18 화
4:40 AM
Jimin entrou em sua casa, cansado, sentindo seus braços doerem como se tivesse carregando caixas pesadas consigo. Ele se jogou no chão da sala, procurando pelo seu cachorrinho. Seu olhar percorreu por toda a casa, vendo que nenhuma porta estava aberta, então o animal de estimação só poderia estar na varanda ou escondido em algum canto da cozinha.
Ele se levantou com dificuldade, abrindo a grande cortina, vendo a rua completamente vazia, com apenas algumas luzes ligadas. Ele viu seu cavalete vazio, e então arregalou seus olhos, encarando, desta vez, os seus sapatos, que estavam cobertos de tinta. Ele havia parado tanto tempo para aproveitar a brisa da sombria noite, que nem mesmo percebeu a bagunça que o seu cachorrinho havia feito.
O chão da varanda estava coberto com tinta azul, e seu quadro, que por tanto tempo trabalhou nele, estava sobre a cor cintilante. Sua arte estava completamente manchada. Era o Jungkook, ele estava sorrindo, sentando na grama da pracinha, encarando um buque de flores amor-perfeito. Tanto o quadro quanto o seu vínculo com aquele garoto, foram por água abaixo. Tais águas eram suas lágrimas, que deixou cair por todo o seu percurso para a casa, e quando chegou no seu doce lar, elas voltaram, manchando as paredes, fazendo as flores chorarem também. O clima havia ficado extremamente amargo.
Já se passara algumas semanas depois do sumiço do seu grande amor, mas, ele ainda sentia uma tristeza extrema, que apenas se aumentava conforme o tempo passava.
Jimin encontrou o seu cachorro encolhido detrás do cavalete, encarando seu dono com seus olhos brilhando... ele também estava chorando. Todos estavam. Ele sentia isso, pois em seu pensamento era assim. Quando sua felicidade ia embora, tudo se inundava em uma profunda melancolia, então, tudo que ocupasse sua mente, agora estaria triste também.
Seus olhos estavam cobertos por lágrimas, ainda segurando a pintura perdida, com seus braços manchados com a tinta azul, assim como seus sapatos novos. Ele se agachou no chão, sujando também a sua roupa. Não importava, nada mais importava.
Sua felicidade se tornara provecta, os sentimentos dolorosos que tanto evitou sentir, voltaram com extrema força. Fora como uma pancada, que lhe deixou tão machucado ao ponto dele não conseguir mais se levantar.
6:00 AM
Violet corria pelos enormes corredores do orfanato, entrando em todos os quartos a procura da sua amiga Hilary. A garota havia ficado distante de si por semanas. A outra não sabia o que estava acontecendo, mas estava disposta a descobrir o motivo daquele distanciamento, mesmo que lhe deixasse chateada. O que lhe magoava mesmo era a solidão.
A garotinha encarou o céu, se aproximando da grande janela do saguão. O Sol estava brilhando intensamente, feliz como sempre esteve. E era por isso que a Violet o odiava, ela preferia a Lua, pois esta expressava os mais diversos sentimentos.
—O que faz acordada a essa hora? —uma mulher de idade avançada perguntou a Violet Flores, caminhando de modo apressado até a outra. O estalo do seu salto era estrondoso, e isso fez a garotinha engolir em seco. O olhar da mulher era intenso demais, seu porte era de extremo exagero, e isso só assustava a menor cada vez mais.
—Me desculpe, senhora, mas estou procurando a Hilary. Não a vi deitada em sua cama esta madrugada. —começou a dizer em disparada, juntando suas mãos com força, evitando transmitir receio.
—Ela foi para a casa dos seus novos pais, eles vieram a buscar pela tarde, por isso o sumiço, de repente. —respondeu de imediato, segurando os bracinhos da garota, tentando a levar de volta ao quarto.
Mas Violet se prendeu onde estava. A garotinha havia ficado perplexa. Ela não conseguia acreditar em nenhuma palavra que a sua superiora disse.
—Não pode ser! Ela não me deixaria sem antes, ao menos, se despedir. —gritou, visivelmente chateada. Ela sentiu seu rosto se esquentar, sentindo a primeira lágrima escorrer pela sua bochecha gordinha. —Onde a Hilary está? —voltou a perguntar, se distanciando da mais velha, empurrando seu braço com força. Ela já não estava mais com medo daquela mulher caduca, e sim, com medo do que a tal citada disse, fosse verdade, e que ela foi, mais uma vez, abandonada por quem achou que lhe amava.
—Ei, pare de gritar! —lhe repreendeu, voltando a segurar seu braço, desta vez com mais força, lhe puxando para as escadas, voltando a fazer barulho sobre o piso velho de madeira. —Não lhe contamos antes pois sabíamos que você viria com sua irritante choradeira. Você é uma garotinha insuportável, que foge durante a noite, tudo isso para pegar balas para outras pessoas! Pessoas que você acha que são suas amigas, mas, veja só... Hilary não se despediu. —zombou da menor, rindo alto, ainda a puxando forte. Certamente, nos braços da Violet, ficaria a marca dos seus longos dedos.
A garotinha gritou alto, dando vários pulinhos, tentando se soltar da maior, desta vez com uma inundação de lágrimas tomando seus olhos. Ela se sentiu um ursinho de pelúcia, que servia só para dar carinho, preencher um vazio, mas, sempre os deixam para trás, os joga fora, mesmo depois de ter amado tanto.
Não importava se a Hilary lhe deixou, nada mais importava. Ela deveria seguir em frente, superar, esquecer a garota que chamou tantas vezes de melhor amiga, esquecer a garota que lhe fez rir todas as noites, que lhe fez curtir a vida de um modo perigoso, como comer doces de madrugada e ver televisão na sala das suas superiores. Deveria esquecer a garota que lhe fez sentir o amor verdadeiro, que lhe fez sentir borboletas na barriga, que lhe fez ficar tímida com todos os beijos que recebia. Fora os beijos mais calorosos, como todos os seus abraços.
Violet voltou a gritar, irritada consigo mesma por ter começado a ver em seus pensamentos todos os momentos maravilhosos que teve com a Hilary, a garota que invadia seus sonhos, a garota que lhe deixava feliz mesmo em meio a tantas pessoas rudes.
A mulher ao seu lado se assustou quando a garotinha se distanciou, mais uma vez, do seu aperto. Ela pensou que a Violet tinha caído das escadas, no entanto, ela apenas se agachou no chão, tampando seu rosto com ambas as mãos, tentando esconder o seu sofrimento. Impossível, simplesmente.
A mais velha agarrou seus cabelos, sem nenhum requisito de pena. Ela voltou a ouvir os gritos da menor, mais continuou seu ato, a levantando enfim. Se a garota não queria voltar para o quarto, ela teria que ficar de castigo. Foi o que a mulher decidiu, e foi o que ela fez, carregando a Violet pelos corredores extensos, a puxando pelos cabelos longos, tentando a todo custo ignorar os gritos dolorosos da garotinha. Ela merecia, por ter lhe irritado tanto em plena seis da manhã.
Violet ficaria sozinha, mais uma vez. Hilary não iria voltar, e ela não sairia dali. A garota havia levado sua felicidade consigo, e a outra já não sabia mais o que fazer.
4:40 PM
Dinah olhava ao redor da sala de jogos, a procura da Violet, do Jimin ou do Jungkook. Ela não via nenhum dos três há muito tempo, e estava com medo deles terem lhe esquecido. Ela escorou sua cabeça em sua mão gelada, sentindo os pelos do seu corpo se eriçarem com o contato repentino. Ela já ia fechar seus olhos para tentar descansar, quando o Marlon entrou em sua frente, carregando consigo, de praxe, uma xícara de café.
Ela sorriu, se lembrando que não ficaria sozinha, pois sempre tinha seu amigo ao seu lado. A idosa ajeitou sua postura, vendo o outro se sentar, também sorrindo.
—Então, vamos as novidades. —Marlon disse, iniciando um assunto. Era sempre assim, quando chegava o fim de tarde, eles sentavam juntos para fofocar sobre a vida dos outros idosos ali do asilo, e, as vezes, até mesmo dos enfermeiros. Era uma rotina maravilhosa, tal qual deixava ambos felizes, os fazendo ignorar os pensamentos melancólicos.
—Sabe aquela idosa que chegou recentemente? Aquela que tem cachinhos fofos. —começou a fofocar. O Marlon afirmou, apontando com a cabeça para a mulher citada, para se certificar que estavam pensando na mesma pessoa. —Ela estava internada em um hospital psiquiátrico. Perdeu todos os seus seis filhos em uma viagem... Pensa só, perder todos os que ama em uma única viagem. —disse baixinho, sentindo seus pelos se arrepiarem novamente. Ela sentiu um imenso calafrio ao dizer a última frase, assim como o seu amigo, que arregalou os olhos. —Quando ela melhorou, veio para cá, mas, dizem que as vezes ela conversa sozinha á noite, como se estivesse conversando com seus filhos... —sibilou, dessa vez ainda mais baixo, quando viu que tinha um grupo de idosas encarando os dois.
—Tadinha... —Marlon completou, tomando um demorado gole do seu café, perplexo com o caso. Dinah concordou, deitando sua cabeça em sua mão novamente. O Marlon então contou o que soube de alguns enfermeiros, como o novo namoro de um deles e o termino de outros.
A conversa rolou por mais um longo tempo até que a Dinah se cansou de repente, sentindo um forte peso em seus braços e pernas, como se tivesse câimbra. Ela fechou seus olhos, mas, abriu rapidamente, ao sentir o seu amigo levantar da poltrona.
—Vou pegar mais café, vai querer? —ofereceu sorridente, segurando a mão da idosa, que afirmou com a cabeça rapidamente, pois achou que talvez isso lhe animasse, e lhe deixasse acordada por mais tempo. Ela não queria dormir agora, a conversa que estavam tendo era realmente muito boa para acabar tão rápido.
Porém, ele não chegou a tempo. O seu coração apertou, assim como a força que tinha no corpo. Ela se sentiu tão fraca que caiu logo ao se levantar. Sua cabeça doeu ao extremo, ela começou a escutar um chiado em seu ouvido, nada mais, nem mesmo os passos apressados dos enfermeiros que correram ao seu encontro. Ela fechou seus olhos, pois já não conseguia mais os manter abertos.
A Dinah de repente quis apenas gritar, de desespero, pois ela havia ficado muito assustada. O que aconteceria consigo? Veria seu sobrinho novamente ou aquele seria o seu fim? Não, não podia ser!
Marlon se agachou ao seu lado e começou a lhe chamar, tentando a manter acordada até, ao menos, chegarem ao hospital. Ele piscou várias vezes quando parou para reparar no cenário do asilo. Vários idosos estavam ao seu lado, curiosos. Todos os enfermeiros haviam se juntando naquele pequeno espaço. Um garoto alto estava tentando levantar a idosa que estava ainda sentada no chão, falhando em todas as suas tentativas. Dinah não costumava ser pesada, mas ela estava consumida pelo medo, e isso a fez prender seu corpo ao chão, mesmo não sendo, de fato, um ato proposital.
A Rita gritava no telefone, ligando para a ambulância, passando a mão pelos seus cabelos longos, diversas vezes. Ela estava muito nervosa, e suas mãos tremiam tanto que, logo ao terminar a ligação, seu celular caiu no chão. Ela olhou em volta, vendo a confusão que estava naquela sala.
—Venha, precisamos levar os idosos aos seus quartos. —chamou alguns enfermeiros, que logo concordaram consigo. Todos eles foram ao encontro dos tais citados, tentando transmitir calma para que todos eles fossem sem hesitar para a cama. Não era certo que aquele tumulto continuasse naquela sala de jogos.
Marlon voltou a chamar a Dinah, mas, um garoto o parou, segurando levemente o seu braço. A idosa estava com fortes dores de cabeça, então eles deveriam fazer o mínimo barulho possível, para que não piorasse. No entanto, a verdade era que ela realmente não lhe escutavam, o chiado havia tomado conta dos seus ouvidos e até mesmo dos seus pensamentos. Ela tentava ignorá-lo para poder entender o que tanto falavam consigo. Ela tentava levantar, para apaziguar a confusão que estava ali. Ela causou a desordem, e achava que era sua obrigação acabar logo com aquilo.
Porém, a Dinah não tinha forças nem mesmo para abrir seus olhos, como poderia ter forças para lutar contra as fortes dores que sentia? Não sabia o que estava acontecendo mas, mentalmente, clamava por ajuda, desesperada para que tivesse paz finalmente.
O seu café já não mais importava, nada mais importava.
6:00 PM
—Será que dá para você desligar esse celular? Estamos em uma orquestra, Jungkook! Eles vãos nos expulsar daqui. —Jung-ho sibilou enfurecido, cutucando o irmão.
O mais velho resmungou, se levantando e saindo da sala. Ele já estava recebendo várias ligações a um certo tempo, e tinha que finalmente as atender. Talvez fosse o Jimin...
Jung-ho o seguiu, encarando-o atônito. O irmão insistiu que eles fossem àquela orquestra e agora ele não entendia porque ele estava deixando de escutar os magníficos sons dos belos instrumentos para atender frívolas ligações.
—O que houve? —Jungkook disse assustado, ao escutar a respiração ofegante da Rita. Ao escutar o que a garota da outra linha disse, ele arregalou seus olhos, fazendo o seu irmão ficar interessado no assunto, se aproximando dele imediatamente, tomando o celular para colocar no viva-voz.
—Dinah estava muito fraca hoje. Você sabe... e-ela é idosa, a quimioterapia é muito forte... O que poderia imaginar? Que isso daria certo? —Rita dizia de modo rápido demais para os garotos poderem entender. Ela estava franca também, enfim dizendo. Havia corrido para o hospital e até agora não teve descanso. —A Dinah teve uma crise muito forte, estamos aqui no hospital agora, esperando a resposta do médico. Venha rápido, p-por favor. —finalmente disse o que de fato aconteceu, desligando a ligação logo em seguida, desejando com todas as últimas forças que tinha, que o garoto fosse ao hospital e ficasse consigo, ficasse com a Dinah.
Jungkook passou a mão entre os seus macios fios negros, massageando suas têmporas logo em seguida. Ele colocou suas mãos em sua cintura e encarou a porta da sala de orquestra levemente aberta. O garoto almejava tanto que pudesse voltar ao tempo. Depois de ter se distanciado do Jimin, tudo parecia estar desmoronando. Ele queria estar naquela sala escura agora, escutando a majestosa música, junto a pessoa que amava. Mas, ele logo percebeu que estava sonhado acordado, como sempre fazia.
O garoto havia cortado seus laços com o Jimin, e agora já não sabia se conseguiria o puxar de voltar para si. A Dinah estava em apuros, o pior poderia acontecer, e ele também não sabia como impedir isso. Ele estava vendo a destruição bem em frente aos seus belos olhos tristes. O que o irmão dissera diversas noites atrás estava passando como um vulto em seus pensamentos, e logo logo, sumiria. Ele não queria cair mais fundo, mas, estava sendo inevitável, principalmente quando a Lua ainda estava chateada consigo.
Jung-ho estava fazendo uma nova ligação, tal qual o outro garoto nem mesmo quis saber para quem seria sua chamada imediata. De qualquer forma, essa pessoa não lhe atendeu, mesmo tentando mais de três vezes. Ele enfim desistiu e encarou seu irmão, o puxando para um abraço de lado, levando-o para fora dali. Eles precisavam chegar rapidamente ao hospital.
A orquestra não mais importava.
6:20 PM
—Boa noite, senhor. —Jimin cortejou doce, ao ver um homem entrar na loja da sua tia.
Ele não o respondeu, passou pelas prateleiras sem olhar para o atendente. O garoto usava um gorro na cabeça, uma máscara que cobria seu nariz e boca e um grande casaco. Parecia que estava preparado para qualquer frio intenso que fosse vir com aquela noite sombria.
Yuri batucava a caneta na mesa, tentando resolver um caça-palavras. O tempo estava gélido, como seu coração, e apenas isso lhe distraia. O garoto olhou para o moço que não lhe respondera, ele encarava a prateleira de doces, mas, logo mudou para o freezer. O mesmo citado olhou para trás, agora se afastando de onde estava, saindo do campo de visão do outro.
O atendente voltou a olhar para seu mini caderno, agora balançando a caneta entre seus dedos. Aquela noite seria tediosa, ele tinha certeza disso. Como passaria seu tempo em um local tão chato? O caça-palavras já estava chegando ao fim, o que mais poderia fazer?
O garoto passou a encarar suas unhas, pensando em talvez cortá-las. Mesmo não estando muito grandes. Ele procurou novamente pelo seu cliente, que continuava escondido entre as prateleiras. Ao perceber que suas mãos estavam em um tom escarlate, ele procurou rapidamente pelas suas luvas. O frio estava mesmo chegando rapidamente, e o Jimin, de praxe, não estava pronto. Nem mesmo havia levado um casaco pesado.
Eram as mesmas luvas que o Jungkook havia lhe dado em seu primeiro '' encontro''. Elas eram magníficas e fofinhas. O tecido esquentava as mãos rapidamente e tinha um cheirinho gostoso de leite e mel... o cheiro do garoto que tanto amava. Tudo o fazia lembrar dele...
—Precisa de ajuda? —o garoto perguntou depois de um tempo, após ter escutado barulhos estranhos. Ele se levantou receoso, ajeitando o seu uniforme trivial.
Quando chegou no último corredor, seu foco fora rapidamente para a caixinha de loteria, onde as pessoas deixavam certa quantia de dinheiro para competir com a sorte de outras para ganhar prêmios nobres, como casa ou carros. A caixa estava, inesperadamente, aberta. Além de conter cadeado, havia também uma senha, tal qual, nem mesmo o Jimin sabia. Mas... estava aberto.
Ele olhou para o garoto de gorro, que estava com seus olhos arregalados, parado onde estava. Ele pensou que seu roubo seria rápido, no entanto, destrancar aquele '' cofre'' fora mais difícil do que planejou. O que faria agora? Correria? Era a melhor alternativa. Não adiantava chamar a polícia, pois ele estava irreconhecível, principalmente por estar usando roupas congêneres a quase todos os outros cidadãos.
Então foi isso que ele fez. Colocou todo o restante do dinheiro em seu bolço e correu para fora da loja, pegando também vários saquinhos de bala. Jimin piscou atordoado, indo rapidamente atrás dele, pegando o celular em seu bolço. O garoto corria muito rápido, mas o outro não ficava para trás.
—Ligar para... —começou a dizer para o celular, quando finalmente conseguiu segurar o casaco do garoto, o puxando para mais perto de si. Mas, não deu tempo para ele terminar sua fala, pois o ladrão era esperto demais, ele não roubaria algo sem levar algo para poder se safar, como um estilete.
O Park havia se machucado mais uma vez. O que ele havia feito para merecer isso?
O garoto havia recebido um corte na parte inferior da sua sobrancelha, fora muito profundo e isso o fez desesperar por alguns segundos. O outro já havia voltado a correr, tão rápido que deixou alguns saquinhos de doce cair no chão. Jimin não teria mais chances com ele. O líquido vermelho escorria pelo seu rosto com uma rapidez absurda, ele largou seu celular, tocando onde doía, vendo a sua luva de cachorrinho coberta da cor cintilante. Quantas vezes ele ficaria pintado como um quadro? Ele não gostava disso.
—Oh céus... por que tanto? —ele sibilou para si mesmo, ficando tonto de repente, caindo de joelhos na rua, sentindo seus olhos irem pensando aos poucos.
Seria o preço que tinha que pagar por todos os momentos felizes que tivera com o Jungkook? Todos os momentos que se sentiu bem... Ele havia gastado toda a sua sorte? Todas as suas chances de felicidade haviam mesmo acabado? Ele não conseguia entender, de maneira alguma. Já não havia sofrido o bastante? Talvez o seu destino fosse mesmo ficar sozinho, ele não poderia lutar contra isso.
|Jung-ho
Preciso que venha ao médio! Rápido! Sua avó está não está nada bem!
7:20 PM
Violet encarava as árvores assustadas, que balançavam com o vento violento, evitando encarar o quarto em que estava, totalmente escuro, tendo apenas uma fraca ajuda da luz da Lua. Desde de manhã ela não havia se alimentado, mesmo com a sua superiora lhe trazendo todas as refeições. As vezes, ela até mesmo passava um tempo consigo, mas, era apenas para lhe dar mais sermões de mal comportamento.
A garotinha já não aguentava mais todas aquelas pessoas, nem mesmo aquelas que brincavam consigo. O orfanato era sombrio demais, ao ponto de fazer seus dentes baterem um no outro, de fazer seu corpo tremer, ao ponto de ficar gélida de medo. Tudo ali lhe fazia ter dores de barriga, lhe fazia querer fugir o tempo todo.
Não era um lugar tão ruim, para falar a verdade. Ela recebia comida, brinquedos e tinha até mesmo um lugar para dormir. Ela não conseguia se imaginar morando em outro lugar, pois já havia se acostumado. Mas, depois de ter passado uma noite na escola, ela percebeu que poderia suportar, caso algum dia conseguisse sair dali sem que fossem lhe procurar.
—O que acha, Cloe? —perguntou para sua amiga imaginária, vagando pelo pequeno espaço que continha um reflexo de luz. —Se você jogar seus cabelos, eu consigo pular dali. —apontou para a janela, depois cruzou seus braços, como se esperasse a princesa decidir. —Ei! Eu sou a rainha! Por que está brigando comigo? Não quer fugir daqui? Você gosta daqui? —perguntou incrédula, matutando suas próprias ideias, passando a ignorar a Cloe. Ela não sabia de nada...
Violet revirou seus olhos, abraçando a si mesma, voltando a encarar a paisagem.
Ela chegou mais perto da janela, vendo a pequena tranca que continha. Muito fácil! Ela pegou a pequena presilha que segurava as franjas do seu belo cabelo, a desmontando rapidamente. Havia lido em algum livro a maneira exata de como abrir uma porta com um grampo de cabelo. Ela não tinha o objeto principal, mas, acreditou que aquilo já bastava e daria certo.
Ela girou o cilindro para o lado que imaginou que abriria a janela e tateou os três pinos existentes. Após imaginar que havia conseguido abrir, ela deu vários pulinhos, e então olhou para o nada, fazendo uma expressão de gozação.
—Eu consegui. —disse enfim, sorrindo de ladino, e então abriu a janela rapidamente, jogando a presilha totalmente amassada para qualquer canto daquele quarto sinistro. —Venha aqui, Cloe. —pediu receosa, encarando o gramado, tentando medir em sua mente quanto era a distância da janela até o chão. Mas, ela não era tão inteligente assim. —Você acha que consigo? Acha que é muito alto? Talvez eu me machuque... —perguntou para a amiga, pois ela não tinha nenhuma noção de altura. Talvez a princesa soubesse, mas, é claro que a garotinha não recebeu nenhum resposta. —Não importa! —gritou exasperada, já sentindo suas bochechas ficarem rubras.
Seu desespero era visível, o nervosismo que consumiu seu corpo era assustador. Suas mãozinhas já estava tremendo, ela sentiu seu corpo inteiro se arrepiar novamente, mas, desta vez, doeu, como se o vento lá fora também estivesse dando-lhe um sermão. Não importava, não importava... Ela deveria seguir com seu plano rapidamente, antes que a sua superiora aparecesse, de repente, e brigasse novamente consigo. Bastava.
Violet deu um leve impulso para que conseguisse subir na janela. Ela parou por alguns segundos, suspirando pesado, tentando recuperar o fôlego que nem mesmo soube como perdeu. Ela passou sua perna esquerda para o outro lado, ficando agora totalmente de frente para a bela paisagem... Talvez não tão bela. A garotinha fechou seus olhos, suspirando pesando, matutando novamente se ela queria mesmo ir. Aliás? Para onde iria?
Para o asilo! Gritou nos seus pensamentos, jogando todos os outros para longe. O asilo era seu refúgio, e ela poderia encontrar um outro lugar para ficar após chegar lar. Iria resolver. A criança abriu um grande sorriso, enfim voltando a encarar o chão. Não era tão alto, de fato, então ela pulou, sentindo um frio na barriga no mesmo segundo. Ela fechou seus olhos com extrema força, pedindo a quem quer que fosse lhe ouvir, que ela não morresse agora, que ela conseguisse chegar ao chão com todo o seu pequeno corpinho, intacto.
Porém, ela estava pensando nisso quando já estava no chão a muito tempo.
—Minha nossa... Cloe, eu consegui mesmo! —sibilou, passando a abraçar a sua amiga imaginária. Ela suspirou novamente, colocando a mão em seu coraçãozinho, sentindo as batidas descompassadas.
Ela havia imaginado aquilo como uma grande fuga, digna de estar em um livro ou algum filme famoso. A garotinha se sentia uma espiã, uma heroína, de si mesma, ou qualquer outra nomeação chique e divertida.
Talvez ela estivesse mesmo livre daquelas mãos grandes e pesadas da sua superiora.
—Rainhas sempre dão um jeito nas bruxas. —disse, dessa vez, para si mesma, voltando a fazer uma expressão zombeteira, limpando a poeira, também imaginária, dos seus ombros.
8:20 PM
—Ei, vai ficar tudo bem. —Jung-ho disse confiante, segurando o belo rosto do seu irmão, limpando as suas lágrimas tímidas. Ele suspirou pesado mas, voltou a sorrir rapidamente, dizendo a si mesmo para não desmoronar na frente do Jungkook, ele precisava ser mais forte que o outro, como sempre fez, precisava esconder o que lhe incomodava, precisava ignorar todas as suas dores e dar atenção apenas para o irmão, que estava tão frágio que lhe cortava o coração.
Jung-ho não conhecia a Dinah tão bem como o outro, ao menos havia trocado mais que duas frases com a mesma, mas seu coração era bondoso demais para não ficar comovido com a situação daquela idosa.
—Por que construiram o hospital em um lugar tão escondido? —alguém gritou de repente, suspirando de modo estrondoso. —Não aguento mais andar... Meu Deus. —lamentou, ainda de modo alto.
—Violet? —Jung sibilou incrédulo, e logo viu o Jungkook arregalar seus olhos, encarando a pequena garota que estava ajoelhada no chão, bem no meio da entrada do hospital.
Jeon não estava entendo mais nada, sua vida era uma completa confusão. Por que aquela criança estaria ali, bem no meio da noite, sozinha? Ele sabia que ela morava em um orfanato agora, então, novamente, como ela foi parar no hospital?
Violet percorreu o seu olhar por todo aquele cômodo abafado, procurando pela pessoa que chamou. Quando ela viu seus amigos, deu um longo gritinho, sorrindo de modo largo, correndo até os mesmo, sentindo várias pontadas em suas pernas. Ela estava mesmo cansada.
—O que está fazendo aqui? —Jungkook perguntou, expressando o seu rancor em gestos exagerados com os braços. Ele colocou ambas as mãos em sua cintura, esperando a pequena garota lhe explicar.
Ela estava em um péssimo estado. Seus joelhos estavam extremamente vermelhos, assim como suas mãozinhas e seu rosto. Seu cabelo não estava preso, como de costume, ele estava totalmente solto e bagunçado, totalmente arrepiado. Mas, incrivelmente, ela continuava fofa, continuava como um pequeno anjinho.
—Bom... —disse ofegante, suspirando pesado como da primeira vez, tentando recuperar todo o seu fôlego para enfim contar a sua incrível, perigosa e divertida fuga. —Minha amiga Hilary foi adotada, mas eu não sabia, até hoje de manhã, então, quando acordei e não a vi na sua cama, corri a sua procura... Claro, porque ela é minha melhor amiga né. —disse de modo óbvio, colocando as suas mãos na cintura também. —Só que uma superiora lá do orfanato havia acordado cedo também, e ela me deu um grande sermão, me levando para o quartinho do castigo. —continuou a falar de modo apressado, evitando entrar em detalhes desta vez. —Eu fiquei lá até tarde, a Lua até já havia chegado. Mas eu fiquei super estressada, assim. —fez uma expressão raivosa, mas depois encenou um choro com suas mãos.
O Jung-ho ria baixinho, estando ajoelhado ao lado da pequena, a escutando atentamente enquanto alisava seus cabelos, os ajeitando. Já o Jungkook continuou como estava, em pé, com as mãos na cintura, permancendo com uma expressão indifetente estampada em seu rosto.
—Ai... —parou novamente, colocando as mãozinhas em seu joelho, dando uma leve massagem, mas voltou a olhar para o garoto novamente. Ela queria ignorar sua dor, assim como o Jung fazia, para dar atenção apenas ao Jeon. —Eu tirei a prisilha do meu cabelo e a desmontei, utilizando-a para abrir a fechadura da janela. Sim! Eu consegui abrir! Sozinha. —enfatizou a última palavra, se sentindo, novamente, uma garota super inteligente e corajosa.
—Ela é uma criança prodígio. —o mais novo comentou, ecarando o irmão com um grande sorriso, realmente encantado com a pequena. O mair velho revirou os olhos, e isso apenas fez o outro garoto cair na gargalhada. —Prossiga. Pediu, passando a ficar atrás da criança, tentando amarrar seus cabelos.
—A altura da janela até o chão não era muito alta, de fato, então eu pulei rapidamente, sem medo. —mentiu de modo descarado, sorrindo de ladino para ambos os garotos e o Jungkook cemisserou o olhar, desconfiado. —Enfim, eu fui correndo para o asilo, pois era o único lugar que eu sabia ir sem precisar de ajuda, a não ser a minha escola. Mas não teria ninguém lá, então não fazia sentindo, né?! Só que, quando eu cheguei, não tinha absolutamente nenhum idoso, apenas um enfermeiro que estava no lugar da Rita. Ele disse que a grande maioria havia ido para o hospital e que os idosos já foram dormir. Mesmo sem ter dito o motivo, é óbvio que eu decidi vir até aqui, na esperança de encontrar alguém conhecido. E, bom, encontrei. —apontou para o Jungkook e depois se virou para o Jung-ho, que já havia terminado o seu penteado, pretendo o cabelo da garotinha com uma pulseira sua. —Obrigada. —agradeceu de modo doce, sorrindo miudo quando recebeu mais um carinho em sua cabeça.
—Quanta bobagem. —Jungkook comentou, se virando e sentando-se finalmente, revirando seus olhos, pela centésima vez do dia. Ele suspirou, cruzando seus braços, passando a encarar o corredor vazio e sombrio, na espera de algum médico.
Alguns enfermeiros do asilo conversavam entre si do outro lado da sala, mas, fora eles, não tinha mais ninguém naquela sala. O hospital era realmente assustador, principalmente quando estava de noite.
—Por que você o deixou sozinho? —outra pessoa chegou gritando, junto uma mais nova, que ajudava a carregar um garoto que revirava seus olhos.
—Mãe, eu trabalho de manhã! Por que é que eu iria ficar lá na loja de coveniência com ele? —o outro revidou, inconformado, bufando enquanto apressava seus passos, fazendo a mais velha lhe dar mais um sermão.
Violet se virou, finalmente, olhando as novas pessoas que chegaram com passos vertiginosos no hospital. Ela arregalou seus olhinhos, ficando perplexa logo em seguida. Ela fincou seus pés no chão, extremamente assutada. O seu amigo, Jimin, estava com o rosto totalmente manchado se sangue, assim como as suas luvas e algumas partes da sua roupa. Oh céus o que havia acontecido? Ele morreria?
A pequena mal pode pensar em correr até o garoto, pois todas as pessoas presentes ali foram ao seu encontro. Menos o Jungkook, que estava chocado que nem a criança. Jimin foi tomado por dois enfermeiros, que correram com ele pelo grande corredor, entrando rapidamente em uma das portas brancas. Os que ficaram no saguão se encararam confusos e assustados, mas ficaram em silêncio.
—Você não vem? —Jung-ho perguntou ao irmão, o estendendo sua mão. Ele também estava com uma expressão espantada, e isso deixou o Jungkook ainda mais preocupado, assim como a Violet, que voltou a perder seu fôlego.
—Não podemos ir, Jung. Ele estava com um corte na área da sua sobrancelha e, por conta da grande quantidade de sangue que perdeu, ele terá que fazer uma saturação. —explicou, sem nem mesmo entender o que ele mesmo estava falando. Seus pensamentos e sentimentos estavam uma bagunça. —Não irá demorar, provavelmente, então vamos esperar ele sair para sabermos o que aconteceu... —sibilou, passando as mãos pelos eu rosto, massageando suas têmporas.
O que estava, de fato, acontecendo? Por que aquele dia estava tão tortuoso? Isso era um sinal para que ele voltasse ao mar e fosse embora de uma vez? Sim, ele não deveria ter voltado, ele não deveria ter escutado seu irmão. Ele era o mais velho, o mais inteligente e, certamente, suas escolhas eram as certas.
O seu irmão suspirou, assim como a garotinha ao seu lado, que não havia entendido nenhuma palavra que o mais velho havia dito. Ela se sentou, cansada demais para ficar mais um segundo em pé. Ela havia ficado totalmente atordoada só com o corte do Jimin, então como reagiria ao saber o estado da Dinah?
Jungkook estava definitivamente infame com tudo que estava acontecendo, ele não queria ter uma vida agitada como aquela, preferia voltar para a monotonia. Mas, tudo já havia mudado drásticamente, então, ou ele se adaptava, assim como o Jung-ho tentava fazer, ou ele desistia. A última opção era bem mais fácil, cortava muitos caminhos, mas ele sabia que seria a mais dolorosa. Não para si, claro que não, mas para o seu irmão.
—Ele vai ficar bem? —Violet perguntou baixinho, segurando fortemente a barra da sua blusa. Jungkook lhe olhou tristonho, mostrando, pela primeira vez naquela noite, o seu sentimento verdadeiro, a sua angustia. Ele se levantou e a pegou no colo, a fazendo arregalar seus olhinhos mas, não protestou. O garoto voltou a se sentar, ajeitando a pequena em seus braços.
—Sim, não se preocupe. —disse por fim, vendo a criança sorrir e se acochegar ainda mais. Jung-ho também se sentou, ao lado dos dois, os encarando descaradamente, achando o ato do irmão extremamente fofo. Ele nunca imaginou que o garoto poderia ser tão carinhoso. —Tente dormir. —pediu, começando a dar um leve carinho entre as sobrancelhas da garotinha, tentando a fazer pegar no sono. Quando ela fechou seus olhos, ele passou a alisar seus cabelos, voltando a encarar o corredor.
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é aquela coisa né, sempre dá para piorar
será que o drama vai acabar algum dia 🤔
esse capítulo foi bem longo kk era para fechar logo essa etapa. enfim, até a próxima :)
beijinhos
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