OITO - NOAH
A única coisa ruim de a última semana de aula estar próxima é o desespero com as notas – ainda mais se está ruim em uma matéria e não a entende de jeito nenhum. Ainda bem que tenho uma namorada inteligente que não vê problema em me ajudar em pleno sábado.
Depois de almoçar e dividir as tarefas com Amy, espero por Callie sentado no sofá. Harold e Amy estão ao meu lado, em guerra pelo controle remoto da televisão. Minha mãe está parada no corredor observando nós três com um sorriso bobo no rosto. Vou até ela rapidamente.
– Eles estão falando alto e discutindo pelo controle remoto. Não vai dizer nada?
– É tão bom estar em casa. – Ela diz e me abraça rapidamente. – Estava com saudades das discussões bobas deles.
É um pouco raro estarmos todos em casa. Eu quando não estou na escola, estou ou com Callie, ou com Tyler. Harold só costuma aparecer à noite por conta do trabalho no hotel. Minha mãe está quase sempre de plantão e quando está em casa, está dormindo. Então, de alguma forma entendo o sorriso no rosto de minha mãe.
– Tudo bem, Amy. Sua sorte é que estou na minha hora. – Harold se levanta do sofá e ajeita o cabelo com a mão.
– Você vai sair mesmo? – minha mãe pergunta.
– Ah, querida, eu queria ficar. – Ele a beija no rosto. – Mas é importante. – Ele olha para mim. – Cuida das minhas duas garotas, ok?
– Faço isso sempre. – Sorrio.
– Hal, espera. Eu acho que vou pegar uma carona com você. – Diz minha mãe indo até a cozinha. Sua voz se eleva. – Tenho que ir ao mercado.
– Estou esperando no carro. – Harold vai até Amy, beija-a na testa e acena para mim. – Não devo demorar. É só uma reunião.
– Ao sábado. – Minha mãe está ao meu lado novamente, mas Harold já havia saído. Ela pousa a mão em meu ombro. – Você disse que a Callie vem estudar com você, certo?
– Sim. Ela deve estar chegando.
– As regras de sempre. Sala. Amy vai ficar de olho em vocês até eu chegar.
– Mãe, por favor. – Cubro o rosto com as mãos e vou até o sofá. Deixo-me cair nele.
– Amy, posso contar com você?
– Sim, senhora. – Amy diz como uma militar.
– Mãe, nós vamos apenas estudar. – Tento argumentar, mas minha mãe ergue a mão para me calar.
– Eu sei. Estudar. Se é apenas isso, qual o problema de ser na sala com sua irmã observando?
– Pensei que confiasse em mim.
– E confio. Confio em você e confio na Callie. Só não confio nos dois juntos e sozinhos.
Estou tentando me afundar cada vez mais no sofá. Tenho certeza que só está falando isso para me deixar sem graça. Ela adora isso. Para piorar, Amy está gargalhando do meu lado.
– Noah, você está todo vermelho. – Ela aponta ainda rindo.
Não digo mais nada.
Ouço Harold chamar minha mãe e ela faz um sinal de aviso para mim antes de sair apressada.
– Já acabou a graça? – pergunto à minha irmã.
Ela sorri para mim e estica a mão para bagunçar meu cabelo. Seguro seu braço e faço cócegas em sua barriga.
– Não, Noah! – ela começa a gritar e a rir ao mesmo tempo. – Pare!
– Não mesmo.
Paro apenas para que ela recupere o fôlego.
– Não! É sério, Noah. – Dessa vez ela consegue escapar e corre para o outro lado da sala, usando a mesa de barreira.
Dou o meu melhor sorriso presunçoso para ela e me preparo para pegá-la.
Mas a campainha toca. Corro para abrir a porta, porém Amy está mais perto e chega primeiro.
– Callie! – exclamamos juntos.
Callie sorri sem entender. Seus cabelos estão presos num rabo de cavalo e isso deixa seu rosto mais visível. Só paro de encará-la porque Amy a abraça.
– Minha mãe me disse para ficar de olho em vocês. – Escuto minha irmã dizer.
Muito obrigado, mãe!
– Então Amy aqui é a nossa, hum, como eu posso chamá-la mesmo? – Callie entra na brincadeira.
– Espiã! Eu sou uma espiã! – Amy exclama.
– Isso aí! – puxo Amy para trás com delicadeza. Inclino-me para sussurrar em seu ouvido. – A televisão é toda sua agora. – Amy acena com a cabeça e volta para o sofá sem dizer mais nada, o que me faz estranhar. Olho para Callie ainda parada na porta. – Vou pegar minhas coisas e a gente pode estudar lá fora, no quintal, tudo bem?
– Por mim, tudo bem.
Corro até meu quarto e pego meu caderno e meu livro de química que estão jogados na cama. Volto para a sala e não encontro nem Callie, nem Amy. Respiro fundo e torço para Amy não dizer a Callie nada do que minha mãe estava falando antes de sair.
Chego ao quintal passando pela porta da cozinha e vejo Callie sentada a mesa com Amy ao seu lado.
– O que houve com a televisão? – pergunto olhando diretamente para Amy.
– O que houve com ficar na sala como a mamãe disse? – Amy ergue as sobrancelhas para mim.
Callie parece estar sem jeito ali. Sento do seu outro lado.
– Ela não vai ligar se estivermos aqui. – Digo e abro meu livro. – Agora é sério, Amy. Preciso estudar.
– Está bem. – Ela diz, mas continua sentada a mesa, olhando o caderno de Callie.
– Não vejo problema se a Amy ficar conosco, mas ela tem que prometer ficar quieta. Não vai ser fácil te ensinar química em uma tarde.
– Não vai ser mesmo. – Amy completa em voz baixa.
Finjo não ouvir e aponto para a matéria – que não consegue entrar na minha cabeça – em meu livro.
– Como eu vou entender isso? – pergunto.
– Ok, você não sabe juntar um ácido e uma base e fabricar um sal. Vamos lá, exemplo do livro – ela pega uma caneta e começa a rabiscar na folha do caderno. – Cloro e sódio. Cloro mais hidrogênio, forma o ácido clorídrico.
– E como eu vou saber que é um ácido?
– Ácidos tem hidrogênio – ela escreve mais alguns exemplos. – Eles podem ser oxigenados ou não. Você tem que levar em conta a valência deles, alguns elementos são variáveis.
– Valência?
– É a carga dos elementos. A tabela periódica tem essa informação, depois eu te ensino como achá-la. Voltando, as bases tem hidroxila. – Ela escreve OH no caderno. – Se você junta um ácido e uma base, você forma um sal e água.
Ela monta uma reação.
– Ácido clorídrico reage com o hidróxido de sódio formando água e o cloreto de sódio. Entendeu?
Estou encarando o caderno, sem piscar, perdido em todas as palavras que ela disse. Lentamente ergo minha cabeça e percebo o olhar esperançoso de Callie em mim.
– Mais ou menos – digo. Minto, na verdade, porque não entendi nada.
– Você é um péssimo mentiroso. Pelo menos entendeu a base da matéria? Questão de igualar as moléculas quanto a valência e reconhecer se é ácido, base ou sal?
– Sim, isso eu sei. Eu só não entendo isso – aponto para a reação. – Como eu vou saber montar isso?
– Está no problema, Noah. Se você sabe montar as moléculas que, com certeza, estarão escritas e não demonstradas, é menos um problema. Olhe aqui comigo. Você usa uma base para anular o efeito de um ácido. Se ele te der um ácido tal, você tem que pensar na base que poderia anulá-lo.
Amy agora está do outro lado da mesa ouvindo Callie atentamente. Eu volto a prestar atenção no caderno.
– Vou utilizar o ácido clorídrico. Uma molécula dele pode ser anulada pela base. Agora se a base for mais composta, você terá que balancear. Aqui, a nossa base é hidróxido de magnésio. O que há de errado aqui?
Ela me deixa olhando a fórmula do ácido e da base. Há algo errado aqui?
– Eu vou precisar de duas moléculas do ácido para equilibrar. Aí o resultado vai ser uma molécula do sal e duas de água. – Demonstro para ela o que acabei de dizer. – Cloreto de magnésio.
Olho para ela esperando saber se acertei ou não.
– Você acertou. – Ela sorri aliviada.
– Sério? Nossa, eu acertei. – Comemoro erguendo os braços como se tivesse cruzado a linha de chegada da corrida mais longa da minha vida. – Graças a sua explicação, claro.
– Eu tenho algumas questões no meu livro, você pode resolvê-las e realmente saberemos se você está pronto. Eu te dei um exemplo simples e fácil, as questões dificultam mais, mas se você souber interpretar, conseguirá uma nota ótima.
Desanimo. Se aquele era o exemplo simples...
– Vou tentar. Cadê essas questões?
– Aqui – ela abre o livro e o deixa na minha frente. – Não vou te ajudar agora. – Ela se levanta e vira para Amy. – Não o deixe procurar as respostas e muito menos consultar o caderno.
– Entendido – ela responde como um soldado e fixa sua atenção em mim.
– Eu vou lá dentro pegar um pouco d'água e já volto. – Callie diz se afastando em direção a casa.
Foco minha atenção nas questões do livro. Leio mais de três vezes para tentar entender.
– Agora sei por que seu cabelo está sempre uma bagunça. – Amy tira minha atenção. Está com os cotovelos apoiados na mesa, encarando-me com vontade de rir.
Estou com as mãos enterradas em meu cabelo e isso o deixa mais para cima e bagunçado.
– Você não pode dizer nada – aponto para ela.
As mechas de seu cabelo castanho estão caídas na frente de seu rosto. Ela tenta imediatamente ajeitá-las. Começo a rir e volto os olhos para o livro. Lembro-me do que Callie me disse e consigo fazer a primeira questão. Ela retorna à mesa e se inclina até mim.
– Está conseguindo?
– Consegui fazer a primeira. – Digo coçando o queixo. – Só não sei se está certo.
– Não pense nisso agora. Quando acabar tudo, eu vejo se acertou. Se não acertar, eu te explico onde está seu erro. – Ela diz com calma. – Só saio daqui quando não tiver mais dúvidas.
– Vai morar aqui? – Amy pergunta rindo.
– Não tem graça, Amy – resmungo.
– Ah, ele vai conseguir. – Callie diz olhando para mim com um lindo sorriso.
Só queria que Amy não estivesse aqui agora para eu poder beijá-la. Se faço isso na sua frente, ela conta para minha mãe. Mesmo que seja apenas um beijo, sei que fará isso para me constranger. Ainda não descobri quem gosta mais de me constranger, Amy ou minha mãe.
– Mas ele vai fingir que não entendeu só pra você ficar mais tempo. – Amy diz me encarando. Passo a mão no rosto e abaixo a cabeça. – Ontem ele chegou em casa cantando depois do encontro de vocês. – Não estou lembrado disso. – Antes de ontem ele chegou do mesmo jeito e nem ligou quando comi o hambúrguer dele. Ele estava com você também não é?
– Estava. – Sinto os olhos de Callie em mim.
É, Amy conseguiu o que queria.
– Estou tentando estudar. – É só o que consigo dizer.
As duas começam a rir e iniciam uma conversa. Respiro fundo e coloco minha cabeça para trabalhar. Sinto que estou prestes a enlouquecer. Por que essa matéria existe mesmo?
Consigo fazer mais quatro questões. Demoro bastante tempo em cada porque sempre paro para ver se tenho certeza da resposta mesmo.
Pelo canto do olho vejo Amy se levantar e ir em direção a porta da cozinha. Ela anda bem devagar, chutando as pedrinhas que vê pelo chão.
Aperto levemente o braço de Callie para que ela olhe para mim.
– Temos que ser rápidos, ela não vai demorar – sussurro.
Assim que Amy entra em casa, viro-me para Callie e pressiono meus lábios nos dela. O beijo parece até me dar forças para continuar estudando.
– Noah...
Callie me afasta sem jeito e olha para frente. Sigo seu olhar e vejo Amy encostando a porta. Ela só não nos viu porque está com a atenção focada na maçã que pegou. Sorrio e volto ao trabalho.
Consigo concluir mais duas, mas sem certeza se realmente acertei.
– Aí estão vocês! – minha mãe aparece na porta da cozinha acenando e sorrindo.
Deve ter voltado andando. O mercado não fica longe e ela até prefere andar às vezes. Ela diz que ajuda a esquecer um pouco a rotina corrida do hospital. Caminhar pela sombra, cumprimentar os vizinhos e sentir a brisa de verão no rosto, coisas de uma enfermeira que passa horas e horas correndo de um lado para o outro.
– Precisa de ajuda com as compras? – pergunto já me levantando.
– Não precisa. Não comprei nada e o senhor vai continuar aí estudando. – Minha mãe diz e eu volto a me sentar no mesmo instante. – Callie, como você está?
Callie vai até a porta para cumprimentá-la.
– Bem, obrigada por perguntar, senhora Young.
– Callie, eu acho que já te disse para me chamar apenas de Julia. Noah está te dando muito trabalho?
É nesse momento que baixo meus olhos para o livro outra vez.
– Ah, só um pouco. – Escuto Callie dizer.
– Ele não está se dispersando não? – ela dá uma risadinha.
– Nós não estamos tendo problemas com isso – Callie soa um pouco envergonhada. Bom, se eu fosse ela, também estaria.
– Acredito. – Minha mãe diz em tom de ironia. Agora que não olho mesmo na direção dela. – Callie, você pode me ajudar a preparar algo para vocês comerem aqui enquanto estudam?
– Sim, claro.
Ouço passos delas se afastando e então volto a respirar.
Começo a pensar na prova de química. Se ela estiver no nível dessas questões, precisarei de um dia inteiro para fazê-la.
Callie e minha mãe não demoram a voltar. Trazem sanduíches e uma jarra de suco de laranja.
– Como está aí, Noah? – minha mãe me pergunta, sentando na minha frente.
– Difícil. Complicado. – Nem quero dizer mais nada, mas olho para Callie que parece estar preocupada. – Mas estou conseguindo.
– É apenas química. – Diz minha mãe se esticando para ver meu livro.
Claro, apenas química.
– Noah, as respostas são para hoje, mas eu posso voltar aqui amanhã porque, senhora Young, desculpa, Julia, esse sanduíche está maravilhoso. – Callie diz com a boca cheia.
– Você me ajudou. – Minha mãe lembra. – E você pode voltar aqui sempre. Basta Amy ficar de olho em vocês por mim.
Começo a tossir, não acreditando que ela disse isso mesmo na frente de Callie.
– Sim. É... – Callie começa a dizer. Percebo o nervosismo em sua voz.
Olho em sua direção bem quando ela esbarra em seu copo com suco. O copo cai em seu colo e o suco em sua blusa.
– Eu sou um desastre. – Diz Callie se levantando. Levanto-me para ajudá-la, minha mãe e Amy também o fazem. – Está tudo bem.
– Amy, leve Callie lá para dentro, pegue uma toalha e uma camiseta minha, dê para Callie e mostre onde é o quarto de visitas. – Minha mãe diz.
– Não precisa. – Callie balança a cabeça.
– Claro que precisa. Não deixarei minha nora desse jeito.
Isso é o suficiente para Callie não dizer mais nada e ir com Amy para dentro de casa.
Então ficamos só eu e minha mãe no quintal. A mesa está bagunçada e eu estou travado em uma questão. Ela se levanta e começa a retirar os pratos.
– Mãe, deixa que eu faço isso.
– Só coloque lá que eu lavo depois. Você precisa estudar.
Pego os pratos de suas mãos e os levo para a cozinha. Amy passa por mim correndo e volta para o quintal, nem percebe que estou na pia só esperando ela passar. Essa é minha chance. Corro até o quarto de visitas e dou um tapinha na porta antes de entrar. Callie está de costas para a porta, terminando de vestir a camiseta de minha mãe.
– Ei. – Chamo-a. Callie fica surpresa ao me ver. – Está tudo bem?
– É só uma blusa. – Ela dá de ombros.
Aproximo-me dela e sorrio. Eu preciso ficar com ela sem ter ninguém vigiando. Seguro sua cintura e a coloco contra a parede. Callie não perde tempo e puxa meu rosto até o dela. Ela está hesitando, seus lábios quase não se movem e eu não a forço.
Ela desce suas mãos e eu as sinto tocando a minha pele. Eu a pressiono com mais força contra a parede e me controlo para não irmos longe demais. Suas mãos voltam a subir pelas minhas costas. Noah, controle-se.
Seguro suas pernas gentilmente e a pego no colo. Ela tira as mãos das minhas costas e as leva para os meus ombros. Sinto seu coração bater, seu corpo responder a cada toque. Por que ela faz eu me sentir tão bem assim?
– Mãe! – Amy grita.
Eu me assusto e solto Callie.
– Espera, Amy. – Chamo-a, mas ela já deve estar longe. Passo a mão pelo rosto e olho para Callie. – Melhor voltarmos.
– Melhor eu ir embora – ela solta o cabelo e esconde parte do rosto atrás dele.
Ela passa por mim e eu seguro seu braço.
– Noah, por favor – sua voz está carregada de preocupação e remorso.
– Vai ser bem pior se você não estiver aqui.
Ela respira fundo, ajeita a camiseta azul de minha mãe, prende o cabelo e tenta sorrir, mas o que seus lábios formam não é convincente.
Eu vou na frente e dou de cara com a minha mãe parada no começo do corredor, com os braços cruzados e expressão fechada.
– Eu vou querer conversar com você depois, Noah – ela mal pisca.
– Senhora Young, a culpa foi minha – Callie avança.
Ela olha para mim e depois para Callie.
– Charlotte, sua mãe deixaria você fazer algo assim na sua casa? Marcar para estudar e acabar fazendo outra coisa?
Ela balança a cabeça negativamente, sem coragem para responder.
– Eu sei que vocês dois são adolescentes muito responsáveis, mas enquanto estiverem sob a minha supervisão, vão ter que me obedecer. Principalmente você, Noah – ela me encara com desaprovação.
– Desculpa, mãe. Isso não vai acontecer novamente – murmuro sentindo meu rosto ficar quente.
– Não vai mesmo. O senhor vai voltar para aquela mesa – ela aponta em direção ao quintal – e terminar o que estava fazendo. Conversaremos mais tarde.
Sei que vou ouvir bastante.
Seguro a mão de Callie, mas ela me afasta rapidamente.
– Não, Noah. Acho que devo ir.
– Callie... – A culpa foi minha. Callie ir embora por causa disso vai me deixar mal.
– Não precisa ir embora. – Minha mãe diz mais suavemente colocando a mão no ombro de Callie. – Vocês podem voltar aos estudos. Mas ninguém sai daquela mesa sem a minha autorização.
– Sim, senhora. – Eu digo e Callie assente sem jeito.
– Eu disse que era uma espiã. – Amy murmura para mim.
Quero dizer que estou desapontado com ela, porque ela não apenas me constrangeu, mas também constrangeu Callie e ainda terei que ouvir um sermão da minha mãe durante o resto do dia. Mas me seguro e volto para o quintal com Callie ao meu lado.
– Desculpe-me – murmuro para ela. – Eu não devia...
– Não é culpa sua, Noah.
Volto para o banco e Callie senta do outro lado da mesa, bem na minha frente. Amy senta ao meu lado. Minha mãe está na porta fazendo sinal para Amy ficar de olho em nós.
Coloco de lado todo esse momento embaraçoso e me concentro nas questões do livro. Tenho dúvidas em uma e Callie me explica rapidamente. Parece tão mais fácil quando ela fala.
– Compreendeu? – pergunta.
– Sim. Entendi o que você quis dizer com o equilíbrio da reação.
Com o silêncio agora, consigo concluir as questões rapidamente. Encaro minhas respostas e coço o queixo.
– Terminei – digo. – Só não sei se está certo.
– Cadê o seu otimismo? – Callie pergunta puxando o livro para ela.
– Não existe otimismo quando se trata de química – respondo seriamente, mas Callie sorri. Acabo sorrindo também por isso. Impossível não sorrir quando Callie sorri. – Minha situação com essa matéria abala todo meu otimismo. Porém, se eu tiver mais erros que acertos nessas questões, tudo bem. – Digo com sinceridade. – Eu não ficarei mal por conta disso. Apenas estudarei mais.
O sorriso de Callie aumenta.
– É, é isso mesmo. – Ela diz e se aproxima mais. Olho para Amy que está quase cochilando sobre a mesa. Callie acompanha meu olhar antes de voltar os olhos para mim. – É melhor não. – Sussurra e aponta para o livro. – Acertou a primeira!
Seguro sua mão sob a mesa e olho para o livro.
– Bom – ela morde o lábio –, você conseguiu acertar a questão, só há um pequeno erro no balanceamento, mas como foi no final e não prejudicou nada antes, você conseguiria um meio acerto, talvez.
Sorrio mesmo assim. Callie continua corrigindo as questões, comentando cada erro, elogiando cada acerto. E, infelizmente, a lista que me exigiu muitos neurônios queimados chega ao fim.
– Mais acertos que erros. – Observo. – Graças à você. Obrigado, Callie. Sério. Ninguém sacrificaria um sábado desses para estudar química.
– Você sacrificou seus sábados para me ajudar a cantar, eu precisava retribuir o favor.
– Você é incrível. – Beijo seu rosto rapidamente e checo Amy se não vê nada.
– É melhor eu ir agora.
– Quer que eu vá com você? – levanto-me e fecho o livro.
– Não precisa. – Ela coloca os livros dentro da bolsa. – Não quero te causar mais problemas.
– Tem certeza? Minha mãe não vai se importar.
– Tenho sim.
– Vou te levar até a porta, então. – Cutuco Amy que ergue a cabeça meio sonolenta. – Vai dormir lá dentro. Já terminamos aqui.
Ela assente, dá um abraço rápido em Callie e entra na frente. Callie vai em seguida e eu sigo seu passos.
Minha mãe está sentada no sofá da sala. Ao nos ver, fica de pé.
– Terminaram? – pergunta à nós, mas seus olhos estão em Amy que segue para seu quarto.
– Sim – respondo.
– Noah vai se sair bem na prova de segunda-feira se continuar se dedicando – Callie diz envergonhada.
– Ele vai passar o resto do dia trancado no quarto, estudando. – Minha mãe deixa claro. – Obrigada, Callie. Por ter vindo e ajudado Noah. Ele é um bom aluno, mas até bons alunos tem seus problemas.
– É, ninguém é perfeito – suas palavras flutuam pela sala. Eu sinto que se ela permanecer aqui por mais tempo, ela pode explodir ou algo assim.
– Vou levá-la até lá fora. – Aviso segurando a mão de Callie.
– Não demore. – Ouço minha mãe dizer enquanto caminho até a porta.
Callie se despede dela com um aceno antes de sair. Puxo uma respiração profunda depois de fechar a porta.
– Mais uma vez, obrigado e me desculpa.
– Está tudo bem, Noah. – Ela segura meu rosto. – Estude mais.
– Sim, eu irei estudar mais. – Beijo sua testa. – Me ligue quando chegar em casa.
– Ok. E você me mande uma mensagem se ficar com muita dúvida. Isso se a sua mãe não tomar seu celular.
– Mais fácil ela tomar meu violão.
– Te vejo segunda, então?
– Na mesma hora de sempre.
– Tchau, Noah.
Ela caminha para longe de mim. Seu cabelo loiro brilhando sob a luz do sol, ela poderia ser uma alucinação da minha cabeça, uma fada tirada de um conto de fadas. Fico observando descer a rua o máximo que posso. Minha mãe me chama para entrar e eu vou direto para o meu quarto. Não quero ouvi-la. Pelo menos não agora.
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