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A QUEDA DA CALCINHA


COLUNA

COTIDIANO

PALAVRAS AO VENTO

POR HELIODORA BARCELOS

A queda da calcinha: a última consequência de uma vida desorganizada

Não. Ter um sobrenome de jornalista famoso não tem me ajudado muito. Porque, não, eu não sou filha/sobrinha/neta/parente distante do Caco Barcellos. Aliás, ele nunca me viu mais gorda. Não que eu ache que esteja precisando perder alguns quilinhos. Eu não acho! Acho que todas nós devemos nos valorizar de acordo com a genética corporal que veio em nosso DNA, apenas nos exercitando para não ficarmos entrevadas e não conseguirmos nem ao menos salvar uma roupa caída do varal na sacada vizinha. O fato é que o Caco Barcellos não sabe quem eu sou, eu não tenho me exercitado com frequência, minha vida está uma bagunça e a organização zero que permeia o meu cotidiano é a única coisa que tenho para contar aos meus escassos leitores.

Há um consenso entre psicólogos e místicos de que se o seu ambiente está desorganizado é porque ele reflete a sua mente e a sua vida. Eu tenho plena consciência disso! As pessoas dizem: "arrume a sua cama antes de querer arrumar o mundo!" Mas eu jamais conseguiria competir com as grandes corporações que tem destruído o meio ambiente, nos condenando a derreter perante o inevitável e existente aquecimento global (estamos de acordo que a época de negar o buraco na camada de ozônio já ficou para trás, certo?). Então, eu simplesmente desisti não apenas de arrumar a minha cama, como de arrumar, minimamente, todo o resto.

É como no início dos filmes, mas sem perspectiva de um final feliz. Há uma pessoa em um apartamento pequeno, no centro de um grande centro, esperando que sua grande chance finalmente chegue e que você possa agarrá-la com unhas e dentes, embora minhas unhas e meus dentes estejam mais fracos do que minha rotina de exercícios que consiste apenas em subir as escadas do prédio, já que roo unha. Só que enquanto espera, essa pessoa está mergulhada em bagunça até o pescoço, o que inclui pilhas de louças que vão sendo esquecidas em todos os cantos, roupas acumulando no certo de roupas sujas, disputas de lugares no pequeno sofá da sala com um gato emburrado e milhares de livros da época da faculdade que jurei que um dia voltaria a lê-los para, sei lá, tentar um mestrado, e sapatos. Sapatos de todos os tipos jogados pelo chão de taco com todo o cuidado para que nenhum fique virado de ponta cabeça, porque segundo as crendices, sapato virado traz azar, ou a mãe morre, algo assim, e não quero que a minha mãe morra.

É por isso que não a convido para vir até o meu apartamento. Ela morreria antes mesmo de chegar ao meu quarto. A pequena sala conjugada com a cozinha já bastaria para causar um infarto fulminante na velha mania de organização da senhora minha mãe.

E, foi pensando nisso e na consideração maternal que tenho por ela que, por um acaso, decidi lavar roupas em um desses dias em que o sol queima nossas pernas mesmo quando estamos usando calças jeans. Tá bom, não apenas por isso. Precisei lavar roupas porque eu já não tinha muitas peças limpas e, embora pareça uma maluca presa em um apartamento, ainda preciso aparecer na redação deste jornal que não tem andado muito feliz com os meus parcos leitores.

Dizem que fazer as coisas no impulso podem gerar novos impulsos não esperados, como se um empurrasse o outro numa linha de energia invisível em que consequências drásticas e dramáticas virão lhe assombrar. Acredito piamente nessa teoria, porque ela é quase uma lei da física. Um corpo em movimento tende a continuar em movimento, ou algo assim. O que quero dizer é que o meu impulso de lavar todas as minhas roupas sujas gerou uma falta de lugares para secá-las ao belo e explosivo sol do aquecimento global, o que gerou uma bagunça ainda maior de varais perpassados por toda a extensão da minha casa, próximos às janelas em que eu poderia contar com um pouco de vento e um pouco de luz. Às roupas íntimas, que dizem fazer muito bem um pouco de raivo UV, dediquei todo o formoso espaço da sacada, com direito a varão de chão, varal de teto e varal de guarda-corpo, já que eu não sabia mais onde colocar tanta calcinha!

O efeito dominó do impulso higiênico e solar foi o seguinte: o vento derrubou uma das minhas calcinhas na sacada do apartamento de baixo. Não uma das calcinhas da noite, não as calcinhas novas que comprei naquele site chinês, não as calcinhas shortinhos que eu usava fingindo que iria para a academia no final do dia e terminava deitada com elas assistindo Grey's Anatomy. Não. A calcinha que caiu na varanda do vizinho era uma calcinha carcomida que usei ontem porque ela era a última da gaveta. A calcinha mais feia, mais velha, mais relaxada e mais rasgada do mundo. Aquela calcinha que você jamais usaria para sair de casa porque na eventual hipótese de sofrer um acidente e ser socorrida pelo SAMU, os médicos e enfermeiros a emoldurariam como a mais feia calcinha de uma resgatada de todos os tempos.

E lá estava ela. Embolada entre o azul piscina e o azul marinho de bordados do que um dia esteve escrito: "it's today", referência idiota em inglês significando "é hoje que a jiripoca vai piar" ou, no cientificismo da coisa: hoje é dia de sexo.

Olhando para ela da sacada do meu apartamento eu me perguntei quem, em sã consciência, transaria com uma mulher vestindo aquilo. Não sei se homens se importam com calcinhas, mas eu me importo e ela é vergonhosa. Então, decidi busca-la do jeito mais mineiro de todos: sem incomodar o meu desconhecido vizinho.

Eis como eu sei que é um homem que vive lá: passei um mês recolhendo as correspondências dele por engano e o nome dele é Tarso. Ele pede supermercado por aplicativos de delivery e são sempre coisas que homens solteiros comprariam. E eu nunca vi a cara dele na minha vida.

Então, antes que o Tarso decidisse se espreguiçar na varanda, preparei uma "vara de pescar" com uma extensão de tomada e um gancho improvisado com um dos ferros de sustentação de um dos meus sutiãs velhos que, graças a Deus, também não voou para a sacada dele.

Astuta, certa de que eu iria conseguir pegar aquela maldita calcinha feia sem ninguém perceber, me dirigi até a minha sacada, me dependurei no guarda-corpo com cuidado e comecei a descer a tomada com o gancho improvisado na ponta. Meu estômago doía vigorosamente, talvez pelo esforço em não respirar ou pela contração que o metal da sacada fazia contra ele sempre que eu tentava capturar a peça íntima vergonhosa. Não sei quanto tempo fiquei ali, naquela brincadeira de pescaria fora de época, sem música junina para me animar. Mas, depois de um tempo suando e pedindo misericórdia à Virgem Maria, que nunca teve que se submeter a esse tipo de humilhação moderna, o gancho improvisado agarrou uma das partes rasgadas da renda e encaixou a calcinha em sua subida para a glória eterna.

O que eu não esperava, caro leitor, enquanto eu sorria pelo meu triunfo, é que antes que eu pudesse chegar perto de sumir com a calcinha da sacada do Tarso, a mão dele agarrou o tecido, me assustando tanto que pulei sentada para trás, me escondendo bem longe das vistas dele. O resultado? Novo impulso desastroso. A extensão desceu, eu perdi a minha calcinha feia e quando olhei pela sacada após tomar uma quantidade exagerada de coragem, não havia nem sinal dela, nem de Tarso.

Escrevo isso depois de dois dias do acontecido. A minha calcinha ainda não foi devolvida. 

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