13 화
AVISO: esse capítulo contém assuntos pesados (drogas, incêndio explicito, briga vulgar, etc). se você se sentir mal sugiro que pare a leitura imediatamente.
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—Vamos começar de novo, e agora da maneira certa. —Jungkook disse baixinho para o Jimin, entregando um café americano.
Depois do trágico ocorrido, os dois foram para a cafeteria Ami, pois o garoto alegou que lá seria o melhor lugar para conversarem. O clima estava cálido, o cheiro de flores de lavanda misturado com um forte café, inundava as narinas deles e uma leve música dançava sobre o lugar. Era certamente relaxante conversar ali. As pessoas deveriam apreciar mais as cafeterias.
—Me chamo Jeon Jungkook. —o garoto se apresentou, se sentando junto ao amigo, que tomava a bebida com cautela, com receio de acabar queimando a língua como das outras vezes. Mas, o que ocorreu foi que seus óculos se embaçaram e ele começou a rir.
—Me chamo Jimin. —finalmente retribuiu, se ajeitando na cadeira enquanto encarava pela grande janela da cafeteria, dois cachorrinhos correndo um atrás do outro.
—Eu vou contar sobre mim, mas você não precisa dizer nada, ok? —disse antes de iniciar realmente a conversa, e, depois de ver o garoto concordar, ele engoliu em seco e então começou a fala: —Eu sou filho de uma mãe francesa, chamada Louise.
—Oh, minha mãe também é francesa, se chama Isabel. —Jimin o interrompeu, dando um sorrisinho fofo ao lembrar da mãe, e o outro também sorriu, vendo que ele estava relaxado ali, calmo, e que a conversa não seria pesada como imaginou. Em seu ver, tudo correria bem.
—Meu pai é coreano, chamado Chung-ho. Nós sempre moramos na França, na cidade do amor, Paris, mas, eles receberam uma promoção de emprego, então vieram para aqui, na Coreia do Sul. Ah, eu me esqueci... Tenho um irmão também, chamado Jung-ho. —completou, mesmo sabendo que aquela informação o garoto já sabia. —Nós éramos dois irmãos medrosos, em que o Jung-ho tinha medo do escuro e eu tinha medo de ficar sozinho. Porém, ele sabia bem esconder seus medos em frente as outras pessoas, portanto ele conquistava muitos amigos. Ele sempre chegava em nossa casa com novas pessoas, alguns caras engraçados, umas meninas bonitas, entre várias outras categorias de pessoas. Bom... ele era o '' popular'' da cidade, e com isso eu apenas fui perdendo visibilidade, me tornando invisível para as pessoas, ou melhor... sem cor.
Jimin o olhou confuso, mesmo ele ainda estando no início da sua história ele já havia formulado várias perguntas que queria muito dizer, mas tinha certeza de que se esperasse ele iria contar tudo, sem nem mesmo pensar em fazer uma única pergunta. Enfim, o garoto não se sentia apenas confuso, ele também se sentia receoso se aquela história chegaria enfim em uma parte feliz, pois, pelos poucos fatos mencionados, ele percebeu que seria, na verdade, bem trágica.
—Eu tenho quase certeza que todas as pessoas já sofreram bullying, até mesmo as mais belas, então se eu mencionar esse fato em minha vida não fará diferença, então vamos pular... —revirou os olhos, também tomando do seu café, enquanto observava o Jimin lhe olhar atento. Ele parecia estar realmente curioso sobre o assunto. —Quando eu tinha quatorze anos e meu irmão doze, meus pais receberam novamente uma promoção de emprego, mas ainda era nessa cidade, portanto nós permanecemos aqui. Nós ficamos á tarde toda vendo TV e nem mesmo ouvimos o telefone tocar, pois estávamos entretidos demais vendo seriados animados e comendo muito doce. Nossos pais proibiam então, quando eles estavam fora, roubávamos uma grande quantia da parte mais alta da dispensa. —Jungkook acrescentou brincalhão, relembrando dos bons tempos em que ele e o Jung-ho brigavam para saber quem subiria na cadeira para pegar o pote de balas. Era uma missão perigosa.
—Se você gostava tanto de doce quando mais novo, porque não gosta mais? —o Jimin enfim fez sua pergunta, curioso demais para guardar apenas para si, para ficar calado e apenas escutar. Mas o fato era que ele apenas queria conhecer bem o garoto, pois, aparentemente, eles estavam criando laços muito fortes, e toda informação era de extrema importância.
—Ainda vou chegar nessa parte. —avisou sorridente, se levantando da cadeira para pegar mais café. —Enfim, enquanto o Jung-ho pegava mais balas, eu finalmente fui atender o telefonema. Era um saco ficar ouvindo aquele barulho insistente. Mas quando eu atendi, a pessoa na chamada já havia desligado, eu apenas escutei sua respiração desesperada por dois segundos... —dizia, enquanto preparava agora um café irlandês. —Era minha mãe, eu soube disso quando vi seu número de telefone piscar no aparelho. Era uma despedida, mas, por conta da nossa euforia, não conseguimos dizer tchau, não conseguimos ouvir uma única palavra da Louise. De tudo que ela poderia fazer, em meio ao caos, ela ligou para gente, para se despedir... —dizia com um tom melancólico, sentindo suas bochechas ficarem vermelhas. Está tudo bem, não precisa chorar novamente.
—Como assim despedida? —o garoto voltou a perguntar, mas agora ele estava com os olhos arregalados, seu coração já começara a bater rápido e uma brisa gelada passara pela pequena abertura da porta.
—Houve um incêndio no novo prédio em que eles foram trabalhar. —Jungkook respondeu de um modo tão seco que o garoto já não sabia se aquela seria uma boa conversa, se seria confortável, se ficaria tudo bem com o seu amigo se ele contasse. Talvez não fosse o momento certo, mas o outro acreditava que sim, então insistiu em continuar. —Foi um incêndio brackdraft, ocorrido por conta de um deslize de uma das cozinheiras. Ele se espalhou rápido, indo para todos os corredores. Era um prédio aberto, havia poucas salas privadas, então o fogo se estendeu por todos os lugares em poucos minutos. Não deu tempo de todos evacuarem, tudo estava começando a desmoronar e muitos ficavam presos em meio as chamas. A ajuda havia chegado tarde demais, pois esta é uma cidade pequena e não havia corpos de bombeiros próximos do local. Muitas pessoas não sobreviveram e estas incluíam meus pais. —finalizou a notícia junto ao seu café, voltando até a mesa, vendo que o garoto estava tremendo levemente.
Pelo visto, não era só o Jungkook que ficava apavorado ouvindo tais palavras, principalmente quando ele era criança. A notícia passou na TV dizendo todos os detalhes e, ele e seu irmão, haviam decorado cada palavra, até mesmo o minuto em que o incêndio começou e o nome de todas as pessoas que estavam naquele prédio naquele dia. Era um acontecimento tão tortuoso que não podia-se esquecer nem usando a droga mais forte. Jeon tinha experiência nisso e poderia dizer sem medo. Grandes angustiam não somem do pensamento tão de repente.
Jimin não sabia o que dizer, então ele apenas esperou que o garoto continuasse sua história e amenizasse o clima pesado.
—Nós então fomos morar com a nossa tia Florence. Ela não era como nossos pais, ela não nos proibia nada, e o Jung-ho havia adorado aquilo. Mas eu, novamente, não havia me adaptado. Não me adaptei com todas as festas que ele fazia nos finais de semana, não me adaptei a todas aquelas novas pessoas mais velhas entrando e saindo da nossa casa quase todos os dias, não me adaptei com o cheiro de álcool que ficava no quarto do meu irmão. Tudo... Tudo, Jimin, estava diferente. —confessou tão melancólico que podia ver em seus olhos toda a angustia que ele transmitia dizendo tais palavras. Jeon era um garoto sentimental e o Jimin percebeu isso logo cedo. —Porém, comigo não foi tão diferente. Enquanto ele tentava dispersar sua tristeza usufruindo da sua popularidade, eu tentei me animar também fazendo novos amigos. —ele se ajeitou novamente na cadeira, pois aquele seria um assunto totalmente diferente do anterior. Sua história de vida era mesmo intensa.
—Que bom que fez novos amigos, não...? —Jimin tentou dizer algo, já que o seu amigo havia ficado calado por um bom tempo.
—O nome do nosso grupinho era drogues.
—Drogas? —perguntou assustado, tomando seu último gole do café amargo. —Posso tentar fazer um café? —perguntou de repente, fazendo o Jungkook dar um sorrisinho, afirmando com a cabeça. Ele já havia lhe mostrado como preparava vários tipos de bebidas, e onde ficava cada ingrediente para que ele pudesse fazer o melhor café de todos.
—Sim, Jimin, drogas. Nós nos tornamos aquele grupinho de amigos da escola que só andavam chapados, que ninguém queria papo com eles pois achava que não valia a pena, aqueles que não encontravam um amor, a não ser dentro daquela nossa própria amizade. Eu mesmo já havia ficado com todos, mas nenhum deles gostava de relacionamentos sérios. Bom... e muito menos eu. —Jungkook confessou risonho, vendo o garoto abrir todos os armários a procura de uma xícara bonita. —E nossa adolescência passou assim, nem eu e nem o Jung-ho estávamos ligando realmente para a vida, se fossemos morrer, que seja, pois já estávamos vivendo o nosso próprio limite.
—Oh céus Jungkook. —Jimin suspirou, novamente com seus olhos arregalados, assombrado com tais informações.
—Sabe... a vida parece chata demais quando se está na adolescência, por isso experimentamos de tudo para encontramos a felicidade. Mas eu estava com transtorno depressivo persistente e as drogas só me ajudavam em poucas horas. Depois que o efeito passava, eu ficava tão rabugento que nem mesmo meu irmão gostava de ficar comigo. E ai surgiu o meu medo, eu começava a ficar sozinho, meus amigos só me procuravam quando iam usar alguma droga barata e o Jung-ho apenas quando queria dinheiro, pois, como eu era mais velho, a nossa tia dava mesada apenas para mim. Isso gerou várias brigas entre a gente, mas, no fim, nós acabávamos dormindo juntos, em paz. —continuou dizendo, enquanto ria vez ou outra, mas ele parou rapidamente de sorrir quando se tocou que a próxima etapa da sua vida não era uma das melhores. Nenhuma fora, e aquela muito menos.
—É mocha, quer? —Jimin disse, novamente quebrando o silêncio, levantando uma xícara decorativa no ar, e logo ao ver o garoto confirmar, ele começou a preparar, ainda atento a história.
—Eu tive minha primeira overdose quando tinha vinte anos, bem no tempo em que meu irmão também havia atingido a maior idade. Quando ele me viu, praticamente morto na sala, ele correu para ligar para alguém. Nossa tia só sabia chorar, ela nem mesmo chegou perto de mim. Quer dizer, de nada disso eu sei, foram apenas relatos do meu irmão. Enfim, juntando todos esses fatos, ele ficou com medo. Jung-ho já não tinha mais medo do escuro e sim... de mim. —o garoto confessou, fazendo uma expressão incrédula, mais ainda triste, encarando suas mãos que apertavam a xícara com extrema força, enquanto escutava o Jimin colocando chantilly no café.
Mas, o garoto logo parou o que estava fazendo, novamente sentindo uma pontada no coração. Ouvir tais palavras o deixava tão triste que se suas flores o vissem naquele momento, também chorariam. Ele não podia nem mesmo imaginar o quão grande poderia ser a dor do Jungkook, e talvez os seus problemas fossem tão bobos que ele jamais teria coragem de dizê-los ao amigo. Não se faria de coitadinho sendo que o Jeon havia sofrido bem mais.
—Ele fugiu, pegou toda a mesada que juntei, levou todas as suas roupas, todos os seus pertences, fazendo eu acreditar que ele jamais voltaria. Ele não foi ao médico, apenas me levou até lá, não apareceu mais na casa da nossa tia, não foi comigo a festa de lembranças dos nossos pais, esta que nós fazíamos todos os anos. Ele havia sumido, sem ter deixado nada para que pudéssemos lembra-lo. E esta parecia a real intenção dele. —o Jungkook dizia agora sem ânimo algum. Ele estava cansado, cansado da festa que acabara de sair, cansado da crise pavorosa que acabara de passar, cansado de contar seu terrível passado.
Mas o Jimin merecia isso, eles mereciam isso. Precisavam criar vínculos, precisavam conhecer bem um ao outro, pois ele acreditava que nenhum relacionamento daria certo sem que as pessoas se conhecessem realmente. Ele não esperava que o outro dissesse tudo sobre si tão sedo, pois ele parecia ser bem mais enigmático e guardar monstros bem mais assustadores. Ele não iria o forçar a contar nada, seria apenas escolha sua. E também era escolha do Jungkook contar todos aqueles acontecimentos, e, mesmo ele se sentindo um pouco desconfortável, o garoto estava ficando cada vez mais leve.
—Mas o Jung-ho voltou, várias e várias vezes. Porém, era apenas para pedir dinheiro. —Jeon voltou a contar, revirando os olhos e se levantando para ir ajudar o Jimin no preparo do café, já que ele estava demorando demais. Porém, quando ele chegou até o outro, viu que sua demora não fora atoa, ele não havia se atrapalhado no preparo, havia feito muito bem, aliás, bem até demais. —Seu coração ficou lindo. —elogiou genuinamente, sorrindo largo quando ele também sorriu, agradecendo e lhe entregando a xícara. Ele tomou um gole, saboreando o café.
O mocha que o Jimin havia feito estava saboroso, o gosto de café misturado com leite ficou magnífico e ele escolheu o melhor chocolate que havia naquela cafeteria. Oh, aquele café estava exuberante de alegria de tão agradável.
—Você pulou a parte que me explica porque não gosta de doce ou ela ainda vai chegar? —Jimin perguntou descontraído, tentando agora também fazer um coração em seu café.
—Ah, é porque tudo que fiz e comi no dia do acidente com meus pais, eu deixei de gostar. Isso serve para a televisão também, é muito raro eu ver algum seriado, um noticiário ou qualquer outra coisa. —finalmente explicou, voltando a tomar o café.
—Oh... Eu sinto muito, Jungkook, por tudo que passou. —disse enfim, dando um leve carinho no braço do amigo, tentando o confortar de alguma forma e ele apenas a lançou mais um sorrisinho. —Mas, hoje em dia você tem uma boa convivência com seu irmão? —fez sua provável última pergunta, resmungando baixinho quando estragou todo o desenho que pretendia fazer em sua bebida.
—Eu acho que não... —Jeon respondeu incerto, pois realmente não sabia se estava tudo bem entre ele e o Jung-ho, afinal, não haviam conversado seriamente ainda. —Da última vez que ele apareceu na casa da minha tia nós tivemos uma briga feia, então depois disso ele não havia ido mais, nem mesmo para pedir dinheiro, só apareceu agora...
FLASHBACK
—Seu idiota, o que pensa que está fazendo? —Jungkook gritou exasperado, apertando seus braços por conta da brisa gelada daquela noite. Ele estava sentindo um frio extremo e só queria dormir, mas seu irmão havia aparecido e estava vasculhando o lixo da casa da Florence.
—Você jogou meu colar fora! —Jung-ho gritou no mesmo tom, mas meio embolado, pois, naquela noite, como o Jeon, ele havia tido uma recaída, e bebeu a tarde toda.
—Joguei mesmo. Porra, sai daí! —foi até ele, bufando em frustração, pois sabia que toda a bagunça que o irmão fosse fazer, ele quem deveria limpar. Era sempre assim, o Jung-ho chegava nos piores momentos.
Talvez o Jungkook não tivesse percebido, mas o seu irmão tentava cumprir com a promessa, e quando estava sóbrio e aparecia na sua tia, ele tentava consolar seu irmão, o fazendo rir o dia inteiro, para enfim ir embora, ao constatar que o outro estaria bem o suficiente para não precisar mais de si.
Porém, naquela noite, ele havia ido apenas por conta da alteração na consciência que teve ao beber tanto álcool. Ele estava fora de si, como o outro, delirando. Mas, a única coisa que o levou até lá mesmo fora a perda do colar, ele havia lembrado apenas naquele dia, e foi apenas a joia, não foi o irmão e nem a tia.
Mas o outro estava cansado, de qualquer forma. Seu irmão aparecia de vez enquanto na sua casa ao invés de voltar a morar com eles. Ele com certeza não se tornaria um inquilino, eles o receberiam de braços abertos, porém, o Jung-ho preferia ter uma vida agitada, sem regras, sem ter que se preocupar em voltar para casa, aliás, isso ele nem tinha.
O que ele queria mesmo era que seu irmão finalmente se tocasse que estava estragando sua própria vida, e quando ele fosse perceber, já estaria velho, sem onde morar, sem ter ninguém para trocar carinho, sem ter lembranças. Mas, o Jungkook não poderia dizer isso a ele, já que não estava sendo diferente consigo. Drogas não eram brincadeira, mas até aquela noite ele não tinha nem ideia disso.
—Você 'tá chapado? —Jung-ho perguntou incrédulo. Ele nunca tinha visto o irmão em um estado tão deplorável depois da overdose que teve. Oras, ele achava que o garoto ia parar e finalmente se conscientizar, percebendo que cedo ou tarde ele poderia acabar morrendo.
—E você está bêbado! Seu... —tentou dizer, mas de repente sua visão ficou turva, os olhos ficaram marejados, seu rosto ardeu como se tivesse se queimado, e seu corpo todo tremeu. Jung-ho havia lhe dado um soco, bem no seu nariz, fazendo um estrago terrível. —Jung-ho? —gritou assustado, mas nem mesmo teve tempo de expressar sua angustia ou desespero, pois o irmão voltou a chegar perto de si, desferindo mais um soco, absurdamente doloroso.
A partir dali o Jeon queria chorar, mas não apenas pelo irmão ter lhe machucado, e sim por não ter aproveitado aquele dia. A lua envolta nas grandes nuvens escuras estava magnífica, o dia estava exuberante de beleza e ele nem mesmo havia percebido. Ele se sentiu um bobo por não ter apreciado enquanto podia, por não estar vivendo o que merecia. Pois, ele merecia mais do que aquilo, certo?
Jeon sempre sonhou em ser um advogado rico e andar pelas ruas de terno, bem de manhã, carregando uma maleta pesada, cheia de dinheiro. Sonhou em se casar e ter diversos filhos para cuidar e ser de exemplo. Ele seria um cara responsável e invejado. Ele se arriscaria a qualquer coisa sem pudor algum, pois ele poderia, poderia alcançar qualquer coisa que quisesse, pois ele seria poderoso e apenas a vitória e força andaria consigo.
Porém, sua vida foi diferente. Ele havia perdido os pais muito cedo e eles nem puderam ver o seu crescimento. Mas, do que adiantava? Ele não cresceu de fato, ele continuou sendo um adolescente imaturo que gastava sua vida usando drogas, rejeitando toda a ajuda que recebia, querendo apenas chegar mais próximo do fundo do poço. Ou melhor, ele já estava lá há muito tempo, já havia se misturado com os dejetos da terra morta.
—Jungkook eu achei que você estava morto! —Jung-ho gritou, alterado como nunca, exausto de tentar esconder a sua aflição, de fingir que estava bem. —Eu liguei desesperadamente para a ambulância, eu não podia te perder, não podia te deixar ir tão de repente, sem antes ter visto você realizar todos os seus desejos! —continuou, ainda usando um tom alto de voz, voltando a desferir socos no rosto já machucado do irmão. Ele se sentia sujo, por dentro e por fora, mas sabia que o seu irmão estava bem pior, e isso lhe deixava desolado. —Eu definitivamente não queria ter vindo hoje, não queria ter te visto chapado novamente, não queria ter te visto afogando. Mas já é tarde demais, não é? Você não consegue largar a porra das drogas, não consegue tomar um rumo nessa sua vida de merda!
Então o Jung-ho chorou, chorou um mar inteiro, chorou até que um bolo se formasse em sua garganta, chorou até que não conseguisse enxergar mais nada, até sentir seu corpo todo arder como se tivesse se jogado ao ácido, até começar a tremer, até perder sua respiração. E o Jeon não se encontrava diferente, ele sentia todo o sofrimento do irmão em suas mãos, pesando mais que o próprio corpo dele, que se encontrava sobre seu colo. O asfalto gelado já não importava mais, porque, o que estava congelando mesmo era seu coração, por ver que seu irmão estava decepcionado consigo.
Jungkook era o mais velho dentre eles e o mais irresponsável, o único em que a morte olhava para si e não sentia pena, o único que estava se suicidando aos poucos sem se importar com quem deixaria para trás. Ele era um homem horripilante, seu estado era amedrontador, ele causava medo a todos que lhe olhavam. E ele havia percebido isso apenas naquela noite, uma noite gelada e sombria como a si mesmo.
FIM DE FLASHBACK
—A Lua deve ter chorado... —Jimin falou de repente, bem baixinho, comovido demais com tal história.
—É... —o garoto concordou, ponderando novamente aquela noite que lhe causava arrepios. Foi um diálogo extremamente curto mas que havia mudado muita coisa e mexido demais com seus pensamentos e sentimentos.
—Eu fico feliz que você tenha tido coragem para me contar isso tudo, Jeon. Você é extremamente corajoso e admirável. —ao dizer tais palavras o garoto lhe olhou incrédulo. Como que depois de tudo que ele disse o Jimin ainda lhe admirava? Mas, antes mesmo de perguntar, ele lhe respondeu: —Você se tornou sim um homem importante, rico, que todos gostam muito. Você é um cara gentil, bondoso, esperto... Eu poderia ficar a madrugada inteira lhe elogiando, porque você merece. Todos têm seus defeitos e você também, mas só de ver que você está evoluindo de alguma forma todos eles começam a desaparecer, dando espaço apenas para as suas virtudes. —o Jimin dizia genuinamente, enquanto sorria e segurava as mãos do garoto a sua frente. —Você é dono da melhor cafeteria que eu já fui, é o enfermeiro favorito de todos os idosos do asilo e a pessoa favorita da Violet.
—Da Violet? —perguntou, arregalando seus olhos levemente. De tudo que podia imaginar, aquela seria a última coisa.
—Sim! Ela me disse. —continuou dizendo com sinceridade. A garotinha havia lhe elogiado mesmo, havia dito que, apesar de tudo, o Jeon havia se tornado uma pessoa que sempre passara pelos seus pensamentos, estes que eram todos bons. —Apesar do deslize de hoje, eu acredito que você consiga sim ter uma vida muito feliz, Jungkook. Eu lhe desejo isso, de verdade, com todo o meu amor. —finalizou, sentindo suas bochechas quentes, principalmente quando o garoto passou a lhe dar um leve carinho nas mãos.
Ele quem deveria dar leveza ao amigo, mas, aparentemente, o outro quem deixava tudo sereno
Por fim, Jungkook juntos as boas, em um beijo singelo, cheio de ternura e amor, apenas para sentir o calor um do outro e acalmar os corações que batiam descompassados. O ósculo era calmo, as línguas se tocavam com delicadeza, e o sentimento que sentiam era fervoroso. As mãos do Jimin subiram para a nuca do garoto, fazendo um leve carinho em suas madeixas extremamente escuras, já o outro, segurou sua cintura com firmeza, o fazendo ficar cada vez mais próximo de si.
Aquele momento era apenas deles, nada ao redor importava, nenhum pensamento, nenhum som emitido pelas máquinas, absolutamente nada. A atenção dos dois estava apenas voltada para um ao outro, para aquele beijo, repleto de afetividade.
—Será assim daqui em diante, apenas eu e você. —Jungkook disse baixinho, ainda sem se afastar do seu amigo, aproveitando o momento de mínima distancia para ir o conduzindo até a bancada.
—Apenas eu e você. —Jimin repetiu sorridente, se sentando no espaço vazio e voltando a beijar o garoto.
A Lua guardaria aquele momento como uma das suas melhores lembranças.
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espero que estejam gostando :( não esqueçam de comentar e votar <3
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