ONZE - CALLIE
Toco a campainha da grande casa do pai de Annie e aguardo. Estou batendo o meu pé no chão tentando dispersar o nervosismo. Toco mais uma vez. O que será que ela está fazendo?
As cortinas estão fechadas e o som já está alto, sendo que a festa nem começou.
– Annie, abre a porta logo! – soco-a com força para fazer o máximo de barulho.
– Já vou! – ela grita em resposta.
Eu jogo meu cabelo para trás e ajeito minha blusa florida e meu short jeans. Foi o que sobrou no meu armário depois de eu ter feito as malas.
Annie aparece com seu vestido mega colorido que comprou no shopping terça – ela tinha ido lá para comprar apenas um biquíni, quase renovou o guarda roupa. Ela fica ótima nele – qualquer coisa fica bem nela. Ela me deixa entrar e não tranca mais a porta quando a fecha.
– O pessoal começará a chegar daqui a pouco – ela vibra. – Som está funcionando, as bebidas estão bem geladas e tem salgadinhos para fazermos duas festas.
– Está tudo ótimo – olho para os balões e flores presas no teto e no corrimão da escada que dá para o segundo andar. E bem na frente dela, há uma placa proibindo qualquer um de subir.
– Os meninos vão trazer as cervejas deles, eu disse que esse lixo calórico eu não sirvo. – Entramos na cozinha e ela me entrega uma jarra com o conteúdo vermelho e gelo. – Tem ponche sem álcool, mas para os meus amigos, tem um segredo no armário de limpeza lá fora.
– E a piscina?
– Limpa e com a água mais gelada dessa cidade – ela abre a porta que dá para o quintal e eu passo por ela. – Você vai arriscar entrar?
– Com certeza.
Encaro a grande piscina iluminada com luzes coloridas em seu fundo e grandes boias na superfície. Não sei quantas vezes pulei nela, só sei que foram inúmeras. Olho ao redor e vejo as mesas e cadeiras espalhadas pelo gramado, pedaços de pano estendidos com almofadas em cima perto do muro dos fundos e a mesa de comes e bebes perto da porta.
– Se você quiser um quarto, Callie querida – Annie me abraça de lado –, é só me pedir a chave. Sabe como as coisas funcionam.
– Eu tenho quase certeza que não vou precisar de um.
– Sinto muito que o Noah não vai poder viajar com você, mas se ele for aceito no Seaside, eu vou transmitir o show para você.
– Obrigada, Annie. Você é uma ótima amiga.
– Não tem de que, loirinha.
Annie desfila com seu vestido e salto alto pela sala. Eu me jogo no sofá e tiro meu celular do bolso. O lugar não está lotado ainda porque não está na hora. A casa enorme e minimalista vai parecer outra quando um bando de adolescentes tomar conta e fazer disso daqui um clube.
– Callie, que horas Noah chega? – Annie está retocando o batom no espelho ao lado da lareira.
– Eu não sei. Ele disse que vinha, talvez chegue na mesma hora que todo mundo.
– Sério que você não está nem um pouco chateada por ele não viajar mais com você? Eu sei que eu disse que sinto muito, mas você não expressou nada quando me contou sobre isso ao celular.
Eu estou feliz pela oportunidade que Noah ganhou com esse programa do hotel e a apresentação no Seaside Club que ele vai conseguir, mas eu queria muito que ele fosse comigo. Até a minha avó ficou triste quando eu mandei uma mensagem que ela teria que cancelar alguns programas que reservou.
– Eu estou triste, mas entendo que vai ser melhor para ele. – Apoio meu cotovelo no meu joelho e o meu queixo na minha mão.
– Você quer fazer o que com a sua vida mesmo?
– Eu estava pensando em direito em Harvard ou algo que envolva ter contato com as pessoas.
– E você consegue?
– Acredito que sim. Minhas notas são acima da média, excelentes como a diretora disse para os meus pais, eu faço atividades extracurriculares e comunitárias sempre, devo conseguir entrar, mas não garanto uma bolsa. É um curso muito concorrido.
– Harvard em Boston, eu devo fazer Moda em Nova Iorque, vamos estar bem próximas.
– Aham, algumas horas de carro.
– Você sabe para onde Noah vai?
– Ele não decidiu ainda.
– Com certeza devem ter oportunidades em Boston para ele. Ou até em Nova Iorque.
– Não quero ficar pensando nisso – falo baixinho, mas Annie me ouve e nota que eu estou desanimada.
– Vamos tirar uma foto – ela tira o celular do bolso e me puxa do sofá. – Você está linda hoje! O que você fez no seu cabelo?
Passo os dedos nos cachos loiros que eu fiz acidentalmente enquanto secava o meu cabelo.
– Você gostou? – eu costumo alisar o meu cabelo para as festas, mas decidi mudar.
– Amei. Agora sorria – ela coloca o celular na nossa frente e enquadra nossos rostos.
Fazemos caretas, mandamos beijos para a câmera, sorrimos e rimos para as fotos. Annie é a melhor amiga que eu poderia ter na face da terra. A campainha toca e ela corre para a porta.
– Bem vindos – ela diz para os meninos do time de futebol, Mike está com eles. – Podem deixar a cerveja lá nos fundos, se isso derramar aqui dentro, vocês vão ter que pagar para alguém tirar o cheiro.
Eles são uma dúzia. Entram de dois em dois, carregando barris de cerveja que vão abastecer a festa. Eles não precisam de muito esforço para movê-los até o quintal. Annie os segue para coordenar e manda eu deixar a porta aberta porque viu um bando de adolescentes subindo a rua.
Sento em um dos banquinhos do bar e só vigio quem chega para ter certeza que eles são da nossa escola, da nossa turma ou mais velhos. Alguns me cumprimentam, outros fingem que eu não existo.
Jessie, Tyler e Thomas chegam juntos. Eles me arrastam para o quintal e nós sentamos no gramado, com copos de ponche e cerveja.
– Onde está Noah? – Ty me pergunta.
– Não sei, ele já deveria ter chegado – confiro as horas. Ele está meia hora atrasado.
– Tommy, você podia buscar nachos para nós. – Jessie acaricia o braço dele.
– Por favor, vão para um quarto – Ty provoca.
– Eu consigo as chaves – entro na brincadeira.
Jessie não curte a brincadeira e Thomas fica envergonhado. Eu e Tyler rimos de rolar no chão. Quem diria que esses dois iriam namorar. Eu sabia que as coisas estavam diferentes na segunda-feira e tinha minhas apostas sobre isso.
– Alguém disse nachos? – Noah surge na nossa frente com uma vasilha cheia e um pote lotado de molho.
Ele deixa a vasilha no meio do nosso semicírculo e se senta ao meu lado. Ele não está usando jeans e jaqueta, como de costume, está calor demais para isso. Uma bermuda e uma camiseta caem bem nele.
– Você está atrasado – apoio minha cabeça no ombro dele e pego mais um nacho.
– Desculpa, eu perdi a hora lá em casa – ele toma um pouco de ponche. – O que eu perdi?
– Aqueles dois ali – aponto discretamente para Jessie e Thomas – vão precisar de um quarto.
– Você não desconfiava de nada? – ele ri. – Poxa, Claire.
– Noah, como foi lá no Seaside quarta? – Tyler pergunta com um nacho na boca.
– Bem. Eu fui bem, acho.
– Você tocou para muitas pessoas?
– Na verdade, não. Eram cinco ou seis pessoas assistindo, sócios do clube que estavam por lá. Alguma resposta deles?
– É isso que eu quero falar com você – ele bufa. – Eles me ligaram hoje.
– E aí? – Noah se inclina e eu perco meu apoio.
– Bom, cara, eu tenho que te dizer que – a pausa dramática é uma das especialidades do Ty – você conseguiu!
– Isso! – eu grito.
Noah soca o ar e nós o parabenizamos. Eu faço ele se virar para mim e o beijo. Nossos amigos fazem um coro coletivo. Puxo para mais perto e ele corresponde, segurando-me pela cintura.
– Acho que sei quem vai precisar de um quarto! – Thomas exclama.
– Cala a boca, Tommy, deixa os dois em paz – Jessie parte em nossa defesa.
Afasto meus lábios dos de Noah para dar uma risada, mas mantenho o contato visual.
– Você merece um prêmio, Jessie – agradeço por ela fazê-lo ficar quieto.
– Que tal você arranjar algo melhor que cerveja para nós? – ela sugere.
– Pode ser vodca? – Annie me disse onde está a garrafa depois que os jogadores foram embora.
– Traz logo a garrafa! – ela faz positivo.
Eu me levanto – Noah agarra minha mão num pedido para que eu fique, mas eu sou a única pessoa que sabe onde Annie escondeu. Consigo passar sem me apertar contra os meus colegas ainda sóbrios e entro no pequeno cômodo que guarda os produtos de limpeza.
A vodca está aqui em algum lugar. Procuro por detrás das embalagens, mas só encontro poeira e alguns insetos mortos – talvez um rato, mas eu não confiro se o corpo em decomposição é de um.
– Se eu fosse a Annie, onde eu esconderia uma garrafa de vodca? – olho ao redor e vejo que deixei uma caixa térmica fora da minha inspeção.
Ajoelho-me e retiro a tampa. Lá está a garrafa de vodca com gelo – não há uma garrafa, eu conto três na superfície imaginando que há mais algumas enterradas no gelo. Pego a primeira e a coloco dentro de um saco plástico.
Fecho a porta e me afasto de lá o mais rápido o possível. Ninguém me notou entrando ou saindo, logo nosso segredo está protegida. Volto para a nossa rodinha e me sento ao lado de Noah. Entrego a garrafa para Jessie.
– Não vou buscar outra até as onze horas – deixo claro.
– Eu vou me controlar – ela pisca para mim e mistura um pouco do líquido incolor com seu ponche. – Mais alguém?
Todos nós pegamos nossa dose e voltamos a rir. Momentos como esse me fazem amar a adolescência, nossa liberdade e sonhos loucos, mesmo com nossos problemas diários. Nada melhor que uma boa dose de álcool e risadas com os amigos.
– Callie, posso falar com você um minuto? – Annie aparece.
– Claro.
Levanto-me e sigo ela até estarmos dentro de casa e longe de toda a bagunça. Ela parece preocupada.
– O que aconteceu?
– Bella está lá no meu quarto chorando. Ela viu Mike beijando a Trish e desabou no choro. Você pode ir lá ajudá-la? Eu não sou muito boa com palavras – ela levanta o copo me informando que já está passando do limite de tolerância de seu corpo.
– Ok. Você pode levar para nós uma garrafa de vodca? Dois copos.
– Precisa de uns garotos bonitos também?
– Annie – faço cara de quem não está para brincadeira.
– Tudo bem. Já subo lá.
– Obrigada.
Subo as escadas e faço o caminho para o quarto de Annie automaticamente. Próximo a porta, eu já ouço o choro de Bella, alto e soluçado, dolorido demais para ser tratado só com um abraço. Por isso eu pedi a vodca.
– Bella? – abro a porta um pouco. – Posso entrar?
Ela não responde e eu entro assim mesmo. Encontro-a deitada de bruços na cama, a cabeça enterrada no travesseiro e o cabelo todo embolado.
– Você é bonita demais para chorar – sento-me na ponta da cama e afago as costas dela.
– Fala isso para o Mike.
– Bella, você merece alguém melhor – respiro fundo e busco palavras de apoio. – Tem tantos caras bonitos lá embaixo, você pode mostrar para o Mike que não precisa dele. Esqueça-o um pouco e aproveite a festa.
– Não é tão fácil assim. – Ela ergue a cabeça para olhar para mim. – E se fosse o seu Noah?
Ela me pega de surpresa. E se fosse o Noah? Não, ele não faria isso comigo. Mas eu preciso me colocar no lugar dela.
– Se você sabia que ele vinha a festa, por que veio? Garotos só fazem isso para nos provocar, você deveria saber disso melhor do que eu. Se tivesse acontecido comigo, eu teria ficado em casa com um bom pote de sorvete e filmes de ação – ela me encara. – Ou o gênero que você preferir.
– Eu pensei que fosse me divertir, que ele não conseguiria me afetar, mas...
– Ele conseguiu te afetar.
Annie bate à porta, entra, me entrega a vodca e sai. Eu sirvo dois copos.
– Sua casa é aqui perto, então você pode se permitir beber um pouco – eu a convido para se sentar ao meu lado. – Quem sabe algum jogador não te leve para casa.
– Boa ideia – ela deixa uma risada escapar. – Posso?
– Deve – entrego o copo e bebo um pouco do meu.
– Callie, desculpa ser cruel com você. Eu não sei o que deu em mim ultimamente. Admito que sou um pouco irritante...
– Talvez muito – rio.
– Ok, talvez muito – ela sorri mais uma vez. – Só que eu tenho inveja da vida que você leva. Parece tudo tão simples. Eu tenho que aturar meus pais brigando, meus irmãos se envolvendo com problemas na faculdade, eu fico de canto e preciso de atenção, mesmo que seja por algumas horas na escola. E eu machuco as pessoas que eu invejo para tentar me sentir melhor, mas as feridas continuam aqui – ela aponta para seu coração.
– Tenho uma recomendação para você. Viaje para longe daqui nessas férias, vá para um spa isolado, tire um tempo para você mesma e reflita que tipo de pessoa você quer ser daqui em diante. Comece mudando por dentro, todo o resto se transforma com o tempo.
– Obrigada – ela pega a garrafa e toma mais duas doses. – Talvez eu desça, quem sabe.
– Estarei lá embaixo aproveitando a festa – digo me levantando.
– Se divirta.
– Você é uma ótima ouvinte.
– E você daria uma ótima terapeuta.
Na sala, eu percebo o quanto bebi com Bella. Minha cabeça pulsa e as pessoas ao meu redor parecem girar e ficar de ponta cabeça. Porém quando saio do espaço confinado, sinto-me melhor. Era só uma sensação passageira. Há uma dor no meu estômago e eu tenho quase certeza que vai passar também.
Vou em direção onde meus amigos estavam, mas eles não estão mais lá. Há indícios deles, mas não os vejo próximos. Para onde eles foram?
Saio perguntando a alguns conhecidos se eles os viram, mas as respostas são sempre negativas. Pego meu celular e mando uma mensagem para cada um deles perguntando onde estão. Tyler me responde que está na sala, Jessie e Thomas nem respondem e Noah diz que está ao lado da piscina. Bom, eu não estou te vendo, bufo.
– Surpresa – ele me segura por atrás e eu tomo um baita susto.
– Deus, por que você ainda faz isso? – rio para afastar o nervosismo.
– Eu gosto.
– E eu não.
Ele passa seus braços por mim. Apoio minha cabeça em seu peito, inclinando-me e nos aproximando.
– Eu estava te procurando. Você sumiu.
– Por incrível que pareça, eu estava ajudando a Bella.
– Sério? – ele ergue uma sobrancelha.
– Aham. Ela está devastada com o término com Mike, Annie me pediu para falar um pouco com ela.
– E você conseguiu ajudá-la?
– Acredito que sim.
Ele beija o meu pescoço bem de leve e eu sinto arrepios pelo meu corpo. Ele diz mais alguma coisa, mas eu não o ouço. Estou livre de seus braços e dançando como se o mundo fosse acabar amanhã.
Por um breve momento, eu penso em levar Noah para outro lugar, só que a ideia desaparece junto com minha consciência. A batida da música leva o meu corpo, meus braços erguidos vão descendo pelo meu corpo e eu balanço o meu cabelo para mostrar o quanto estou curtindo.
Noah me acompanha sem jeito. Eu tento ditar um ritmo, mas ele não tem coordenação o suficiente. Eu gosto do jeito como ele se move de um lado para o outro sem parecer forçado. É só mais engraçado que o normal.
Ele me puxa para perto com suas mãos em minha cintura e não toca nenhuma música lenta. Seu cabelo está grudado na testa e sua camiseta marca seus músculos timidamente. Ele está me devorando com os olhos e eu gosto disso.
Esqueço a dança e a música. Pego sua mão e faço com que ele me siga até a cabana de bebidas – que está fechada nesse momento. A porta está destrancada e nós entramos rapidamente. Eu a tranco e me surpreendo quando Noah me prende contra a porta.
Suas mãos estão correndo pelo meu corpo, mas seus lábios vão devagar contra os meus. Eu me deixo levar pela sensação, pelo calor de seu corpo e sua paixão. Quanto mais Noah tenta se controlar, mais ele deseja alguma coisa e mais ele se dedica para conquistá-la.
Fujo de sua boca para beijar seu pescoço. Logo abaixo da orelha, suas veias saltam – só há dois jeitos de elas ficarem assim: quando ele canta ou está comigo. Ele solta suspiros perto do meu ouvido.
Ele segura minhas pernas nuas, me tira do chão e me leva até a bancada de granito. Ele me pressiona com força e volta a me beijar. Minhas mãos estão dentro da camiseta dele, minhas pernas seguram ele próximo a mim.
Esse sentimento dentro de mim, algo que está me consumindo desde quarta-feira. Eu vou passar duas semanas sem Noah e isso dói. Sem beijos, sem abraços, sem ele comigo.
Nós estamos indo até uma área proibida. Ele está com as mãos na minha blusa e eu deixo que ele a tire – estou com um biquíni por baixo. Ele me olha perguntando se eu quero que ele faça o mesmo e eu não penso duas vezes antes de puxar a barra de sua camiseta para cima.
Não me impressiona o fato de Noah tem um bom físico por debaixo da camiseta. Eu só não entendo porque ele o esconde com jaquetas e casacos mesmo quando o tempo está agradável. Planejo perguntá-lo sobre isso, mas ele volta a me beijar antes que eu fale algo.
Ele me tira da bancada e me coloca contra a parede de novo. Nós estamos indo mais fundo a cada movimento e isso me faz tão bem. Ele desce seus lábios pelo meu pescoço e eu suspiro cada vez que ele faz isso. Ele continua sem intenção de parar.
Deslizo minhas pernas por ele e me coloco de pé. Empurro–o até uma cadeira e faço força para ele se sentar. Minhas pernas ficam uma de cada lado de seu corpo, inclino meu corpo o suficiente para eles se tocarem.
As palavras fogem da minha boca e eu estou encarando Noah enquanto ele espera o que eu vou fazer.
– Há algo errado? – ele me pergunta.
Eu volto para a realidade. Ele deve estar tão alcoolizado quanto eu para chegarmos a esse ponto. Há algo errado, Callie? Algo errado com você para Noah trocar uma viagem com você por trabalho?
– Noah, já chega – eu me levanto e pego minha blusa no chão. – Nós não vamos fazer isso, lembra? Não é o nosso objetivo como namorados.
Ele também sai da neblina que o álcool nos colocou e percebe o quão longe nós fomos.
– Você tem razão – ele balança a cabeça, envergonhado e sem coragem de me olhar.
– Ainda temos uma festa para curtir – volto para ele e ajeito seu cabelo que está caído e grudado em sua testa. – Você vem?
Ele concorda e nós deixamos o que aconteceu na cabana para trás. Nossos colegas já estão na piscina e eu desejo entrar. Paro na borda, tiro minhas sandálias, procuro meu celular no bolso, não o encontro – deve estar lá dentro da cabana – e pulo com os olhos fechados onde sei que não há gente.
A água me acalma e eu consigo colocar meus pensamentos em ordem. Sinto o impacto perto de mim, as bolhas que sobem e abro meus olhos. O mundo submerso é um borrão e exige muito mais de mim do que eu posso dar. Nado para o superfície com o ar se esgotando em meus pulmões.
– Callie! – Ty surge do meu lado com um copo de cerveja. Ele me oferece e eu recuso. – Onde está Noah?
– Ele estava ao meu lado agora pouco – ele emerge da água. – Achei.
– Oi, Ty! – Noah joga o cabelo molhado para trás.
– Vocês dois sumiram assim como Jessica e Thomas, achei que tivessem ido para um quarto.
Olho nervosa para Noah.
– Nós estávamos num lugar mais calmo, mas definitivamente não era um quarto – ele parece bem humorado e Tyler ri como se fosse a piada mais engraçada do mundo.
– Vocês são santos, eu quase esqueci isso.
– Bem isso – Noah me abraça de lado. – Alguma delas está com você? – ele aponta para as garotas de biquíni próximas a nós.
– Bella Summers está comigo, cara. Melhor noite de todas!
Tyler não é de se jogar fora. Seu cabelo escuro e olhos castanhos fazem com que ele pareça alguém rebelde e irresponsável, mas ele é a pessoa mais agradável que já conheci. E Bella é uma boa pessoa lá no fundo.
– Callie, por que você não tira essa roupa? – Tyler sugere.
Minhas bochechas coram.
– Não estou em forma – tento escapar desse momento.
– Pare de mentir porque nós dois sabemos que você esconde um belo corpo aí debaixo – ele aponta para mim. – Não é verdade, Noah?
– Callie, ninguém vai te notar e eles estão bêbados demais para se lembrar disso mais tarde.
Droga. Não pestanejo, só tiro a minha blusa e o meu short, revelando o biquíni azul que eu não uso desde o verão passado. Tyler gesticula para Noah – não sei bem ao certo o que ele faz, mas não duvido que ele esteja me elogiando.
– Melhor agora! – Tyler pisca para mim. – Eu vou estar ali – aponta para onde Bella está – caso precisem de mim.
– Tenho certeza que não precisaremos – Noah provoca o amigo, que nos dá as costas e vai até sua garota.
Noto que Noah está sem camisa e isso me tira o fôlego. Ele aparenta ser bem mais definido – mas sem exageros – aqui na claridade. Ele pega minhas roupas e coloca do lado de fora da piscina, ao lado das suas.
– Quem diria, Bella e Tyler, deve chover a qualquer momento – ele brinca.
– Vai nevar em pleno verão.
– É bom vê-lo feliz.
– Você está feliz, Noah?
Minha pergunta o deixa confuso. Ele abre a boca para falar algumas vezes e desiste. Imaginei. Ele não está pensando direito assim como eu.
– Podemos discutir isso outra hora – declara. Aproveita e aproxima seu rosto do meu. – Nós realmente nos beijamos naquela cabana?
– Você acha que foi um sonho?
– Não, é que, eu não sei.
– Não se preocupe, Noah. O que acontece nas festas da Annie, ficam nas festas. – Cito uma adaptação da frase clássica sobre Vegas. – No nosso caso, fica na cabana.
– Bom saber que você não está chateada pelo que nós fizemos lá dentro.
– E por que eu ficaria? Foi ótimo – não posso mentir. – Nós só nos beijamos.
– É, nós só nos beijamos – ele não está confortável com minhas palavras.
Droga, Callie. Por que você está sempre, sem exceções, estragando tudo?
Tiro a minha mão de dentro d'água e toco o rosto de Noah. Ele não reage ou diz alguma coisa, seus olhos castanhos passam a acompanhar o que eu pretendo fazer. Num primeiro momento, eu não faço nada, só as deixo assim para me acostumar com a ideia de que não vou poder tocá-lo por duas semanas.
As pontas dos meus dedos deslizam para seu queixo gentilmente. Está um pouco áspero pela barba que começara a nascer. Sua boca está entre aberta, um pouco do ar escapa por lá. Mas, normalmente, seus lábios formam sorrisos.
Não consigo evitar o seu cabelo. O jeito como ele cai perto dos seus olhos quando estão molhados, quando deixam de ser castanhos como as folhas no outono – as mais velhas, as que não chegam ao tom alaranjado ou dourado – e se tornam escuros como o céu sem estrelas.
Essa melancolia dentro de mim não combina com a festa, não combina com a música alta e com as risadas das pessoas. Mas eu insisto em ficar ali, sem dizer uma palavra.
– Callie – Noah passa seus braços envolta de mim e me leva para perto. Conforto minha cabeça em seu peito e choramingo.
– Eu tenho medo – falo entre um soluço e outro.
– Nada de ruim vai acontecer. Vamos lá, cadê seu otimismo? – seus dedos se embolam no meu cabelo.
– Eu vou cancelar a minha viagem também.
– Não, você não vai desistir disso por mim – ele diz seriamente. – Eu não posso permitir que você faça isso. Nova Iorque é uma cidade enorme e eu tenho certeza que você nem vai lembrar de mim enquanto estiver lá.
– Não é você que decide isso.
– Se você não for para Nova Iorque, eu vou te evitar até dar duas semanas. Não estou brincando.
– Tudo bem – eu repenso toda a loucura que eu imaginei. Melhor a distância do que a ignorância.
– Agora você pode deixar isso de lado?
Balanço a cabeça positivamente.
– Noah, eu vou lá em cima pegar alguma roupa seca e já volto.
– Ok. Eu estarei por aí.
Eu saio da piscina sem olhar para trás, passo entre os bêbados tapando o nariz, evitando respirar o odor de cerveja e cigarro, entro na casa e passo por Annie só para confirmar se não há ninguém no seu quarto.
Quando ela diz que sim, ou tenta, pois está bem bêbada, eu continuo andando. Subo as escadas e tenho quase certeza que ouço alguém gritar algo como "É hoje que a vadia vai dar", só que é tarde demais para me virar e descobrir quem foi.
Chegar ao quarto de Annie é um alívio. Abro seu armário, pego uma tolha, enrolo-me nela e vou para o banheiro. Meu reflexo no espelho força um sorriso e ajeita os cabelos. Tomo uma aspirina que encontro na gaveta, visto um vestido preto que Annie não vai sentir falta e desço.
– Seu lugar é lá em cima – alguém segura o meu braço e me puxa.
Mike está rindo com alguns amigos. Eles estão bêbados assim como todo mundo ao redor. Seus dedos apertam com mais força ao redor do meu braço.
– Me solta – não digo mais do que isso.
– Você vai voltar para lá? Só te solto se for para isso.
– Mike, me solta.
– Vai subir?
– Não é da sua conta.
– Então quer dizer que para o Noah você faz isso? – ele me olha como se eu fosse um pedaço de carne.
– Mike, dá licença, você é estúpido mesmo.
Ele me segura com as duas mãos agora e me observa de perto. Seu hálito de cerveja me enjoa e eu seguro o vômito que sobe pela minha garganta. Ele não usa mais o cabelo tingido como antes e parece bem mais agressivo.
– Onde está seu namoradinho? – ele me provoca.
Meus punhos se fecham na hora e eu penso aonde vou enfiá-los dessa vez. Seus amigos não percebem como ele me prende com força, estão preocupados demais com suas bebidas.
– Mike, último aviso – rosno.
– Não há a diretora aqui para te proteger – zomba.
– Eu não preciso de ninguém para me defender. – Minha convicção se perde no meio da música alta.
– Ah é?
Ele me empurra para trás, eu tropeço e caio de costas no chão. Minha cabeça se choca contra a madeira com força e minha visão turva. Ele está se inclinando para me puxar, mas alguém aparece e o afasta.
Duas pessoas entram entre nós e pedem para ele manter distância. Eu não consigo reconhecê-las, muito menos ouvir suas vozes com clareza.
– Callie? – uma voz calma e masculina me chama. – Callie?
Pisco algumas vezes. Esse garoto entra no meu campo de visão.
– Callie, você pode me ouvir? – ele grita por cima da música no último volume.
– Eu sim consigo – minhas palavras saem emboladas da minha boca.
– Fique longe dela – uma garota fala.
– E você vai me impedir? – Mike ri com deboche.
– Mike, fica na sua, cara. Pare de arranjar confusão por nada – reconheço essa voz. Tyler está batendo de frente com Mike.
– Callie, você está bem? – e quem está me ajudando a sentar é Noah.
– Quem convidou vocês para essa festa? – Mike continua a provocar. – Um palhaço, um cantor de quinta categoria, uma vadia e a amiga da vadia que acabou de levar um pé na bunda.
– Callie, não ouça ele – Noah implora para que eu fique na minha enquanto Bella e Tyler respondem Mike com silêncio.
– Vamos, saiam da frente – Mike pede e eu me preparo para levantar, mas Noah me contém e me pega no colo. – E agora o namoradinho a salva.
Lanço um olhar raivoso para ele.
– Você fede, Mike – cuspo em sua direção – e quem não deveria ter sido convidado é você.
– Sua vadia! – ele tenta vir para cima, mas algumas pessoas conscientes seguram ele. Noah não fica para olhar o que acontece, só me tira de perto dele e me leva para a cabana de bebidas.
Ele puxa uma cadeira e me deixa nela. Bella aparece com um copo d'água e me entrega. Tyler entra logo em seguida e se aproxima para checar se eu estou bem – ele fez um curso de primeiros socorros no verão passado. Afasto-os e me dobro com a dor.
– Você precisa ir para casa – Bella diz. – Eu vou lá em casa buscar o meu carro e vou te levar.
– Eu posso fazer alguma coisa? – Noah olha para ela implorando para ser prestativo.
– Fique aqui. Tyler, eu vi Thomas na cozinha. Peça para ele trazer alguns amigos dele aqui para fora caso Mike queira recomeçar a briga.
– Estou indo – ele sai correndo e eu reprimo um grito de dor.
– Noah, você acha que devemos levá-la para um hospital?
– Não, acho que não precisa. Eu posso levá-la para minha casa e vigiá-la durante a noite.
Quero dizer que não precisa, que essa dor vai passar, mas eu não consigo, estou impossibilitada de fazer qualquer coisa.
– Eu já volto – então ela também vai embora.
Noah se ajoelha ao meu lado e segura as minhas mãos. Annie aparece – nem um pouco sóbria, diga-se de passagem – e Noah explica o que aconteceu. Ela vai embora gritando que Mike está expulso da casa dela.
– Callie, onde dói? – ele me pergunta.
– A minha cabeça e o meu estômago.
– Minha mãe vai cuidar de você, ok?
– Aham.
Ele coloca alguma coisa na minha mão direita.
– Você deixou seu celular aqui.
– Obrigada.
Perco a noção do tempo e espaço. Sei que Noah me pega no colo outra vez quando seu celular toca e me leva até um carro. Sei que chego em casa porque nós descemos e, em algum momento, eu ouço a voz preocupada da sua mãe.
Ele me leva para o quarto e me deita na cama. Acende a luz do abajur e sai. Tento me levantar, mas recuo com a dor.
O teto do quarto está girando e eu sinto que vou vomitar. Contorço-me na cama com toda essa dor. Olho para os lados e vejo que não há ninguém aqui. Mas reconheço que é o quarto de Noah.
– Charlotte, querida – a mãe dele surge com um copo de água. – O que você está sentindo?
Olho para ela e vejo que Noah está atrás dela com uma caixa em mãos.
– Está tudo rodando, minha cabeça e meu estômago doem – digo.
Ela entrega o copo para Noah, que dá a volta na cama e fica do outro lado, e pega a caixa. Julia procura alguma coisa e finalmente acha. Coloca três comprimidos em sua mão e acena para que Noah me sente.
– Você precisa tomar para isso passar – ela estende a água e os remédios.
Não penso em nada. Só engulo-os com um pouco de água e deito de novo.
– Noah, eu vou estar no meu quarto, se ela piorar, me chame na hora – ela sai do quarto quando ele responde que o fará.
Ele puxa uma cadeira para mais perto.
– Callie, você não pode dormir – ele diz e eu assinto.
– Tudo bem. Preciso avisar para os meus pais que estou aqui e...
– Não se preocupa, minha mãe já ligou para eles.
– Noah, você precisa dormir.
– Eu vou te vigiar. E estou bem, nem um pouco de sono.
Ele está mentindo. Seus olhos estão quase se fechando.
– Eu prefiro ficar sentada. – Ergo-me e ele segura meu ombro.
– Eu estou bem aqui.
Chego um pouco para o lado abrindo espaço para ele sentar–se comigo.
– Por favor – não digo mais do que isso.
– Melhor não.
– Então eu vou embora. Dane-se a sua mãe, você precisa dormir.
Ele hesita por alguns segundos. Então se senta ao meu lado, com as costas apoiadas na parede. Noah fecha os olhos por alguns minutos e pende para o lado. Acorda assustado e eu rio.
– Eu não vou dormir, Noah – fico ao seu lado e junto minhas pernas.
– Tem certeza?
– Não estou com sono e a dor já está passando. Qualquer coisa, eu te acordo.
Ele sorri e se tenta se ajeitar.
– Vou buscar outro travesseiro aqui do lado.
– Noah.
– O que foi?
– Pode pegar o meu travesseiro.
– Não vou deixar você desconfortável pelo resto da noite.
– Então você pode me usar como travesseiro.
– Você não se importa?
– Nem um pouco.
Eu chego ainda mais para trás e dobro as minhas pernas. Noah se deita com a cabeça nas minhas coxas e estende suas pernas. Mexo em seu cabelo até ele dormir. Os remédios somem com a dor e eu me mantenho acordada. Bom, em algum momento eu também caio no sono e só acordo de manhã.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro