivo ou você acordou assim?
Empurro os meus livros, que estão por todo o sofá, para um canto e me sento. Balanço Aidan gentilmente até que ele se acalme.
– Talvez eu precise de uma mudança, deixar a fase anterior da minha vida para trás e começar essa nova fase com novos pensamentos e objetivos. – Sorrio para o nada. Eu realmente preciso mudar um pouco. – Noah, você pode me trazer um copo d'água?
– Uma mudança nunca matou ninguém. Mas você tem certeza que quer fazer o seu cabelo de vítima?
– Bom, você não precisa se preocupar, não vai incluir o seu cabelo.
– Nunca inclua o meu cabelo nos seus planos malignos – ele volta para a sala com o que eu pedi. – Faça o que quiser, eu gosto de como está, mas você escolhe.
Deixo essa questão para pensar depois. Noah me pergunta como eu consigo acalmar Aidan rapidamente, eu nem sei como responder. Passo–o para ele, pego meus livros e aviso que se ele precisar, é só chamar.
– Eu posso cuidar dele sozinho – Noah brinca com a mãozinha dele. – Você tinha razão quando me convenceu de que não precisávamos de uma babá, cuidar de um bebê tem suas vantagens.
– Eu sempre tenho razão.
Encosto a porta do quarto e espalho meus livros pela cama. Decido por qual vou começar e foco-me em encontrar o que preciso para a minha tese. Mas é complicado, porque nem eu escolhi o tema dela. Estou lendo de tudo até encontrar algo.
Paro para almoçar rapidamente – Noah me empurrou um pouco de comida – e amamentar Aidan. Invisto o resto do meu tempo em mais livros e em tomar uma decisão. Preciso de um ponto para defender e preciso achá-lo logo.
Ligo meu notebook com a intenção de mandar um e-mail ao meu orientador, no entanto me perco. A pasta na área de trabalho nomeada "Nove meses" e abro-a sem pensar duas vezes. Quase quarenta pastas armazenam as fotos que Noah e eu fizemos ao decorrer desses meses.
Flagro-me sorrindo ao passar por algumas imagens. E nós pensávamos que não conseguiríamos. Estamos nos saindo é bem. Noah é um bom pai e um bom marido. Eu não me imagino mais feliz do que sou hoje.
Fecho o notebook antes que comece a chorar. Algumas ideias surgem na minha mente e eu as anoto em um papel. Não estou mais apta a pensar nessa tese, minha cabeça está cheia de pesquisas e comentários de outros psicólogos renomados.
– Callie, o jantar pode ser pizza? – Noah abre a porta do quarto e pergunta.
– Aham, claro. – Digo sem muito interesse. Pelo menos não terei que cozinhar.
Não que eu odeie ir para a cozinha, mas eu estou cansada – só me dou conta disso quando tento levantar da cama e meu corpo se recusa.
– Aidan está dormindo? – viro-me para o lado e vejo que já escureceu. Perdi a hora.
– Daqui a pouco ele acorda. Conseguiu alguma coisa?
– Talvez, preciso conversar com o orientador – meu braço bate contra um livro. – Me chame quando a comida chegar.
– Como quiser.
Permito-me fechar os olhos e cochilar. Faz quatro meses que Aidan nasceu. Quatro meses que eu não durmo profundamente, eu cochilo. Tive que abrir mão de várias coisas, não me arrependo, mas não nego que algumas delas fazem falta.
Acordo com os gritos de Aidan e Noah desesperado para acalmá-lo. Ponho-me de pé num pulo e chego a sala antes do que imagino. Coloco Aidan em meus braços e caminho pelo apartamento balançando-o e pedindo para que ele se acalme.
Ele não tem sono. É fome. De todas as qualidades que ele podia herdar de Noah, ele ficou justamente com o apetite insaciável do pai. Depois que está de barriga cheia, ele desmaia de sono e Noah grita que vai descer para buscar a pizza.
– Não grite, por favor! – reclamo.
– Desculpa! – e ele sai.
Aidan volta para o berço no nosso quarto e eu tomo um banho, visto meu pijama e encontro com Noah na cozinha. Ele me serve um pedaço de pizza e nós comemos em silêncio.
– Preciso ir a faculdade amanhã, vou levar Aidan comigo, mas não devo demorar. – Pego outro pedaço na caixa.
– Tudo bem, eu vou ter que ir no escritório conversar com os meus superiores. – Noah coloca mais refrigerante em seu copo. – Falando assim, parece até que eu tenho um emprego normal.
– Ser cantor não é uma coisa normal? – indago.
– Não para os meus pais, eles ainda acham que todo esse tempo que eu investi vai perder utilidade daqui alguns anos.
– Duvido muito. Você está fazendo músicas atemporais, vejo que os fãs vão pedir por novidades até quando você for velho.
– Até que não seria ruim – ele termina de comer e lava as mãos na pia. – Posso guardar? – aponta para o que sobrou.
– Aham. – Afasto-me da bancada e coloco os copos sujos na pia. – Bom trabalho com Aidan hoje.
– Você tinha razão, eu sou um ótimo pai.
– Preciso repetir que sempre tenho razão? – lavo as minhas mãos sujas de molho e enxugo-as.
– Não, não precisa. – Ele sorri e tira o cabelo da testa com o antebraço. – Eu lavo isso amanhã, são só dois copos.
Giro sob meus calcanhares e me apoio contra a bancada.
– Algo em mente, Noah? – ele se coloca de frente para mim e eu passo meus braços pelos seus ombros.
– Muitas coisas, para ser sincero. – Ele pressiona seus lábios contra o meu rosto. – Preciso ter um momento com a minha namorada.
– Namorada? – estranho. – Não seria esposa?
– Não, namorada mesmo.
– Por quê?
– Hoje eu estou me sentindo um pouco nostálgico. – Ele enrola uma mecha do meu cabelo no seu dedo.
– Você poderia se sentir assim em Santa Mônica, não em Boston.
– Quem é você para dizer onde eu posso me sentir nostálgico? – implica.
– Prazer, Charlotte Young, formada em Psicologia em Harvard – inclino minha cabeça e abro um sorriso. – Casada com o cantor Noah Young, que namorei por quase sete anos. Tivemos um lindo filho, Aidan Young.
Ele ri. Seus olhos se fecham e ele se aproxima ainda mais de mim.
– Eu acho que sei quem você é. – Sussurra.
– Precisa de mais informações? Endereço? Tipo sanguíneo? – encosto meu rosto em seu peito, ouço as batidas do seu coração, elas poderiam compor uma música.
– Não, isso já basta. Você é linda, sabia disso?
– Não deixo você falar isso com muita frequência, mas uma vez ou outra basta para entender.
– É para não se esquecer.
– Assim como eu não esqueço que você me ama e se importa comigo.
– Me conforta ouvir isso. – Seus lábios fazem cócegas quando tocam minha pele.
– Eu te amo tanto – aperto os braços dele. – Eu te disse isso hoje?
– Não, mas disse agora.
– Posso te contar um segredo? – minha voz assume uma característica infantil e doce.
– Sim, pode.
– Mas você tem que prometer não contar para ninguém – afasto-me dele o suficiente para ter uma visão de seu rosto.
– Pode confiar em mim. Não contarei para ninguém, nem para o Aidan. Mesmo que ele guarde bem segredos.
– Eu sei que prometi não guardar mais segredos de você, mas esse, eu não sei, talvez a ideia de compartilhá-lo fosse loucura. Esse eu deixei só para mim, como uma promessa de que se um dia as coisas dessem errado, eu deveria tentar de novo. – Ele me encara sem entender. – Eu te seguiria para qualquer lugar do mundo. E jamais, Noah, jamais faria qualquer coisa para te ferir.
– Desde quando isso é um segredo?
– Desde o momento que eu não falei com ninguém. Só que estava na minha cara, não estava?
– Aham. E não só aí. Eu sei que quase tudo que faz é pensando no melhor para nós.
– Quase tudo? – rio. – Depois que eu te conheci, se eu não fizesse você sorrir uma vez por dia, eu não me sentia bem.
– Era a mesma coisa comigo. O seu sorriso deixava tudo melhor. – Ele balança a cabeça. – E continua deixando.
– Eu me sinto tão sortuda por ter você comigo. – Puxo seu rosto e beijo o canto de sua boca.
– Então somos dois sortudos.
Noah me pega no colo de surpresa e vamos para a sala. É incrível, nosso amor não envelhece ou perde o real significado. Nós guardamos as mesmas velhas manias e frases, mas é como se nunca enjoássemos.
– Eu espero que Aidan demore para acordar.
Acaricio o rosto de Noah com a ponta dos meus dedos.
– Acho que ele vai nos dar uma folga pelas próximas horas. – Na verdade, eu nunca sei quando Aidan vai ter um sono breve ou longo.
– Também acho. Eu conversei com ele.
Não consigo responder. A pressão dos lábios de Noah contra os meus é calmante. Seus movimentos suaves contra o meu corpo provocam todos os meus sentidos. Acabo por colocar meus braços em volta de seu pescoço, eliminando assim qualquer espaço entre nossos corpos.
Estou brincando com fogo. Noah conservou a chama por tantos anos que ela queima ao mínimo toque, é intensa. Eu não sou mais a pólvora, o tempo me transformou em oxigênio. Não causo estrago, minha nova função é manter as chamas acessas.
Recuo ao ouvir um ruído desconhecido.
– Ele não está chorando – Noah beija o meu pescoço.
– Certeza – estou atenta caso escute algo de novo.
– Eu te disse que convenci ele de te dar uma folga.
– Obrigada – agradeço por educação, porque sei que tal feito é improvável.
– Obrigado você por se manter acordada.
– Eu tirei um cochilo à tarde, não pretendo dormir tão cedo.
– Por que você disse isso para mim? – as mãos dele pressionam a minha cintura com mais força.
– Por que eu não diria? – provoco-o subindo as minhas mãos pelas costas dele, arranhando sua pele sob a camiseta.
– Você não está fazendo isso. – Murmura.
– Fazendo o que, Noah? – mexo no cabelo dele, seu ponto fraco, e encaro-o.
– Você sabe do que eu estou falando.
– Sei? – estreito os olhos para ele.
– Quem brinca com fogo...
– Não precisa me avisar – calo sua boca com um beijo. – Eu não sou mais criança e tenho consciência do que estou fazendo.
Ele me apoia contra a parede e sua mão livre segura meu queixo. Ele está admirando o meu sorriso convencido, seus olhos passeiam pelo meu rosto, vão das sardas sob os meus olhos até as cicatrizes que quase ninguém percebe. Um lampejo de más memórias passam por Noah durante segundos.
– Foi só uma lembrança – beijo a ponta de seu nariz. Ele não reage. – Posso sugerir uma terapia para você se livrar de vez dessas memórias?
– Foi tão de repente. – Diz ainda perdido.
– Eu sei, acontece comigo também, às vezes são pesadelos – admito. Agora Noah sabe porque eu acordo no meio da noite chorando, não durmo por muito tempo ou ligo desesperada quando ele está longe. – Mas não se preocupe.
Ele não insiste em retomar tal assunto. Ele não quer estragar nosso tempo a sós. Ele resgata o momento anterior a melancolia, todos os meus medos tomam distância e eu me sinto protegida por Noah.
De colegas de classe a amigos; amigos a namorados; namorados a estranhos. De estranhos que se dão uma segunda chance a um pedido de casamento e uma nova vida. Somos uma família, temos um ao outro até que apareça algo que consiga nos derrubar. E, acreditem em mim, não é uma tarefa fácil.
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