EPÍLOGO - NOAH
Não importa quanto tempo passe, nunca me acostumarei a vir ao supermercado sozinho, refém apenas de uma lista de compras. Fico perdido e sempre acho que estou esquecendo algo, mesmo que eu tenha riscado tudo na lista.
E quando estou com Aidan, a situação fica ainda mais complicada. Ele é agitado e não tem nenhum pouco de paciência comigo – o que é um pouco irônico. Callie teve que resolver algo em seu consultório e então tive que trazê-lo. Não é um problema sair com ele, mas tenho certeza que ninguém jamais levaria uma criança da idade dele para um supermercado por livre e espontânea vontade.
– Aidan, não solte da minha mão. – Não sei quantas vezes eu já disse isso desde que chegamos no supermercado, preciso repetir a cada novo corredor.
Ele se agarra a minha mão e me puxa. Tento deixá-lo me guiar e empurrar o carrinho ao mesmo tempo.
Parece que foi ontem que eu estava aprendendo a cuidar de um bebê – a entender seus choros, a trocar fraldas, dar banho, pôr para dormir – e agora Aidan está quase completando seis anos de idade. O tempo passou rápido mesmo.
Pego as primeiras coisas que vejo na lista, até Aidan escapar de mim. Ele não se afasta, permanece no mesmo corredor, mas apontando para vários saquinhos de bala.
– Por favor, pai. – Quando ele diz desse jeito, é quase impossível negar qualquer coisa.
Contudo não posso deixá-lo me ganhar, sempre. Olho das balas para ele e nego com a cabeça.
– Sabe que não pode se encher de doces.
– Eu não comi doce hoje. – Ele pula para tentar pegá-las.
Não fará mal apenas um pacotinho desses. Coloco no carrinho, mas Aidan continua se esticando para pegar outro.
– Ei, parceiro, eu já peguei um. – Aponto para o pacote no carrinho e ele abre um sorrisão, que me lembra o de sua mãe.
– Posso pegar outro? – insiste.
– Não. Um basta, Aidan. – Estico a mão para ele. – Vamos, ainda falta bastante aqui. Você tem que me ajudar.
Passo a mão em seu cabelo e ele recua. Não gosta que mexam em seu cabelo, apenas Callie pode. É, acho que sei a quem ele puxou.
Ele tenta ajeitar o cabelo loiro que não fica no lugar. Olhar para ele é quase ver uma miniatura minha.
– Vamos fazer um acordo. – Agacho-me para ficar na altura dele. – Deixo você escolher outra coisa. Qualquer coisa. – Seus olhos se arregalam cheios de animação. – Menos doce. Temos um pacote aqui e está ótimo.
– Mas, pai...
– Sua mãe vai me matar. Quer que ela me mate? – ele cruza os braços e faz cara feia. – Muito bom. Agora me diga o que quer.
Ele anda na frente, um pouco emburrado, e eu o sigo. Paramos no corredor dos cereais e ele aponta para uma caixa. Faço sinal de positivo para ele que a pegue e a coloque no carrinho.
– Agora vem cá. – Eu o pego e o coloco dentro do carrinho também. – Assim está bem melhor, não acha?
Continuo meu caminho, comprando o que viemos comprar. Aidan me ajuda como pode, organizando os itens no carrinho.
– Pai, a gente vai buscar a mamãe no trabalho dela? – ele pergunta.
– Sim. Por quê? Está com saudade?
– Ela disse que vai me levar para brincar. – Ele parece todo animado. Não dá para conter o sorriso. – Você vai com a gente?
– Você quer que eu vá com vocês? – Risco da lista mais um item.
– Quero. Você vai?
– Claro. Não deixarei vocês dois aproveitarem sem mim.
Ele tenta ficar de pé para comemorar, mas não deixo.
Terminamos de pegar tudo da lista e seguimos para o caixa.
Decidimos voltar para Santa Mônica há quatro anos. É onde nossos pais estão, foi onde crescemos, foi onde nos conhecemos. Não parecia fazer sentido estarmos em qualquer outra cidade. Queremos que Aidan cresça aqui, com seus avós por perto.
Saio do supermercado com as compras nas mãos e Aidan nas minhas costas. Ele tenta se segurar na minha cabeça sem soltar o pacote de bala. É um pouco incômodo – principalmente quando ele coloca as mãos perto dos meus olhos –, mas como o carro não está distante, eu não importo.
Guardo as compras no porta-malas e coloco Aidan no banco de trás, prendendo-o com o cinto de três pontos.
– Ainda falta uma hora para sua mãe sair. – Digo olhando Aidan pelo retrovisor. – Quer ir a algum lugar antes?
Ele segura o queixo e sei que está pensando, avaliando todas as opções.
– Podemos ir na sorveteria? – pelo jeito que pergunta, noto que está com medo de eu dizer "não". Afinal, conseguiu o pacote de bala.
– Sim. Podemos. – Sorrio para ele. – Eu também quero tomar um sorvete.
Aidan se distrai com um dos seus bonecos que encontrou no banco do carro. Escolho a sorveteria mais próxima do consultório de Callie, assim ela pode encontrar com a gente quando sair.
Ficamos em uma mesa do lado de fora da sorveteria. Compro um sorvete para mim e outro para ele. Mando uma mensagem para Callie avisando onde estamos e que ela não precisa de pressa para resolver o problema.
Vejo uma mensagem de Chloe perguntando sobre minha música nova. Comecei a escrever no começo dessa semana e sem querer comentei com ela sobre. Agora Chloe me pergunta todos os dias como estou indo com ela.
Respondo a mensagem dizendo que está tudo bem e que tirei o dia de folga.
Conciliar minha carreira e ser um pai e marido presente era bem complicado no começo, contudo, com o tempo, aprendi a lidar.
– Tia Amy! – Aidan grita e desce da cadeira rapidamente.
Estranho ele chamar por Amy quando sei que ela deve estar em Los Angeles – quase terminando sua faculdade de cinema –, mas ao erguer a cabeça, eu a vejo do outro lado da rua. Ela sorri e corre até nós assim que nos vê.
– Aidan! – ela o pega no colo e o abraça. – Sentiu minha falta? Muito ou pouco?
– Muito. – Ela o coloca no chão outra vez. – Quer sorvete?
– Não, obrigada. – Amy aperta meu ombro antes de beijar meu rosto. – Olá, Noah.
O passar dos anos a deixou menos mal-humorada. Quer dizer, ela ainda é assim comigo, mas se Aidan está por perto, Amy é um amor.
– Ei, linda. – Não perdi o hábito de chamá-la assim, mesmo que ela sempre faça uma careta ao ouvir. – O que está fazendo aqui?
– Nossa mãe queria que eu viesse passar o final de semana com ela e o papai. – Ela responde puxando uma cadeira para se sentar. – Eu vim e só o encontrei em casa. Ela está trabalhando.
– Você sabe que ela quer sempre que a gente vá para a casa dela. – Comento. – Mesmo que esteja sempre trabalhando.
– É, eu sei. – Ela pega o meu sorvete. – Meu pai disse que vocês jantaram lá ontem?
– Sim. – Vejo Aidan quase se sujando com o sorvete e entrego um guardanapo a ele. – Não quer mesmo sorvete, Amy?
– Muito obrigada, irmãozinho. Estou bem. – Ela bagunça meu cabelo e eu afasto sua mão. – E Callie? Onde ela está?
– Trabalhando. – É Aidan quem responde. Está limpando a boca com o guardanapo e por isso sua voz sai abafada. – A gente vai buscar ela depois.
Amy parece reconhecer a rua que estamos.
– Ah, o consultório dela é aqui, certo? – faço que sim com a cabeça. Ela se vira para Aidan. – Aidan, o que você acha de sair comigo hoje?
– Eu quero. – Ele se vira para mim tentando conter o entusiasmo. – Posso, pai?
Olho para Amy e ela está sorrindo para Aidan. A faculdade pode ser a pouquíssimas horas daqui, mas ela quase não vê o sobrinho. Gasta todo seu tempo se dedicando ao curso.
– Vamos sair com Callie daqui a pouco. – Explico a Amy. – Amanhã cedo ainda estará aqui, certo?
– Só volto depois do almoço. – Ela responde e puxa Aidan para o seu colo.
– Talvez eu o deixe dormir na casa da mamãe com você hoje. – Falo baixo e tento me manter sério quando Aidan começa a vibrar. – Mas só se ele prometer se comportar.
– Eu prometo, pai. – Ele se solta de Amy e vem me abraçar. Beijo o alto da sua cabeça.
– Eu sei que ele vai se comportar. – Amy diz. – Ele puxou a tia favorita dele.
– Está falando da Hannah? – provoco e Amy finge não escutar.
– Eu tenho que ir. Marquei com uns amigos. – Ela se levanta. – Aidan, eu estarei te esperando lá, ok? – ele faz um sinal de positivo para ela que a faz rir. – Mandem um abraço para Callie.
Ela beija o rosto de Aidan, bagunça meu cabelo outra vez e atravessa a rua.
Terminamos nossos sorvetes e esperamos por Callie. Saímos da mesa quando recebo uma mensagem dela avisando que está vindo.
Callie aparece ajeitando sua bolsa no ombro. Aidan se solta de mim e corre para abraçá-la. Eu apenas fico parado, olhando para ela. É como se eu não a tivesse visto essa manhã. Como se eu não estivesse com ela todos os dias. Às vezes, chego a ficar do mesmo jeito que fiquei anos atrás quando tudo que eu queria era saber o nome dela. O sorriso em meu rosto aparece e sei que não irá sumir tão fácil.
Callie beija e abraça Aidan antes de olhar para mim. Ela sorri, mas continua dando atenção ao nosso filho, que, provavelmente, está contando a ela sobre tudo que fizemos juntos e também sobre Amy.
Aproximo-me deles lentamente.
– Aonde vamos? – Aidan pergunta.
– Você vai ver. – Callie diz segurando a mão dele. Juntos, caminhamos até o carro. – Antes temos que passar em casa.
– É, temos que levar as compras. – Acrescento.
– E você precisa de um banho. – Callie olha para a camiseta de Aidan e eu tenho a pequena impressão de que ele passou a mão suja de sorvete ali. Acho que dei a ele o guardanapo tarde demais.
Aidan entra no carro e Callie o prende com o cinto. Fecho a porta de trás e impeço Callie de abrir a da frente. Eu a puxo para mim e a beijo. Não dá para segurar mais.
– Ei. – Encosto os lábios em seu rosto. – Como você está?
– Estou me sentindo bem melhor agora. – Ela sobe a mão para o meu cabelo. – E você?
– Estou ótimo.
Encosto-a no carro e coloco meus lábios contra os dela novamente. Um beijo lento, intenso e apaixonado. Eu poderia beijá-la por horas e não me cansaria. Contudo, tenho que recuar. Ouço Aidan nos chamar.
Abro a porta para Callie e dou a volta no carro.
– Resolveu tudo que tinha para resolver? – pergunto a ela assim que entro no carro.
– Sim. E vocês? Compraram tudo da lista?
Faço que sim e Aidan diz que me ajudou.
– Mãe, eu vou dormir na casa da vovó Julia hoje. – Ele conta.
Callie olha para mim.
– Amy quer passar um tempo com ele. – Me explico.
– Se você se comportar, eu não vejo problema nisso. – Callie se vira para Aidan.
– Ele disse que vai. – Conto e presto atenção na rua.
– Eu vou. – Aidan reforça.
– Então tudo bem. – Callie liga o rádio.
Ela e Aidan começam a cantar a música que toca. Aidan troca a letra, mas parece não se importar com isso. Acompanha a mãe sem parar de sorrir. Eu afasto a vontade de parar o carro só para observar eles dois. Apenas ouvir a voz deles, cantando com tanta felicidade assim, faz um bem danado.
Depois de passarmos em casa, guardarmos as compras e Callie trocar de roupa – se livra do jeans e blusa e veste algo que possa suportar o calor –, vamos ao Píer. É o lugar favorito de Aidan e Callie havia prometido a ele que nós iríamos lá juntos já faz um tempo. Nunca conseguíamos tirar um dia só para a gente. Ou eu estava atolado em trabalho ou ela estava presa em seu consultório.
– Vamos deixá-lo sozinho um pouco. – Sugiro no ouvido de Callie depois de passarmos em alguns brinquedos com Aidan.
– Aidan, a gente vai estar ali, ok?! – Callie passa a mão no cabelo dele e aponta para um dos bancos.
– Ok. – Ele acena e corre para falar com um garoto da idade dele.
Entrelaço a mão na de Callie e juntos vamos até o banco. Não tiro os olhos de Aidan, vendo-o se divertir.
Ele acena para nós enquanto brinca e acenamos de volta. Então paro para observar Callie.
Posso ver a paz em seus olhos atenciosos sobre nosso filho.
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que prestei atenção nela – e não foi na peça como eu disse a ela, foi um pouco antes. Eu estava na aula de ecologia – era quase fim de ano e eu ainda estava tentando entender porque aquela matéria estava na minha grade – e era o primeiro tempo de aula do dia. Eu só pensava no fim dela, desejando a próxima aula, não importava qual fosse.
Minha atenção estava toda nos rabiscos que eu fazia no alto do caderno até ouvir a porta abrir, Callie apareceu toda atrapalhada.
Seu cabelo longo loiro estava uma bagunça, a mochila estava num ombro, meio aberta e com cadernos escapando, livros nos braços e equilibrava um copo de café neles. Eu não sabia o nome dela naquele momento, mas desejava saber imediatamente.
Ela pediu desculpas ao professor pelo atraso e ele a deixou entrar alegando que ela era uma boa aluna, que ia perdoar daquela vez. Callie agradeceu e se sentou em uma das cadeiras da frente, e eu me peguei olhando para ela.
Como era possível eu nunca tê-la visto antes daquele dia? Eu sabia que não era muito de prestar atenção nos outros, mas mesmo assim era estranho. Faltavam poucos meses para o ano acabar e ela era da minha turma. Eu nunca ter reparado nela antes parecia errado.
Depois veio a peça, onde meus olhos quase não saíram de cima dela.
O ano seguinte veio e tínhamos duas matérias juntos. Ainda assim não aparecia uma oportunidade para falar com ela. Tudo que eu queria era conhece-la. Porém Callie foi mais rápida. Ela foi até mim e eu realmente não esperava.
– O que foi, Noah? – Callie me traz de volta para o presente. Sua mão está em meu rosto.
– Eu estava me lembrando do dia em que eu realmente te vi pela primeira vez.
– Pensando no passado outra vez? – seus olhos seguem o caminho que seus dedos fazem até meu pescoço.
– Bem, eu percebi que sempre me senti incompleto antes de você entrar na minha vida – confesso.
– Noah...
– Espera, não terminei. – Olho em direção a Aidan. – Me tornei alguém muito melhor com você, sabe? – Callie se segura em meus ombros e me faz olhar para ela novamente. – Eu demorei para tomar coragem e ir falar com você. Acabou que você foi quem falou comigo. Antes eu chegava a pensar em como as coisas seriam se eu tivesse procurado puxar conversar com você no momento em que tive vontade de te conhecer, mas agora eu olho para nós e para nossa vida e... – olhamos outra vez para Aidan – Não importa o que eu fiz ou o que não fiz, o que importa é isso aqui. Estamos juntos, estamos ótimos, cada dia mais apaixonados e temos um filho lindo. Eu não faria nada diferente. E você?
– Eu não mudaria nem uma vírgula sequer. Sinto que nós aprendemos muito durante nosso relacionamento – ela fecha os olhos castanhos e depois torna a abri-los. – Nossas brigas, ligações, fotos, tardes, elas constituem quem nós somos e eu não queria ser ninguém diferente da atual Callie. Eu cresci muito durante esses anos, graças a tudo que nós passamos. Talvez, se mudássemos um detalhe, afetaríamos o resultado, talvez o nosso amor não fosse tão forte e tão sincero. Então não, eu não mudaria nada.
Seguro seu rosto e sorrio. Desço o dedo da sua têmpora até seu queixo, obrigando-a a não desviar os olhos dos meus. Nunca me cansarei de apenas olhar para ela.
– Você me faz muito feliz, Callie – murmuro.
Não espero para ouvir o que ela pretende me dizer. Junto nossos lábios gentilmente. Começo sorrindo, dando leves beijos no canto de sua boca e, aos poucos, passo a beijá-la com mais fervor.
Concentro-me somente no agora. Na pressão dos lábios de Callie contra os meus, em suas mãos em meu pescoço, no mesmo ritmo em que nossos corações batem, no conforto que ganho sempre que estamos juntos.
Paramos o beijo, mas não nos afastamos. Passo um braço ao redor dela e ela aconchega a cabeça em meu ombro enquanto nossas mãos se entrelaçam. Juntos voltamos a observar Aidan.
E não demora muito para ele vir até nós, nos mostrar o que ganhou.
– Cansou de brincar? – Callie pergunta ajeitando o cabelo dele.
– Não quero ir embora. – Ele diz e olha para mim.
– Podemos descer. – Aponto para a praia. – Tudo bem? – afasto o cabelo do rosto de Callie para vê-la melhor. – Ou está cansada?
– Não estou cansada. Estou ótima. – Ela franze a testa para mim e puxa Aidan para sentar em sua perna. – Quer andar pela praia também, Aidan?
Ele faz que sim com a cabeça.
– Depois eu vou pra casa da vovó Julia? – ele abre um grande sorriso quando eu confirmo com um aceno.
Levanto-me e estico a mão para ele.
– Vamos!
Ele pula para o chão, agarra minha mão e puxa a mãe dele para ficar de pé também. Com a mão livre, pego o que consigo de seus brindes. Callie me ajuda pegando o resto.
Passamos no carro para guardarmos os brindes – Aidan fica apenas com uma bola – e descemos para a praia.
Caminhamos pela areia com a água do mar batendo em nossos pés descalços. Aidan anda na nossa frente jogando a bola para o alto e me chama para brincar com ele. Callie se senta na areia, afastando-se da água, e toma conta de nossos calçados.
Jogo a bola para Aidan e ele para mim. Ficamos apenas nisso, mas finjo não conseguir agarrar.
Isso só o deixa mais animado, rindo de mim o tempo todo.
– É, não sou muito bom nisso. – Digo e entrego a bola a ele.
– A mamãe está rindo de você. – Aidan diz apontando para Callie.
É, ela realmente está rindo.
– Estou cansado, filho. – Abaixo-me e beijo o alto de sua cabeça. – Vou ficar com sua mãe.
– Tá bem. – Ele volta a jogar a bola para o alto.
Vou até Callie e praticamente me jogo ao lado dela.
– Não vá para a água. – Callie avisa a Aidan.
Ele assente e continua brincando.
– O que viu de tão engraçado? – pergunto seriamente.
– O seu esforço para brincar com ele. – Ela olha para mim com um sorriso. O vento tira seu cabelo do lugar.
– Ei, eu estava fingindo. – Explico-me um pouco ofegante. – Deixando-o ser melhor que eu.
– Ah, claro. – Ela ri. – E por que parece tão cansado?
– Não estou tão cansado. Só um pouco.
– Você nunca vai assumir o quanto está cansado, Noah?
– Não há motivos para eu estar cansado. Só não estava preparado para jogar bola com meu filho.
– Precisa fazer isso mais vezes.
– É, acho que preciso. – Beijo o ombro dela. – Precisamos sair mais vezes também. Aidan vai ficar na minha mãe hoje, então podemos jantar fora.
– Você não me falou que tinha planos.
– Eu sempre tenho planos com você. – Beijo seu rosto. – Só que às vezes eu não coloco em prática.
– Deveria me contar sobre eles.
– Não, não. Gosto de surpreender. – Sorrio.
– Não vai me contar nem os de hoje? – faço que não. – Então terei que esperar até deixarmos Aidan na Julia.
– Exato.
Callie não parece gostar muito, mas beijo seu rosto outra vez e ela sorri, se conformando. Sabe que não direi nada.
Aidan me grita e joga a bola para mim. Nem tenho tempo de me preparar e é Callie quem a segura.
– Assim não vale – falo.
Os dois começam a rir. Callie joga a bola para ele, que assim que a pega, se senta. Do jeito que parece cansado, vai chegar na casa da minha mãe e dormirá logo.
O sorriso que se abre no rosto de Aidan, enquanto ele joga a bola outra vez, é o mesmo que vejo no rosto de Callie. Ela joga a bola para ele de novo e os dois ficam nisso.
Percebo que meu mundo nunca mais esteve de ponta cabeça. Tudo está em seu devido lugar e eu não poderia estar melhor. Olho para Callie e para Aidan e tenho a certeza de que não preciso de mais nada.
As lembranças ruins não nos afetam mais. Estamos vivendo nossas vidas da forma que queríamos e estamos bem. E de alguma forma eu sei que estaremos assim por bastante tempo.
Quando Aidan se cansa de brincar, Callie coloca–o em seu colo e o segura em seus braços, como se esperasse ele dormir.
– Ele é muito parecido com você – ela comenta ajeitando o cabelo dele.
– Mas ele tem o seu sorriso.
– É, tem mesmo – ela sorri ao dizer isso. – Olha só como ele está enorme, eu me lembro do bebezinho que ele foi um dia.
– Eu também. Ele cresceu tão depressa.
– Não consigo imaginar nossas vidas sem ele – seus dedos acariciam o rosto de Aidan, traçando cada parte do seus traços infantis.
– Nem eu. E nem quero imaginar. – Seguro a mão de Aidan e sorrio. – Eu te disse que a gente ia conseguir.
– É, você disse – uma lágrima solitária escorre pelo rosto de Callie.
– Está tudo bem? – enxugo-a com as costas da mão antes que ela caia em Aidan.
– Está, é só uma lágrima estúpida.
– Tem certeza?
– Tenho sim, Noah. Não se preocupe. – Ela deita o rosto em minha mão. – Estou pensando em largar o trabalho por algumas semanas e ficar cuidando do meus garotos.
– Você já cuida de nós, Callie.
– Não como eu gostaria. Parece que a minha agenda só enche, eu tenho que pedir a minha secretária que deixe alguns horários livres entre os pacientes ou eu posso acabar surtando.
– Pelo bem de sua sanidade, acho que uma folga é o recomendado. Precisa descansar como qualquer um.
– Que tal levarmos Aidan para San Diego semana que vem? Ele vai adorar o zoológico.
– Ele vai adorar mesmo, mas San Diego fica aqui do lado e podemos ir qualquer outro dia. – Penso em algo mais divertido e espero que Callie aprove. – Podemos fazer algo diferente. O que acha da savana africana?
– É uma boa ideia, mas não vamos contá-la para Aidan agora. Essa viagem daria um ótimo presente de aniversário.
– Acho que devemos começar a organizar.
– Você vai trabalhar essa semana? – Callie vira o rosto para me olhar.
– Sim.
– Então não vou tirar folga essa semana – ela diz decidida.
– Callie – quero adverti-la que trabalhar demais faz mal. Nós dois conhecemos as consequências disso.
– Você vai trabalhar no estúdio?
– Aham.
– Talvez eu possa ir lá para te ver compor a tarde toda – ela morde o lábio e olha para baixo.
Afasto o cabelo curto, que ela aderiu, do seu rosto e beijo-o. Ela não é mais a Callie que eu namorei, ela é a mulher que eu decidi passar o resto da minha vida. Mas debaixo da expressão cansada, ela é a Callie que morria de medo de perder a quem ama.
– Tire uma semana ou um mês de férias, não importa. – Eu não quero que ela trabalhe tanto assim, Aidan precisa dela em casa, assim como eu.
– Você sabe que não pode ser tanto tempo de uma vez só. Essa é a pior parte de ser psicóloga e ter pacientes que precisam da sua atenção.
– Eu também preciso da sua atenção. – Faço com que ela olhe para mim.
– Você não vai desistir de me fazer tirar uma folga.
– Você está cansada, eu quero o seu melhor.
– Tudo bem, eu vou desmarcar todos os pacientes não urgentes. – Ela levanta uma mão para não me deixar discutir. É o limite dela. – Sem discussões.
– Sem discussões – concordo.
– Por que você está mais quieto? – ela volta sua atenção para Aidan dormindo em seus braços.
– Como assim, Callie?
Ela respira fundo e fita o oceano a nossa frente.
– Eu sei que não temos tempo de conversarmos muitos durante a semana, se discutimos algo é porque é de extrema importância ou temos uma conversa rápida no café da manhã ou jantar. Mas você parece quieto hoje. Tem algo te incomodando?
– Não, não tem nada me incomodando. É que eu já falei tudo o que queria para você hoje, então eu esgotei o que tinha para dizer e prefiro ficar em silêncio observando você dois.
– Você está cada vez melhor com frases simples e na composição de músicas.
– Você acha? Eu tenho me esforçado para isso.
– Sem essa melhora, você teria apenas perguntado se eu tinha certeza disso. Duas frases, algo mais complexo e confiante. Como psicóloga, sim, eu acho.
– E como minha esposa? – eu acaricio seu rosto delicadamente.
– Eu não acho que preciso de suas palavras quando tenho o seu olhar.
É instantâneo. Ela olha para mim e eu entendo o que ela quer dizer. A luz do sol no seu cabelo deixa-o dourado e as sombras que contornam seu rosto parecem terem sido colocadas lá perfeitamente. Encosto minha testa na dela e sorrio.
Seus lábios encaixam nos meus e logo uma de suas mãos está no meu cabelo. Ela não deixa com que eu me afaste – como se eu tivesse coragem de fazer isso. Ela não tem pressa, mas tem todo o cuidado do mundo para não acordar Aidan.
– Obrigada por existir, Noah – ela sussurra. – E por nunca ter desistido de mim.
O polegar de Callie sobe e desce pela minha bochecha, ela nem está olhando para mim, seus olhos fechados escondem a paz que ela carrega. Seu sorriso é uma linha simples num rosto de uma pessoa tão complexa. Conhecer cada parte dela foi como abrir uma caixa após a outra. Surpresas boas e ruins, chaves difíceis de encontrar, uma alma tão bem protegida debaixo de sonhos e pesadelos.
– Sou eu quem devo agradecer. – Toco seu rosto bem lentamente. – Obrigado, Callie. Eu te amo tanto. – ela abre os olhos para mim. – Cada dia que passa eu sinto que te amo um pouco mais.
– Eu sinto o mesmo. Eu não sabia que era capaz de te amar ainda mais, mas cada novo dia você me prova que é possível. – Callie puxa meu rosto até o dela outra vez e toca seus lábios nos meus. – Eu te amo, Noah Young. – Meu coração se agita como sempre faz quando ela diz me amar.
Passo a mão em seu cabelo e sorrio. Callie acaricia meu rosto e enfim me beija suavemente. Não é um beijo longo, pois paro para admirar o sorriso no rosto dela. Ela ajeita meu cabelo e abaixa os olhos para Aidan.
Imagino que seu braço esteja dormente por estar segurando ele na mesma posição há bastante tempo. Afasto–me um pouco mais e estico os braços para pegá-lo.
– Certo, ele não é leve. Deixe-me segurá-lo agora. – digo.
Pego Aidan de seus braços e o acomodo nos meus. Ele resmunga algo, mas continua dormindo. Callie deita a cabeça em meu ombro e assistimos as ondas quebrando.
O tempo passou sem que eu percebesse e o sol já está se pondo. Sei que temos que voltar para casa e prepararmos Aidan para ficar com Amy na minha mãe, contudo a tranquilidade do momento me atrai e por isso não quero ir embora. Callie também não parece querer levantar agora.
Fecho os olhos por alguns instantes. É como ser transportado para a época que eu tinha dezessete anos e nem me preocupava em ter uma família. Meu foco era a música e meus estudos. Então veio a Callie. E, nossa, como foi bom.
Ela abriu a minha mente para novas ideias, me levou para milhares de lugares diferentes – muitas vezes sem nem deixarmos Santa Mônica – e me ensinou que nem tudo é perfeito. Nós não somos perfeitos. Temos nossas escolhas, ruins e boas, e elas nos fizeram ser quem somos.
Ela é Callie Young, melhor psicóloga da região, orgulho dos pais, faz a melhor torta de maçã, uma ótima mãe e minha esposa pelo resto da minha vida. Quando ela sorri, eu não vejo a mulher que ela se tornou, ela é apenas Callie para mim.
Assim como eu sou Noah para ela. Callie e Noah, duas pessoas, uma canção, um segredo, uma briga, uma reviravolta, uma viagem, algumas músicas e muitos anos de estudo e convivência.
Eu sou Noah Young, cantor mundialmente famoso, conhecido pelo cabelo bagunçado e sorriso sem jeito, devorador de qualquer tipo de comida e um bom pai – isso é o que Callie e Aidan me dizem.
Não existe Noah sem Callie.
Não existe Callie sem Noah.
Noah e Callie: ou juntos até o fim ou apagados da existência.
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