DEZOITO - NOAH
O sol da tarde bate em mim durante todo trajeto para o Pacific Coast. Chego no hotel suado à beça.
– O que aconteceu com você? – Tyler pergunta assim que me vê.
– Não viu o sol que está lá fora? – resmungo ofegante.
– Fiquei te esperando passar lá em casa para irmos juntos, mas você não apareceu. – Ele comenta. – Minha mãe me deu uma carona, então não tive que enfrentar o sol.
– Me atrasei. – Respondo e procuro por Jackie. – Você tem sorte de trabalhar de bermuda.
– Sim, eu sei. – Ele ri, mas logo volta a ficar sério. – Espera. Você se atrasou? Você nunca se atrasa.
– Para tudo tem uma primeira vez. – Não pretendo contar a ele que tenho dormido tarde todas as noites trabalhando em uma música. – Tenho que procurar a Jackie. A gente se fala depois.
Tyler acena. Vou até a recepção e encontro apenas Jason.
– Cadê a Jackie? – pergunto.
– Ela está de folga, esqueceu? Você não está muito bem, Noah. – Ele me olha de cima abaixo. – Vá se arrumar e depois volte aqui.
– Sim, senhor.
Lavo meu rosto na pia do banheiro e ajeito meu cabelo na frente do espelho. Acordei em cima da hora, quase não encontrei a camisa do uniforme, enfrentei um sol de matar. Hoje definitivamente não é meu dia.
Volto para a recepção e abro um sorriso para Jason.
– Bem melhor. – Ele diz balançando a cabeça em aprovação. – Agora cuide de tudo direitinho aqui.
– O que? – ele sai e não me responde.
Ele vai me deixar sozinho? Acho que nunca fiquei aqui sem a Jackie para me orientar, mas tudo bem. Ela me explicou tudo e eu sempre prestei atenção. Ficar sozinho aqui não será problema – eu espero.
Começo atendendo um hóspede que chega com a família. Verifico se fez reserva e confiro a disponibilidade do apartamento antes de checar seus documentos. Confirmo os dados necessários e preparo o check-in. Em seguida, entrego o cartão-chave do apartamento para Ed, o mensageiro, que está carregando as bagagens.
– Tenham uma boa estadia! – desejo a eles.
– Obrigado. – Diz o senhor puxando sua filha pela mão e seguindo Ed ao lado de sua esposa.
Sorrio satisfeito por ter feito tudo direitinho e sozinho.
Logo outra pessoa se aproxima do balcão.
– Boa tarde, em que posso ajudá-la? – o cumprimento sai automaticamente.
A mulher tira os óculos escuros do rosto e olha bem para mim. Parece até me conhecer.
– Eu estava procurando alguém, mas já encontrei. – Ela diz e estica a mão para mim. – Sou Chloe Simmons.
Aperto sua mão ainda sem entender.
– A senhora me conhece? – questiono-a.
– Vim visitar meus pais aqui na cidade e levei-os para jantar no Seaside Club sábado. – Ela começa a dizer sem gaguejar. – Vi sua apresentação lá e me encantei.
Arregalo os olhos.
– Como?
– Você tem uma voz incrível e uma ótima presença de palco. – Ela me elogia. Começo a ficar sem jeito. – Tentei falar com você depois do show, mas quando fui te procurar, você já tinha ido.
– É, não fiquei muito tempo depois.
– Ah, eu não me apresentei direito. Trabalho numa gravadora em San Diego. – Chloe Simmons se explica. – Gostei da sua voz e é o que estamos procurando.
Fico totalmente sem palavras. Realmente tinha alguém importante no Seaside e eu consegui chamar sua atenção.
– Eu...
– Tem alguma música de sua autoria? – ela me pergunta.
– Estou trabalhando nisso ainda. – Murmuro.
– Bom. Quando estiver pronta, grave-a e mande-a para mim. – Ela tira uma caneta de sua bolsa. – Tem algum papel?
Pego uma folha de papel para ela que começa a anotar seu número de celular, um endereço de e-mail que acredito que seja da gravadora. Ao lado, a vejo acrescentar outro número de telefone.
– Aqui. Se ligar para lá, pode pedir para falar comigo. – Ela escreve seu nome no papel e me entrega. – E como eu posso entrar em contato com você?
– Ah, sim. Me desculpe. – Pego outro pedaço de papel e anoto meu número e meu e-mail. Acrescento também o número de Tyler. – Esse é o número do meu amigo. Ele é quem geralmente lida com essas coisas para mim.
– Como um empresário? – ela pergunta com um sorriso. Faço que sim com a cabeça. – Tudo bem. Qualquer coisa, falarei com ele. – Entrego o papel a ela. – Toca apenas violão? Presumo que toque guitarra também.
– Sim. Violão, guitarra e ukulele. E também piano e bateria quando precisavam de mim para fechar alguma banda na escola.
Chloe abre ainda mais o sorriso.
– Perfeito. Vai ser ótimo trabalhar com você, Noah Young. – Não acredito que ela guardou meu nome. – Mas precisaremos da gravação.
– Sim, sem problema. Só preciso terminá-la. – Franzo a testa. Tem algo que não entendi. – Como me encontrou aqui?
– Perguntei sobre você ao gerente do Seaside Club. Eles me passaram o número de um amigo seu. – Ela aponta para o papel em sua mão. – Seu empresário, agora que me dei conta. Tyler Cooper.
– Tyler lhe disse que eu estaria aqui? – estou em choque. Tyler não me contou nada.
– Isso mesmo. Só consegui vir hoje. – Ela ergue os ombros como se estivesse se desculpando. – Ele não te falou nada, pelo visto.
– Depois conversarei com ele sobre esse tipo de surpresa.
Ela olha para o relógio em seu pulso.
– Eu tenho que ir. – Diz fazendo uma careta para o relógio, mas logo volta a sorrir para mim. – Estarei esperando sua gravação.
– Muito obrigado! – aperto a mão dela novamente, sacudindo-a mais que o necessário.
– Não me agradeça agora. – Ela dá uma piscadela e recoloca os óculos.
Vai embora rapidamente, passando por Tyler que está parado na entrada.
– Quem era? – ele pergunta se aproximando. – Vi que ficaram um tempão conversando.
– Você disse onde eu estaria para ela.
– O que? – ele abre a boca e aponta para onde Chloe foi. – Ela é de uma gravadora mesmo? Ela gostou de você?
– Parece que sim. E você nem para me dizer que tinha gente me procurando. – Não consigo ficar chateado com isso. Apenas sorrio e mostro o papel com o número da gravadora para ele. – Eu nem acredito que é verdade.
Tyler toma o papel da minha mão e o checa. Logo vem para o meu lado e mexe no computador.
– Se Jason te pegar aqui, nós dois seremos chutados para fora. – Aviso-o.
– Deixa de bobagem. Seu padrasto é o gerente geral. Ninguém vai chutar a gente. – Diz Tyler teclando. – Nossa, olha isso. Eles parecem ser incríveis.
Tyler está no site da gravadora. Distraio-me com ele, olhando todo o site.
Ainda é difícil de acreditar que vieram aqui me procurar por causa do show sábado. Não parece real.
O telefone toca chamando minha atenção.
– Pacific Coast Hotel. – Atendo.
– Gostaria de fazer uma reserva, é com você mesmo que devo falar?
– Sim, sim. Só um minuto. – Tampo a entrada de som do telefone e chamo Tyler. – Você tem que ir. Preciso trabalhar. Não quero arriscar ficar com o ouvido doendo porque Jason ficou falando nele, não.
– Ah, tudo bem. – Ele fecha o site e sai de trás do balcão. – Tenho que assistir a hidroginástica. Não queria, mas não tenho nada para fazer.
– Sem nenhuma atividade de lazer hoje?
– A atividade é a hidroginástica, mas a única coisa que posso fazer é olhar. – Ele revira os olhos. – Nos vemos depois!
Tyler vai embora, então volto a falar no telefone.
– Desculpe a demora. Qual a ocupação o senhor quer e para quando? Verificarei se estará disponível.
Fica um pouco difícil trabalhar porque minha cabeça ainda está na gravadora.
Voltando para casa, no carro de Harold, aproveito para olhar minhas mensagens. Há duas de Callie. A primeira é uma foto de bolinhos e um copo – que acredito que seja de cappuccino de chocolate – ao lado.
Callie: Está muito ocupado hoje?
Noah: Vou querer comer bolinhos quando você voltar. Essa foto me deu fome.
Noah: Jackie não foi, então fiquei sozinho.
Como as mensagens de Callie foram enviadas bem mais cedo, não espero que ela responda imediatamente.
Harold para o carro em frente à casa de Tyler que aproveitou o convite da carona sem nem pensar.
– Até amanhã. – Tyler diz descendo do carro.
– Até.
Harold volta a dirigir.
– Sua mãe está de plantão. – Ele me lembra. – Amy quer que eu a leve no cinema. Quer ir com a gente? – preparo-me para dizer que quero ficar em casa. – Vamos lá, Noah. Você ainda terá tempo depois que chegarmos para terminar sua música.
Travo.
– Amy te contou?
– Não foi preciso. – Ele sorri. – Te ouço tocar quase toda noite.
Olho pela janela do carro.
– Certo, eu aceito ir ao cinema com vocês. – Falo. – Mas estou faminto.
– Pizza depois do filme, então.
Concordo.
Meu celular acende e sei que é mensagem de Callie.
Callie: Tenho certeza que não foi um problema para você.
Noah: Não mesmo, mas não parei um minuto.
Quase conto a ela sobre a mulher da gravadora, mas essa conversa levaria ao assunto de sábado, sobre a música que estou escrevendo, e não posso lembrá-la.
Noah: Quero saber como foi seu dia.
Callie: Depois dos bolinhos? Fiquei no apartamento mesmo.
Noah: Sem planos para hoje?
Callie: É. Decidi descansar um pouco.
Noah: Eu estou precisando de um descanso também.
Callie: Durma cedo.
Noah: Vou sair com o Harold e com a Amy. Cinema depois pizza.
Callie: Sabia que envolvia algo de comer.
Noah: Você me conhece mesmo.
Harold estaciona o carro.
– Pelo sorriso no rosto, está conversando com Callie. – Ele diz me deixando sem jeito.
Desço do carro.
Callie: Aproveite por mim.
Noah: Pode deixar.
Callie: E mande um beijo para Amy.
Noah: Eu não ganho nada?
Callie: Terá seus bolinhos quando eu voltar.
Noah: Eu vou cobrar, hein.
Callie: Eu sei que vai.
Noah: Vou tomar um banho para sair. Nos falamos amanhã.
Callie: Bom filme.
Noah: Obrigado. Fica bem.
Callie: Você também.
Sou recebido por Amy na porta de casa. Ela está arrumada para o cinema.
– Oi, linda! – abraço-a. – Então quer dizer que vamos sair?
– Sim. Vá se trocar.
– Nossa, eu vou. – Finjo me assustar com a ordem dela.
Harold a abraça.
– Antes que diga, já estou indo me arrumar. – Ele diz apontando para o corredor. – Não vou demorar.
– Vou e não demoro, pode cronometrar. – Falo e corro para o meu quarto.
Faço tudo bem depressa e termino de me arrumar ao mesmo tempo em que Harold sai do quarto escondendo seu cabelo em um boné.
Assistimos à animação que Amy estava louca para ver. O filme é bem divertido, ri bastante, já Amy conseguiu a atenção de todo cinema por causa da sua risada.
– Me lembrem de nunca mais vir ver filmes desse tipo com Amy. – Harold diz saindo da sala do cinema ao nosso lado. – Agora só suspense, terror, ação.
– Não sei o que mais foi engraçado. O filme ou a Amy rindo. – Comento voltando a rir.
– Não posso nem mais rir agora. – Amy reclama cruzando os braços.
– Estamos brincando. – Harold segura o ombro dela. – Vamos fazer o que agora?
– Pizza. – Lembro-o.
– Pizza. – Amy me ajuda.
– É. Pizza. – Harold assente.
Logo vamos atrás da pizza.
Não duro muito tempo com meus pedaços de pizza na mão. O trabalho no hotel hoje me esgotou a ponto de me deixar faminto desse jeito.
– A pizza não vai fugir de você. – Amy diz rindo.
– Desculpa. – Falo bebendo meu refrigerante.
Vejo Mike passando com uma garota ao seu lado. Não o vejo desde a festa da Annie. Só olhar para ele me tira do sério. Observo-o até não conseguir vê-lo mais. Ele não deveria nem ter o direito de passear por aí.
– O que foi? – Harold pergunta mordendo seu pedaço de pizza.
– Nada. – Volto minha atenção para a pizza. – Já acabou, Amy?
– Estou cheia.
Pego o pedaço dela para mim e sorrio. Ela balança a cabeça, rindo de mim.
Chego em casa de barriga cheia, totalmente satisfeito. Mesmo caindo de sono, não me permito dormir agora. Tenho que trabalhar na música.
Comecei essa música apenas para mostrar a Callie quando estiver pronta, mas agora tenho mais um propósito. Só consigo ficar mais nervoso com isso. Não posso fazer besteira. Chloe ter assistido minha apresentação no Seaside e gostado é a melhor coisa que poderia acontecer comigo. Não posso perder essa nova oportunidade que a vida me dá.
E eu quero que Callie goste. Eu não sou muito bom com palavras, então essa música é uma forma de expressar meus sentimentos. Antes de tudo, essa música é para ela.
Pego meu violão, meus papéis com o que tenho anotado da música, sento-me na extremidade da cama e me preparo para mais uma noite acordado.
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